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  • Orlando Brito

    Orlando Brito

    Fotógrafo que documentou o passado ditatorial brasileiro.

     
    Orlando Brito é um artista visual nascido em Minas Gerais, em 1950. Ele começou seus trabalhos na fotografia de modo autodidata, iniciando na profissão em 1965, no jornal Última Hora de Brasília. Entre seus objetos de estudo, o fotógrafo abordava temas como política, economia e questões sociais, como a vida urbana e do interior, além de retratar os indígenas. 

    Fotógrafo Orlando Brito segurando uma câmera na frente de um dos olhos, ele se encontra na vertical na frente de um fundo branco. Seus cabelos são grisalhos e ele veste uma roupa azul.
    Orlando Brito

    Orlando Brito iniciou seus trabalhos durante os primeiros momentos da ditadura, onde retratou importantes momentos da história brasileira, acompanhando as personalidades políticas e fotografando os bastidores do Palácio do Planalto. Ele retratava os presidentes em situações não protocolares, em momentos de distração, em que era possível ver o indivíduo longe de sua personagem pública. Seus retratos mostram, de forma alegórica, as relações políticas e sociais no Brasil, tornando-se comentários críticos. Brito trabalhou em importantes veículos como o jornal O Globo e na revista Veja, onde publicou um total de 113 fotografias de capa. Em 1979, o fotógrafo ganhou o prêmio World Press, concedido pelo Museu Van Gogh, na Holanda, e recebeu o Prêmio Abril de Fotografia por onze vezes, além de outros prêmios.

    Imagem de uma  passeata, no meio da rua se encontra um homem que posa em cima de um carro e acena para as pessoas em volta, no carro há também três militares. Ao redor do carro, uma multidão se reúne para ver o homem passar.  O primeiro plano da fotografia contem um homem com trajes militares de costa, ele parece olhar em direção ao carro.
    Orlando Brito

    Militares se reúnem em fileira, enquanto um homem de terno acompanhado de mais dois militares passam. Um coturno preenche o primeiro plano da fotografia.
    Orlando Brito

    Cinco silhuetas de homens fardados, no escuro, um deles segura um rádio comunicador. Ao fundo o Congresso Nacional iluminado.
    Orlando Brito

    Militares fardados, em fileira, aparentemente recitando algo. No meio deles há um homem com terno que também parece declamar.
    Orlando Brito

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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  • “Limpeza” na Praça

    Operação policial expulsa dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, São Paulo, mostrando que ainda temos muito que evoluir no combate às drogas.

    Era para ser mais um Domingo naquela São Paulo de 2017, se não fosse uma operação policial. A mando dos governos municipal e estadual, funcionários expulsavam dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, no centro da cidade. Mais uma vez, nos deparamos com a triste realidade dos usuários. E cruzamos os braços diante da ação do estado para “limpar” o ambiente, ignorando esforços para ajudar efetivamente os dependentes químicos a viver longe do vício.
    Praça ocupada por pertences dos dependentes. Em primeiro plano, há uma placa com os dizeres “Afaste-se à direita: homens trabalhando”. Ao fundo, vemos um grupo de funcionários municipais encarregados da “limpeza” do local. A maioria veste coletes alaranjados e roupas de proteção. Ao redor, vemos as árvores da praça que fazem sombra em quase todo local e um caminhão de lixo ao fundo. Neste mesmo plano, há  prédios da cidade.
     Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A imagem é do fotojornalista Daniel Arroyo em sua cobertura para o portal Ponte Jornalismo. No dia do ocorrido, o então governador e o prefeito de São Paulo acompanhavam a ação enquanto policiais impediam os antigos moradores de retornar ao local. O que fez com que estes dependentes ocupassem outros pontos na cidade.
    Na foto, a placa à esquerda com os dizeres “AFASTE-SE à Direita | homens trabalhando” nos convida a observar a cena do “trabalho” executado pelos funcionários. Com isso, o olhar segue o caminho que os pertences dos usuários fazem no chão até chegarmos aos trabalhadores.
    Os objetos estão misturados e foram queimados pelos donos como uma forma de defesa contra a polícia que chegava para expulsá-los. Agora, eles perdem o significado de antes. São colocados em sacolas e considerados lixo.  Não são mais artigos pessoais, e sim “apenas sujeira que essas pessoas acumularam.”
    Vendo a imagem, é impossível não fazer uma conexão com as ações higienistas na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Em que o governo municipal da época promoveu uma série de reformas que excluiu as populações mais pobres que, sendo expulsas de suas moradias no centro da cidade, ocuparam os morros, originaram as favelas cariocas. Obviamente, com suas ressalvas, observamos a ação excludente se repetir. O problema não é solucionado e os alvos mudam dessa vez.
    De tantas conexões e mensagens que podemos tirar da fotografia de Daniel, está a do governo que não chega a um planejamento e solução efetiva para avançar no combate às drogas. E que, ao invés de chegar a um resultado para esta questão, escolhe amenizar o problema expulsando “os usuários problemáticos” para que não incomodem os moradores dali.
    Mas de nada adianta varrer a poeira para debaixo do tapete. Uma prova disso é que, cinco dias depois do ocorrido, os usuários que ocupavam a Praça Princesa Isabel retornaram para a cracolândia. Dando continuidade ao ciclo da dependência e vivendo na vulnerabilidade das ruas. E assim o problema daquele Domingo de 2017 continua na grande São Paulo.
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    MAIA, Amanda. “Limpeza” na Praça. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/06/Limpeza na Praca.html>. Publicado em: 6 de jul. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Daniel Arroyo

