Categoria: Fotógrafas e Fotógrafos

* Categoria de hierarquia superior.

  • Territorialidade e Identidade: uma leitura contemporânea de Thabiso Sekgala

    O fotógrafo sul-africano explora suas raízes em seu trabalho.

    Thabiso Sekgala teve uma curta, mas impactante carreira. Seu retrato sobre a vida, compartilhado em belíssimas fotografias que têm a África do Sul como cenário principal, aponta uma visão contemporânea da identidade sul africana. Em uma mútua afetação, o fotógrafo explora como o ambiente ao redor é fator chave para a formação de um indivíduo. 
    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala nasceu em 1981 em Joanesburgo, na África do Sul. Estudou na The Market Photo Workshop, uma escola de fotografia localizada em sua cidade natal, entre 2007 e 2008. Foi criado pela avó e cresceu em uma área rural, em um Bantustão, território separado pelo governo sul-africano para habitantes negros no período do Apartheid, e essa vivência se tornou objeto principal de suas fotografias.
    Em 2010, ganhou o Tierney Fellowship, um prêmio importante para fotógrafos iniciantes. Teve a maior parte de seu trabalho exibido na África e na Europa. Em 15 de outubro de 2014, o fotógrafo cometeu suícidio, tinha apenas 33 anos e deixou para trás dois filhos. sua morte aconteceu pouco tempo depois do falecimento de sua avó. 
    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    Thabiso Sekgala

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Créditos e Referências: 

  • O beijo na Time Square

    O beijo na Time Square

    A história por trás da mais famosa foto de Alfred Eisenstaedt

    No dia quatorze de agosto de 1945, o fotógrafo Alfred Eisenstaedt registrou em Nova York, a polêmica fotografia intitulada “O Beijo na Times Square”. A imagem retrata a cena de um beijo entre um marinheiro e uma enfermeira na Times Square, após o término da segunda guerra mundial.

    Alfred Eisenstaedt

    O fotógrafo utilizou uma grande profundidade de campo, provavelmente para captar as reações das pessoas ao redor do casal. Ele conta, em seu livro, que um dos principais motivos para ter tirado esta foto, foi como achou interessante o contraste entre o vestido branco da enfermeira e a roupa escura do marinheiro.

    Conforme a fama da imagem crescia, a identidade do suposto casal apaixonado era questionada, já que as pessoas queriam saber como e onde estavam os sujeitos daquela fotografia. Depois de muitas pesquisas, Alfred Eisenstaedt descobriu que o nome do marinheiro é George Mendonsa, tripulante do navio USS The Sullivans. Já a enfermeira se chama Greta Zimmer Friedman, na época ela trabalhava como assistente de dentista e tinha 21 anos.

     Em entrevistas, Greta conta que nunca tinha dado permissão ao marinheiro para beijá-la. Além disso, a futura esposa de George aparece na foto e seu rosto pode ser visto por cima do ombro direito dele.  A fotografia  “O Beijo na Times Square” já foi considerada extremamente romântica e muitas releituras foram feitas.

     Confesso que já achei que era simplesmente um casal apaixonado posando para o fotógrafo. Entretanto, quando pesquisei a história que estava por trás, houve uma mudança na minha percepção em relação a esta fotografia. Por causa disso, descobri que a captura da imagem aconteceu em meio às comemorações eufóricas, devido ao final da segunda guerra mundial, mas também, a demonstração de afeto que eu achava que tinha sido registrada, na realidade, era um beijo bruto e sem o consentimento de Greta, ato que, ao meu ver, foi extremamente abusivo.

    Podemos pensar que esta ação praticada pelo marinheiro, pode ter sido influenciada pela simples presença do fotógrafo. Logo, um agravante para a situação preocupante que ocorre na fotografia, já que George pode ter agarrado Greta por causa da existência de Alfred na cena.

    Em relação ao beijo, o que eu percebo é uma circunstância em que George agarra Greta enquanto ela estava passando pela rua. O ato não foi consensual, ou seja, esse tipo de situação não é aceitável, pois trata-se de assédio sexual. Penso que é importante e necessário problematizar para desnaturalizar essa prática que ocorreu devido à objetificação da imagem da mulher e ao machismo institucionalizado. Com isso, saber a história, com o intuito de trazer outros elementos para a fotografia, é extremamente importante para que tenhamos um olhar mais atento.

