Bibliografia Colaborativa: O Brasil oitoscentista visto pela fotografia colonial*

Colabore com nossa pesquisa sobre a construção da imagem do Império do Brasil com base na abordagem colonialista da fotografia.
Logo após o anúncio de seu desenvolvimento, a tecnologia fotográfica foi incorporada ao aparelho de expansão colonial das nações europeias. Neste contexto, ao longo do período da história do Brasil, conhecido como Segundo Reinado, diversos fotógrafos europeus ou educados na Europa documentaram as populações e o território brasileiro. Com isso, ao mesmo tempo em que construíram uma imagem para o império a partir de seus esquemas estéticos importados, educaram o olhar nacional para observar o país e seus cidadãos com base nestas mesmas convenções do olhar.

A construção da imagem do Segundo Reinado pela fotografia colonial segue sendo debatida no IV Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Inscreva-se!

O levantamento bibliográfico inicial que apresentamos abaixo foi organizado em torno de três palavras-chave principais, Império do Brasil, Fotografia oitocentista e Colonialismo(Imperialismo) europeu, e está aberto a contribuições. Envie-nos suas sugestões por meio da seção de comentários no final desta postagem.

ALENCASTRO, Luiz Felipe (org.). História da vida privada no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2019.
 
ARAGO, Dominique François. Relatório. In: TRACGHTENBERG, Alan. Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss. Lisboa: Orfeu Negro, 2013, p. 35 – 44.
ARRUDA, Rogério Pereira. A expansão da fotografia em Minas Gerais: um estudo por meio da imprensa, 1845-1889. Varia história, v.30, n.52, pp. 231-256, 2014. ISSN: 1982-4343. Disponível  em:  <https://www.scielo.br/j/vh/a/RkFCKjZbjsnthf3cwzdQ9Xs/>
_______. O ofício da fotografia em Minas Gerais no século XIX, 1845-1900. Belo Horizonte: Edição do autor, 2013
BASTOS, Mônica Rugai. Retratos do poder imperial no Brasil. Facom, n. 19, p. 42-51, 2008. ISSN: 1676-8221. Disponível em: <http://mirror.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_19/monicabastos.pdf>
BENJAMIN, Walter. Estética e sociologia da arte. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Ciclo de palestras: A coleção do Imperador. Fotografia Brasileira e Estrangeira no século XIX. Anais da Biblioteca Nacional, v. 117, p. 7 – 77, 1997. ISSN: 0100-1922. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/producao/publicacoes/anais-biblioteca-nacional-vol117>
 

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Natalia Brizuela / Companhia das Letras / Instituto Moreira Salles
BRIZUELA, Natalia. Fotografia e império: paisagens para um Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras; Instituto Moreira Salles, 2012.
 
CASTRO, Hebe Maria Mattos; SCHNOOR, Eduardo (orgs.). Resgate: uma janela para o Oitocentos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
ERMAKOFF, George. O negro na fotografia brasileira do século XIX. Rio de Janeiro: George Ermakoff, 2004.
FABRIS, Annateresa. Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo: Edusp, 1998.
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FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840 – 1900. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.
 
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FREYRE, Gilberto; PONCE DE LEON, Fernando; VASQUEZ, Pedro. O retrato brasileiro: fotografias da Coleção Francisco Rodrigues 1840 – 1920. Rio de Janeiro: Funarte / Fundação Joaquim Nabuco, 1983.
 
GRAHAM, Richard. Construindo uma nação no Brasil do século XIX: visões novas e antigas sobre classe, cultura e estado. Diálogos, v. 5, n. 1, p. 11 – 47, 17 jun. 2017. Disponível em: <https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/37703>
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KOSSOY, Boris. Fotografia e História: as tramas da representação fotográfica. Projeto História, v. 70, pp. 9-35, Jan.-Abr., 2021.  Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/52357>
 
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KOSSOY, Boris; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do século XIX. São Paulo: Edusp, 2002. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=x9VAjl1vC9MC&lpg=PP8&hl=pt-BR&pg=PP8#v=onepage&q&f=false>
KOUTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. “O aprendizado da técnica fotográfica por meio dos periódicos e manuais – segunda metade do século XIX”. Fênix (UFU), v. 6, p. 0-0, 2009. Disponível em: <https://revistafenix.emnuvens.com.br/revistafenix/article/view/64>
 
