Categoria: Fotógrafas e Fotógrafos

* Categoria de hierarquia superior.

  • Jerri Rossato Lima

    Jerri Rossato Lima

    Fotógrafo oficial da Banda Charlie Brown Jr

    Jerri Rossato Lima é um fotógrafo especializado em músicos e shows, skatistas, experimentações e vida urbana. Por suas próprias palavras, define seu trabalho da seguinte forma: “Às vezes, escrevo como quem faz uma foto. Outras vezes, fotografo como quem conta uma história. Palavras e imagens com intenção de música”. Jerri já foi publicado em revistas de skate por conta de seu trabalho, como na revista Solto. Também colaborou com o filme “O Magnata” e sempre esteve associado ao Charlie Brown Jr por conta de sua cobertura fotográfica das apresentações da banda.
    Membros da banda Charlie Brown Jr posando para um ensaio fotográfico do álbum “La Família 013”. Da esquerda para a direita: Marcão Britto, Luís Carlos Leão Duarte Júnior ‘Champignon’, Alexandre Magno Abrão ‘Chorão’, Thiago Castanho e Bruno Graveto.
    Jerri Rossato Lima


    É difícil não reconhecer no Fotógrafo algumas características tão peculiares de Alexandre Chorão, dada a convivência com a banda Charlie Brown Jr, que geralmente mantinha amigos de seus integrantes como funcionários. Jerri afirma sobre si mesmo que: “[…]Mantenho a atenção e o interesse em não ignorar paisagens ou subestimar pessoas” e isso ressoa nitidamente como uma influência do falecido músico.

    Chorão posando para foto numa apresentação. Ele usa tênis de skatista com cadarços vermelhos, calças pretas largas, camisa branca e boné aba reta. Ao fundo há uma multidão com os braços erguidos num pátio.
    Jerri Rossato Lima

    Chorão está concentrado fazendo anotações numa mesa em frente a um microfone. Ele usa uma camisa preta e headphone.
    Jerri Rossato Lima

    Os cinco integrantes originais da banda estão reunidos no estúdio. Todos estão sorrindo. Ao fundo é possível ver pessoas olhando.
    Jerri Rossato Lima

    Marcão sentado num ônibus, possivelmente da banda, ao lado de Chorão com violão em mãos enquanto parece ensaiar uma canção.
    Jerri Rossato Lima

    Chorão sentado numa cadeira de praia observando o mar. Está vestido dos pés à cabeça com roupas preto e brancas com as mãos cruzadas em frente ao rosto, parecendo estar refletindo sobre algo.
    Jerri Rossato Lima


    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

     

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  • O brilho eterno de uma verdadeira estrela

    Empoderamento e puro talento condensados na figura de um dos maiores atores brasileiros.