    De cenas cotidianas no ambiente urbano a registros em ambientes hostis: o cru e singular trabalho do fotojornalista Daniel Arroyo.

    Daniel Arroyo é fotojornalista no portal Ponte Jornalismo, organização criada para falar de direitos humanos através do jornalismo. Entre as suas publicações, estão matérias relacionadas a minorias; Daniel coleciona registros de cenas fortes caracterizadas por protestos, pessoas em situação de rua e violência. 
    Além disso, ele também retrata momentos singulares do cotidiano que passariam despercebidos. Como exemplo, temos a primeira e a quinta imagem desta postagem, que retratam um salto protagonizado por três meninos jogando bola num dia ensolarado e a identificação de mãe e filha com um grafite de pessoas negras, respectivamente.
    Três meninos jogam futebol num espaço urbano. A foto registra dois meninos num pulo, enquanto outro está com os dois pés no chão. Há casas atrás do  campinho, que é de terra. Há um homem observando a ação um pouco mais afastado, à direita, e um menino numa bicicleta à esquerda.
    Daniel Arroyo

    O nome de Daniel Arroyo ganhou destaque nacional em 2019 quando foi atingido com uma bala de borracha disparada pela PM durante uma manifestação em São Paulo. O jornalista estava cobrindo os protestos feitos pelo Movimento Passe Livre (MPL) quando o fato ocorreu. Segundo o colega de Daniel, que também cobria as manifestações,  o clima estava tenso principalmente em relação aos jornalistas.
    Uma mulher ensina outras a fazer exercícios físicos numa laje. Elas vestem roupas apropriadas para a ação e estão com os braços abertos, o corpo levemente inclinado para o lado esquerdo e uma perna se apoia à outra.

    Daniel Arroyo

    Um policial armado segura uma mulher pelos cabelos. Ela está agachada e ao redor, nota-se outros policiais.
    Daniel Arroyo

    Um pai e seu filho, uma criança pequena, sobem as escadas de uma viela. Ele guia a criança segurando-a por uma mão e segura uma bíblia com a outra. Está de noite e as luzes das casas iluminam a cena.

    Daniel Arroyo

    Uma mãe segura a filha no colo diante de um grafite com pessoas negras no desenho. Elas também são negras e sorriem para a câmera.
    Daniel Arroyo

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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    Como citar esta postagem

    MAIA, Amanda. Daniel Arroyo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/06/Daniel Arroyo.html>. Publicado em: 27 de jun. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • Virginia de Medeiros

    Artista que utiliza da fotografia documental para produzir novos sentidos.
    Virginia de Medeiros, nascida em 1973, em Feira de Santana, Bahia, vive em São Paulo. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela concentra seu trabalho na fotografia documental, extrapolando sua característica meramente testemunhal para criar novos significados da realidade.
    A imagem apresenta a composição de fotos da performance da obra “Jardim das torturas”. Sequencialmente, é possível visualizar diversas partes do corpo de uma mulher que é dominada em uma prática sexual sadomasoquista. A mulher possui suas mãos e seus pés atados na maioria das fotos, e sua face é envolvida por uma mordaça.
    Virginia de Medeiros

