Categoria: Colunas

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  • Formas geométricas

    Prestar atenção nas formas geométricas ao seu redor para compor uma foto pode render registros com uma estética muito interessante.

    Existem vários elementos que você pode explorar na composição das suas fotos para atrair o olhar, como cor e textura. Quadrados, círculos e triângulos podem ser enxergados facilmente em janelas, portas e também podem ser criadas, por exemplo, com o jogo de luz e sombra. Essas formas geométricas são um elemento simples e podem te ajudar a criar fotos com uma estética diferente, por mais de uma razão.
    Elas passam a sensação de uma fotografia calculada e organizada, justamente por serem muito reconhecíveis. Dependendo de como você as posiciona, formas geométricas também podem criar uma simetria na fotografia, que pode gerar um estranhamento e, consequentemente, um interesse de quem vê. E caso você encontre diversas formas iguais, como, por exemplo as várias janelas de um prédio, pode ser criado um padrão na sua foto.
    Embora sejam dicas simples, o resultado pode ser fotos esteticamente atraentes e que fogem de um lugar-comum. O filme “Grande Hotel Budapeste” é um exemplo que usa muitas formas geométricas e simetria perfeita em seus enquadramentos, o que o faz ter um visual particular e muito chamativo.
    Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
    Descrição: foto em preto de branco do que parece ser uma ponte, com uma rua centralidade e estruturas de ferro dos dois lados. Identificamos na arquitetura formas de retângulos e um meio círculo. 
    Kai Ziehl é um fotógrafo alemão que explora o ambiente urbano em fotografias em preto e branco, realçando a arquitetura desses locais. Como dito em sua biografia do Instagram, a fotografia de Ziehl transforma a frieza da paisagem urbana em algo significativo e expressivo. Suas fotografias quase sempre realçam formas geométricas na composição.
    Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
    Descrição: foto em preto e branco de um lugar em que a parede do fundo é de vidro, e através dela vemos alguns prédios e plantas na entrada. Também há uma pessoas em frente a essa parece, de costas para a câmera. Identificamos quadrados e retângulos na composição.
    A foto acima é um exemplo de como usar formas geométricas cria uma estética atraente. O padrão quadrado das janelas chama o olhar e ajudou criar uma simetria quase perfeita, quebrada apenas pela presença de uma mulher e seu reflexo à esquerda, o que também ajuda a destacar essa pessoa. Esses elementos fizeram com que a foto tenha uma aparência quase abstrata, mesmo que o objeto fotografado seja simples e até banal.
    Explore as formas geométricas ao fotografar e comente sua experiência conosco. Se você gostou do nosso conteúdo nos siga no Instagram e assine a newsletter para receber uma seleção de textos temática em seu email todo mês.

    Links, Referências e Créditos

     

  • Aurora (1927)

    Aurora é um exemplo de que uma bela composição fotográfica não salva o enredo.

    Aurora é um exemplo de que uma bela composição fotográfica não salva o enredo.


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  • Numa janela do edifício Prestes Maia 911

     

    Em um de seus ensaios mais premiados, Bittencourt nos apresenta o cotidiano de pessoas marginalizadas na cidade de São Paulo.