_______.”‘Amas mercenárias’: o discurso dos doutores em medicina e os retratos de amas – Brasil, segunda metade do século XIX”. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 16, p. 305-324, 2009. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-59702009000200002>
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_______. “No estúdio do photographo, o rito da pose. Brasil, segunda metade do século XIX”. Revista Ágora (Rio de Janeiro), v. 5, p. 1-25, 2007. Disponível em: <https://periodicos.ufes.br/agora/article/view/1904>
 
_______. Na “galeria dos condenados”: o aprendizado de um photographo. Studium, n. 15, p. 50 – 94, 2004. ISSN: 1519-4388. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/11767>
 
 _______. “No estúdio do fotógrafo. Um estudo da (auto-)representação de negros livres e escravos no Brasil da segunda metade do século XIX”. Studium, Campinas, v. 9, p. 1, 2002. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/10110>
LAGO, Bia Corrêa; LAGO, Pedro Corrêa. Os fotógrafos do império: a fotografia brasileira do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.
LAGO, Pedro Corrêa; FERNANDES JUNIOR, Rubens. O século XIX na fotografia brasileira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2000.

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Capa do livro Escravos brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr.
Mauricio Lissovsky e Paulo Cesar Azevedo / Ex Libris

 

LISSOVSKY, Mauricio; AZEVEDO, Paulo Cesar (orgs.).  Escravos brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Jr.. São Paulo: Ex Libris, 1988 
 
MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura (orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz / CCBB, 1996. Disponível em: <https://books.scielo.org/id/djnty>
 
MARCH DE SOUZA, Patricia. Aos olhos do observador estrangeiro: a roupa na construção da escravidão no Rio de Janeiro. Acervo: revista do Arquivo Nacional, v. 31, n. 2, p. 49-66, ago. 2018. ISSN: 2237-8723. Disponível em: <https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/938>
MAUAD, Ana Maria. Entre retratos e paisagens: modos de ver e representar no Brasil oitocentista. Studium, n. 15, p. 4 – 43, 2004. ISSN: 1519-4388. Disponível em:  <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/11764>
_______. “As Fronteiras Da Cor: Imagem E representação Social Na Sociedade Escravista Imperial”. Locus: Revista De História, v. 6, n. 2, p. 83 – 98, 2000. ISSN: 2594-8296. Disponível em: <https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/20515>
_______. Imagem e auto-imagem do Segundo Reinado. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe. História da vida privada no Brasil: Império. — São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 181 – 231.
MAUAD, Ana Maria; RAMOS, Itan Cruz. Fotografias de família e os itinerários da intimidade na história. Acervo: revista do Arquivo Nacional, v. 30, n. 1, p. 155-178, jun. 2017. ISSN: 2237-8723. Disponível em: <https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/795>
MOREL, Marco. A saga dos botocudos: guerra, imagens e resistência indígena. São Paulo: Hucitec, 2018, p. 285 – 327. ISSN: 2237-8723. 
_______. Imagens aprisionadas e resistência indígena : os daguerreótipos de 1844. Studium, n. 10, p. 87–92, 2002. ISSN: 1519-4388 Disponível em:<https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/10152>
 
_______. Cinco imagens e múltiplos olhares: as descobertas entre os índios e a fotografia no Brasil do século XIX. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. VIII, n.Suplemento, p. 1039-1057, 2001. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-59702001000500013
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Arquivos da polícia sob o foco da história. Revista do Arquivo Público Mineiro, v. 49, n. 1, p. 58 – 77,  jan. – dez., 2013. ISSN: Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/2013A07.pdf>
MUAZE, Mariana de Aguiar Ferreira. Violência apaziguada: escravidão e cultivo do café nas fotografias de Marc Ferrez (1882-1885). Revista Brasileira de História [online]. 2017, v. 37, n. 74. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1806-93472017v37n74-02>
 
_______. O império do retrato: fotografia e poder na sociedade oitocentista. Projeto História, n.34, p. 169-188 , jun. 2007. ISSN: Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/2472>
 