    A artista já participou de bienais e residências artísticas e já recebeu prêmios no Brasil e no exterior. O documentário “Sérgio e Simone” (2009) foi agraciado com o Prêmio de Residência ICCo no 18º Festival de Arte Contemporânea Videobrasil. Em 2006, sua obra “Studio Butterfly” participou da 27a Bienal de São Paulo e do Programa Rumos Itaú Cultural. A profissional também ganhou o Prêmio Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2009 com a vídeo-instalação “Fala dos Confins”. 

    Virginia fez residências em Timor-Leste, no Canadá e nos Estados Unidos, onde ganhou o Prêmio de Residência ICCo – Instituto de Cultura Contemporânea no Residency Unlimited. Também participou da 2ª Trienal de Luanda “Geografias Emocionais, Arte e Afectos”. 


    A fotografia, pintada digitalmente, representa uma mulher negra, de cabelo liso e preso para trás com um laço azul de bolinhas brancas. Ela está maquiada, com sombra azul, blush rosa e batom alaranjado, e sorri olhando para seu lado direito. Sua roupa possui a mesma estampa do laço, e em seu lado esquerdo, na altura dos seios, há um broche de rosa vermelho.
    Virginia de Medeiros | Júlio Santos

    A foto, em preto e branco, representa uma mulher negra, de tranças, que olha projetando um sorriso para seu lado direito, enquanto segura uma bandeira do Movimento Sem Teto do Centro. Ela está em um ambiente aberto, com uma árvore e um prédio por detrás dela.
    Virginia de Medeiros


    A imagem , em preto e branco, retrata uma mulher negra em uma cozinha, atrás de uma mesa que possui 5 bolos postos. Ela não olha diretamente para a câmera nem sorri.
    Virginia de Medeiros

    A fotografia representa a vídeo-instalação “Studio Butterfly”, na qual há diversos porta-retratos pendurados na parede, ao redor de um espelho que reflete a imagem de uma mulher que aparenta ser negra e que está com os seios à mostra.
    Virginia de Medeiros


    Esta fotografia é da vídeo-instalação “Fala dos Confins”. Nela, há uma Kombi dentro de um galpão, localizada no centro da imagem. O veículo é branco com azul, e dentro dele, há duas pessoas, sendo uma mulher e um homem.
    Virginia de Medeiros

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  • “Sexo frágil”: mulher, negra e sem teto

    Elizabete Afonso Pereira, uma mulher comum, demonstra o verdadeiro significado do que é ser ‘guerrilheira’. 

    A fotografia do projeto Alma de Bronze, série “Guerrilheiras”, da artista visual Virginia de Medeiros, mostra uma mulher negra, aparentemente alta e forte, olhando desconfiada para o seu lado direito, enquanto segura facilmente três tijolos. 


    A imagem, em preto e branco, apresenta, primeiro, 4 sacos de cimento. Em segundo plano, há uma mulher com traços negróides, fisicamente forte, que segura 3 tijolos enquanto desvia seu olhar da câmera. Ao seu redor, há uma pilha de tijolos. Ela está dentro de um lugar já  construído, o que sugere que ela irá fazer uma reforma no local.
    Virginia de Medeiros


    A mulher em questão é Elizabete Afonso Pereira, integrante do Movimento Sem Teto do Centro, em São Paulo. Sua postura é emblemática, pois, ao segurar os tijolos, não demonstra nenhum esforço. Seu olhar distraído da câmera delata que ela não estava confortável em ser fotografada, o que me abre margem para pensar que isso não é algo comum em sua vida, que ela foi invisibilizada por algum tempo e não está acostumada a aparecer tão publicamente. Por outro lado, a confiança e a determinação ultrapassam o aspecto de desconforto. Essa mulher que já aparenta ser forte, torna-se ainda mais vigorosa. Ela é uma das “guerrilheiras” fotografadas por Virginia. Inicialmente, partindo do pressuposto de que “guerrilha” é um tipo de luta armada contra um governo ou invasor de um território, mobilizada pelo lado mais fraco e oprimido, compreende-se que, metaforicamente, essas mulheres estão lutando contra aqueles que as impedem de ocupar os espaços a que têm direito.