    Julio Bittencourt é um fotógrafo brasileiro que nasceu em 1980, na cidade de São Paulo. Como fotojornalista, teve trabalhos que apareceram em revistas e jornais como The Guardian e The New Yorker. Ele também publicou três livros: Ramos, Dead Sea e, o projeto que abordaremos nesta postagem, Numa Janela do Edifício Prestes Maia 911.
    Legenda: Retrato de Julio Bittencourt, Nereu Jr. (2011)
    Descrição: retrato do fotógrafo sobre o qual o texto fala, sorrindo para a câmera.
    O edifício Prestes Maia era um dos muitos imóveis vazios na cidade de São Paulo. Antiga sede da Companhia Nacional de Tecidos, com diversos problemas estruturais, o prédio foi ocupado por movimentos sociais de luta por moradia, chegando a abrigar mais de 400 famílias.
    Entre 2005 e 2008 o fotógrafo registrou diversos moradores do Edifício Prestes Maia através de suas janelas, em cenas cotidianas ou em momentos de intimidade. Essas fotos foram reunidas no livro Numa janela do Edifício Prestes Maia 911 publicado no Brasil em 2008 pela editora DBA.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: vemos através de uma janela um casal encarando a câmera, e ao lado um beliche com uma criança deitada.
    O interesse do fotógrafo por janelas já vinha desde a infância, ao observar as pessoas do prédio onde vivia se comunicando pelas janelas. As fotografias mostram a relação que essas pessoas criam com o seu entorno. Em algumas fotos vemos vasos de flor que elas colocam para decorar a janela. Em outras vemos atitudes cotidianas, como um homem que aparece sem camisa, como se tivesse acabado de acordar, ou então vemos a relação entre os moradores, como na foto em que um homem abraça uma mulher grávida, mostrando uma relação de carinho, de afetuosidade.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: através da janela vemos um homem abraçando a barriga de uma mulher grávida em um gesto de carinho.
    Embora a descrição possa dar a entender isso, o projeto não passa uma sensação voyeurística, de espiar a vida alheia por prazer, mas de interesse genuíno pelas pessoas e pelas relações entre elas e o local em que vivem. As fotos misturam a delicadeza e a simplicidade do cotidiano e da vida dos moradores com a crueza e a falta de estrutura do ambiente em que elas vivem.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: uma mulher joga em plantas que estão em baixo da janela.
    É um projeto fascinante, combinando fotos lindas de um ponto de vista estético, com uma temática muito importante, a precariedade dos edifícios invadidos devido à falta de moradia nos grandes centros urbanos, nos fazendo refletir sobre a vida de pessoas desabrigadas nas grandes metrópoles. 
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: um homem sem camisa aparece na janela abrindo a cortina, como se tivesse acabado de acordar.
    Além desse livro, Julio Bittencourt tem várias séries interessantes, como a série Tokyo Subway, fotos de um metrô japonês. Para ver mais, confira o site do fotógrafo aqui.
    Já conferiu este projeto? Comenta aqui embaixo o que você achou. E para acessar mais conteúdos sobre fotografia cadastre-se na nossa newsletter e receba uma seleção temática de textos do blog todo mês!

    Links, Referências e Créditos

  • Sensores Digitais

    Sensores Digitais

    Hoje, graças ao sensores digitais, podemos armazenar e compartilhar imagens com muito mais facilidade, por isso vale a pena saber mais sobre essa tecnologia.

    Durante a guerra fria os pesquisadores precisavam que as sondas espaciais  mandassem  imagens até a Terra, para isso foi criado o sensor CMOS, capaz de converter ondas luminosas em informação digital que era enviada por meio de ondas de rádio e depois (re)convertidas em imagens. Foi em 1965 que, pela primeira vez, a sonda Mariner 4, usando essa tecnologia, enviou imagens da superfície de Marte, porém as fotos não poderiam ser consideradas digitais, já que também usavam processos analógicos.

    Na foto uma pessoa segura um sensor digital com a penas a ponta de um dedo e logo atrás podemos ver uma câmera compacta da Nikon. 
    Foto de Eugen Visan por Pixabay

    A primeira câmera totalmente digital foi feita em 1975 pela Kodak ela usava o sensor CCD, o sucessor do CMOS, e podia fazer imagens de 0,01 megapixels, mas nunca foi comercializada, pois os executivos da empresa acreditavam que a invenção poderia atrapalhar na venda dos filmes fotográficos, essa hesitação em adotar a tecnologia digital  foi uma das principais causas da falência da empresa anos depois

    Em 1981, a Sony lançou a primeira câmera digital para o público, porém ela era extremamente cara. Somente na década de 1990, as câmeras digitais passaram a ter preços mais acessíveis. Hoje elas dominam o mercado. A maioria delas é equipada com um sensor CMOS. Hoje também temos uma grande variedade de tamanho de sensores, e isso pode influenciar muito na hora de fotografar. Quanto maior o sensor,  maior é o alcance dinâmico, menor o índice de ruído em ISOs altos, e  menor a profundidade de campo.

