Categoria: Fotógrafas e Fotógrafos

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  • Sensores Digitais

    Sensores Digitais

    Hoje, graças ao sensores digitais, podemos armazenar e compartilhar imagens com muito mais facilidade, por isso vale a pena saber mais sobre essa tecnologia.

    Durante a guerra fria os pesquisadores precisavam que as sondas espaciais  mandassem  imagens até a Terra, para isso foi criado o sensor CMOS, capaz de converter ondas luminosas em informação digital que era enviada por meio de ondas de rádio e depois (re)convertidas em imagens. Foi em 1965 que, pela primeira vez, a sonda Mariner 4, usando essa tecnologia, enviou imagens da superfície de Marte, porém as fotos não poderiam ser consideradas digitais, já que também usavam processos analógicos.

    Na foto uma pessoa segura um sensor digital com a penas a ponta de um dedo e logo atrás podemos ver uma câmera compacta da Nikon. 
    Foto de Eugen Visan por Pixabay

    A primeira câmera totalmente digital foi feita em 1975 pela Kodak ela usava o sensor CCD, o sucessor do CMOS, e podia fazer imagens de 0,01 megapixels, mas nunca foi comercializada, pois os executivos da empresa acreditavam que a invenção poderia atrapalhar na venda dos filmes fotográficos, essa hesitação em adotar a tecnologia digital  foi uma das principais causas da falência da empresa anos depois

    Em 1981, a Sony lançou a primeira câmera digital para o público, porém ela era extremamente cara. Somente na década de 1990, as câmeras digitais passaram a ter preços mais acessíveis. Hoje elas dominam o mercado. A maioria delas é equipada com um sensor CMOS. Hoje também temos uma grande variedade de tamanho de sensores, e isso pode influenciar muito na hora de fotografar. Quanto maior o sensor,  maior é o alcance dinâmico, menor o índice de ruído em ISOs altos, e  menor a profundidade de campo.

    Na foto podemos ver uma mulher segurando a câmera Mavica em uma mão e um disquete na outra. 
    Campanha publicitária da câmera Mavica

    A variação de tamanho nos sensores causa algo chamado fator de corte. Esse fator altera o ângulo de visão proporcionado por um objetiva, por exemplo, nas câmeras DSLR os dois tipos de sensores mais comuns são os Full Frame (FF) e os APS-C, uma lente de distância focal 35mm não sofreria nenhuma alteração em um sensor FF, pois ele é o tamanho padrão, mas teria o aspecto de uma lente de 56mm, que tem um ângulo de visão menor, em um sensor APS-C, que é um pouco menor que o FF.  Essa relação entre sensores pode variar com as marcas, por exemplo, no caso de sensores APS-C Canon a relação é de 1,6, já nos sensores APS-C Nikon e Sony a relação é de 1,5.

    Hoje a maioria dos fotógrafos usam câmeras digitais, pelo fato de elas permitirem uma fácil organização de arquivos, e por produzirem imagens de excelente qualidade, mas esse não é o caso do fotógrafo japonês Daido Moriyama que diz que não se importa com a qualidade imagética que as mais modernas DSLR podem trazer, para ele o que mais importa é que a câmera seja leve, fácil de carregar e discreta, por isso só fotografa usando câmeras compactas. Ele iniciou a carreira com as versões analógicas, mas com o avanço da tecnologia rapidamente passou a usar os modelos digitais.

    Na foto podemos ver uma escada na parte esquerda, e uma rua estreita na parte direita. A foto foi tirada a noite, pois podemos ver vários postes de luz acessos.
    Daido Moriyama , 2017 Getsuyosha

    Se olharmos a foto acima com atenção vemos que a imagem possui uma grande quantidade de ruído que acontece pelo fato de Daido usar uma câmera compacta com um sensor bem pequeno. Mas o ruído não é um problema, já que toda a estética dele se baseia em imagens cheias de ruído, muitas vezes tremidas e com grande contrastes.