    As pessoas que lutam por seu direito de moradia, os chamados “sem-teto”, ocupam residências que, conforme a constituição federal, não cumprem com sua função social. Em São Paulo, principalmente na área central, são muitos os imóveis abandonados, que são invadidos e, posteriormente, ocupados pelos sem-teto. Diante de uma luta árdua e muitas vezes inglória, construir a própria casa, com suas próprias mãos, é um verdadeiro prazer para essas pessoas. É como se um sonho de tantos anos se materializasse em seus braços. 

    Por isso, acredito que Elizabete está determinada a construir sua casa, como alguém que tem consciência dos percalços que sofreu no caminho para chegar até ali. Me sinto inspirada por essa mulher de postura altiva, que representa exatamente o que desejo ser. Sua cabeça erguida e sua firmeza, sua tranquilidade em segurar algo que é sabidamente pesado, serve de exemplo para mim, que tenho carregado outros “tijolos” para construir meus sonhos agridoces.


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  • A Iconografia Fascista

    A Iconografia Fascista

    A maneira com que uma única fotografia consegue retratar a iconografia fascistas presente em um governo.

    A imagem  abaixo foi feita pelo fotojornalista Pedro Ladeira, no dia 31 de maio de 2020, nesta data o presidente havia participado de manifestações em apoio ao seu governo e aos atos antidemocráticos como a intervenção militar e o fechamento do congresso nacional e do Supremo Tribunal Federal  (STF)

    Em primeiro plano, vemos uma fileira de policiais militares uniformizados. Logo atrás deles está o presidente Jair Bolsonaro montado em um cavalo, ele está vestido com uma camisa azul e calças jeans, ao seu lado se encontram mais policiais. Ao fundo é possível notar a presença dos apoiadores do presidente vestidos de verde amarelo e balançando bandeiras do Brasil.
    Pedro Ladeira

    Quando foi publicada, a foto recebeu grande repercussão nas redes sociais, boa parte delas foram de pessoas contra o governo de Bolsonaro, mas também muitos a utilizam para exaltar a força do presidente e escreveram mensagens de apoio. O que é interessante de se notar  é que a foto possui vários aspectos que podem ser diretamente relacionados às fotografias de propagandas de governos de extrema direita durante a história.

    A maioria desses aspectos são utilizados para enaltecer a figura do grande comandante. Na iconografia fascista é muito comum que o líder seja representado como um homem capaz de guiar  exércitos de seu país contra seus “inimigos” e levar seu povo à salvação. Por essa razão, era comum que os líderes de extrema direita sempre aparecem rodeados por seu exército, assim como na foto a baixo. A foto de Ladeira mostra muito bem esse aspecto, já que logo no primeiro plano podemos ver a polícia militar além de vários agentes ao lado do presidente.

    No centro da fotografia podemos ver Benito Mussolini, ele caminha ao meio de vários soldados, todos estão uniformizados e alguns seguram fuzis.
    Autor Desconhecido

    Além do exército, o fato do  líder estar em cima de um cavalo também remonta diretamente a iconografia fascista, que por sua vez se apropria da iconografia medieval, já que nesta, o cavalo era comumente utilizado para representar a nação, logo um bom cavaleiro era relacionado a um bom governante. Nesse caso específico, além do cavalo também é possível ver um cassetete preso à sela, o que também contribui para a afirmação de virilidade do líder, já que armas como espadas, pistolas e fuzis que são objetos amplamente utilizados como ferramentas de repressão, aparecendo fartamente nos retratos de governos fascistas como validação de força. Na imagem abaixo vemos uma pintura de Adolf Hitler que traz os mesmos elementos. 

    Na pintura podemos ver Adolf Hitler montado em uma cavalo, vestindo uma armadura de placas de metal. Ele segura a bandeira vermelha do partido nazista em sua mão direta.
    Pintura de Hubert Lanzinger

    Além do líder viril cercado por seu imponente exército, essa fotografia ainda apresenta mais um fator comum entre o Bolsonarismo e os governos de extrema direita antes deles. Ao fundo, podemos ver a bandeira do Brasil tremulando, logo ao lado da cabeça do presidente, isso remete ao ultranacionalismo, característica primordial de ideologias fascistas e muito presente nos discursos de Jair. Na foto de Plínio Salgado, que está logo abaixo, é um outro exemplo da utilização do nacionalismo na iconografia fascista. 