    A objetificação dos corpos femininos é um problema social que está enraizado nas entranhas da nossa sociedade. No dicionário, a objetificação é definida como:  “Processo que atribui ao ser humano a natureza de um objeto material, tratando-o como um objeto ou coisa; coisificação.” Trata-se da anulação da posição de sujeito da mulher, ignorando seus desejos e emoções. É entendê-la como um objeto passivo de receber quaisquer ações de terceiros.

    Em suma, a fotografia é mais um exemplo dos males que o machismo causa no cotidiano e na vida das mulheres. Greta estava em um local público, mas isso não significa que seu corpo seja público. Com isso, ressalto, mais uma vez, a importância da história, do diálogo e da luta para desnaturalizar este tipo de ação.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. O beijo na Times Square. Cultura Fotográfica. Publicado em: 13 de out. de 2021. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/o-beijo-na-time-square/. Acessado em: [informar data].

  • Gerda Taro

    Gerda Taro

    Importante fotojornalista que fez história com a sua cobertura da guerra civil espanhola.

    A fotojornalista judia Gerta Pohorille, mais conhecida como Gerda Taro, nasceu em Stuttgart na Alemanha no ano de 1910. Ela foi considerada a primeira mulher a documentar as linhas de frente de conflitos bélicos, mais especificamente a guerra civil espanhola.

    Gerda Taro

    Ela foi detida pelo governo nazista por fazer campanhas contra a ditadura instaurada na época. Por causa disso, a fotógrafa, juntamente com sua família, foi obrigada a deixar a Alemanha, indo então para Paris, em 1933.

    Em 1935, conheceu o fotógrafo Endre Ernő Friedmann, conhecido por seu pseudônimo Robert Capa, que começou a dar aulas sobre fotografia para Gerda. Os dois acabaram se apaixonando nesse meio tempo. Ela recebeu sua primeira credencial de fotojornalista em 1936. A partir daí, Gerda e Endre começaram a fotografar conflitos armados.

    Em meados de 1936, Gerda foi para Barcelona juntamente com Capa e o fotógrafo  David Seymour para cobrir a guerra civil espanhola. No ano seguinte, Robert pede Gerda Taro em casamento, mas ela se recusa, pois queria continuar sua carreira na fotografia de maneira independente. Além disso, Taro se junta aos grupos de intelectuais antifascistas europeus e milita contra o nazismo junto com George Warrel e Ernest Hemingway.

    Gerda Taro morreu em 1837, enquanto cobria a batalha de Brunete. Seus filmes tinham acabado, então ela decidiu voltar em um jipe que estava sendo utilizado para transportar soldados feridos. Pouco depois da partida, o veículo foi atingido por um tanque de guerra desgovernado, que feriu gravemente a fotojornalista.

    Gerda Taro
    Gerda Taro
    Gerda Taro
    Gerda Taro

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. Gerda Taro. Cultura Fotográfica. Publicado em: 11 de out. de 2021. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/gerda-taro/. Acessado em: [informar data].

  • Os Flagelados da Seca no Ceará

    Os Flagelados da Seca no Ceará

    A foto de Juca Martins mostra o abismo econômico que existe entre as classes mais ricas e mais pobres no Brasil

    Tirada em 1983, pelo fotojornalista Juca Martins, quando ele foi cobrir os impactos de um dos mais longos períodos de estiagem que atingiu o país, a foto mostra pessoas com vestes simples, à beira de uma estrada. Elas erguem suas mãos em súplica na direção de um Chevrolet Opala, um dos carros mais luxuosos de sua época, o carro apenas entra na contramão para se distanciar e segue seu caminho. 

    Juca Martins

    Na época retratada, o nordeste do país estava passando por um dos piores períodos de seca de sua história. Ele durou de 1979 a 1985, atingindo seu ápice em 1981. Criações de animais e plantações inteiras morreram, deixando milhares de famílias sem ter o que comer. Diante desta situação, João Figueiredo, presidente do regime ditatorial, declarou que “Só nos resta rezar para chover”.

    Além da seca, o país também sofria com índices altíssimos de inflação. Com o intuito de contê-la, os militares criaram um modelo econômico que levou ao que ficou conhecido como “milagre econômico”, período com índices de inflação baixíssimos e com o PIB elevado. Porém, o modelo era mal planejado e por mais que a inflação tivesse caído a desigualdade social disparou e a economia ficou extremamente dependente da exportação de commodities. Em 1979, com a segunda crise do petróleo, a economia despencou, a inflação chegou a 200% e o país se viu afundado em dívidas.