    Esse é um exemplo interessante de como uma boa foto nem sempre precisa dos equipamentos mais caros, mesmo câmeras compactas ou de celulares podem trazer resultados muito interessantes, e agora graças aos sensores digitais, que ajudaram a baratear a fotografia,  uma parcela bem maior da população pode ter acesso a câmeras, e usar a criatividade para produzir as mais criativas fotos. 

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Sensores Digitais. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/fotografetodia-sensores-digitais/>. Publicado em: 07 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • André Kertész

     André Kertész se considerava um fotógrafo nato, amador e cujas fotografias falam.

    André Kertész se considerava um fotógrafo nato, amador e cujas fotografias falam.

    André Kertész – Autorretrato, Paris, 1926
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra as sombras de um homem e de uma câmera na parede.
    Andrè Kertèsz sempre disse ser um fotógrafo nato. Nascido no Império Austro-húngaro em 1894, foi, porém, ao seis anos de idade que nasceu o seu olhar fotográfico, quando viu pela primeira vez uma revista ilustrada. A partir de então, mesmo sem possuir uma câmera, passou a olhar o mundo como uma fotografia. Possuía, portanto, um jeito despretensioso de compor, tanto as suas fotos imaginárias como as reais, que depois de anos fotografando profissionalmente ele ainda se orgulharia de manter “amador”: “Eu sou um amador e pretendo continuar sendo um amador pelo resto da minha vida. A fotografia se torna bela com toda a verdade estampada nela. É por isso que eu me guardo contra qualquer tipo de truque ou virtude profissional”.

    Kertèsz começou a fotografar em 1912, após juntar dinheiro para comprar a sua primeira câmera. Nessa sua primeira fase como fotógrafo, registrava as paisagens rurais do seu país natal e a vida dos jovens que ele conhecia, como seu irmão mais novo. Ao servir o exército na Primeira Guerra Mundial, levou uma câmera leve consigo, mas não queria fotografar o conflito. Ele não enxergava a guerra como uma tragédia e não se interessava por retratos documentais e políticos, optando por retratar os momentos de lazer dos soldados.

    Em 1925, motivado pela dissolução do Império Austro-húngaro, se mudou para Paris, como vários outros artistas da época. Na capital francesa, ficou amigo de outros fotógrafos de origem húngara como Man Ray, Robert Capa e Brassaï. Nessa época, sua característica inovadora se tornou mais marcante, enquanto ele eternizava em imagens parte da tradicional vida parisiense, como os cafés, as feiras e os parques. Também foi quando ele ganhou popularidade na França publicando em diversas revistas, período no qual seus trabalhos foram uma simbiose entre modernismo, realismo e humanismo.

    Em 1936, as revistas franceses foram deixando de publicar os trabalhos de Kertész, por serem muito “neutros” para o contexto da guerra, antes mesmo de receber a resposta positiva do governo francês sobre a sua naturalização, aceitou um emprego em Nova Iorque, se mudando em seguida. Nos Estado Unidos sua adaptação foi difícil: lá a comunidade artística era pequena, Nova Iorque não o encantava como Paris ou Budapeste e ele não falava inglês. Além disso, seu ensaio “Distorções”, que havia sido aclamado na França, recebeu pouca importância ao fazer parte de uma mostra no Museu de Arte Moderna, mostrando que o estilo artístico da sua atual cidade era bem diferente do seu.

    Nos Estados Unidos, Kertész trabalhou em diversas revistas de moda, mas a fotografia de estúdio não lhe agradava. Quando a revista Life o convidou para fazer um ensaio sobre os rios de Manhattan, ele fotografou rebocadores, sobre diversos ângulos, inclusive utilizando um dirigível. Era um trabalho que finalmente o animava, mas, ao entregar as fotos, a revista as recusou sob a justificativa de que elas “falavam demais” e que o redator era o responsável por escrever os textos, não precisando as fotos fazerem mais do que mostrar. Sobre a recusa, Kertész respondeu: “Eu não posso fazer nada, minhas fotos falam. Eu não consigo segurar a câmera sem me expressar”.