NARANJO, Juan. Fotografía, antropología y colonialismo (1845 – 2006). Barcelona (ES): Gustavo Gili, 2006.
QUINTAS, Georgia. Os álbuns de família em Pernambuco: relíquia da memória visual e filtro da cultura. Studium, n. 37, p. 4–30, 2015. ISSN: 1519-4388. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/12546>
 
_______. Amas-de-Leite e suas representações visuais: símbolos sócioculturais e narrativos da vida privada do Nordeste patriarcal-escrevacrata na imagem fotográfica. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 8, p. 11-44, 2009.  Disponível em: <http://www.cchla.ufpb.br/rbse/QuintasArt.pdf>

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André Rouillé / Senac São Paulo

ROUILLÉ, André. A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009.
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SALLES, Ricardo; MARQUESE, Rafael (orgs.). Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lendo e agenciando imagens: O rei, a natureza e seus belos naturais. Sociologia & Antropologia, v. 4, n. 2, p. 391 – 431, out. 2014. ISSN: 2238-3875. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/sant/a/XSKfP5J5QypfvMqdfssR6Jg/>
 
_______. Nem preto nem branco. muito pelo contrário: cor e raça na sociedade brasileira. São Paulo, Claro Enigma, 2012.
 
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_______. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão

racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

 
SCHWARCZ, Lilia Moritz; DANTAS, Regina . O Museu do Imperador: quando colecionar é representar a nação. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 46, p. 123-164, 2008. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/34602/37340>
 
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SCHWARCZ, Lilia Moritz. ; PEDROSA, Adriano (orgs.). Histórias Mestiças: antologia de textos. Rio de Janeiro: Cobogó, 2014. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
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SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do Segundo Império. Rio de Janeiro: Graphia, 1998.
 
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SICARD, Monique. A fábrica do olhar: imagens de ciência e aparelhos de visão (século XV – XX). Lisboa: Edições 70, 2006, 105 – 204.
 
SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
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TURAZZI, Maria Inez. Retratos da “multidão faminta”: pobreza, visualidade e semântica das desigualdades. Artefacto Visual: Revista de Estudios Visuales Latinoamericanos, v. 6, n. 12, p. 86 – 108, dez. 2021. ISSN: 2530-4119. Disponível em: <https://www.revlat.com/_files/ugd/5373fb_daff619448484f5d9fbf33bf72375822.pdf#page=86>
_______. A Viagem do Oriental-Hydrographe (1839-1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo: revista do Arquivo Nacional, v. 23, n. 1, p. 45-62, out. 2011. ISSN: 2237-8723. Disponível em: <https://revista.an.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/40>
 
_______. O ‘homem de invenções’ e as ‘recompensas nacionais’: notas sobre H. Florence e L. J. M. Daguerre. Anais do Museu Paulista (Impresso), v. 16, p. 11-46, 2008. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/5492>
_______. Quadros de História Pátria: Fotografia e Cultura Histórica Oitocentista. In: FABRIS, Annateresa; KERN, Maria Lúcia Bastos. Imagem e Conhecimento. São Paulo: Edusp, 2006.
_______. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 93-163.
_______. “Missão fotográfica”: documentação e memória das obras públicas no século XIX. Cadernos de Antropologia e Imagem, n. 8, p. 37 – 63, 1995. ISSN: 0104-9658. Disponível em: <http://ppcis.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Cadernos-de-Antropologia-e-Imagem-8.-Acervos-de-imagens.pdf>
_______. Imagens da cidade colonial nas imagens do século XIX. Acervo: revista do Arquivo Nacional, v. 6, n. 1 / 2, jan. / dez., 1993. ISSN: 0102-700X. Disponível em: <http://www.arquivonacional.gov.br/media/v6_n1_2_jan_dez_1993.pdf>

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Pedro Karp Vasquez / Metalivros

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.
 
_______. A fotografia no império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
 
_______. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Index, 1986.

VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014.

WATRISS, Wendy; ZAMORA, Lois Parkinson (eds.).  Image and memory : photography from Latin America, 1866-1994. Austin (US): FotoFest / University of Texas Press. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=GW9CdXDSKWEC&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PT35#v=onepage&q&f=false>


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Notas
* Atualizada em setembro de 2022. Originalmente postada em março de 2022.
 