    O suposto “milagre econômico”, responsável por enfraquecer sindicatos e privar milhares de trabalhadores de seus direitos, acabou deixando o país em uma situação econômica ainda pior, na qual o 1% mais rico da sociedade detinha 30% de toda a renda do país.

    Com essa composição, o fotojornalista traz uma mistura entre o chocante e o sutil. A fotografia com toda certeza tece críticas fortes ao governo da época, juntamente com seus modelos econômicos, mesmo sem fazer menção a ele. Isso era essencial para todos os profissionais de imprensa da época, devido a forte censura feita pelos militares, que, mesmo reduzida na época, ainda poderia ser perigosa para os jornais, mas principalmente para os jornalistas.  Na foto,

    Juca Martins capta uma síntese de todos esses 20 anos de história. A direita vemos um Chevrolet Opala, fabricado em 1976, período auge do “milagre econômico”, representando o melhor da industrialização desenfreada, ocorrida com a vinda das montadoras automobilísticas para o Brasil. E a esquerda, separados do Opala por uma linha contínua, uma família faminta e sedenta, que, diferentemente da indústria, não recebeu nenhum auxílio governamental e apenas implora ajuda para uma elite econômica que insiste em ignorá-la.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Os Flagelados da Seca no Ceará. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/os-flagelados-da-seca-no-ceara/>. Publicado em: 06 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Evandro Teixeira

    Evandro Teixeira

    Fotojornalista documentou importantes períodos da história do Brasil

    Nascido na cidade de Irajuba, na Bahia, no ano de 1935, ainda muito novo, teve como professor de fotografia Teotônio Rocha, primo do diretor Glauber Rocha. Sua carreira como fotojornalista iniciou-se 1958,  no jornal Diário da Noite, onde era encarregado de fotografar casamentos que eram comentados nas páginas do periódico.

    Evandro Teixeira

    Em 1963, ele entra para o Jornal do Brasil, onde segue trabalhando até o ano de 2010. Sua obra possui uma pluralidade inegável, já que se destacou em vários campos relacionados à cobertura jornalística, desde temas referentes à política até fotografias de esporte. Em 1964, cobriu o golpe civil militar responsável por instaurar uma ditadura no país. Foi o único fotógrafo a ter acesso ao forte de Copacabana na madrugada do dia 1º de abril, onde registrou a chegada de Castelo Branco para seu pronunciamento e tomada de posse.

    Também registrou as manifestações estudantis de 1968 e a derrubada do governo de Salvador Allende em 1973. Durante sua carreira publicou livros icônicos como “Fotojornalismo”, “Canudos 100 anos” e “68 destinos : passeata dos 100 mil”. Sua obra também foi imortalizada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, que dedicou a ele um dos poemas do livro “Amar se aprende amando”.

    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Evandro Teixeira. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/evandro-teixeira/>. Publicado em: 04 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Uma voz que precisa ser ouvida

    A fotografia de Yasuyoshi Chiba é um grito de força e esperança.

    Suor escorrendo pela pele, uma postura ereta, o queixo levantado, a mão aberta sobre o peito e uma expressão de bravura. O jovem, personagem central desta fotografia, não parece se intimidar com os olhos de diversas pessoas pousados sobre si, nem mesmo com a luz de cada celular usado para iluminar o seu rosto. O garoto, cujo nome não sabemos, marca sua presença como ninguém. 