    Na foto podemos ver uma mulher segurando a câmera Mavica em uma mão e um disquete na outra. 
    Campanha publicitária da câmera Mavica

    A variação de tamanho nos sensores causa algo chamado fator de corte. Esse fator altera o ângulo de visão proporcionado por um objetiva, por exemplo, nas câmeras DSLR os dois tipos de sensores mais comuns são os Full Frame (FF) e os APS-C, uma lente de distância focal 35mm não sofreria nenhuma alteração em um sensor FF, pois ele é o tamanho padrão, mas teria o aspecto de uma lente de 56mm, que tem um ângulo de visão menor, em um sensor APS-C, que é um pouco menor que o FF.  Essa relação entre sensores pode variar com as marcas, por exemplo, no caso de sensores APS-C Canon a relação é de 1,6, já nos sensores APS-C Nikon e Sony a relação é de 1,5.

    Hoje a maioria dos fotógrafos usam câmeras digitais, pelo fato de elas permitirem uma fácil organização de arquivos, e por produzirem imagens de excelente qualidade, mas esse não é o caso do fotógrafo japonês Daido Moriyama que diz que não se importa com a qualidade imagética que as mais modernas DSLR podem trazer, para ele o que mais importa é que a câmera seja leve, fácil de carregar e discreta, por isso só fotografa usando câmeras compactas. Ele iniciou a carreira com as versões analógicas, mas com o avanço da tecnologia rapidamente passou a usar os modelos digitais.

    Na foto podemos ver uma escada na parte esquerda, e uma rua estreita na parte direita. A foto foi tirada a noite, pois podemos ver vários postes de luz acessos.
    Daido Moriyama , 2017 Getsuyosha

    Se olharmos a foto acima com atenção vemos que a imagem possui uma grande quantidade de ruído que acontece pelo fato de Daido usar uma câmera compacta com um sensor bem pequeno. Mas o ruído não é um problema, já que toda a estética dele se baseia em imagens cheias de ruído, muitas vezes tremidas e com grande contrastes.

    Esse é um exemplo interessante de como uma boa foto nem sempre precisa dos equipamentos mais caros, mesmo câmeras compactas ou de celulares podem trazer resultados muito interessantes, e agora graças aos sensores digitais, que ajudaram a baratear a fotografia,  uma parcela bem maior da população pode ter acesso a câmeras, e usar a criatividade para produzir as mais criativas fotos. 

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Sensores Digitais. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/fotografetodia-sensores-digitais/>. Publicado em: 07 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Perfil “Dancing With Them”

    Perfil “Dancing With Them”

    Legenda: print de tela do perfil mencionado

    O #dicade de hoje trás um perfil do Instagram que é dedicado a compartilhar fotos de casamentos de pessoas da comunidade LGBTQIA+.

    Em todas as nossas colunas nós exploramos as diversas formas de se fazer fotografia, e seus diferentes impactos nas pessoas e no mundo.  A fotografia é uma grande forma de fazer recordações e contar histórias. No #dica de hoje, trazemos para vocês um perfil no Instagram dedicado a capturar e espalhar o amor, em todas as suas formas.

     
    Print de tela do perfil mencionado

    O perfil no Instagram “Dancing With Them” é dedicado à divulgação da revista de fotografias de casamentos de pessoas da comunidade LGBTQIA+. O projeto foi criado por Tara e Arlia, um casal americano que, quando começaram os preparativos para o seu casamento, encontraram uma indústria heteronormativa que não condizia bem com suas expectativas. Assim “Dancing With Them” surgiu para publicar e celebrar todo amor LGBTQIA+ com autenticidade e carinho.

    Print de tela do perfil mencionado

    As fotografias da página são um conjunto de vários fotógrafos de casamento, que foram compartilhadas pelos casais junto com suas histórias.