-20.3775546-43.4190813

A construção da imagem do Segundo Reinado pela fotografia colonial*

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Os meios de comunicação carregam traços de sua época e de seu lugar. Nesse sentido, André Rouillé (2009), em um estudo onde reconstitui o percurso da fotografia em sua migração do campo do útil para o do belo, comenta que esta nova tecnologia de fazer visível se desenvolveu em estreita ligação com alguns processos em curso na Europa durante o século XIX: a democratização, a monetarização, a industrialização, a urbanização, a expansão das metrópoles e a modificação na percepção de tempo e de espaço.
Por sua vez, James Ryan (2014), em uma revisão de literatura sobre a fotografia colonial, observa que o desenvolvimento da fotografia ocorreu em paralelo à expansão do império europeu na segunda metade do século XIX. Por isso, tão logo os procedimentos para a produção de imagens fotográficas foram publicados, eles foram incorporados ao aparato de compilação de informações que permitia às autoridades coloniais exercer controle – real e simbólico – sobre populações e territórios distantes dos centros de decisão das metrópoles.
Dominique François Arago (1839) em relatório acerca do Daguerreótio, solicita aos colegas deputados que imaginem a contribuição que esta nova tecnologia produção de imagens poderia ter oferecido a França se já fosse conhecida durante a expedição napoleônica ao Egito, entre os anos de 1798 e 1801.
Plano aberto, em primeiro plano se vê a esfinge e ao fundo as pirâmides, no Egito.
Maxime Du Camp
A fotografia acima foi produzida por Maxime du Camp durante a expedição, patrocinada pelo governo francês, que realizou ao Egito, a Núbia e a Síria, entre os anos de 1849 e 1850, a respeito da qual ele comenta que fotografia desenterrou o país das  necrópoles e o expôs numa enciclopedia.
Às imagens fotográficas foi atribuída a função mediadora de fazer presente o que é ausente e de trazer para próximo o que é distante (ROUILLÉ, 2009). Nesse sentido, Juan Naranjo (2006), em uma revisão do papel que a fotografia desempenhou como instrumento para o estudo do outro, acrescenta que, reconhecida como uma imagem que supostamente apagaria a fronteira entre realidade e representação, a ela foi atribuída a capacidade de substituir a experiência direta pela observação virtual.
A fotografia não apenas estava inscrita nas experiências coloniais como também era constituidora delas (RYAN, 2014; VICENTE, 2014). As imagens fotográficas eram produzidas por e para colonizadores e tendiam a atender os interesses e as prioridades de quem as produzia e as consumia. Disso decorre que elas não apenas refletiam as paisagens, os povos e a vida colonial, mas, sobretudo, as construíam. Nesse sentido, Filipa Vicente (2014), em uma pesquisa acerca do uso da fotografia no contexto colonial português, destaca que as imagens fotográficas não apenas reproduziam as hierarquias de gênero, classe e raça latentes na sociedade colonial, como também as reificavam.
A indústria de álbuns de vistas, a de cartões de visita e, posteriormente, a de postais aumentou a atividade fotográfica comercial. Colecionar fotografias tornou-se um fenômeno de massa em escala global. A partir da ação de alguns fotógrafos, lugares distantes e exóticos tornaram-se próximos e familiares mediante a representação de suas paisagens, seus povos e seus costumes segundo esquemas estéticos convencionais (RYAN, 2014; VICENTE, 2014). Nessa perspectiva, Naranjo (2006) acrescenta que o aumento na circulação de imagens impressas promoveu uma homogenização da informação visual e uma estereotipificação do outro.

