Categoria: Leitura

  • O brilho eterno de uma verdadeira estrela

    Empoderamento e puro talento condensados na figura de um dos maiores atores brasileiros.

    No dia 30 de maio de 2022, o Brasil perdeu um de seus maiores nomes do teatro, cinema e teledramaturgia. Milton Gonçalves partiu aos 88 anos deixando um legado extenso de direção e atuação em uma extensa conjunto de obras como: “Irmãos Coragem”, “O bem-amado” e “O beijo da mulher-aranha”. Milton tinha uma personalidade forte, era um homem negro ativo na política do país e se fazia atuante na luta por um Brasil mais justo e igualitário. 
    A foto está em preto e branco. A figura de Milton é a  protagonista da foto. Apesar de ele não estar totalmente no centro da imagem, é ele quem está no primeiro plano. A foto foi tirada de cima para baixo e o ator usa uma vestimenta de padre e óculos. Atrás dele, vemos um homem olhando em sua direção, uma pessoa de costas para a cena e um poste da cidade cenográfica atrás dele. Um pouco à frente de Milton há outros dois personagens, um de chapéu e o outro conversando com o ator. Entretanto, vemos apenas parte dos rostos de ambos e uma parte da mão daquele que dialoga com Milton.
    Joel Maia
    A fotografia de Milton Gonçalves foi feita por Joel Maia e faz parte do acervo da Rede Globo de televisão, emissora em que o ator trabalhava como um de seus funcionários mais antigos e queridos. A imagem é da novela “Roque Santeiro”, de 1985, em que ele interpretava o Padre Honório.
    Nessa época, o Brasil deixava o período da Ditadura Militar e caminhava para sua redemocratização o que gerava um clima esperançoso em toda a sociedade. A novela Roque Santeiro, que havia sido vetada pelo governo militar dez anos antes, finalmente ganhava as telas e buscava representar e criticar o Brasil daquela época através de uma cidadezinha de interior. Nessa mesma sintonia se encontrava o artista Milton Gonçalves, um homem que havia lutado ativamente durante as “Diretas Já”, um ano antes. 
    A imagem foi tirada num ângulo de baixo para cima em que a figura de Milton me transmite autoridade e poder. Sua expressão séria e destemida rouba a cena e ganha os olhos dos outros personagens durante aquilo que parece ser um diálogo.
    Para mim, a fotografia exala toda a consciência política de Milton como um homem negro nos anos 80. Em tempos tão racistas como o que vivemos hoje é difícil imaginar como era o Brasil há mais de 30 anos, quando as coisas foram ainda piores. E naquela época, Milton, com muita classe, venceu barreiras e conquistou espaços majoritariamente brancos do mundo artístico. Representando toda uma geração de pessoas negras e abrindo portas que antes estavam fechadas para elas.
    Também, o fato de a fotografia estar em preto e branco conversa totalmente com a ideia que me é passada. Afinal, se observássemos uma foto colorida, a atenção poderia estar voltada para outros detalhes como o figurino dos atores. Entretanto, a paleta de tons enfatiza uma seriedade e poder na imagem, jogando toda a nossa atenção para o protagonista da cena e para a interpretação citada anteriormente.
    Portanto, levando em consideração toda a história de Milton Gonçalves no mundo das artes, vemos na foto uma persona singular. Ali está um dos primeiros atores negros a se destacar no Brasil. Um homem que veio de uma família humilde e passou por diferentes ofícios antes de subir ao palco para trabalhar com a sua grande paixão e ajudar no sustento da família. 
    Hoje, Milton deixa um legado que poucos atores conseguem, tanto pelo reconhecimento artístico, acumulando vários prêmios (inter)nacionais como o Emmy de melhor ator — premiação, inclusive, em que foi o primeiro brasileiro a apresentar anos mais tarde. Quanto por possuir uma voz ativa na política em seus discursos, entrevistas e atitudes dando sempre destaque para as causas do povo negro. 
    Essa faceta está eternizada nesta fotografia, mostrando um lado poderoso e marcante de uma personalidade que, sem dúvida, vai deixar saudade.
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    Como citar esta postagem