    No dia 30 de maio de 2022, o Brasil perdeu um de seus maiores nomes do teatro, cinema e teledramaturgia. Milton Gonçalves partiu aos 88 anos deixando um legado extenso de direção e atuação em uma extensa conjunto de obras como: “Irmãos Coragem”, “O bem-amado” e “O beijo da mulher-aranha”. Milton tinha uma personalidade forte, era um homem negro ativo na política do país e se fazia atuante na luta por um Brasil mais justo e igualitário. 
    A foto está em preto e branco. A figura de Milton é a  protagonista da foto. Apesar de ele não estar totalmente no centro da imagem, é ele quem está no primeiro plano. A foto foi tirada de cima para baixo e o ator usa uma vestimenta de padre e óculos. Atrás dele, vemos um homem olhando em sua direção, uma pessoa de costas para a cena e um poste da cidade cenográfica atrás dele. Um pouco à frente de Milton há outros dois personagens, um de chapéu e o outro conversando com o ator. Entretanto, vemos apenas parte dos rostos de ambos e uma parte da mão daquele que dialoga com Milton.
    Joel Maia
    A fotografia de Milton Gonçalves foi feita por Joel Maia e faz parte do acervo da Rede Globo de televisão, emissora em que o ator trabalhava como um de seus funcionários mais antigos e queridos. A imagem é da novela “Roque Santeiro”, de 1985, em que ele interpretava o Padre Honório.
    Nessa época, o Brasil deixava o período da Ditadura Militar e caminhava para sua redemocratização o que gerava um clima esperançoso em toda a sociedade. A novela Roque Santeiro, que havia sido vetada pelo governo militar dez anos antes, finalmente ganhava as telas e buscava representar e criticar o Brasil daquela época através de uma cidadezinha de interior. Nessa mesma sintonia se encontrava o artista Milton Gonçalves, um homem que havia lutado ativamente durante as “Diretas Já”, um ano antes. 
    A imagem foi tirada num ângulo de baixo para cima em que a figura de Milton me transmite autoridade e poder. Sua expressão séria e destemida rouba a cena e ganha os olhos dos outros personagens durante aquilo que parece ser um diálogo.
    Para mim, a fotografia exala toda a consciência política de Milton como um homem negro nos anos 80. Em tempos tão racistas como o que vivemos hoje é difícil imaginar como era o Brasil há mais de 30 anos, quando as coisas foram ainda piores. E naquela época, Milton, com muita classe, venceu barreiras e conquistou espaços majoritariamente brancos do mundo artístico. Representando toda uma geração de pessoas negras e abrindo portas que antes estavam fechadas para elas.
    Também, o fato de a fotografia estar em preto e branco conversa totalmente com a ideia que me é passada. Afinal, se observássemos uma foto colorida, a atenção poderia estar voltada para outros detalhes como o figurino dos atores. Entretanto, a paleta de tons enfatiza uma seriedade e poder na imagem, jogando toda a nossa atenção para o protagonista da cena e para a interpretação citada anteriormente.
    Portanto, levando em consideração toda a história de Milton Gonçalves no mundo das artes, vemos na foto uma persona singular. Ali está um dos primeiros atores negros a se destacar no Brasil. Um homem que veio de uma família humilde e passou por diferentes ofícios antes de subir ao palco para trabalhar com a sua grande paixão e ajudar no sustento da família. 
    Hoje, Milton deixa um legado que poucos atores conseguem, tanto pelo reconhecimento artístico, acumulando vários prêmios (inter)nacionais como o Emmy de melhor ator — premiação, inclusive, em que foi o primeiro brasileiro a apresentar anos mais tarde. Quanto por possuir uma voz ativa na política em seus discursos, entrevistas e atitudes dando sempre destaque para as causas do povo negro. 
    Essa faceta está eternizada nesta fotografia, mostrando um lado poderoso e marcante de uma personalidade que, sem dúvida, vai deixar saudade.
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    MAIA. Amanda. O brilho eterno de uma verdadeira estrela. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/09/O brilho eterno de uma verdadeira estrela.html. Publicado em: 7 de set. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • Gertrudes Altschul

    Gertrudes Altschul

    Uma das primeiras mulheres fotógrafas reconhecidas no Brasil.

    Pioneira na fotografia moderna brasileira e participante do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) no início dos anos 50, Gertrudes Altschul (1904-1962) está entre as mais admiradas fotógrafas brasileiras do século XX. Em suas obras, a artista explora temas como a botânica e a arquitetura da cidade de São Paulo.

    Tirada do chão, a foto mostra o topo de três prédios que se aproximam quase formando um triângulo. A imagem, tirada com câmera analógica, possui uma coloração desgastada. Nela, o céu está preto e os prédios num tom branco amarelado.
    Gertrudes Altschul

    De origem judaica, Gertrudes Altschul saiu de Berlim com o marido Leon Altschul fugindo do regime nazista. Ela chegou ao Brasil em 1939 e abriu com Leon uma loja de produção de flores artificiais para decoração de chapéus e roupas femininas em São Paulo.

    Em 1952, Altschul se inscreveu no curso de fotografia do Foto Cine Clube Bandeirantes, até então só frequentado por homens, a fim de encontrar uma atividade recreativa. As imagens da artista partilhavam o estilo da época, em que a fotografia moderna brasileira buscava romper com as estruturas clássicas da composição fotográfica.

     

    A foto tirada do chão mostra um teto curvilíneo sustentado por colunas à direita. À esquerda há uma parede e entre as duas estruturas podemos ver o céu limpo. Ao fundo, levemente para esquerda, há o topo de um prédio. A coloração desbotada varia entre o branco e o verde-claro.
    Gertrudes Altschul
    A foto em preto e branco mostra a parte de baixo de uma escada de metal com corrimão. Há uma luz 45º à direita da fotógrafa, fazendo com que a sombra da escada se projete para a lateral esquerda da imagem.
    Gertrudes Altschul

    Como evidenciado em suas obras, Gertrudes explora a fundo a geometria da cidade. Reforçando retas e curvas do ambiente, assim como as sombras projetadas pelos objetos. O mesmo pode ser visto em suas obras sobre plantas, em que a fotógrafa explora as nervuras e contrastes da natureza, sempre enfatizando linhas, sombras  e, principalmente, os contrastes formados por eles.