    Na foto podemos ver Plínio Salgado, líder do movimento integralista brasileiro, discursando em um palanque com a bandeira brasileira ao fundo.
    Autor Desconhecido

    A fotografia capta desde o forte apoio aos militares, a fixação bélica que ecoa em seus discursos em favor do afrouxamento das leis de restrição ao porte de armas, a idealização de uma masculinidade nociva focada em discursos cis heteronormativos, misóginos e homofóbicos e é claro o ultranacionalismo, figurinha repetida em todos os discursos do presidente que retratam uma pátria devastada que precisa ser salva independentemente de como. 

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links Referências e Créditos

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. A Iconografia Fascista. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-iconografia-fascista/>. Publicado em: . Acessado em: [informar data].

  • João Zinclar

    João Zinclar

    O operário da fotografia que documentou a luta de classes no Brasil.

     
    As produções do fotógrafo João Zinclar incluem imagens que documentam a história da classe trabalhadora brasileira entre os períodos de 1994 e 2013. Através de narrativas visuais, ele representou a luta de classes identificando suas transformações culturais.

     

    A fotografia contém um homem com um capuz que cobre seu rosto segurando um cartaz, no qual está escrito: “os trabalhadores e trabalhadoras não vão pagar a conta da crise”. Ao fundo desta fotografia está ocorrendo um protesto onde só se pode ver uma fumaça escura de objetos que foram queimados.
    João Zinclar

    João Zinclar nasceu em Rio Grande (RS) e começou a trabalhar desde pequeno. Quando mais velho, migrou, em busca de  mais oportunidades de emprego, para os centros urbanos no sudeste do país, onde entrou em contato com as diferentes culturas dos trabalhadores. Mas apenas ao viajar pelo Brasil, com o movimento hippie, que ele percebeu as mudanças que ocorriam no país e decidiu registrá-las.
     
    A partir deste momento, João Zinclar voltou a trabalhar como operário e passou a estudar sobre os movimentos sociais e a se integrar ao cenário político brasileiro. Atuou também como repórter fotográfico, principalmente na documentação das diversas lutas dos trabalhadores e dos movimentos de esquerda.
     
    Uma multidão se reúne em protesto, as pessoas se encontram sentadas no chão e algumas destas seguram folhas, mas não é possível ler o que está escrito. Em frente a multidão há um cartaz com as seguintes palavras escritas em vermelho :“estamos em guerra”, e em caracteres menores está escrito:“sind. dos trab. no serv. púb. mun. de Campinas - FETAM/CUT”
    João Zinclar

     

    Em um campo, barracas de lona são queimadas por policiais que verificam o local. Há muita fumaça escura, mas o fogo não é visível.
    João Zinclar

     

    No canto direito da imagem, há uma pessoa segurando a bandeira do Brasil e a constituição brasileira, e mais ao fundo da imagem, há uma multidão em protesto próximo a uma escultura no Palácio do Planalto. Ao centro da imagem, é possível visualizar a bandeira lgbt+ cobrindo o chão.
    João Zinclar

     

    Há cinco pessoas na imagem, aparentemente estudantes, colocando uma faixa em uma entrada, nela está escrito: “até agora contando 87h de ocupação". A faixa também contém o símbolo da Universidade de Campinas, e ao lado, na outra parede, há um cartaz com a palavra “Campus”.
    João Zinclar

     

     
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    Links, Referências e Créditos

     

    Como citar esta postagem

    PAES, Nathália. João Zinclar. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/03/joaozinclar.html>. Publicado em: 325 de abr. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Jesus estava com sede

    Jesus Cristo foi encontrado estirado em uma calçada em São Paulo e estava com sede.

    Esta é a legenda da fotografia abaixo, de autoria do fotógrafo Daniel Kfouri, postada pelo padre Julio Lancellotti em suas redes sociais no dia 3 de outubro de 2021. A imagem mostra um homem deitado na calçada, de corpo coberto mas com os pés expostos, encolhido para o lado do muro enquanto o padre abaixa-se e toca seu ombro. 