    Permaneceu fazendo fotografias que não eram totalmente do seu agrado e ficou mais de quinze anos em um contrato exclusivo com a revista de decoração House and Garden. A partir dos anos 1961, Kertész voltou a ser reconhecido pelas suas fotografias despretensiosas, e se iniciou em sua vida um período que os biógrafos chama de “Período Internacional”, quando suas fotos foram publicadas em jornais e revistas e apresentadas em exibições em diversos países. Finalmente, passou a ser reconhecido por seus ângulos diferentes, sua composição inovadora e sua fotos que falam.

    André Kertész – Under the Eiffel Tower (Embaixo da Torre Eiffel), 1929
    Descrição: Fotografia em preto e branco tirada de cima para baixo. Mostra a base das Torre Eiffel, sua sombra no chão e pessoas transitando em baixo dela.

    André Kertész – Chairs (Cadeiras), Champ Elysées, Paris, 1927
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra cadeiras alinhadas e suas sombras (também alinhadas).

    André Kertész – Man Diving (Homem Mergulhando), Esztergom, 1917
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um homem prestes a mergulhar e seu reflexo na água.
     André Kertész – Fork (Garfo),  1928.
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um garfo apoiado em um prato.

    André Kertész – Shadows (Sombras), Paris, 1931
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra pessoas vistas de cima e suas sombras,

    Andrés Kertész – Painting his Shadow (Pintando a sua sombra), 1927.
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um homem em uma escada pintando o lado de fora de sua casa.

    Referências:

    • BORHAN, Pierre, et al. André Kertész: His Life and Work. Little, Brown and Company. Massachusetts: 1994.
  • Ponto de Fuga

    Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

    Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

    Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.
    Josef Koudelka – Exiles and Panoramas (Exílios e Panoramas) – Warsaw Pact troops invasion (Invasão das tropas do pacto de Varsóvia)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.


    Para começar, o ponto de fuga surge de um modo de ver o mundo propagado na cultura ocidental pelo Renascimento Italiano, mais especificamente pela perspectiva albertiana. Ela recebe esse nome por causa de seu criador, Leon Battista Alberti, quem, no início do Renascimento, foi a primeira pessoa a estudar proporção e análise científica de perspectiva dentro da arquitetura, fazendo o levantamento de diversos monumentos da Antiguidade e formando concepções estéticas sobre arquitetura e urbanismo.

    O ponto de fuga, porém, surge de seus estudos de aspectos teóricos de pinturas. A perspectiva albertiana, nas artes plásticas, compara um quadro a uma janela aberta para o mundo, ou seja, é como se ao pintar um quadro, para obter uma imagem próxima da realidade, o pintor deveria pintar a perspectiva da paisagem retratada da mesma maneira que veria um espectador observando a paisagem através de uma janela. Observe a imagem acima, é como se o dono do relógio fosse esse espectador em uma janela, naturalmente, as árvores, as casas e os carros parecem ficar menores à distância, esse afunilamento faz as calçadas formarem um triângulo e convergirem no ponto de fuga.

    Em termos técnicos, o ponto de fuga é um termo matemático que nomeia retas paralelas que se encontram no infinito. As linhas da estrada na foto abaixo convergem em um único ponto, no infinito, esse é o ponto de fuga.


    Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.
    Josef Koudelka – Gipsies (Ciganos) – Untitled (Sem Nome)
    Descrição: Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.

    Como já visto, ponto de fuga implica na construção de profundidade na imagem, por isso, as linhas formam uma estrutura triangular apontando para o fundo da cena. O ponto de fuga também indica a existência da linha do horizonte. Porém, nem sempre para existir o ponto de fuga é necessário que o triângulo se complete. Na foto abaixo, as linhas não chegam a convergir, mas é possível imaginar uma continuação delas, onde o ponto estaria, e o olhar do leitor é, de qualquer maneira, guiado ao fundo da fotografia.

    Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.
    Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Ireland (Irlanda)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.