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A fotografia desembarca no Brasil

Expedições de diferentes tipos, apoiadas por associações comerciais, organismos governamentais e sociedades científicas, promoveram a documentação fotográfica de distintas regiões do planeta. Apenas 5 meses após o anúncio da invenção do daguerreótipo, o abade Louis Compte, que integrava a tripulação do navio-escola L’Oriental-Hydrographe da marinha mercante francesa em sua expedição ao redor do globo, desembarcou no Rio de Janeiro e, no dia 16 de janeiro de 1840, produziu a primeira fotografia tomada em território brasileiro, uma vista do Largo do Paço.
Recorte da edição de 17 de janeiro de 1840 do Jornal do Commercio, onde, sob a etiqueta "Noticias Scientificas", se lê: Photographia: Finalmente passou o daguerrotypo para cá os mares, e a photographia, que até agora só era conhecida no Rio de Janeiro por theoria, he-o actualmente tambem pelos factos que excedem quanto se tem lido pelos jornaes tanto quanto vai do vivo ao pintado. Hoje de manhã teve lugar na hospedaria Pharoux hum ensaio photographico tanto mais interessante, quanto he a primeira vez que a nova maravilha se apresenta aos olhos dos Brazileiros. Foi o abbade Comte quem fez a experiencia: he hum dos viajantes que se acha a bordo da corveta franceza L'Orientale, o qual trouxe  consigo o engenhoso instrumento de Daguerre, por causa da facilidade com que por meio delle se obtem a representação dos objectos de que se deseja conservar a imagem. He preciso ter visto a cousa com os seus proprios olhos para se poder fazer ideia da rapidez e do resultado da operação. Em menos de nove minutos o Chafariz do Largo do Paço, a Praça do Peixe, o Mosteiro de S. Bento, e todos os outros objectos circumstantes se acharão reproduzidos com tal fidelidade, precisão e minuciosidade, que bem se via que a cousa tinha sido feita pela propria mão da natureza, e quasi sem intevenção do artista. Inutil he encarecer a improtancia da descoberta de que já por vezes temos ocupado os leitores; a exposição simples do facto diz mais do que todos os encarecimentos.
Recorte da edição de 17 de janeiro de 1840 do Jornal do Commercio
A chegada da fotografia ao Brasil, em 1840, coincide com o fim do Período Regencial e o início do Segundo Reinado. É importante destacarmos que havia 18 anos que o país deixara de ser uma colônia de Portugal. Nesse sentido, pode parecer inadequado o uso da expressão “fotografia colonial” para caracterizar a fotografia oitoscentista no Brasil. No entanto, optamos por sua utilização porque entendemos que o colonialismo não é apenas um sistema administrativo, mas é sobretudo uma ideologia que orienta discursos e práticas e que permaneceu atuante no país após sua independência política.
Como um entusiasta da nova tecnologia, o imperador D. Pedro II atribuiu legitimidade à fotografia. Ele não apenas realizou tomadas fotográficas, como também se deixou fotografar em diversas ocasiões. Além disso, atuou como um mecenas, financiando e fomentando o ofício no país, e criou, segundo critéros próprios, uma coleção de imagens produzidas com a nova tecnologia de gestão do visível. Em um artigo sobre o agenciamento da fotografia pelo Imperador, Lilia Moritz Schwarcz (2014) destaca que o patrocínio do monarca tinha o objetivo de controlar a imagem de seu Império.
Grupo de trabalhadores negros escravizados, composto por homens e mulheres e adultos e crianças, posam a frente do complexo cafeiro. Sobre o carro de boi, encontram-se alguns homens brancos.
Marc Ferrez / Instituto Moreira Salles
A imagem acima integra a série de 65 fotografias de fazendas de café do Vale do Paraíba produzida por Marc Ferrez entre os anos de 1882 e 1885. Nelas, é possível observar que as escolhas estéticas e técnicas feitas por seu autor valorizam o complexo cafeeiro e apaziguam as marcas da escravização dos trabalhadores.
Naquilo que lhe concerne, Lygia Segala (1997, p. 59), em um debate sobre a construção social do ofício fotográfico no Brasil oitoscentista, destaca que, na época, um dos modos de reconhecimento profissional era a realização, sob os auspícios de notáveis, de expedições “interessadas no registro valorativo, factual e pitoresco da paisagem e do povo, pontos de aplicação de um olhar que se refaz pela crença no testemunho iconográfico”. A historiadora acrescenta que a documentação do trabalho nas fazendas e o anúncio de territórios promissores e vazios inseria esses empreendimentos em um projeto maior, o da nova colonização.

A construção da imagem do Segundo Reinado pela fotografia colonial segue sendo debatida no IV Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Inscreva-se!