    Yasuyoshi Chiba/AFP/World Press Photo

    Não havia luz no dia 19 de junho de 2019 em Cartum, capital de Sudão. O apagão imposto pelo governo aconteceu poucos dias antes de operações militares que resultaram no assassinato de milhares de manifestantes. Ainda assim, o grupo pró-democracia da imagem acima se reuniu mais uma vez para lutarem por seus direitos e, enquanto o garoto de blusa azul recitava um poema em forma de protesto, o sentimento de esperança parecia não ter desaparecido.  
    A fotografia congela esse momento, como se a fala do garoto nunca tivesse cessado. E, todas as vezes que olhamos para ela, paramos tudo para ouvi-la novamente. O próprio nome da obra, “Straight Voice” ou voz direta (tradução livre), mostra a força do jovem da imagem. Mas, como uma fotografia não consegue emitir sons, é impossível saber exatamente o que ele diz e a mensagem é deixada em pequenas pistas. 
    A primeira está nas mãos erguidas que se estendem em torno do garoto mostrando que, seja lá o que ele está dizendo com tanta firmeza, é ovacionado em um consenso geral. A outra está nos outros rostos jovens presentes na imagem que o rodeiam com a mesma destreza. É como se essa voz falasse por todos que estão presentes. Ela é a representação de uma geração jovem que está lutando para construir um futuro novo com as próprias mãos. 
    A obra de Yasuyoshi Chiba ganhou o prêmio de fotografia do ano pela World Press Photo, um dos prêmios mais importantes do fotojornalismo profissional. Acredito que parte da paixão por essa imagem existe por conta do caráter poético em cada detalhe de sua composição. Começando por seu tom apático, mas ao mesmo tempo vibrante. Enquanto o redor aparenta ser devorado pela completa escuridão, os corpos se destacam em tons quentes, impossíveis de serem ignorados, mostrando que se o apagão foi feito com a intenção de calar essas pessoas, elas fariam o possível para serem ouvidas.
    O registro é totalmente preenchido com os manifestantes, sobrando pouco espaço vazio. Esse enquadramento fechado ajuda a fortalecer o pequeno grupo pacífico que ganha uma imagem imbatível de união e força. Todos têm seus corpos direcionados ao menino, levando o nosso olhar mais uma vez para o centro da imagem. E a figura centralizada que exala uma juventude inquieta e que não teme nada, parece gritar que a sua voz deve ser ouvida. 
    Ao fundo, as luzes dos celulares iluminam as costas do garoto e atribuem-lhe uma aura épica. Esse esforço em fazer com que o jovem seja visto e ouvido demonstra uma atitude admirável em meio a tanta violência, um sinal de que a empatia e comunhão não se perdeu. E, assim, se movem em uma só direção, com um poder que apenas um registro tão delicado como este pôde capturar. 
    #leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política e social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens da coluna? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos: 

  • Espaços e biografias

    As fotografias de “Noturno” narram sentimentos de pessoas que convivem com a guerra no Oriente Médio.

    Qual sentimento o espaço onde você está agora, te provoca? Na fotografia abaixo, a mulher atravessada por um pequeno feixe de luz, com sua mão esquerda com o seu corpo apoiado na parede, seu lado direito estático e seus olhos fechados, nos sugere algum sentimento que provém da presença no espaço onde ela está.


    Foto: Gianfranco Rosi/2020.


    O feixe de luz  indica uma pequena abertura no alto do cômodo. As paredes desgastadas e sujas sugerem um ambiente que não passa por reformas há algum tempo. Mas o interessante é que essas e outras circunstâncias remetem e causam sentimentos nessa mulher, que parece experimentá-los à medida que tateia esse espaço.


    Desde que li “Biografia, corpo e espaço” de Delory Momberger, a ideia de que os espaços constituem nossa biografia não sai da minha cabeça. As fotografias que escolhi para este trabalho provocam essa  ideia, pois a casa onde moramos ou os caminhos que percorremos, por exemplo, constituem a nossa  memória, a nossa história e os nossos sentimentos.


    Foto: Gianfranco Rosi/2020.


    Ou seja, o espaço não é apenas um cenário ou uma ilustração presente nas fotografias ou no nosso dia a dia. Ele também reflete sobre nós a dimensão da nossa experiência geográfica ou sentimental, condiciona nossas práticas e nossas representações do mundo, pois é constituído culturalmente e socialmente.

    Mas não podemos deixar de lado que nós interferimos no espaço, assim como ele interfere em nós, e  essa troca é constante, uma vez que o nosso corpo é um espaço dentro do espaço. Assim nasce parte do processo da nossa biografia. 

    Vale ressaltar que essas fotografias são do documentário “Noturno”, dirigido por Gianfranco Rosi. 


     #leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política e social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens da coluna? É só seguir este link.