    MAIA. Amanda. O brilho eterno de uma verdadeira estrela. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/09/O brilho eterno de uma verdadeira estrela.html. Publicado em: 7 de set. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • O grito por socorro que não ecoa

    O pedido de ajuda dos yanomami foi registrado por Sebastião Salgado em seu projeto “Amazônia”.
    A fotografia de Sebastião Salgado revela um pedido de socorro. Por meio dela, vemos três indígenas em um trecho de rio cercado pela floresta. O primeiro deles, o Xamã, realiza um ritual.
    Sebastião Salgado

    A fotografia feita por Sebastião Salgado se trata de um registro fotográfico imponente e necessário. A foto em questão traz ao público uma importante mensagem: o pedido de socorro dos povos indígenas da Amazônia. 
    Na imagem é possível ver a aflição do Xamã Yanomami – o senhor em destaque na foto – enquanto ele e os outros dois homens no fundo estão em um rio. Além disso, existem outros elementos na imagem que ajudam a construir essa narrativa, bem como os tons de branco e preto tradicionalmente utilizados pelo autor que dão a sensação de aflição, por exemplo. Outro aspecto importante a ser observado são os galhos em torno do rio que parecem engolir os três homens no meio. Isso, junto com a expressão de cansaço estampada no rosto do Xamã enquanto ele clama aos céus.
    Com as mãos para o alto, a expressão e a posição do xamã não apenas aparenta ser um pedido de ajuda, como de fato o é: No momento desse registro, ele estava fazendo um ritual pedindo às forças superiores de sua crença para que parasse de chover e eles pudessem seguir em frente, rumo ao Pico da Neblina. 
    De acordo com o G1, recentemente garimpeiros estupraram uma menina yanomami de 12 anos. Após o ocorrido, todo o povo yanomami desapareceu. Eles foram encontrados apenas dias depois do ocorrido fugindo do garimpo que invadiu suas terras. Ao considerar isso e toda a história dos povos indígenas, essa fotografia passa a simbolizar não apenas o cansaço de um caminho exaustivo debaixo de chuva, mas também toda a jornada de luta e resistência pela sobrevivência e dignidade ignorada pelas grandes mídias. 
    Não houveram grandes movimentações contra o desaparecimento de um povo inteiro e, como consequência, também não houve justiça. Os responsáveis pela invasão das terras yanomamis e pelo estupro da menina de 12 anos não foram responsabilizados pelos seus crimes. 
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

  • Ansiedade: mãos que me sufocam

    A fotografia de Otto Stupakoff representa uma sensação de sufoco causada pela ansiedade.


    De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade, quadro que foi intensificado pela pandemia de Covid-19. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é o de ansiedade generalizada (TAG). Alguns dos sintomas são: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, taquicardia, falta de ar e aperto do peito.


    A fotografia, em preto e branco, mostra uma mulher de traços caucasianos, que usa maquiagem e olha fixamente para a câmera. Seu olho está bem aberto e o rosto sem expressões. Ela leva a mão ao pescoço, apertando-o.
    Otto Stupakoff

    A fotografia acima, nomeada de “ansiedade” por seu autor, representa essa sensação de sufoco, aperto no peito, causado pelo quadro ansioso. Quando vi essa foto, me identifiquei, pois, muitas vezes senti que a ansiedade era uma mão invisível me sufocando, me sentia assim, impotente diante dela. 

    Quando se pensa em ansiedade, as referências que surgem é a inquietação, o roer de unhas, o balançar de pernas, mas se tratando de transtornos de ansiedade, comumente ela é paralisante. Olhos vidrados, clamando por socorro, quando a mente está um turbilhão e parece impossível articular qualquer frase. Só quem já sentiu conhece essa sensação de estar sendo revirado de dentro para fora, como se a alma estivesse vomitando a si mesma. O coração e a mente de uma pessoa ansiosa viaja como um trem-bala, percorrendo longas distâncias em pouquíssimo tempo e, até os efeitos colaterais sumirem, parece uma eternidade.

    Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem falar e/ou escrever sobre o que sentem, mas desenham, pintam, cantam e fotografam. Frequentemente, a melhor forma de comunicar sentimentos é através de outras coisas que não a coisa em si, afinal, o que sentimos configura uma teia complexa de significados. E, no caso desta fotografia, acho que ela comunica mais do que meu texto, justamente porque cada um se apropriará dela de forma única.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

  • Inseguridade feminina urbana e construção de elementos da imagem

    Inseguridade feminina urbana e construção de elementos da imagem

    Toda rua pode não ter saída para uma mulher.

    A imagem analisada, de autoria de Ramon Lisboa, é apresentada com a legenda: “A rua é hostil, a cultura é hostil. Ponto. Bairro de rico ou pobre, nada muda”. Foi publicada numa matéria do Estado de Minas de outubro de 2021, cujo título é “Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos”.

    Uma mulher sozinha, de blusa de frio e legging, andando próxima a uma curva no meio da faixa direita de uma rua à noite, com dois carros indo na mesma direção que ela. Ela está inserida numa sombra entre a iluminação da rua. Há a presença de uma placa de sinalização, árvores e um muro. A calçada é estreita e há folhas no chão.

    Ramon Lisboa / EM / D.A Press 

    A fotografia aborda o espaço de violência contra a mulher propiciado pela estruturação de locais urbanos. Nela, elementos de disposição espacial, de composição, ângulo de visão, iluminação e movimento são combinados para demonstrar a tensão, o aperto e o desespero vivido diariamente nessas situações.

    A mulher de costas é o elemento principal da imagem, ou seja, para onde a fotografia direciona o seu olhar. Ela está descentralizada, andando no meio de uma das faixas da rua, no lado direito da fotografia, possivelmente porque a calçada é estreita e está localizada numa sombra na iluminação da rua, o que faz surgir um clima de tensão.

    A fotografia ter sido feita na curva também contribui para a atmosfera de suspense, uma vez que não se sabe o que se tem adiante. Há dois carros indo na mesma direção que a mulher, o que pode ser associado a algum tipo de abordagem agressiva ou tensa, ainda mais considerando que cena se desenrola à noite, contexto socialmente mais associado com a insegurança de andar sozinha pela cidade.

    Os movimentos estão congelados, os detalhes não ficam borrados e desse modo, consegue-se perceber que é uma mulher. Se isso não fosse identificável, a imagem perderia a conotação social que ela tem, já que a figura feminina é fundamental para construção da insegurança, dado que se associa ao alto índice de violência que mulheres sofrem em situações similares.

    A objetiva utilizada possivelmente foi uma teleobjetiva, que com o zoom, formou um ângulo de visão menor que o humano. Essa diminuição do ângulo dá uma sensação de aprisionamento, de aperto. A cena retratada é mal iluminada, o que aumenta ainda mais a sensação de perigo.

    Os elementos da imagem constroem uma atmosfera de tensão, retratando a inseguridade para mulheres se locomoverem sozinhas a pé à noite. A disposição (rua ser curva e a mulher na faixa e não na calçada); a iluminação, (elemento principal está na sombra e a rua não é bem iluminada); a diminuição do ângulo de visão e o congelamento do movimento são aspectos utilizados para essa finalidade.

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    Sobre a autora

    Lívia Gariglio é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • A nova mulher

    A nova mulher

    Um ensaio sobre a inserção de mulheres nos contextos urbanos

    Com intuito de destacar a presença da mulher nos diversos cenários urbanos, a fotógrafa Hildegard Rosenthal produziu, em 1940, o ensaio intitulado “A nova mulher”, em que retratou sua amiga em diversas cenas cotidianas na cidade de São Paulo. Na imagem abaixo vemos uma cena comum dos anos 40, alguém lendo jornal numa banca, mas que nunca era retratada com a presença feminina em destaque.