    A representatividade em espaços de domínio público é uma coisa muito importante, porque fortalece o sentimento de orgulho para as pessoas da comunidade e é de grande ajuda para o combate da LGBTQIA+ fobia, normalizando a diversidade. As fotos desse perfil me tocaram bastante. Por ser parte da comunidade, sei que se tivesse visto fotos como essas quando era mais nova, meu processo de aceitação teria sido bem diferente.

    Convido a todos vocês a irem conferir o perfil no Instagram, e depois virem falar com a gente o que acharam aqui no blog!

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    COSTA, Clara. Perfil “Dancing With Them”. Cultura Fotográfica. Publicado em: 4 de dez. de 2020. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/perfil-dancing-with-them/(abrir em uma nova aba). Acessado em: [informar data].

  • André Kertész

     André Kertész se considerava um fotógrafo nato, amador e cujas fotografias falam.

    André Kertész se considerava um fotógrafo nato, amador e cujas fotografias falam.

    André Kertész – Autorretrato, Paris, 1926
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra as sombras de um homem e de uma câmera na parede.
    Andrè Kertèsz sempre disse ser um fotógrafo nato. Nascido no Império Austro-húngaro em 1894, foi, porém, ao seis anos de idade que nasceu o seu olhar fotográfico, quando viu pela primeira vez uma revista ilustrada. A partir de então, mesmo sem possuir uma câmera, passou a olhar o mundo como uma fotografia. Possuía, portanto, um jeito despretensioso de compor, tanto as suas fotos imaginárias como as reais, que depois de anos fotografando profissionalmente ele ainda se orgulharia de manter “amador”: “Eu sou um amador e pretendo continuar sendo um amador pelo resto da minha vida. A fotografia se torna bela com toda a verdade estampada nela. É por isso que eu me guardo contra qualquer tipo de truque ou virtude profissional”.

    Kertèsz começou a fotografar em 1912, após juntar dinheiro para comprar a sua primeira câmera. Nessa sua primeira fase como fotógrafo, registrava as paisagens rurais do seu país natal e a vida dos jovens que ele conhecia, como seu irmão mais novo. Ao servir o exército na Primeira Guerra Mundial, levou uma câmera leve consigo, mas não queria fotografar o conflito. Ele não enxergava a guerra como uma tragédia e não se interessava por retratos documentais e políticos, optando por retratar os momentos de lazer dos soldados.

    Em 1925, motivado pela dissolução do Império Austro-húngaro, se mudou para Paris, como vários outros artistas da época. Na capital francesa, ficou amigo de outros fotógrafos de origem húngara como Man Ray, Robert Capa e Brassaï. Nessa época, sua característica inovadora se tornou mais marcante, enquanto ele eternizava em imagens parte da tradicional vida parisiense, como os cafés, as feiras e os parques. Também foi quando ele ganhou popularidade na França publicando em diversas revistas, período no qual seus trabalhos foram uma simbiose entre modernismo, realismo e humanismo.

    Em 1936, as revistas franceses foram deixando de publicar os trabalhos de Kertész, por serem muito “neutros” para o contexto da guerra, antes mesmo de receber a resposta positiva do governo francês sobre a sua naturalização, aceitou um emprego em Nova Iorque, se mudando em seguida. Nos Estado Unidos sua adaptação foi difícil: lá a comunidade artística era pequena, Nova Iorque não o encantava como Paris ou Budapeste e ele não falava inglês. Além disso, seu ensaio “Distorções”, que havia sido aclamado na França, recebeu pouca importância ao fazer parte de uma mostra no Museu de Arte Moderna, mostrando que o estilo artístico da sua atual cidade era bem diferente do seu.