    A imagem mostra uma folha grande com o caule para cima e as nervuras bastante evidentes por causa do  contraste de cores. Devido à câmera analógica, o fundo da imagem é bege, a folha é cinza-escuro e as nervuras são beges como o fundo.
    Gertrudes Altschul
    A imagem mostra uma folha grande que possui nervuras retas e bastante amareladas. A foto foi tirada bem de perto e as partes iluminadas contrastam com as sombras ao fundo.
    Gertrudes Altschul
    A fotografia é composta por diversas folhas estreitas e compridas de um arbusto. As folhas são verdes e se sobrepõem, já as sombras produzidas pela sobreposição são completamente pretas.
    Gertrudes Altschul

    Devido às técnicas de Altschul na pós-produção, as imagens da artista possuem uma coloração desbotada. Sendo, muitas vezes, amarelada ou num tom de verde bastante escuro. Tais características acabam por ressaltar a luz e sombra, produzindo grandes contrastes nas fotografias.

    Gertrudes tinha grande criatividade para fotomontagem na pós-produção das fotografias. Na composição abaixo, a artista criou uma série de folhas sobrepostas e, mais uma vez, brincou com o contraste das folhas claras e escuras.

    A fotomontagem mostra diversas camadas de uma mesma folha. Em algumas ela é bastante escura, como as localizadas mais à esquerda. Do lado direito há uma folha branca sobreposta às outras.
    Gertrudes Altschul

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    COUTO, Sarah. Gertrudes Altschul:. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em <https://culturafotografica.com.br/gertrudes-altschul/)>. Publicado em: 06/11/2022. Acessado em: [informar data].

  • O grito por socorro que não ecoa

    O pedido de ajuda dos yanomami foi registrado por Sebastião Salgado em seu projeto “Amazônia”.
    A fotografia de Sebastião Salgado revela um pedido de socorro. Por meio dela, vemos três indígenas em um trecho de rio cercado pela floresta. O primeiro deles, o Xamã, realiza um ritual.
    Sebastião Salgado

    A fotografia feita por Sebastião Salgado se trata de um registro fotográfico imponente e necessário. A foto em questão traz ao público uma importante mensagem: o pedido de socorro dos povos indígenas da Amazônia. 
    Na imagem é possível ver a aflição do Xamã Yanomami – o senhor em destaque na foto – enquanto ele e os outros dois homens no fundo estão em um rio. Além disso, existem outros elementos na imagem que ajudam a construir essa narrativa, bem como os tons de branco e preto tradicionalmente utilizados pelo autor que dão a sensação de aflição, por exemplo. Outro aspecto importante a ser observado são os galhos em torno do rio que parecem engolir os três homens no meio. Isso, junto com a expressão de cansaço estampada no rosto do Xamã enquanto ele clama aos céus.
    Com as mãos para o alto, a expressão e a posição do xamã não apenas aparenta ser um pedido de ajuda, como de fato o é: No momento desse registro, ele estava fazendo um ritual pedindo às forças superiores de sua crença para que parasse de chover e eles pudessem seguir em frente, rumo ao Pico da Neblina. 
    De acordo com o G1, recentemente garimpeiros estupraram uma menina yanomami de 12 anos. Após o ocorrido, todo o povo yanomami desapareceu. Eles foram encontrados apenas dias depois do ocorrido fugindo do garimpo que invadiu suas terras. Ao considerar isso e toda a história dos povos indígenas, essa fotografia passa a simbolizar não apenas o cansaço de um caminho exaustivo debaixo de chuva, mas também toda a jornada de luta e resistência pela sobrevivência e dignidade ignorada pelas grandes mídias. 
    Não houveram grandes movimentações contra o desaparecimento de um povo inteiro e, como consequência, também não houve justiça. Os responsáveis pela invasão das terras yanomamis e pelo estupro da menina de 12 anos não foram responsabilizados pelos seus crimes. 
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

  • Robert Freeman

    Fotógrafo responsável pela formação da imagem do quarteto mais famoso do mundo da música.