     
    A foto em preto e branco mostra uma mulher em pé em frente a uma banca lendo um jornal. À sua volta há diversas pessoas andando nas ruas e calçadas, ninguém dá atenção à câmera.
    Hildegard Rosenthal

    Em suas obras, Hildegard retrata paisagens urbanas como a arquitetura das cidades, vendedores e cidadãos comuns em situações rotineiras. No entanto, após perceber a presença dominante de figuras masculinas em suas fotografias, a artista resolveu produzir o ensaio intitulado: “A nova mulher”, agora com maior presença nos ambientes urbanos.

    Anteriormente, os espaços públicos eram frequentados e pensados para homens, enquanto às mulheres era oferecido somente o ambiente doméstico. Porém, vale lembrar que mesmo que ocupados majoritariamente por homens, algumas mulheres já haviam, sozinhas, adentrado tais lugares e conquistado seu espaço. Contudo, é só a partir dos anos 40 e 50 que a grande massa feminina começou a participar ativamente do convívio social, experimentando ocupar espaços que antes lhes eram proibidos.

    O ensaio de Hildegard é um exemplo fiel deste momento, retratando o ingresso da mulher no convívio social. Na imagem abaixo, podemos ver a mesma moça da primeira foto comprando um buquê numa feira de flores montada na rua.

     
    A imagem em preto e branco mostra uma feira de flores na rua. Em primeiro plano, há um vendedor de branco que carrega um pequeno buquê. Ele conversa com a modelo que sorri e segura um grande buquê em uma das mãos. Ao fundo, do outro lado da rua, vemos mais pessoas olhando as flores expostas na calçada próxima a um muro. E, acima do muro, existem diversos cartazes com propagandas expostas.
    Hildegard Rosenthal

    Ambas as imagens me atraem o olhar por simplesmente retratar mulheres, há um processo de reconhecimento que acredito ser fundamental nas construções de fotografias cujo objetivo é mobilizar os espectadores, fazendo-os repensar tais assuntos.

    Estas fotografias, e o ensaio como um todo, muito me agradam devido à característica feminista de repensar, expor e questionar a presença feminina e o papel da mulher no espaço público. As fotos foram apresentadas num período onde o feminismo era pouco presente no cotidiano brasileiro, discutido apenas pela elite intelectual da época.

    O feminismo de hoje só é possível devido a mulheres que, como Hildegard, quebraram as barreiras e estereótipos de seus respectivos períodos históricos. Abrindo espaço para que mulheres fossem vistas e ouvidas, e o feminismo discutido e repensado.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar este artigo

    COUTO, Sarah. A nova mulher. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-nova-mulher/>. Publicado em: 17/08/2022. Acessado em: [informar data].

  • Qual o preço da “liberdade de expressão”?

    Qual o preço da “liberdade de expressão”?

    O Capitão Brasil e sua narrativa.

    A fotografia de Pedro Ladeira publicada em 29 de setembro de 2021, mesmo dia do depoimento de Luciano Hang na CPI da Covid, mostra como o depoente utilizou desse espaço para fazer um espetáculo midiático. Ele foi chamado devido à suspeita de seu envolvimento com disparos de Fake News e de participação no Gabinete Paralelo, grupo extraoficial que aconselhava Bolsonaro a respeito da pandemia.

    A fotografia apresenta Luciano Hang usando terno e máscara verde e gravata amarela. Ele segura em sua frente um cartaz também verde onde se lê em letras amarelas “Liberdade de Expressão”. A foto foi feita durante uma sessão da CPI da COVID-19 em 2021 no Senado Federal.

    Pedro Ladeira/Folhapress

    “Qual é o preço de mentiras?”. A frase que abre a premiada minissérie da HBO Chernobyl é um bom ponto de partida para se analisar como o Brasil lidou com a Pandemia de COVID-19. Fake News dizendo que era apenas uma “gripezinha” ou que o tratamento precoce era eficaz fez com que as pessoas não respeitassem as medidas sanitárias e assim colocassem suas vidas em risco.

