Categoria: Fotojornalismo

  • O abutre e a menina

    O abutre e a menina

    A foto que evidenciou a fome no Sudão e entrou para a história do fotojornalismo 

    O abutre e a menina é uma fotografia feita por Kevin Carter, em 11 de março de 1993, no Sudão, momento em que o país sofria uma guerra civil e enfrentava sua maior crise humanitária no século XX. A foto, que retrata uma situação de miséria e medo, mostra um abutre olhando para uma criança esquelética.

    Kevin Carter 

    A produção dessa foto foi possível em função de uma ação da Organização das Nações Unidas (ONU) para sensibilizar a opinião pública internacional em relação à situação de penúria da população sudanesa. Para isso, a ONU convidou dois fotojornalistas para integrar a comitiva que foi para o sul do Sudão: Kevin Carter e João Silva.

    O momento em que Kevin registra a foto do abutre e a menina é quando está nesse campo a céu aberto, acompanhando a distribuição de alimentos pelos funcionários da ONU e esperando alguma possibilidade de clique, até que encontra a cena da ave olhando para a criança.

    Foi essa imagem do abutre e a menina que pouco tempo depois foi publicada no jornal The New York Times e replicada em todos os grandes jornais do mundo e fez Carter ganhar grande visibilidade e a fome no Sudão ser vista e a ONU arrecadar doações para o país. Além disso, no ano seguinte, em 1994, o fotógrafo ganhou o prêmio Pulitzer de fotografia.

    Após a publicação dessa foto, Kevin teve sua postura questionada pela opinião pública que queria saber o que aconteceu com a menina e se ele a teria ajudado. Ele conta que espantou o abutre e que sentou e chorou debaixo de uma árvore. Depois também disse que a menina se levantou e caminhou até a clínica médica, onde João Silva estava fotografando. Porém, a opinião pública não ficou satisfeita com essas explicações e indagou porque ele não levou a menina para um lugar seguro.

    Toda essa história gerou um debate sobre a atuação de jornalistas e fotojornalistas em cenários de guerra, se eles deveriam prestar assistência ou apenas seremos observadores. Todos esses questionamentos perturbaram muito Carter, que não soube lidar com a situação, pois já enfrentava uma série de problemas pessoais como depressão, relacionamentos amorosos mal sucedidos, uso abusivo de álcool e outras drogas e endividamento. Assim, no dia 27 de julho de 1994, aos 33 anos, ele levou seu carro até um local de sua infância e cometeu suicídio.

    Uma descoberta importante dessa foto é que apesar de todos acharem que era uma menina na foto, na verdade, era um menino. Uma equipe de jornalistas voltou para a aldeia de Ayod, no Sudão, para reconstruir a história daquela fotografia e tentar descobrir quem era a criança, e nisso, descobriram que era um menino chamado Kong Nyong. Com essa pista, dois dias depois, a equipe chegou à família do menino. O pai confirmou que a criança da foto de Kevin Carter era seu filho e que ele se recuperou da desnutrição e sobreviveu. O pai também disse que Kong morreu já adulto em 2006, devido a uma forte febre.

    Para além de toda história por trás da foto, a relação do abutre e da menina, que parece ser somente de presa e predador, me transmite, de forma subjetiva, uma denúncia da própria ave da situação precária que a criança estava, ou seja, o abutre também tem o papel de evidenciar que aquela criança precisava de ajuda.

    Uma outra perspectiva que me desperta da fotografia é como essa foto feita há 30 anos atrás em um país localizado do outro lado do oceano atlântico remete a situação atual de fome que o Brasil enfrenta, em que o abutre ali presente pode ser representado como o governo atual brasileiro, que não cria soluções para resolver o problema e somente fica observando agravar. Já a criança pode ser representada como os 19,1 milhões de brasileiros já atingidos pela fome, conforme dados da CNN Brasil. A imagem mostra a situação do Sudão naquele momento, mas também faz alusão a outros momentos trágicos que o mundo vive, como a pandemia de COVID-19 que acentuou a fome.

    A foto no meu ver propõe uma reflexão sobre como nós, sociedade, lidamos com as desigualdades que atravessam as pessoas. Seríamos nós abutres que ficam só observando sem tomar qualquer atitude e esperando ¨apodrecer¨ ?  É sobre pensar em humanidade e alteridade.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos 

    Como citar este artigo

    CALIXTO, Vitória. O abutre e a menina. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/o-abutre-e-a-menina/>. Publicado em: 24/11/2021. Acessado em: [informar data].

  • Roger Cipó

    Roger Cipó

    Fotógrafo, pesquisador, candomblecista e militante contra os crimes de intolerância religiosa e racismo.

    Roger Cipó nasceu na periferia de Diadema. É um jovem negro apaixonado pela fotografia e um homem de muita fé, por isso juntou o amor pela religião e pela arte de foto e criou nas redes sociais a plataforma Olhar de um Cipó, em que documenta as religiões de matriz africana.

