Empoderamento e puro talento condensados na figura de um dos maiores atores brasileiros.
![]() |
Joel Maia |
Empoderamento e puro talento condensados na figura de um dos maiores atores brasileiros.
![]() |
Joel Maia |
![]() |
Sebastião Salgado |
A fotografia de Otto Stupakoff representa uma sensação de sufoco causada pela ansiedade.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade, quadro que foi intensificado pela pandemia de Covid-19. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é o de ansiedade generalizada (TAG). Alguns dos sintomas são: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, taquicardia, falta de ar e aperto do peito.
![]() |
Otto Stupakoff |
A fotografia acima, nomeada de “ansiedade” por seu autor, representa essa sensação de sufoco, aperto no peito, causado pelo quadro ansioso. Quando vi essa foto, me identifiquei, pois, muitas vezes senti que a ansiedade era uma mão invisível me sufocando, me sentia assim, impotente diante dela.
Quando se pensa em ansiedade, as referências que surgem é a inquietação, o roer de unhas, o balançar de pernas, mas se tratando de transtornos de ansiedade, comumente ela é paralisante. Olhos vidrados, clamando por socorro, quando a mente está um turbilhão e parece impossível articular qualquer frase. Só quem já sentiu conhece essa sensação de estar sendo revirado de dentro para fora, como se a alma estivesse vomitando a si mesma. O coração e a mente de uma pessoa ansiosa viaja como um trem-bala, percorrendo longas distâncias em pouquíssimo tempo e, até os efeitos colaterais sumirem, parece uma eternidade.
Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem falar e/ou escrever sobre o que sentem, mas desenham, pintam, cantam e fotografam. Frequentemente, a melhor forma de comunicar sentimentos é através de outras coisas que não a coisa em si, afinal, o que sentimos configura uma teia complexa de significados. E, no caso desta fotografia, acho que ela comunica mais do que meu texto, justamente porque cada um se apropriará dela de forma única.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
Toda rua pode não ter saída para uma mulher.
A imagem analisada, de autoria de Ramon Lisboa, é apresentada com a legenda: “A rua é hostil, a cultura é hostil. Ponto. Bairro de rico ou pobre, nada muda”. Foi publicada numa matéria do Estado de Minas de outubro de 2021, cujo título é “Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos”.
![]() |
Ramon Lisboa / EM / D.A Press |
A fotografia aborda o espaço de violência contra a mulher propiciado pela estruturação de locais urbanos. Nela, elementos de disposição espacial, de composição, ângulo de visão, iluminação e movimento são combinados para demonstrar a tensão, o aperto e o desespero vivido diariamente nessas situações.
A mulher de costas é o elemento principal da imagem, ou seja, para onde a fotografia direciona o seu olhar. Ela está descentralizada, andando no meio de uma das faixas da rua, no lado direito da fotografia, possivelmente porque a calçada é estreita e está localizada numa sombra na iluminação da rua, o que faz surgir um clima de tensão.
A fotografia ter sido feita na curva também contribui para a atmosfera de suspense, uma vez que não se sabe o que se tem adiante. Há dois carros indo na mesma direção que a mulher, o que pode ser associado a algum tipo de abordagem agressiva ou tensa, ainda mais considerando que cena se desenrola à noite, contexto socialmente mais associado com a insegurança de andar sozinha pela cidade.
Os movimentos estão congelados, os detalhes não ficam borrados e desse modo, consegue-se perceber que é uma mulher. Se isso não fosse identificável, a imagem perderia a conotação social que ela tem, já que a figura feminina é fundamental para construção da insegurança, dado que se associa ao alto índice de violência que mulheres sofrem em situações similares.
A objetiva utilizada possivelmente foi uma teleobjetiva, que com o zoom, formou um ângulo de visão menor que o humano. Essa diminuição do ângulo dá uma sensação de aprisionamento, de aperto. A cena retratada é mal iluminada, o que aumenta ainda mais a sensação de perigo.
Os elementos da imagem constroem uma atmosfera de tensão, retratando a inseguridade para mulheres se locomoverem sozinhas a pé à noite. A disposição (rua ser curva e a mulher na faixa e não na calçada); a iluminação, (elemento principal está na sombra e a rua não é bem iluminada); a diminuição do ângulo de visão e o congelamento do movimento são aspectos utilizados para essa finalidade.
Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.
Lívia Gariglio é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Um ensaio sobre a inserção de mulheres nos contextos urbanos
Com intuito de destacar a presença da mulher nos diversos cenários urbanos, a fotógrafa Hildegard Rosenthal produziu, em 1940, o ensaio intitulado “A nova mulher”, em que retratou sua amiga em diversas cenas cotidianas na cidade de São Paulo. Na imagem abaixo vemos uma cena comum dos anos 40, alguém lendo jornal numa banca, mas que nunca era retratada com a presença feminina em destaque.