    Na foto, Hang segura uma placa onde se lê “LIBERDADE DE EXPRESSÃO”. Durante seu longo depoimento ficou claro que a liberdade que ele busca é a de manter a sua narrativa de que poucas pessoas morreram por COVID-19, e que se elas tivessem feito o tratamento precoce não seriam vítimas da doença.

    Além do cartaz presente na fotografia, o depoente levou vários outros. Seu objetivo era causar tumulto, cair na boca do povo, e assim conseguiu. Para alguns virou piada, para outros revolta. Nesse viés, vale lembrar que liberdade de expressão não é incondicional. Aquele que diz arca com as consequências de suas palavras, ainda mais quando essas são danosas para toda a sociedade. Como é o caso da liberdade ao qual Hang se refere.

    As cores verde e amarelo estão presentes não só nas placas, como também no terno e na máscara de Hang. Isso é usado por ele como um sinal de patriotismo. Vale destacar que ele se veste com uma roupa de Super-herói e se declara Capitão Brasil. Assim, ao mesmo tempo que a imagem gera raiva, ela é cômica. Como mesmo disse Renan Calheiro na reunião da CPI do dia que a foto foi tirada, bobos da corte chamam a atenção e servem de cortinas de fumaça.

    Assim, observa-se que a persona pública de Luciano Hang utiliza polêmicas, mentiras e extravagância como forma de autopromoção e para atingir os seus objetivos. Ele provoca e distorce, tudo isso para manter uma narrativa e se tornar um mártir, o Capitão Brasil que supostamente luta pela liberdade de expressão.

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    Sobre o autor

    Miller Henrique Corrêa de Brito é bacharelando em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • O Milagre de Rose Smith

    O Milagre de Rose Smith

    Tirada pela fotógrafa Barbara Davidson, a imagem retrata a cena de Miracle (Milagre em português) ajudando sua mãe a se sentar na cadeira de rodas. Uma foto que poderia facilmente significar uma cena apenas de carinho, mas que traz uma história de muita luta e sofrimento.

    Descrição: A foto evidencia uma criança, de aparentemente com idade por volta dos 3 anos, ajudando uma mulher a acomodar-se na cadeira de rodas. É nítido que existe uma afinidade entre as duas, visto que o processo está sendo realizado com muita cautela e carinho. Elas estão em um quarto humilde. Nele, há uma cama grande com travesseiros em cima, um ventilador no canto esquerdo e itens pessoais ao redor do ambiente.
    Barbara Davidson

    A fotografia foi publicada em uma matéria da agência de notícias Los Angeles Times, em 31 de Dezembro de 2010. Nela, continham informações sobre o caso de Rose Smith, a mulher da foto. Rose morava no conjunto habitacional Watts Nickerson Gardens (Los Angeles) quando teve sua mandíbula, suas costas e braços alvejados por tiros.

    Smith é uma mulher inocente e, mesmo assim, sofreu as consequências da violência e criminalidade das gangues em Los Angeles. Ela nunca mais poderá andar. Triste fato que exemplifica a vulnerabilidade de muitas pessoas que moram no subúrbio. Além de ter sua própria saúde violada, a forte mulher da imagem teve de lidar com o medo de perder o ser que mais amava na vida: a bebê que carregava em seu ventre.

    Rose estava grávida de três meses quando foi atingida pelos tiros. Por um milagre, a criança não sofreu traumas físicos. Esse é o motivo para o nome de Miracle. Mas, apesar da sobrevivência da bebê ter sido uma vitória, ela não ficou alheia ao mal causado pela violência. Miracle nasceu viciada no remédio que sua mãe tomava para a dor que sentia.

    Olhando exclusivamente para a foto, eu sinto amor e compaixão: ver uma criança tão pequena já sabendo o que fazer para cuidar da pessoa que lhe deu a vida. Me pego refletindo o quanto elas devem ser próximas uma da outra. Mas, quando associo a imagem que vejo à história por trás, sinto tristeza e revolta. Essa mãe tem suas tarefas dificultadas devido a uma ocorrência na qual não teve responsabilidade nenhuma. Ela foi apenas a vítima.