    O ponto de fuga não precisa ser apenas um modo de enfatizar a perspectiva natural do ambiente. Ele pode, por exemplo, ser usado para enfatizar o que se deseja fotografar, ao colocá-lo exatamente no ponto de fuga. Também é possível criar um caminho entre o plano principal e os planos interiores, guiando o olhar do leitor e lentamente diminuindo a perspectiva até o ponto, como nas três fotografias acima. Outra maneira é utilizar a regra dos terços e as noções de linha do horizonte para enfatizar dois terços da fotografia. Não se esqueça que as linhas também podem ser curvas, como na fotografia abaixo, do Josef Koudelka.


    Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há um cachorro andando.
    Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Parc de Sceaux, Haunts-de-Seine, France (Parque de Sceaux, Altos do Sena, França)
    Descrição: Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há o que parece ser um cachorro andando.
    Josef Koudelka é um fotógrafo checo nascido em 1938. Ele começou a fotografar em 1950 e no final dos anos 60, fotografou a invasão soviética em Praga, publicando suas fotos sobre o pseudônimo P.P. que significava Prague Photographer (Fotógrafo de Praga). Suas fotografias têm uma forte presença política e também retratam a sua vida no exílio. Vamos treinar? Faça fotografias em que um caminho partindo do plano principal forme um ponto de fuga, usando Josef Koudelka como inspiração.

    Referências

  • Juvenal Pereira

     Juvenal Pereira, autor de célebres fotografias é um dos nomes do fotojornalismo brasileiro. 

    Aguasujenses, Romaria, MG, Juvenal Pereira, 1975
    Aguasujenses, Romaria, MG, Juvenal Pereira, 1975
    Fotógrafo autodidata, Juvenal Eustáquio Pereira (1946), nasceu em Romaria, Minas Gerais.  Seu pai, com quem teve grande identificação, era músico e sapateiro, e sua mãe, professora. Cresceu em uma família de 15 irmãos. Suas primeiras influências vieram de sua infância, onde, desde cedo, aprendeu  sobre o socialismo, na prática, dividindo funções e trabalhos. 
    De característica inquieta, antes de se descobrir fotógrafo, Juvenal Pereira exerceu diversas funções. E em 1970, começa a trabalhar como fotógrafo na filial mineira (Belo Horizonte) da revista “O cruzeiro”, atuando a seguir, entre 1971 e 1974 na filial baiana da mesma revista, em Salvador. Residindo, já em Brasília, em 1975, fundou  a escola Três por Quatro de Fotografia e Cinema, e entre 1976 e 1979, coordenou o projeto Conversas sobre fotografia, realizado na Aliança Francesa. 
    Radicou-se para São Paulo no início da década de 1980, lá implantou o curso de fotografia do Sesc – Fábrica Pompéia, atuando também como professor (1982/1984). Fundou, em 1991, o Núcleo dos Amigos da Fotografia – NaFoto e organizou o Mês Internacional da Fotografia de São Paulo.
    O currículo do mineiro é extenso. Atuando como jornalista, Juvenal trabalhou para o Correio Brasiliense e para o Jornal de Brasília, além de ter colaborado para as revistas Veja e Isto É. Entre 1988 e 1989, trabalhou para a Folha de S. Paulo. Juvenal, conheceu diversos estados brasileiros e o exterior. Tratou de muitas temáticas sociais em suas obras, como racismo, regionalismo, crescimento de cidades, política e antropologia. 
    Congada, Silvianópolis, MG

    No lado direito, a beira de um rio, uma casa, um varal com roupas, duas galinhas. Uma mulher lava os pratos em uma bacia e o homem está sentado realizando algum trabalho manual.
    Varal, Vale da Ribeira, SP, 1984

    Pessoas em um um corredor tocando música e dançando. Elas estão animadas e felizes.
    Samba do Beka, Salvador, BA, 1982

    Frente uma casa de barro, no sertão do Maranhão, pessoas paradas olham para o registro da foto.
    Negros, Alcântara, MA, Juvenal Pereira, 1981
    Em uma parede dentro de casa, ao lado esquerdo uma rede, uma criança aparentemente sentada na rede. Ao lado uma criança de vestido, parada encostada na parede. A parede está com marcas de tempo e há um calendário pendurado na parede.
    Interiores, Alcântara, 1979

    As mulheres estão de costas, todas com um mesmo vestido. Elas usam lenços na cabeça e carregam consigo uma instrumento de percussão, tambor.
     Caixeras do Divino, Alcântara, 1980 

    Conte-nos o que achou da #galeria de hoje, deixe suas impressões sobre estas belas fotografias.