    Robert Freeman (1936-2019) foi o fotógrafo inglês por trás da identidade visual da banda os Beatles, autor das capas de “Help”, “Rubber Soul” e “With the Beatles”. Robert nasceu em Londres durante a década de 1930 e, antes de trabalhar com a banda, era fotógrafo do jornal “The Sunday Times”. Em seu portfólio, já acumulava imagens singulares como a fotografia do líder russo Nikita Kruschev, mas seu trabalho ganhou projeção mundial somente em 1963, quando começou a trabalhar com o quarteto de Liverpool. 
    Foto em cores dos integrantes da banda. Da esquerda para a direita: George Harrison, John Lennon, Ringo Starr e Paul McCartney. Eles vestem roupas pretas e olham em direção à câmera. O lugar ao redor está desfocado, mas podemos identificar uma árvore ao fundo e folhas em primeiro plano.
    Robert Freeman

    Robert era muito querido pela banda, considerado um “pensador original”. Essa criatividade é encontrada na foto capa de “With the Beatles” (1963) em que Freeman realizou a primeira sessão de fotos com a banda no Palace Court Hotel. Durante o acontecido, ele captou a foto emblemática do quarteto em meio a sombras através da luz natural de uma janela na sala de refeições do hotel. 
    Foto em preto e branco dos quatro integrantes. Da esquerda para a direita: John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr. Todos os elementos (roupas e fundo) estão pretos e o único elemento iluminado é o lado esquerdo dos integrantes.
    Robert Freeman
    Foto colorida da banda. Da esquerda para a direita: George Harrison, John Lennon, Ringo Starr e Paul McCartney. Eles vestem roupas de frio e a foto é tirada de baixo para cima. John Lennon é o único que olha para a câmera, sendo que os demais olham para a direção esquerda.
    Robert Freeman
    Foto colorida da banda. Da esquerda para a direita: George Harrison, John Lennon, Paul McCartney e Ringo Starr. Eles vestem roupas azuis e cada um faz um sinal corporal representando as letras H, E, L e P, nessa ordem. O fundo da imagem é branco e sem objetos.
    Robert Freeman
    Foto em preto e branco de Mick Jagger (à esquerda) e John Lennon e Paul McCartney (à direita). Eles conversam e Mick Jagger segura um copo. Em primeiro plano vemos uma mesa de som e atrás deles outro aparelho do estúdio, entre Mick e John. Ainda, vemos ao fundo uma pessoas de costas para a cena.
    Robert Freeman
    Composição em preto e branco de John Lennon formada por 12 retratos em PB de J L. Nelas, ele veste casaco e boina. E, a cada foto, há uma pequena variação em sua expressão facial.
    Robert Freeman
    Foto em preto e branco de Paul McCartney na rua Idol Lane. O cantor está com os braços cruzados e a cabeça voltada para a sua esquerda. Vemos Paul da cintura para cima e ele veste roupas de frio. Ainda, podemos notar parte de uma esquadria de janela.
    Idol Lane | Robert Freeman

  • Ansiedade: mãos que me sufocam

    A fotografia de Otto Stupakoff representa uma sensação de sufoco causada pela ansiedade.


    De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade, quadro que foi intensificado pela pandemia de Covid-19. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é o de ansiedade generalizada (TAG). Alguns dos sintomas são: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, taquicardia, falta de ar e aperto do peito.


    A fotografia, em preto e branco, mostra uma mulher de traços caucasianos, que usa maquiagem e olha fixamente para a câmera. Seu olho está bem aberto e o rosto sem expressões. Ela leva a mão ao pescoço, apertando-o.
    Otto Stupakoff

    A fotografia acima, nomeada de “ansiedade” por seu autor, representa essa sensação de sufoco, aperto no peito, causado pelo quadro ansioso. Quando vi essa foto, me identifiquei, pois, muitas vezes senti que a ansiedade era uma mão invisível me sufocando, me sentia assim, impotente diante dela. 

    Quando se pensa em ansiedade, as referências que surgem é a inquietação, o roer de unhas, o balançar de pernas, mas se tratando de transtornos de ansiedade, comumente ela é paralisante. Olhos vidrados, clamando por socorro, quando a mente está um turbilhão e parece impossível articular qualquer frase. Só quem já sentiu conhece essa sensação de estar sendo revirado de dentro para fora, como se a alma estivesse vomitando a si mesma. O coração e a mente de uma pessoa ansiosa viaja como um trem-bala, percorrendo longas distâncias em pouquíssimo tempo e, até os efeitos colaterais sumirem, parece uma eternidade.

    Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem falar e/ou escrever sobre o que sentem, mas desenham, pintam, cantam e fotografam. Frequentemente, a melhor forma de comunicar sentimentos é através de outras coisas que não a coisa em si, afinal, o que sentimos configura uma teia complexa de significados. E, no caso desta fotografia, acho que ela comunica mais do que meu texto, justamente porque cada um se apropriará dela de forma única.

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  • Hildegard Rosenthal e o protagonismo feminino no fotojornalismo brasileiro

    A primeira mulher fotojornalista do Brasil


    Hildegard Rosenthal é natural de Zurique, na Suíça e viveu grande parte de sua vida em Frankfurt na Alemanha, onde estudou pedagogia durante os anos de 1929 até 1933. Entre 1934 e 1935 viveu em Paris, mas depois retornou para Frankfurt e estudou fotografia no Instituto Gaedel, com Paul Wolf, especialista em câmera de pequenos formatos e técnicas de laboratório. Após se formar, foi contratada como fotógrafa pela empresa Hein Mainischer Bildverlag, até que em 1937, ela e seu namorado, Walther Rosenthal, precisaram deixar a Alemanha e emigrar para São Paulo no Brasil, pois ele era judeu e precisava fugir do regime nazista.


    Hildegard Rosenthal

    Já em São Paulo, no ano de 1938, Hildegard começou a trabalhar como orientadora de laboratório na empresa de materiais e serviços fotográficos Kosmos, na Rua São Bento. No mesmo ano, a agência Press Information a contratou para atuar como fotojornalista, onde realizou reportagens para jornais nacionais e internacionais e teve fotos publicadas no “La Prensa”, de Buenos Aires, “Gazeta do Sul”, de Cananeia, e “Folha da Noite”, “Folha da Manhã” e “Estado de São Paulo”.

    Neste trabalho, Hildegard Rosenthal fez registros do processo de urbanização da grande São Paulo, das cidades do interior paulista, do Rio de janeiro e de algumas cidades do sul. Suas fotografias registraram o fluxo de pessoas nas ruas, o transporte público, a arquitetura, vendedores ambulantes e cidadãos comuns em situações prosaicas. Ela costumava registrar pessoas desconhecidas ou modelos que simulavam situações cotidianas. Desse modo, Hildegard humanizou e congelou no tempo uma metrópole movimentada.

    Além desses importantes registros históricos do início da urbanização no Brasil, ela também fez fotos de grandes nomes da arte e da literatura brasileira, capturando os artistas em momentos de criação. Dentre esses grandes nomes estão: o pintor Lasar Segall, os escritores Guilherme de Almeida e Jorge Amado, o humorista Aparício Torelly – conhecido também Barão de Itararé – e o desenhista Belmonte. 


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  • Inseguridade feminina urbana e construção de elementos da imagem

    Inseguridade feminina urbana e construção de elementos da imagem

    Toda rua pode não ter saída para uma mulher.

    A imagem analisada, de autoria de Ramon Lisboa, é apresentada com a legenda: “A rua é hostil, a cultura é hostil. Ponto. Bairro de rico ou pobre, nada muda”. Foi publicada numa matéria do Estado de Minas de outubro de 2021, cujo título é “Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos”.

    Uma mulher sozinha, de blusa de frio e legging, andando próxima a uma curva no meio da faixa direita de uma rua à noite, com dois carros indo na mesma direção que ela. Ela está inserida numa sombra entre a iluminação da rua. Há a presença de uma placa de sinalização, árvores e um muro. A calçada é estreita e há folhas no chão.

    Ramon Lisboa / EM / D.A Press 

    A fotografia aborda o espaço de violência contra a mulher propiciado pela estruturação de locais urbanos. Nela, elementos de disposição espacial, de composição, ângulo de visão, iluminação e movimento são combinados para demonstrar a tensão, o aperto e o desespero vivido diariamente nessas situações.

    A mulher de costas é o elemento principal da imagem, ou seja, para onde a fotografia direciona o seu olhar. Ela está descentralizada, andando no meio de uma das faixas da rua, no lado direito da fotografia, possivelmente porque a calçada é estreita e está localizada numa sombra na iluminação da rua, o que faz surgir um clima de tensão.

    A fotografia ter sido feita na curva também contribui para a atmosfera de suspense, uma vez que não se sabe o que se tem adiante. Há dois carros indo na mesma direção que a mulher, o que pode ser associado a algum tipo de abordagem agressiva ou tensa, ainda mais considerando que cena se desenrola à noite, contexto socialmente mais associado com a insegurança de andar sozinha pela cidade.