![]() |
Hildegard Rosenthal |
Em suas obras, Hildegard retrata paisagens urbanas como a arquitetura das cidades, vendedores e cidadãos comuns em situações rotineiras. No entanto, após perceber a presença dominante de figuras masculinas em suas fotografias, a artista resolveu produzir o ensaio intitulado: “A nova mulher”, agora com maior presença nos ambientes urbanos.
Anteriormente, os espaços públicos eram frequentados e pensados para homens, enquanto às mulheres era oferecido somente o ambiente doméstico. Porém, vale lembrar que mesmo que ocupados majoritariamente por homens, algumas mulheres já haviam, sozinhas, adentrado tais lugares e conquistado seu espaço. Contudo, é só a partir dos anos 40 e 50 que a grande massa feminina começou a participar ativamente do convívio social, experimentando ocupar espaços que antes lhes eram proibidos.
O ensaio de Hildegard é um exemplo fiel deste momento, retratando o ingresso da mulher no convívio social. Na imagem abaixo, podemos ver a mesma moça da primeira foto comprando um buquê numa feira de flores montada na rua.
![]() |
Hildegard Rosenthal |
Ambas as imagens me atraem o olhar por simplesmente retratar mulheres, há um processo de reconhecimento que acredito ser fundamental nas construções de fotografias cujo objetivo é mobilizar os espectadores, fazendo-os repensar tais assuntos.
Estas fotografias, e o ensaio como um todo, muito me agradam devido à característica feminista de repensar, expor e questionar a presença feminina e o papel da mulher no espaço público. As fotos foram apresentadas num período onde o feminismo era pouco presente no cotidiano brasileiro, discutido apenas pela elite intelectual da época.
O feminismo de hoje só é possível devido a mulheres que, como Hildegard, quebraram as barreiras e estereótipos de seus respectivos períodos históricos. Abrindo espaço para que mulheres fossem vistas e ouvidas, e o feminismo discutido e repensado.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
COUTO, Sarah. A nova mulher. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-nova-mulher/>. Publicado em: 17/08/2022. Acessado em: [informar data].
O Capitão Brasil e sua narrativa.
A fotografia de Pedro Ladeira publicada em 29 de setembro de 2021, mesmo dia do depoimento de Luciano Hang na CPI da Covid, mostra como o depoente utilizou desse espaço para fazer um espetáculo midiático. Ele foi chamado devido à suspeita de seu envolvimento com disparos de Fake News e de participação no Gabinete Paralelo, grupo extraoficial que aconselhava Bolsonaro a respeito da pandemia.
![]() |
Pedro Ladeira/Folhapress |
“Qual é o preço de mentiras?”. A frase que abre a premiada minissérie da HBO Chernobyl é um bom ponto de partida para se analisar como o Brasil lidou com a Pandemia de COVID-19. Fake News dizendo que era apenas uma “gripezinha” ou que o tratamento precoce era eficaz fez com que as pessoas não respeitassem as medidas sanitárias e assim colocassem suas vidas em risco.
Na foto, Hang segura uma placa onde se lê “LIBERDADE DE EXPRESSÃO”. Durante seu longo depoimento ficou claro que a liberdade que ele busca é a de manter a sua narrativa de que poucas pessoas morreram por COVID-19, e que se elas tivessem feito o tratamento precoce não seriam vítimas da doença.
Além do cartaz presente na fotografia, o depoente levou vários outros. Seu objetivo era causar tumulto, cair na boca do povo, e assim conseguiu. Para alguns virou piada, para outros revolta. Nesse viés, vale lembrar que liberdade de expressão não é incondicional. Aquele que diz arca com as consequências de suas palavras, ainda mais quando essas são danosas para toda a sociedade. Como é o caso da liberdade ao qual Hang se refere.
As cores verde e amarelo estão presentes não só nas placas, como também no terno e na máscara de Hang. Isso é usado por ele como um sinal de patriotismo. Vale destacar que ele se veste com uma roupa de Super-herói e se declara Capitão Brasil. Assim, ao mesmo tempo que a imagem gera raiva, ela é cômica. Como mesmo disse Renan Calheiro na reunião da CPI do dia que a foto foi tirada, bobos da corte chamam a atenção e servem de cortinas de fumaça.
Assim, observa-se que a persona pública de Luciano Hang utiliza polêmicas, mentiras e extravagância como forma de autopromoção e para atingir os seus objetivos. Ele provoca e distorce, tudo isso para manter uma narrativa e se tornar um mártir, o Capitão Brasil que supostamente luta pela liberdade de expressão.
Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.
Miller Henrique Corrêa de Brito é bacharelando em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença.
Um garoto cabisbaixo se destaca no grupo aglomerado na calçada de uma loja na cidade de Pacaraima, em Roraima. Assim como a Branca de Neve, princesa presente na coberta colorida na qual o garoto está enrolado, ele parece estar em busca de um lugar melhor.
![]() |
Mathilde Missioneiro/Folhapress |
Dois elementos se destacam ao observarmos a foto acima. O garoto enrolado na coberta colorida que está em primeiro plano e que ocupa a parte central da imagem e o aglomerado de pessoas ao seu redor que compõem o fundo da imagem. A foto em plano aberto nos permite visualizar que eles estão em uma calçada e o fato de ter pessoas deitadas em pedaços de papelão nos faz perceber que estas pessoas estão desabrigadas.