    Nos Estados Unidos, Kertész trabalhou em diversas revistas de moda, mas a fotografia de estúdio não lhe agradava. Quando a revista Life o convidou para fazer um ensaio sobre os rios de Manhattan, ele fotografou rebocadores, sobre diversos ângulos, inclusive utilizando um dirigível. Era um trabalho que finalmente o animava, mas, ao entregar as fotos, a revista as recusou sob a justificativa de que elas “falavam demais” e que o redator era o responsável por escrever os textos, não precisando as fotos fazerem mais do que mostrar. Sobre a recusa, Kertész respondeu: “Eu não posso fazer nada, minhas fotos falam. Eu não consigo segurar a câmera sem me expressar”.

    Permaneceu fazendo fotografias que não eram totalmente do seu agrado e ficou mais de quinze anos em um contrato exclusivo com a revista de decoração House and Garden. A partir dos anos 1961, Kertész voltou a ser reconhecido pelas suas fotografias despretensiosas, e se iniciou em sua vida um período que os biógrafos chama de “Período Internacional”, quando suas fotos foram publicadas em jornais e revistas e apresentadas em exibições em diversos países. Finalmente, passou a ser reconhecido por seus ângulos diferentes, sua composição inovadora e sua fotos que falam.

    André Kertész – Under the Eiffel Tower (Embaixo da Torre Eiffel), 1929
    Descrição: Fotografia em preto e branco tirada de cima para baixo. Mostra a base das Torre Eiffel, sua sombra no chão e pessoas transitando em baixo dela.

    André Kertész – Chairs (Cadeiras), Champ Elysées, Paris, 1927
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra cadeiras alinhadas e suas sombras (também alinhadas).

    André Kertész – Man Diving (Homem Mergulhando), Esztergom, 1917
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um homem prestes a mergulhar e seu reflexo na água.
     André Kertész – Fork (Garfo),  1928.
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um garfo apoiado em um prato.

    André Kertész – Shadows (Sombras), Paris, 1931
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra pessoas vistas de cima e suas sombras,

    Andrés Kertész – Painting his Shadow (Pintando a sua sombra), 1927.
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um homem em uma escada pintando o lado de fora de sua casa.

    Referências:

    • BORHAN, Pierre, et al. André Kertész: His Life and Work. Little, Brown and Company. Massachusetts: 1994.
  • Ponto de Fuga

    Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

    Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

    Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.
    Josef Koudelka – Exiles and Panoramas (Exílios e Panoramas) – Warsaw Pact troops invasion (Invasão das tropas do pacto de Varsóvia)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.


    Para começar, o ponto de fuga surge de um modo de ver o mundo propagado na cultura ocidental pelo Renascimento Italiano, mais especificamente pela perspectiva albertiana. Ela recebe esse nome por causa de seu criador, Leon Battista Alberti, quem, no início do Renascimento, foi a primeira pessoa a estudar proporção e análise científica de perspectiva dentro da arquitetura, fazendo o levantamento de diversos monumentos da Antiguidade e formando concepções estéticas sobre arquitetura e urbanismo.

    O ponto de fuga, porém, surge de seus estudos de aspectos teóricos de pinturas. A perspectiva albertiana, nas artes plásticas, compara um quadro a uma janela aberta para o mundo, ou seja, é como se ao pintar um quadro, para obter uma imagem próxima da realidade, o pintor deveria pintar a perspectiva da paisagem retratada da mesma maneira que veria um espectador observando a paisagem através de uma janela. Observe a imagem acima, é como se o dono do relógio fosse esse espectador em uma janela, naturalmente, as árvores, as casas e os carros parecem ficar menores à distância, esse afunilamento faz as calçadas formarem um triângulo e convergirem no ponto de fuga.

    Em termos técnicos, o ponto de fuga é um termo matemático que nomeia retas paralelas que se encontram no infinito. As linhas da estrada na foto abaixo convergem em um único ponto, no infinito, esse é o ponto de fuga.


    Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.
    Josef Koudelka – Gipsies (Ciganos) – Untitled (Sem Nome)
    Descrição: Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.