    Referências

  • Pontos

    O ponto, para a geometria, é o elemento que origina todas as formas geométricas. É a unidade que ocupa um espaço irredutível, o menor possível.

    O ponto, para a geometria, é o elemento que origina todas as formas geométricas. É a unidade que ocupa um espaço irredutível, o menor possível.
    Fotografia de uma praia vista de cima. Na metade de baixo da fotografia o mar banha a areia. Na metade de cima, centenas de guarda-sóis coloridos estão espalhados pela areia.
    Cássio Vasconcelos – Coletivos – A praia detalhe 1
    Descrição: Fotografia de uma praia vista de cima. Na metade de baixo da fotografia o mar banha a areia. Na metade de cima, centenas de guarda-sóis coloridos estão espalhados pela areia.

    É imprescindível dizer que o ponto acaba sendo um elemento de destaque na composição visual. Ele é identificado principalmente por seu tamanho e formato, mas também possui cor e textura. Na fotografia, pode ser representado literalmente por objetos minúsculos como pontos, como o sol, as estrelas no céu, gotas de chuva na janela ou o orvalho nas flores. Os objetos também podem ser propositalmente dispostos de forma que pareçam com pontos, como os guarda-sóis vistos de cima na fotografia do início do post.

    O ponto é um elemento que atrai o olhar, por isso, pode e deve ser aproveitado para evidenciar o tema da fotografia. A quantidade dos pontos e a distância a que se encontram um do outro também podem passar sensações de aglomeração ou esvaziamento, proximidade ou afastamento, abundância ou escassez. Um único ponto, por exemplo, pode passar a sensação de um local vazio ou solidão, enquanto muitos pontos com muita proximidade entre eles pode transmitir coletividade ou até mesmo a sensação sufocante de estar em um local cheio. Na fotografia abaixo, no trajeto da ponte em que os carros estão distantes um do outro, a impressão que se tem é de tranquilidade e liberdade. Na parte do trajeto que muitos carros estão a uma distância curta uns dos outros, a sensação é de imobilidade.


    Fotografia de uma ponte entre topos de árvores. Carros trafegam pela ponte.
    Cássio Vasconcelos – Aéreas 2 – Rodovia dos Imigrantes
    Descrição: Fotografia de uma ponte entre topos de árvores. Carros trafegam pela ponte.

    Vários pontos juntos podem criar linhas, formas, desenhos… Assim, a utilização de pontos na fotografia pode evocar outros elementos de composição como padrão, ritmo, textura e cor. A fotografia da Rodovia dos Imigrantes, com a sua distribuição desproporcional dos pontos, consegue transmitir a sensação de ritmo, em que os carros fluem em certos trechos e se aglomeram em outros.

    Ao evocar outras noções de composição, como o padrão, o ritmo e a textura, a fotografia pode deixar de ser uma representação da realidade e passar a ser uma obra de arte abstrata que utiliza elementos reais. Os pontos na fotografia abaixo, por exemplo, são representados tanto pelas pessoas em um desfile de escola de samba, quanto por suas sombras. A distância quase igual entre os dançarinos e a diferença de cores entre os figurinos e as sombras, cria o padrão e o ritmo da imagem, além de evocar abstração para a obra.