    Em primeiro plano há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, usando máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto mas com os pés de fora.
    Daniel Kfouri

    Esta fotografia expressa a contradição entre o claro e o escuro, entre as luzes e as trevas, entre o abandono e o acolhimento. O homem, morador de rua, possui o chão como seu anteparo, dali ele não passa. Excluído da vida social, após infringidos seus direitos, o homem parece alheio à sua própria situação, como em um gesto de conformismo. Daí, surge o padre, com um jaleco branco resplandecente que ilumina o ambiente, estende seu braço até o homem e, ao encostar nele, o retira da indiferença. Naquele homem que ninguém vê nada, o padre vê Jesus e, após um breve diálogo, descobre que ele tem sede.


    Em primeiro plano, um idoso vestindo jaleco e máscara de proteção facial segura um copo dágua na boca de um homem negro, que levanta a parte superior do corpo para tomar água.
    Daniel Kfouri

    Então o padre entrega um copo d’água ao Jesus sedento.

    A fome, a sede e a marginalização são um calvário que Jesus carrega hoje. Há outros desertos e outras cruzes, atravessados de solidão. Da mesma forma, ainda existem os soldados romanos, agora eles colocam pregos e pedras embaixo de viadutos e em cima de bancos. Mais de 2000 anos se passaram, mas todo dia nasce e morre um Cristo no mundo, sem que ninguém perceba.

    Ao ver as duas fotos, sinto, ao mesmo tempo, tristeza e esperança. Lembro-me dos moradores de rua que enxerguei da janela do ônibus em Belo Horizonte, carregando seus carrinhos, sujos, maltrapilhos, abandonados. E nós sendo meros espectadores daquela desgraça. É difícil alguém enxergar quem está excluído, é mais fácil fingir que não vê, que não é problema nosso, isso é o que muitas pessoas fazem. Então acho bonito e reconfortante que alguém consiga ver Jesus em um morador de rua. Que possamos fazer o mesmo. 

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    • https://twitter.com/pejulio/status/1444716668991721479/photo/1


  • Daniel Kfouri: a fotografia enquanto denúncia

    Fotógrafo registra o trabalho do padre Julio Lancellotti em prol dos moradores de rua, na capital paulista.

    Nascido em São Paulo, em 1975, Daniel Kfouri é filho de Juca Kfouri, jornalista esportivo brasileiro. Enquanto fotojornalista, recebeu o prêmio World Press Photo de Esportes de Ação em 2010. No ano seguinte, ganhou o Picture of the Year Latin America.

    Em primeiro plano há um idoso com traços caucasianos, usando máscara, distribui marmitas em uma fila. Atrás dele, um homem negro de touca sorri ao receber sua marmita. Depois,  há uma fila em que a maioria das pessoas são adultas e negras.

    Daniel Kfouri


    Atualmente, o fotojornalista tem se destacado no audiovisual com a produção de documentários que tratam de problemáticas sociais, como o rompimento da barragem de Brumadinho. 

    Em parceria com o padre Julio Lancellotti – da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, em São Paulo – o fotógrafo registra o cotidiano da obra social. O padre Julio é conhecido no país por seu trabalho em favor dos moradores de rua da capital paulista. Inspirado pela Teologia da Libertação, o presbítero presta serviço aos marginalizados, denunciando o que ele chama de “crise humanitária em São Paulo”. Além de ser um registro, esse trabalho fotográfico é capaz de dar visibilidade a realidade miserável e desumana em que se encontra a população de rua da maior cidade brasileira. 

    Em primeiro plano, um cachorro vira-lata parece estar latindo enquanto olha para frente, em cima de um carrinho cheio de papelão. Atrás dele, desfocados, há homens puxando outros carrinhos com papelão e sucatas.

    Daniel Kfouri


    Há três pessoas em primeiro plano, sendo dois homens de traços negros - o do meio é retinto - enquanto a pessoa da direita parece ser uma mulher. Estão agasalhadas com cobertores e toucas, e as pessoas das laterais amparam o homem do centro, que segura uma marmita. Atrás deles, há um homem de barba fumando e outras pessoas agasalhadas e de máscara.

    Daniel Kfouri

    Em primeiro plano, há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, de máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto, mas com os pés de fora.

    Daniel Kfouri


    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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