    Como já visto, ponto de fuga implica na construção de profundidade na imagem, por isso, as linhas formam uma estrutura triangular apontando para o fundo da cena. O ponto de fuga também indica a existência da linha do horizonte. Porém, nem sempre para existir o ponto de fuga é necessário que o triângulo se complete. Na foto abaixo, as linhas não chegam a convergir, mas é possível imaginar uma continuação delas, onde o ponto estaria, e o olhar do leitor é, de qualquer maneira, guiado ao fundo da fotografia.

    Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.
    Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Ireland (Irlanda)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.

    O ponto de fuga não precisa ser apenas um modo de enfatizar a perspectiva natural do ambiente. Ele pode, por exemplo, ser usado para enfatizar o que se deseja fotografar, ao colocá-lo exatamente no ponto de fuga. Também é possível criar um caminho entre o plano principal e os planos interiores, guiando o olhar do leitor e lentamente diminuindo a perspectiva até o ponto, como nas três fotografias acima. Outra maneira é utilizar a regra dos terços e as noções de linha do horizonte para enfatizar dois terços da fotografia. Não se esqueça que as linhas também podem ser curvas, como na fotografia abaixo, do Josef Koudelka.


    Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há um cachorro andando.
    Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Parc de Sceaux, Haunts-de-Seine, France (Parque de Sceaux, Altos do Sena, França)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há o que parece ser um cachorro andando.
    Josef Koudelka é um fotógrafo checo nascido em 1938. Ele começou a fotografar em 1950 e no final dos anos 60, fotografou a invasão soviética em Praga, publicando suas fotos sobre o pseudônimo P.P. que significava Prague Photographer (Fotógrafo de Praga). Suas fotografias têm uma forte presença política e também retratam a sua vida no exílio. Vamos treinar? Faça fotografias em que um caminho partindo do plano principal forme um ponto de fuga, usando Josef Koudelka como inspiração.

    Referências

  • Diante da dor dos outros

     

    Sontag analisa imagens da guerra, desde as pinturas de Goya até fotos do atentado do 11 de setembro, refletindo e criticando nossa relação com elas.

    Susan Sontag foi uma importante intelectual e escritora norte-americana. Cursou filosofia na Universidade de Chicago e fez pós-graduação na Universidade de Harvard, além de ter estudado literatura e teologia. Defensora dos direitos humanos, foi presidente do American Center of PEN (1987-1989), organização de escritores que lutavam pela liberdade de expressão, onde liderou diversas campanhas a favor de autores presos ou perseguidos. 
    Legenda:Susan Sontag em 1993, Alen Macweeney/Corbis/Getty Images
    Descrição: uma mulher encara a câmera enquanto se encosta no que parece ser uma porta.
    Sontag publicou diversos romances, ensaios críticos e peças de teatro. Nos últimos anos de sua vida foi uma crítica do governo de George W. Bush e da Guerra do Iraque, o que pode ser percebido em seu último livro publicado em vida: Diante da dor dos outros (2003). Editado no Brasil pela Companhia das Letras, este livro retoma um dos pontos abordados pela autora em Sobre Fotografia, o de que o impacto das imagens violentas de guerra já teria diminuído por causa de seu uso constante pela mídia. 
    Em Diante da dor dos outros, a ensaísta analisa diversas imagens violentas desde os quadros de Goya da guerra até os registros do atentado do 11 de setembro, passando pelas fotografias dos campos de concentração nazistas refletindo sobre questões como o fato de fotos de guerra terem sido encenadas faz com que elas percam sua força para o “público” ou se a divulgação dessas imagens  em revistas e jornais podem fazer com que elas se tornem banais, entre muitas outras. Cada capítulo do livro rende um debate.
    Legenda: capa do livro, Companhia das Letras
    Descrição: uma ilustração de um homem enforcado em uma árvore enquanto outro homem o encara. Na frente estão o título do livro, o nome da autora e da editora.
    Um dos momentos mais interessantes do livro é quando a escritora condena a constante afirmação do senso comum de que por causa da mídia, a guerra se tornou um espetáculo. Ela classifica a afirmação como provinciana, já que partiria apenas de um grupo seleto de pessoas que jamais vivenciou a dor e a violência, a não ser através da tv e dos jornais.
    Eu já havia lido e escrito sobre um livro de Sontag aqui para o blog, e como havia dito naquele post, fiquei muito intrigada para conhecer mais obras da autora. E posso dizer que essa segunda leitura não decepcionou, e por abordar um tema tão complexo como nossa relação com imagens de violência, conseguiu ser ainda mais engajante que o Sobre Fotografia, outro livro incrível.  
    Mesmo tendo falecido há mais de uma década atrás, em 2004, Susan Sontag continua uma autora extremamente atual, trazendo reflexões não só sobre fotografia, mas sobre a mídia, o comportamento humano e a forma como retratamos a guerra dependendo de onde ela ocorre. Leitura indispensável.
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    Links e referências