    Me traz angústia pensar no quanto as pessoas que moram nas favelas, não só em Los Angeles, mas no mundo todo, estão vulneráveis a ter seu bem estar violado. Vivem entre guerras e conflitos, dificilmente conseguem paz e descanso. O medo de “estar na hora e no local errado” assombra os moradores. Infelizmente, foi o que aconteceu com Rose, pois ela estava prestes a entrar em casa quando foi alvejada pelas costas.

    É difícil não associar essa situação à criminalidade que assola grande parte dos países, dentre eles, o Brasil. O Rio de Janeiro, por exemplo – uma das metrópoles brasileiras – atingiu a marca de 100 vítimas de bala perdida em 2021, sendo 58% homens, 38% mulheres e 4% com o gênero não identificado. Entre elas, 5 crianças e 5 adolescentes. É desolador pensar na quantidade de pessoas que são feridas ou que perdem a vida todos os dias em razão de conflitos entre policiais e gangues. Pessoas que, muitas vezes, não têm conhecimento do que está acontecendo, como pode ser o caso das crianças.

    Além das marcas físicas, há também as psicológicas. Famílias perdem seus parentes para a violência, crianças perdem seus direitos básicos: brincar na rua, ir à escola, ter o sono tranquilo…  Espero que, no futuro, o mundo seja um lugar mais seguro de se viver.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link

    Links, Referências e Créditos

    SOARES, Maria Clara. O Milagre de Rose Smith. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/o-milagre-de-rose-smith/>. Publicado em: 10 de ago. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Exemplo de acolhimento e hospitalidade: venezuelanos não encontram abrigo no Brasil

    Exemplo de acolhimento e hospitalidade: venezuelanos não encontram abrigo no Brasil

    Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença.

    Um garoto cabisbaixo se destaca no grupo aglomerado na calçada de uma loja na cidade de Pacaraima, em Roraima. Assim como a Branca de Neve, princesa presente na coberta colorida na qual o garoto está enrolado, ele parece estar em busca de um lugar melhor.

    Fotografia de um grupo de desabrigados na calçada de uma loja. A frente da foto está um garoto de braços cruzados enrolado em uma coberta colorida. A foto foi tirada de um ângulo um pouco acima do nível dessas pessoas.

    Mathilde Missioneiro/Folhapress 

    Dois elementos se destacam ao observarmos a foto acima. O garoto enrolado na coberta colorida que está em primeiro plano e que ocupa a parte central da imagem e o aglomerado de pessoas ao seu redor que compõem o fundo da imagem. A foto em plano aberto nos permite visualizar que eles estão em uma calçada e o fato de ter pessoas deitadas em pedaços de papelão nos faz perceber que estas pessoas estão desabrigadas.

    O movimento migratório, apesar de estar presente em tratados e acordos nacionais e internacionais como um direito humano, ainda hoje não é plenamente respeitado. No Brasil, segundo a Constituição de 88 e a Nova Lei de Migração instituída em 2017, é garantida às pessoas em deslocamento interno ou transfronteiriço direitos fundamentais como educação, saúde, liberdade, moradia e trabalho. Além disso, cabe ao Conare, Comitê Nacional para os Refugiados, garantir assistência e proteção às pessoas refugiadas no país. Apesar disso, como é possível perceber através da foto, um incontável número de indivíduos não recebe a assistência necessária. Para ser mais exata, ao ler a reportagem, somos informados que estes são apenas alguns dos 2065 migrantes e refugiados desabrigados em Pacaraima, cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela.

    A cidade, mencionada pelo Presidente Bolsonaro como exemplo de acolhimento, não parece se esforçar para garantir o mínimo de dignidade aos imigrantes, pois as vagas oferecidas para os abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo exército, não atendem nem metade da demanda e o governo municipal, por sua vez, não oferece nenhuma estrutura para quem está fora dos abrigos. Sendo assim, para a maioria dos imigrantes, a única ajuda parte de iniciativas voluntárias, como a ONG Médicos Sem Fronteiras e a Caritas, uma organização católica que apoia migrantes e refugiados.