A conquista do território e do visível

Assumindo, por princípio, que toda técnica de produção de imagens funda um regime de visibilidade que lhe é próprio, Maurício Lissovsky (1997, p. 29), em uma palestra sobre a Coleção Teresa Cristina, de fotografias reunidas por D. Pedro II, comenta que ela testemunha que, sob o olhar do monarca, “o visível aparece como um império”. O historiador destaca que, logo após sua invenção, a fotografia foi utilizada como um “instrumento de conquista e ocupação dos territórios invisíveis” (LISSOVSKY, 1997, p. 36).

Schwarcz (1997, p. 75), por sua vez, ressalta que a coleção elaborada por D. Pedro II “revela uma representação do país ou uma representação do se quer ver nesse país e do que se quer do Segundo Reinado”. No entanto, apesar do esforço do Imperador para projetar a imagem de uma nação semelhante às da Europa, o Império, a partir de uma perspectiva eurocêntrica compartilhada pelo próprio monarca, fez-se notar, sobretudo, por aquilo que tinha de exótico.

Lissovsky (1997) pondera que a cada regime de visibilidade corresponde um de invisibilidade. No invisível da coleção Teresa Cristina estão sobretudo, os negros e os indígenas. É verdade que os encontramos em algumas fotografias. Nelas, Schwarcz (2014) observa que, enquanto os primeiros aparecem como meros figurantes sem identidades, os segundos aparecem estilizados de acordo um esquema estético já convencionado na literatura e na pintura nacional, o indigenismo romântico.

Ao contrário das fotografias do sistema escravocrata, legalmente em vigor no país, que, excluídas do discurso visual oficial, permaneceram dispersas em vistas, cartes de visite, tipologias produzidas para o exterior, estudos pseudocientíficos e documentos administrativos. Nessa perspectiva, a historiadora (SCHWARCZ, 2014, p. 397) destaca que “o escravismo representava o oposto da imagem civilizada e progressista que o país procurava veicular”.


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Olhar estrangeiro sobre o Brasil

Em um artigo sobre a representação do Brasil na fotografia oitocentista, Ana Maria Mauad (2004) observa que esta nova tecnologia de gestão do visível foi empregada na construção da imagem e da auto-imagem da nação. A historiadora pondera que essa representação foi produzida por fotógrafos estrangeiros ou educados no estrangeiro que, ao mesmo tempo em que mostravam as populações e o território brasileiro ao país e ao mundo, educaram o olhar nacional para observar e representar o Brasil e os brasileiros a partir de esquemas estéticos exóticos e colonialistas.

Urge, portanto, desconfiar das aparências convencionadas e dos modos de ver propostos nestas imagens fotográficas. Nesse sentido, compreender os agenciamentos da e na fotografia na construção da imagem do Brasil no período do Segundo Reinado constitui-se como uma tarefa de grande relevância. Para tanto, faz-se necessário a realização de pesquisas que, articulando perspectivas formalistas, voltadas para o estudo de gêneros e estilos artísticos, e historicistas, voltadas para a interpretação de contextos e de fatos históricos, apreenda a historicidade das imagens e das práticas fotográficas.


#artigos é uma coluna de caráter ensaístico e teórico. Trata-se de uma série de textos dissertativos por meio do qual o autor propõe uma reflexão fundamentada acerca de um ou mais elementos que constituem a cultura fotográfica. Quer conhecer melhor a coluna #artigos? É só seguir este link.

Notas

* Este artigo é uma atualização do artigo O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial e propõe apresentar a síntese de algumas das reflexões desenvolvidas ao longo do III Ciclo de Debates de nosso Grupo de Estudos, composto por quatro encontros realizados no período entre março e junho de 2022. Abaixo, você poderá assistir as gravações dos debates realizados neste ciclo.