  • Juvenal Pereira

     Juvenal Pereira, autor de célebres fotografias é um dos nomes do fotojornalismo brasileiro. 

    Aguasujenses, Romaria, MG, Juvenal Pereira, 1975
    Aguasujenses, Romaria, MG, Juvenal Pereira, 1975
    Fotógrafo autodidata, Juvenal Eustáquio Pereira (1946), nasceu em Romaria, Minas Gerais.  Seu pai, com quem teve grande identificação, era músico e sapateiro, e sua mãe, professora. Cresceu em uma família de 15 irmãos. Suas primeiras influências vieram de sua infância, onde, desde cedo, aprendeu  sobre o socialismo, na prática, dividindo funções e trabalhos. 
    De característica inquieta, antes de se descobrir fotógrafo, Juvenal Pereira exerceu diversas funções. E em 1970, começa a trabalhar como fotógrafo na filial mineira (Belo Horizonte) da revista “O cruzeiro”, atuando a seguir, entre 1971 e 1974 na filial baiana da mesma revista, em Salvador. Residindo, já em Brasília, em 1975, fundou  a escola Três por Quatro de Fotografia e Cinema, e entre 1976 e 1979, coordenou o projeto Conversas sobre fotografia, realizado na Aliança Francesa. 
    Radicou-se para São Paulo no início da década de 1980, lá implantou o curso de fotografia do Sesc – Fábrica Pompéia, atuando também como professor (1982/1984). Fundou, em 1991, o Núcleo dos Amigos da Fotografia – NaFoto e organizou o Mês Internacional da Fotografia de São Paulo.
    O currículo do mineiro é extenso. Atuando como jornalista, Juvenal trabalhou para o Correio Brasiliense e para o Jornal de Brasília, além de ter colaborado para as revistas Veja e Isto É. Entre 1988 e 1989, trabalhou para a Folha de S. Paulo. Juvenal, conheceu diversos estados brasileiros e o exterior. Tratou de muitas temáticas sociais em suas obras, como racismo, regionalismo, crescimento de cidades, política e antropologia. 
    Congada, Silvianópolis, MG

    No lado direito, a beira de um rio, uma casa, um varal com roupas, duas galinhas. Uma mulher lava os pratos em uma bacia e o homem está sentado realizando algum trabalho manual.
    Varal, Vale da Ribeira, SP, 1984

    Pessoas em um um corredor tocando música e dançando. Elas estão animadas e felizes.
    Samba do Beka, Salvador, BA, 1982

    Frente uma casa de barro, no sertão do Maranhão, pessoas paradas olham para o registro da foto.
    Negros, Alcântara, MA, Juvenal Pereira, 1981
    Em uma parede dentro de casa, ao lado esquerdo uma rede, uma criança aparentemente sentada na rede. Ao lado uma criança de vestido, parada encostada na parede. A parede está com marcas de tempo e há um calendário pendurado na parede.
    Interiores, Alcântara, 1979

    As mulheres estão de costas, todas com um mesmo vestido. Elas usam lenços na cabeça e carregam consigo uma instrumento de percussão, tambor.
     Caixeras do Divino, Alcântara, 1980 

    Conte-nos o que achou da #galeria de hoje, deixe suas impressões sobre estas belas fotografias.

    Referências