    Além disso, a foto, feita por Mathilde Missioneiro e publicada em 6 de agosto de 2021, foi tirada durante a pandemia de covid-19, onde as recomendações principais eram: fique em casa, evite aglomerações e use máscara. Coisas que parecem simples, para quem não tem o básico se tornam impossíveis.

    A imagem nos faz questionar o lema já conhecido e atribuído à Pacaraima pelo presidente. Será mesmo que somos um país acolhedor? E por que essas pessoas não são dignas de terem seus direitos mais básicos respeitados? Infelizmente, cenas como essas são comuns, e não só aqui. Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença humana.

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    Sobre a autora

    Larissa Caroline Lopes Fonseca é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • Até onde se pode ir para conseguir comer

    Até onde se pode ir para conseguir comer

    Fome é exposta durante a pandemia.

    Uma fotografia costuma ser capaz de dizer mais coisas que milhões de palavras e quando uma fotografia tem muito a dizer, há uma história por trás. É isso que a fotografia do Danilo Verpa, que busca retratar como a fome leva famílias a revirar lixo e buscar alimentos próximos do descarte, trazendo uma sensação constante de revolta, e um certo pavor, temendo que amanhã seja a nossa vez de não ter o que comer.  Conhecendo esse fato é preciso analisar como as políticas públicas deixaram a desejar no que tange a segurança alimentar.

    5 pessoas em volta de um lixeiro com resíduos,  algumas delas usam luvas,  estão com as mãos dentro da lixeira, aparentemente estão revirando em busca de algo para comer.
    Danilo Verpa

     

    A fotografia do Danilo Verpa permite observar 5 pessoas, em volta de um lixeiro, no que entende – se por ambiente urbano, pela composição das ruas, e carros, uma das mulheres coleta algo que aparenta ser uma fruta, a luz ambiente é característica do dia isso no que se refere aos elementos observáveis mais técnicos, com significação formal, pode – se destacar que a fotografia está na horizontal, no plano médio, sob ponto de vista superior e a expressão de movimento congelada.

    Mas para além dos elementos visíveis, o contexto no qual a foto foi tirada significa muito, ver essa fotografia causa revolta e certa repulsa a pensar que provavelmente o alimento de algumas pessoas vem dos restos de outras pessoas. Conhecendo o contexto da fotografia, o sentimento de revolta fica ainda mais evidente, a foto foi tirada no 23 de outubro de 2021 no contexto pandêmico a situação do Brasil no que tange a fome se tornou ainda mais agravante.

    Já quanto à significação cultural é preciso considerar que a saída do Brasil do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 foi um marco mundialmente reconhecido no caminho à promoção do direito humano à alimentação adequada e saudável. Durante a pandemia de COVID – 19, o Brasil retornou para o mapa da fome. Os dados são da pesquisa “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, elaborada pela Rede Penssan e mostram que o Brasil retrocedeu 15 anos em cinco, voltando a ter a fome como problema estrutural.

    Urge no Brasil uma ação mais incisiva para garantir a segurança alimentar para a população. O brasileiro sente o descaso na pele. São 19 milhões de brasileiros passando fome no nível mais grave, cerca de 9% da população. Não basta se revoltar, é preciso agir, o que pode ser feito para que as necessidades associadas ao sentimento de revolta é cobrar uma ação dos órgãos públicos, exigir do ministério da economia investimentos em projetos para assegurar a alimentação do brasileiro.

    A prerrogativa de segurança alimentar é uma questão tão forte quanto a de 15 anos atrás, isso causa revolta, mas é função do fotojornalismo retratar isso, evidenciar questões que afetam a população vulnerável. Portanto, a fotografia analisada exige sensibilidade de compreender que além de entender o problema é preciso buscar soluções que viabilizem a segurança alimentar da população brasileira.

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    Sobre a autora

    Maria Eduarda Gomes é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).