    Fotografia tirada de cima de pessoas fantasiadas em um desfile de esolca de samba. As pessoas parecem estar a uma mesma distância uma das outras.
    Cássio Vasconcelos – Aéreas 2 – Carnaval
    Descrição: Fotografia tirada de cima de pessoas fantasiadas em um desfile de esolca de samba. As pessoas parecem estar a uma mesma distância uma das outras.
    As fotografias deste post são de autoria do fotógrafo Cássio Vasconcellos, um fotógrafo paulista, cuja carreira teve início em 1981 fazendo exposições pessoais. Já foi fotojornalista para a Folha de S. Paulo, teve seus trabalhos exibidos em mais de 20 países e tem seis livros de fotografia publicados. Em muitos de seus ensaios, como “Coletivos”, “Aéreas” #1 e #2 e “Paisagens Marinhas” Cássio utiliza pontos para criar padrão e ritmo, compondo imagens abstratas e originais. Você pode conhecer o autor e se inspirar nas suas obras aqui.
    Faça como Cássio Vasconcellos, treine seu olhar buscando pontos em ambientes de seu cotidiano. Tire fotografias em que esses pontos atrairão o olhar do leitor. Faça uma série de fotografias em que os pontos criem formas e padrões.

    Referências

    • ELLEN, Lupton; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
    • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.

  • “Black Archives”, o acervo fotográfico negro

     Você sabia que existem centenas de imagens históricas das experiências negras disponíveis em um acervo online? Indico a vocês a coleção Black Archives. 

    Criado por Renata Cherlise em 2015, a plataforma multimídia Black Archives (Arquivo preto) apresenta com destaque a experiência negra nos Estados Unidos, a partir de um acervo de fotografias que remontam de modo dinâmico, o passado, presente e futuro da população negra, de forma bela e pouco vista. 
    Para além do comum, a proposta apresentada pelo perfil é explorar as várias formas da vida negra, retratar o cotidiano de maneira icônica, sem estereótipos. Promovendo novas perspectivas e inspirando usuários que buscam legados daqueles que os antecederam. 
    As fotografias publicadas na página possibilitam uma experiência única, elas contam histórias a partir de uma representação autêntica e inspiradora, seja pela moda, seja pela simples expressão de um momento normal para os rostos estampados. O acervo é transformador para aqueles buscam referencias dos negros em todos os lugares. 
    Black Archives, possui também,  um site oficial, onde você encontra relatos, histórias, vídeos e referências da cultura. E para ter a experiência completa, acesse o Instagram blackarchives.co. 
    Greenville, Carolina do Sul. Fotografias de Margaret Bourke-White (1958)

    Greenville, Carolina do Sul. Fotografias de Margaret Bourke-White (1958)

    Greenville, Carolina do Sul. Fotografias de Margaret Bourke-White (1958)
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  • Eugène Atget

    Eugène Atget

    Eugène Atget foi um dos precursores da fotografia urbana, ficou famoso por retratar Paris inabitada com fotos que foram precursoras do surrealismo.

    Jean-Eugène-Auguste Atget nasceu na França em 1857 na cidade de Libourne. Ele se tornou órfão aos 7 anos de idade, e, junto com seus outros seis irmão, foi criado por seus tios. Em sua juventude trabalhou como marinheiro e aos 21 foi para Paris estudar para se tornar ator.

    Na foto vemos um pátio amplo, com um pequeno canteiro em seu centro. No canteiro existem um pequena arvore  e alguns arbustos. O pátio é cercado por um prédio de três andares com grandes janelas. 
    Hotel de Marechal de Chaulnes, Praça des Vosges, Paris,  1911

    Como não obteve sucesso, ele decidiu seguir carreira como pintor, mas descobre sua verdadeira vocação na fotografia. No início de sua carreira ele fotografava as ruas de Paris, e vendia suas fotos como cartões postais para o grande público, foi somente no início do século XX que ele começou a ter seu trabalho reconhecido e passou a vender sua fotos como estudos para arquitetos, designers de palco e  pintores como Man Ray e André Derain que se fascinaram pela composição das fotos e as usaram como base para criação de suas obras. Porém mesmo tendo o reconhecimentos desses artista, uma boa parte do trabalho de Atget só chegou a ser publicado após a sua morte em 1927.