    Os movimentos estão congelados, os detalhes não ficam borrados e desse modo, consegue-se perceber que é uma mulher. Se isso não fosse identificável, a imagem perderia a conotação social que ela tem, já que a figura feminina é fundamental para construção da insegurança, dado que se associa ao alto índice de violência que mulheres sofrem em situações similares.

    A objetiva utilizada possivelmente foi uma teleobjetiva, que com o zoom, formou um ângulo de visão menor que o humano. Essa diminuição do ângulo dá uma sensação de aprisionamento, de aperto. A cena retratada é mal iluminada, o que aumenta ainda mais a sensação de perigo.

    Os elementos da imagem constroem uma atmosfera de tensão, retratando a inseguridade para mulheres se locomoverem sozinhas a pé à noite. A disposição (rua ser curva e a mulher na faixa e não na calçada); a iluminação, (elemento principal está na sombra e a rua não é bem iluminada); a diminuição do ângulo de visão e o congelamento do movimento são aspectos utilizados para essa finalidade.

    Links e referências

    Chamada de Conteúdo de Colaboradores

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    Sobre a autora

    Lívia Gariglio é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • A nova mulher

    A nova mulher

    Um ensaio sobre a inserção de mulheres nos contextos urbanos

    Com intuito de destacar a presença da mulher nos diversos cenários urbanos, a fotógrafa Hildegard Rosenthal produziu, em 1940, o ensaio intitulado “A nova mulher”, em que retratou sua amiga em diversas cenas cotidianas na cidade de São Paulo. Na imagem abaixo vemos uma cena comum dos anos 40, alguém lendo jornal numa banca, mas que nunca era retratada com a presença feminina em destaque.

     
    A foto em preto e branco mostra uma mulher em pé em frente a uma banca lendo um jornal. À sua volta há diversas pessoas andando nas ruas e calçadas, ninguém dá atenção à câmera.
    Hildegard Rosenthal

    Em suas obras, Hildegard retrata paisagens urbanas como a arquitetura das cidades, vendedores e cidadãos comuns em situações rotineiras. No entanto, após perceber a presença dominante de figuras masculinas em suas fotografias, a artista resolveu produzir o ensaio intitulado: “A nova mulher”, agora com maior presença nos ambientes urbanos.

    Anteriormente, os espaços públicos eram frequentados e pensados para homens, enquanto às mulheres era oferecido somente o ambiente doméstico. Porém, vale lembrar que mesmo que ocupados majoritariamente por homens, algumas mulheres já haviam, sozinhas, adentrado tais lugares e conquistado seu espaço. Contudo, é só a partir dos anos 40 e 50 que a grande massa feminina começou a participar ativamente do convívio social, experimentando ocupar espaços que antes lhes eram proibidos.

    O ensaio de Hildegard é um exemplo fiel deste momento, retratando o ingresso da mulher no convívio social. Na imagem abaixo, podemos ver a mesma moça da primeira foto comprando um buquê numa feira de flores montada na rua.

     
    A imagem em preto e branco mostra uma feira de flores na rua. Em primeiro plano, há um vendedor de branco que carrega um pequeno buquê. Ele conversa com a modelo que sorri e segura um grande buquê em uma das mãos. Ao fundo, do outro lado da rua, vemos mais pessoas olhando as flores expostas na calçada próxima a um muro. E, acima do muro, existem diversos cartazes com propagandas expostas.
    Hildegard Rosenthal

    Ambas as imagens me atraem o olhar por simplesmente retratar mulheres, há um processo de reconhecimento que acredito ser fundamental nas construções de fotografias cujo objetivo é mobilizar os espectadores, fazendo-os repensar tais assuntos.

    Estas fotografias, e o ensaio como um todo, muito me agradam devido à característica feminista de repensar, expor e questionar a presença feminina e o papel da mulher no espaço público. As fotos foram apresentadas num período onde o feminismo era pouco presente no cotidiano brasileiro, discutido apenas pela elite intelectual da época.

    O feminismo de hoje só é possível devido a mulheres que, como Hildegard, quebraram as barreiras e estereótipos de seus respectivos períodos históricos. Abrindo espaço para que mulheres fossem vistas e ouvidas, e o feminismo discutido e repensado.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    COUTO, Sarah. A nova mulher. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-nova-mulher/>. Publicado em: 17/08/2022. Acessado em: [informar data].