 


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Referências bibliográficas

ARAGO, Dominique François. Relatório. In: TRACHTENBERG, Alan. Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss. Lisboa (PT) : Orfeu Negro, 2013, p. 35-44.
LISSOVSKY, Maurício. O olho-rei e o imério do vísivel. In: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Ciclo de palestras: A coleção do Imperador. Fotografia Brasileira e Estrangeira no século XIX. Anais da Biblioteca Nacional, v. 117, p. 7 – 77, 1997. ISSN: 0100-1922. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/producao/publicacoes/anais-biblioteca-nacional-vol117>
MAUAD, Ana Maria. Entre retratos e paisagens: modos de ver e representar no Brasil oitocentista. Studium, n. 15, p. 4 – 43, 2004. ISSN: 1519-4388. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/11764>
NARANJO, Juan. Fotografía, antropología y colonialismo (1845 – 2006). Barcelona (ES): Gustavo Gili, 2006.
ROUILLÉ, André. A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009, p. 29 – 134.
RYAN, James. Introdução: Fotografia colonial. In: VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014, p. 31 – 42.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lendo e agenciando imagens: O rei, a natureza e seus belos naturais. Sociologia & Antropologia, v. 4, n. 2, p. 391 – 431, out. 2014. ISSN: 2238-3875. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/sant/a/XSKfP5J5QypfvMqdfssR6Jg/>
_______. As barbas do Imperador entre os Trópicos e a Modernidade. In: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Ciclo de palestras: A coleção do Imperador. Fotografia Brasileira e Estrangeira no século XIX. Anais da Biblioteca Nacional, v. 117, p. 7 – 77, 1997. ISSN: 0100-1922. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/producao/publicacoes/anais-biblioteca-nacional-vol117>
SEGALA, Lygia. O espaço de produção social da fotografia no Rio de Janeiro nos anos 1850. In: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Ciclo de palestras: A coleção do Imperador. Fotografia Brasileira e Estrangeira no século XIX. Anais da Biblioteca Nacional, v. 117, p. 7 – 77, 1997. ISSN: 0100-1922. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/producao/publicacoes/anais-biblioteca-nacional-vol117>
VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014.

Como citar esta postagem

VALLE, Flávio Pinto. A construção da imagem do Segundo Reinado pela fotografia colonial. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-construcao-da-imagem-do-segundo-reinado-pela-fotografia-colonial/>. Publicado em: 5 de set. de 2022. Acessado em: [informar data].
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O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial

A fotografia colonial e sua contribuição para a construção da imagem do império brasileiro. 

A fotografia colonial e sua contribuição para a construção da imagem do império brasileiro.
Os meios de comunicação carregam traços de sua época e lugar. André Rouillé (2009), em um estudo onde reconstitui o percurso da fotografia em sua migração do campo do útil para o do belo, comenta que a esta nova tecnologia de fazer visível se desenvolveu em estreita ligação com alguns processos em curso na Europa durante o século XIX: a democratização, a monetarização, a industrialização, a urbanização, a expansão das metrópoles e a modificação na percepção de tempo e de espaço.
Por sua vez, James Ryan (2014), em uma revisão de literatura sobre a fotografia colonial, observa que o desenvolvimento da fotografia ocorreu em paralelo à expansão do império europeu na segunda metade do século XIX. Por isso, tão logo os procedimentos para a produção de imagens fotográficas foram tornados públicos, eles foram incorporados ao aparato de compilação de informações que permitia às autoridades coloniais exercer controle – real e simbólico – sobre populações e territórios distantes dos centros de decisão das metrópoles.
Às imagens fotográficas foi atribuída a função mediadora de fazer presente o que é ausente e de trazer para próximo o que é distante (ROUILLÉ, 2009). Nesse sentido, Juan Naranjo (2006), em uma revisão do papel que a fotografia desempenhou como instrumento para o estudo do outro, acrescenta que, reconhecida como uma imagem que supostamente apagaria a fronteira entre realidade e representação, a ela foi atribuída a capacidade de substituir a experiência direta pela observação virtual.
Louis Compte