    Links, Referências e Créditos


    https://piaui.folha.uol.com.br/notturno-um-feito-cinematografico-admiravel/


    DELORY-MOMBERGER, C. Biografia, corpo e espaço. In: Biografia e educação: figuras do indivíduo-projeto. Natal: EDUFRN, São Paulo: PAULUS. (2008)


  • O melodrama de Alex Prager

    O cinema e a cultura pop são fortes influências no portfólio da fotógrafa.

    A princípio as fotografias de Alex Prager podem gerar uma sensação de estranhamento. Porém os enquadramentos  pouco convencionais, as temáticas hiper realistas com cores vibrantes de seus registros carregam vários elementos da cultura pop e de uma Hollywood vintage, tornando tudo muito familiar e nostálgico. Seu trabalho consiste em registros encenados, contendo atores pagos, tudo para construir uma narrativa melodramática.
    Alex Prager é uma fotógrafa americana nascida em 1979, Los Angeles.  Sua cidade natal é conhecida pelos vários estúdios de cinema e pode explicar suas constantes referências a Hollywood, tanto como fotógrafa quanto como cineasta. Ela largou a escola aos 14 anos de idade e passou boa parte de seu tempo vago viajando pela Europa de trem. Quando voltou para os Estados Unidos, visitou uma exibição do fotógrafo William Eggleston que a fez se apaixonar por fotografia e, até os dias de hoje, é uma grande influência em seu trabalho. 
    Aprendeu a fotografar de maneira autodidata e teve sua primeira exibição com apenas seis meses após decidir mergulhar na carreira. Em 2011, ela dirigiu uma série de vídeos denominada Touch of Evil para a revista The New York Times, em que atores famosos como Brad Pitt, Viola Davis, George Clooney e Glenn Close representam grandes vilões do cinema, a galeria visual ganhou um Emmy Awards.
     
    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    Alex Prager

    #galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, histórica, política ou social, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer outras postagens desta coluna? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos.

    • Site oficial
    • Biografia e Fotografias à venda
    • Exibições
    • Artigo sobre o trabalho da fotógrafa


  • Cerimônia fúnebre de Kosovo

    Cerimônia fúnebre de Kosovo

    A controversa fotografia de George Mérillon, vencedora do World Press Photo em 1991.

    Em 1990, George Mérillon registrou, em Kosovo, a fotografia “Cerimônia fúnebre de Kosovo” que posteriormente foi intitulada como “Pietá de Kosovo”. A imagem retrata a dor de uma mãe, rodeada por mulheres familiares, ao perder o filho, vítima de conflitos que ocorreram no território.

    George Mérillon

    A fotografia “Cerimônia fúnebre de Kosovo” mostra o corpo de Elshani, na época com vinte e sete anos, envolto em uma mortalha branca. Ele foi assassinado em um protesto contra a perda de autonomia da região. Nela também vemos sua mãe, Sabrié, dando um doloroso grito por causa do assassinato do filho.

    A meu ver, a imagem da mãe, pode ser comparada com a da Pietá, escultura de Maria abraçada ao corpo morto de Jesus Cristo, após seu descendimento da cruz. A expressão do rosto da virgem é estranhamente sereno e idealizado. Já o semblante de Sabrié não mostra nenhum resquício de serenidade, pois é possível perceber a dor e o sofrimento diante do trauma da morte de seu filho. Seu grito atravessa a fotografia, é como se pudéssemos ouvir sua expressão angustiante.

    Após algumas leituras, sinto um certo incômodo em relação ao embelezamento de uma cena trágica mediante a utilização de técnicas de composição e edição. Além disso, me veio o questionamento do motivo desta fotografia ter ganho o prêmio da World Press Photo Foundation, será que é por causa dela ser considerada esteticamente bela e não pela importância do acontecimento político?

    Podemos observar que o fotógrafo captura a imagem no meio de um ritual fúnebre, ato que pode simbolizar um extremo desrespeito às pessoas ali de luto. Além disso, o fotógrafo se utiliza de técnicas de composição e edição para produzir uma imagem que se aproxima esteticamente de pinturas do renascentismo italiano, por exemplo a “Madona Sistina” realizada por Rafael Sanzio. Logo, uma possível hipótese é que o fotógrafo não se preocupe com o sofrimento causado pela perda e, talvez, busque apenas alcançar um valor estético.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

     Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. Cerimônia fúnebre em Kosovo. Cultura Fotográfica. Publicado em: 25 de ago. de 2021. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/cerimonia-funebre-de-kosovo/. Acessado em: [informar data].