    Suas fotografias, feitas com câmeras de grande porte e através de longos períodos de exposição, retratavam vários aspectos de Paris, desde paisagens rurais, a sua população e principalmente a cidade com ruas desertas que davam a suas imagens um tom mágico e surreal. Graças a essa maneira inovadora de compor, Atget é considerado o pai da fotografia moderna, e uma grande inspiração para várias obras do movimento surrealista.

    Na foto podemos ver um beco entre dois longos prédios. Dos dois lados do beco posemos ver caixas e portas que vão para dentro dos prédios. 
    Vieille Cour, 22 rue Quincampoix,  1908
    Na imagem podemos ver uma estatua de mármore de uma mulher deitada em almofadas usando uma toga.
    Versailles-Parc, 1920
    Na imagem podemos ver em primeiro plano algumas arvores, uma delas está caída. Mais a frente há uma praia e ainda mais ao fundo podemos ver uma construção que aprece ser um castelo.
    Cannes, 1922
    Na foto poetemos ver um tocador de órgão que usa uma chapéu e uma longa barba, ao lado dele está uma criança usando um vestido, que parece dançar com a musica do instrumento.
     O tocador de Órgão  1898
    Na foto podemos ver uma mulher sentada em uma cadeira na porta de uma casa.
    Prostituta esperando na frente de sua porta 1921

    Gostou da obra desse excelente artista? Deixe sua opinião nos comentários abaixo! E não se esqueça de nos seguir no Instagram para ficar por dentro de todos os novos conteúdos do blog!

    Links, Referências e créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Eugène Atget. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/galeria-eugene-atget/>. Publicado em: 18 de nov. de 2020. Acessado em: [informar data].

  • Textura

    Textura é o que, junto com a forma, nos revela qual é o objeto fotografado.

    Textura é o que, junto com a forma, nos revela qual é o objeto fotografado.

    Haruo Ohara – Sem Nome
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra uma plantação de árvores que, juntas, formam formam vários relevos arrendondados na extensão do campo.

    Na fotografia acima, de Haruo Ohara, as formas revelam diversos objetos arredondados, mas são os relevos das folhas que deixam claro se tratar de uma plantação. A fotografia é de Haruo Ohara, fotógrafo nascido no Japão que veio para o Brasil com a sua família em 1927. Aqui, a família Ohara trabalhou em lavouras do interior de São Paulo até adquirir suas próprias terras no Paraná, em 1933. Em 1938 Haruo comprou sua primeira câmera, passando a registrar o cotidiano rural.

    A utilidade de se realçar a textura é bem perceptível no trabalho de Ohara. A natureza em suas fotos nunca é evocada apenas por sua aparência geral, mas por enfatizar a textura dos detalhes para transmitir sensações. É o caso da fotografia abaixo, em que a textura revela a secura do solo e nos transmite a ideia de aridez. Dentro do contexto campestre em que a foto foi tirada, portanto, a textura traz consigo a narrativa do solo infértil, da impossibilidade do plantio e, possivelmente, da presença da fome.

    Haruo Ohara – A seca
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um solo seco com rachaduras bem pronunciadas.

    Como usar a textura

    As fotografia de Haruo Ohara conseguem transformar a textura em protagonistas apenas isolando-as em fotografias em que se repetem e se transformam em um padrão. O fotógrafo também utiliza padrões da própria natureza para constituir um senso de textura, como as nuvens abaixo, que da forma que foram fotografadas aparentam ser relevos macios no céu.
    Haruo Ohara – Nuvens da Manhã
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra o nascer do sol com uma composição que põe o céu em destaque, deixando que mais da metade da fotografia seja ocupada por nuvens fragmentadas que se espalham por todo o céu. No canto direito há a sombra de um homem equilibrando uma enxada no dedo.
    Outra forma de dar destaque às texturas é colocá-las próximas a uma textura contrastante. Como o tronco áspero contrasta com as jabuticabas lisas abaixo.
    Haruo Ohara – Jabuticaba
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Close de um galho cheio de jabuticabas.