Expedições de diferentes tipos, apoiadas por associações comerciais, organismos governamentais e sociedades científicas, promoveram a documentação fotográfica de distintas regiões do planeta. Apenas 5 meses após o anúncio da invenção do daguerreótipo, o abade Louis Compte, que integrava a tripulação do navio-escola Oriental-Hydrographe da marinha mercante francesa em sua expedição ao redor do globo, desembarcou no Rio de Janeiro e no dia 17 de janeiro de  1840, produziu a primeira fotografia tomada em território brasileiro, uma vista do Largo do Paço (ver fotografia acima).
A indústria de álbuns, cartões de visita e postais aumentou a atividade fotográfica comercial. Colecionar fotografias tornou-se um fenômeno de massa em escala global. Aventurando-se por lugares remotos, os fotógrafos europeus tornavam-nos acessíveis mediante a representação de suas paisagens, seus povos e seus costumes através de esquemas estéticos convencionais (RYAN, 2014; VICENTE, 2014). Naranjo (2006) acrescenta que o aumento na circulação de imagens impressas promoveu uma homogenização da informação visual e uma estereotipificação do outro.
A fotografia não apenas estava inscrita nas experiências coloniais como também era constituidora delas (VICENTE, 2014; RYAN, 2014). As imagens fotográficas eram produzidas por e para colonizadores e tendia a atender os interesses e as prioridades de quem as produzia e as consumia. Disso decorre que elas não apenas refletiam as paisagens, os povos e a vida colonial, mas,  sobretudo, as construíam. Nesse sentido, Filipa Vicente (2014), en uma pesquisa acerca do uso da fotografia no contexto colonial português, destaca que as imagens fotográficas não apenas reproduziam as hierarquias de gênero, classe e raça latentes na sociedade colonial, como também as reificavam.

A abordagem colonialista da fotografia será debatida no III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Para saber mais, clique aqui.

A construção da imagem e da auto-imagem da nação brasileira

A chegada da fotografia ao Brasil, em 1840, coincide com o fim do Período Regencial e o início do Segundo Reinado do Império do Brasil. O Imperador D. Pedro II não apenas foi o primeiro brasileiro a tirar uma fotografia como também um entusiasta da nova tecnologia. Na época, a produção fotográfica foi organizada em torno de dois produtos e de seus respectivos gêneros: a carte de visite e o álbum de vistas, o retrato e a paisagem.
Havia 18 anos que o país deixara de ser uma colônia de Portugal e tornara-se um país independente. As preocupações das autoridades nacionais consistiam na consolidação do território nacional e no reconhecimento internacional do país. Ana Maria Mauad (2004), em um artigo sobre a representação do Brasil oitocentista, destaca que a nova tecnologia contribuiu para a construção da imagem e da auto-imagem da nação brasileira.
Indígena vestido com indumentárias típicas e segurando uma lança posa em estúdio.
Marc Ferrez / IMS
Entre as fotografias produzidas por Marc Ferrez para serem vendidas, principalmente, a viajantes estrangeiros, destacam-se os retratos de negros e de índios. Em seu estúdio, o fotógrafo, educado na tradição europeia das artes visuais, montou cenários para melhor ambientar os fotografados. Na fotografia acima, é visível o artificialismo da montagem e o empenho do fotografado em manter sua pose.
Mauad ressalva que a imagem do Império do Brasil foi produzida por fotógrafos estrangeiros ou educados no estrangeiro que, ao mesmo tempo em que mostravam as populações e o território brasileiro ao país e ao mundo, educavam o olhar nacional para observar o Brasil e os brasileiros a partir dos esquemas estéticos importados. Com isso, apesar do esforço para  projetar a imagem de uma nação semelhante às da Europa, o império fez-se notar sobretudo por aquilo que tinha de diferente.

A construção da imagem do Império do Brasil com base na abordagem colonialista da fotografia será debatida no III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Para saber mais, clique aqui.

Referências bibliográficas

MAUAD, Ana Maria. Entre retratos e paisagens: modos de ver e representar no Brasil oitocentista. Studium, n. 15, p. 4 – 43, 2004. ISSN: 1519-4388. Disponível em:  <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/11764>

NARANJO, Juan. Fotografía, antropología y colonialismo (1845 – 2006). Barcelona (ES): Gustavo Gili, 2006.

ROUILLÉ, André. A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009, p. 29 – 134.
RYAN, James. Introdução: Fotografia colonial. In: VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014, p. 31 – 42.
VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014.

Como citar este artigo

VALLE, Flávio Pinto. O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial.  Cultura Fotográfica (Blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/o-imperio-do-olhar-o-brasil-oitocentista-visto-pela-fotografia-colonial/>. Publicado em: 25 fev. 2022. Acessado em: [informar data].
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