O movimento migratório, apesar de estar presente em tratados e acordos nacionais e internacionais como um direito humano, ainda hoje não é plenamente respeitado. No Brasil, segundo a Constituição de 88 e a Nova Lei de Migração instituída em 2017, é garantida às pessoas em deslocamento interno ou transfronteiriço direitos fundamentais como educação, saúde, liberdade, moradia e trabalho. Além disso, cabe ao Conare, Comitê Nacional para os Refugiados, garantir assistência e proteção às pessoas refugiadas no país. Apesar disso, como é possível perceber através da foto, um incontável número de indivíduos não recebe a assistência necessária. Para ser mais exata, ao ler a reportagem, somos informados que estes são apenas alguns dos 2065 migrantes e refugiados desabrigados em Pacaraima, cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela.
A cidade, mencionada pelo Presidente Bolsonaro como exemplo de acolhimento, não parece se esforçar para garantir o mínimo de dignidade aos imigrantes, pois as vagas oferecidas para os abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo exército, não atendem nem metade da demanda e o governo municipal, por sua vez, não oferece nenhuma estrutura para quem está fora dos abrigos. Sendo assim, para a maioria dos imigrantes, a única ajuda parte de iniciativas voluntárias, como a ONG Médicos Sem Fronteiras e a Caritas, uma organização católica que apoia migrantes e refugiados.
Além disso, a foto, feita por Mathilde Missioneiro e publicada em 6 de agosto de 2021, foi tirada durante a pandemia de covid-19, onde as recomendações principais eram: fique em casa, evite aglomerações e use máscara. Coisas que parecem simples, para quem não tem o básico se tornam impossíveis.
A imagem nos faz questionar o lema já conhecido e atribuído à Pacaraima pelo presidente. Será mesmo que somos um país acolhedor? E por que essas pessoas não são dignas de terem seus direitos mais básicos respeitados? Infelizmente, cenas como essas são comuns, e não só aqui. Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença humana.
Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.
Larissa Caroline Lopes Fonseca é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Fome é exposta durante a pandemia.
Uma fotografia costuma ser capaz de dizer mais coisas que milhões de palavras e quando uma fotografia tem muito a dizer, há uma história por trás. É isso que a fotografia do Danilo Verpa, que busca retratar como a fome leva famílias a revirar lixo e buscar alimentos próximos do descarte, trazendo uma sensação constante de revolta, e um certo pavor, temendo que amanhã seja a nossa vez de não ter o que comer. Conhecendo esse fato é preciso analisar como as políticas públicas deixaram a desejar no que tange a segurança alimentar.
![]() |
Danilo Verpa |
A fotografia do Danilo Verpa permite observar 5 pessoas, em volta de um lixeiro, no que entende – se por ambiente urbano, pela composição das ruas, e carros, uma das mulheres coleta algo que aparenta ser uma fruta, a luz ambiente é característica do dia isso no que se refere aos elementos observáveis mais técnicos, com significação formal, pode – se destacar que a fotografia está na horizontal, no plano médio, sob ponto de vista superior e a expressão de movimento congelada.
Mas para além dos elementos visíveis, o contexto no qual a foto foi tirada significa muito, ver essa fotografia causa revolta e certa repulsa a pensar que provavelmente o alimento de algumas pessoas vem dos restos de outras pessoas. Conhecendo o contexto da fotografia, o sentimento de revolta fica ainda mais evidente, a foto foi tirada no 23 de outubro de 2021 no contexto pandêmico a situação do Brasil no que tange a fome se tornou ainda mais agravante.
Já quanto à significação cultural é preciso considerar que a saída do Brasil do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 foi um marco mundialmente reconhecido no caminho à promoção do direito humano à alimentação adequada e saudável. Durante a pandemia de COVID – 19, o Brasil retornou para o mapa da fome. Os dados são da pesquisa “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, elaborada pela Rede Penssan e mostram que o Brasil retrocedeu 15 anos em cinco, voltando a ter a fome como problema estrutural.
Urge no Brasil uma ação mais incisiva para garantir a segurança alimentar para a população. O brasileiro sente o descaso na pele. São 19 milhões de brasileiros passando fome no nível mais grave, cerca de 9% da população. Não basta se revoltar, é preciso agir, o que pode ser feito para que as necessidades associadas ao sentimento de revolta é cobrar uma ação dos órgãos públicos, exigir do ministério da economia investimentos em projetos para assegurar a alimentação do brasileiro.
A prerrogativa de segurança alimentar é uma questão tão forte quanto a de 15 anos atrás, isso causa revolta, mas é função do fotojornalismo retratar isso, evidenciar questões que afetam a população vulnerável. Portanto, a fotografia analisada exige sensibilidade de compreender que além de entender o problema é preciso buscar soluções que viabilizem a segurança alimentar da população brasileira.
Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.
Maria Eduarda Gomes é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).