    Revelando a Textura

    A textura é revelado principalmente pelas luzes que refletem as saliências e pelas sombras que se formam nas reentrâncias da figura. Assim, a luz dura é o melhor realçador de textura, pois gera muita sombra nas fissuras. Como já falamos aqui, a luz na posição 45º graus também ajuda a destacar a textura (assim como a forma e o volume) do que está sendo fotografado.
    Observe na fotografia das espigas de milho abaixo como a luz direta do sol ajuda a reconhecer os grãos de milho, gerando sombra nos espaços entre eles.
    Haruo Ohara – Milho
    Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra milhos amontoados.
    Assim como a luz direta e em ângulo agudo deve-se ser usada para realçar texturas, a luz suave disfarça a textura em casos necessários, como para fazer uma pessoa parecer mais jovem ou com a pele mais uniforme em retratos.
    Experimente fotografar com textura! Escolha um objeto com muitos relevos, fotografe em luz dura e, depois, em luz suave e observe com a luz influencia na revelação da textura. Em seguida experimente isolar a textura para criar uma fotografia abstrata com padrão.

    Referências:

    • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
    • IMS
  • Daido Moriyama

    Daido Moriyama

    Suas fotografias fogem dos padrões estéticos com que estamos habituados, tornando Daido um dos fotógrafos com estilo mais distinto da atualidade.

    Daido Moriyama nasceu no Japão na cidade de Ikeda, Osaka, no ano de 1938. Ele começou a estudar fotografia com o famoso fotógrafo de arquitetura Takeji Iwamiya e  em 1961 se mudou para Tokyo. Seu primeiro livro de fotografias, Nippon Gekijo Shashincho, foi publicado em 1968, desde então ele publicou vários outros e foi agraciado com vários prêmios como o Infinity Award do Centro Internacional de Fotografia de Nova York. 

    Na foto podemos ver um cachorro preto olhando diretamente para a câmera com a boca aberta.
    Daido Moriyama, Cão vadio, 1971

    Daido segue o are-bure-boke, uma vertente da fotografia que consiste em fotos muito granuladas ou cheias de ruído, tremidas, com grande contraste e desfocadas. Ele usa esse estilo, desde seu primeiro livro, para criticar a desenfreada industrialização  de seu país, que vinha impondo aos japoneses um estilo de vida consumista e ocidentalizado, causando aumento das desigualdades sociais. 

    Dessa forma, ele foge dos padrões do ocidente e busca fotografar as áreas marginalizadas e esquecidas de Tokyo, sempre utilizando uma câmera compacta Ricoh. O resultado não são fotos belas e agradáveis aos olhos, mas chocantes que carregam algo místico e hipnotizante, quase como memórias distantes.

    Uma mulher nua está sentada em uma cama fumando um cigarro. Ao lado dela podemos ver um interruptor na parede, um abajur e o que parece ser uma pia, A imagem é escura, muito granulada e um pouco desfocada.
    Daido Moriyama, Provoke No. 2, 1969
    A imagem é muito escura e granulada, a única coisa que podemos ver são vários postes de luz.
    Daido Moriyama, A estrada que divide pessoas, 1969
    Em primeiro plano vemos o rosto desfocado em uma pessoa que parece estar muito próxima ao fotógrafo, ao fundo vê uma criança agarrada às grades de proteção de um porto observando um navio no mar.
    Daido Moriyama, Um porto e uma navio. 1972
    Em primeiro plano vemos uma criança parada com as mãos nos bolsos, ela está vestindo uma camisa listrada e uma calça que está presa a um suspensório. A criança está com os olhos revirados e há um contorno luminoso a sua volta. No fundo podemos ver uma carro passando pela rua.
    Daido Moriyama, As três vistas do japão Nº3, 1974
    Uma mulher vestida com uma lingerie está sentada em uma poltrona branca, fumando um cigarro. Ao lado dela podemos ver uma cama e uma abajur.
    Daido Moriyama, Sem título, 1969

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    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Daido Moriyama. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/galeria-daido-moriyama/>. Publicado em: 11 de nov. de 2020. Acessado em: [informar data].