    Roger Cipó

    Suas produções e pesquisas fotográficas focadas em terreiros de candomblé, tem como objetivo estudar as diversas estruturas que baseiam as sociedades afro religiosas de São Paulo, além de divulgar as belezas e riquezas existentes no cotidiano social, cultural e ritualístico das comunidades. Em seu trabalho, as fotos ultrapassam a condição de documentação e assumem o papel de instrumento sensibilizador, propondo reflexão sobre a verdadeira imagem dos cultos afros para assim, quebrar as barreiras do preconceito de quem não os conhece.

    Roger Cipó

    Roger Cipó
    Roger Cipó
    Roger Cipó

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CALIXTO, Vitória. Roger Cipó. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/roger-cipo/>. Publicado em: 22/11/2021. Acessado em: [informar a data].

  • O menino do Rio Negro

    Fotografia de Araquém de Alcântara evoca o equilíbrio entre gente e meio ambiente
    Um jovem segura uma cobra em volta de seu pescoço, ao que tudo indica, durante um passeio de canoa no Rio Negro, Amazonas. A cena não só expressa uma beleza única, como também é um portal para entendermos como o fotógrafo responsável pela obra, Araquém de Alcântara, enxerga o mundo. 
    Araquém de Alcântara

    Esse cenário pode ser considerado incomum para muitos que não vivem na região. Em uma visão centrada no sudeste do país, a princípio me peguei estranhando tal comportamento a ponto de considerá-lo perigoso e impróprio. Porém, ao refletir um pouco sobre o personagem presente no registro e as prováveis diferenças culturais que compartilho com ele, comecei a reconhecer que alguns desses sentimentos partiam de minha ignorância.
    Ao contrário de mim, Araquém de Alcântara parece enxergar a beleza desse encontro entre os dois, uma vez que registra o momento como algo singelo e despreocupado, expressando uma das características mais fortes do seu trabalho, mostrar a relação íntima entre seres humanos e o meio ambiente.    
    A forma como o garoto segura o animal, de maneira firme e decidida denota a sua naturalidade com a situação. Não parece temer um ataque da cobra, pelo contrário, tamanha frivolidade ao lidar com a situação denuncia que talvez não seja a primeira vez que vivencia algo do tipo. 
    O preto e branco da imagem existem por conta do caráter documental da obra do fotógrafo. No entanto, esse elemento ajuda a criar um fator harmônico entre os personagens. Esse bom relacionamento entre os dois cria uma sensação de sustentabilidade que é reforçada pela retirada das cores, fazendo com que os dois corpos sejam difíceis de distinguir. 
    Uma das questões que a fotografia levanta é “se é possível viver em paz com animais selvagens”. Afinal, não são todos que reagiriam de maneira tão pacífica quanto aquela cobra. O cenário e momento escolhidos, mostram como esse encontro entre dois moradores da mesma região, só é possível pelos dois personagens serem familiares um com o outro.
    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

  • Um olhar sobre Araquém de Alcântara

    Entre o povo e a natureza, fotógrafo se dedica a registrar as belezas do Brasil

    Pioneiro na fotografia ambiental brasileira, Araquém de Alcântara Pereira é considerado um dos fotógrafos mais importantes do país. Com mais de 50 anos de carreira, utilizou seu trabalho como forma de protesto em defesa da causa ecológica. 


    Araquém de Alcantara

    O fotógrafo, professor e jornalista nasceu em Florianópolis, no ano de 1951. Durante sua graduação na Universidade de Santos, começou a trabalhar como repórter para o jornal Estado de S. Paulo e para o Jornal da Tarde. Foi após uma cobertura documental do Parque da Juréia, em Iguapé, São Paulo,  que passou a fazer diversas expedições ambientais, especialmente para a Mata Atlântica. 
    Em 1988, publicou a sua primeira obra intitulada “Terra Brasil”, contendo fotografias dos parques nacionais, que se tornou o livro sobre fotografia mais vendido em todos os tempos no país. Também foi o primeiro fotógrafo brasileiro a trabalhar para National Geographic, se consolidando ainda mais como um ícone no cenário brasileiro. 

    Araquém de Alcântara
    Araquém de Alcântara

    Araquém de Alcântara
    Araquém de Alcântara

    Araquém de Alcântara

    Araquém de Alcântara

    Araquém de Alcântara

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

  • A autoimolação de Thich Quang Duc

    A fotografia do monge em chamas ainda causa choque 58 anos depois e se tornou símbolo de revolução.

    Algumas imagens se tornam permanentes no imaginário do público, seja por sua alta difusão, importância cultural ou por se tornarem um marco que é constantemente relembrado. A obra “A autoimolação do monge” é uma das cenas mais chocantes e icônicas da história da fotografia que não só aterrorizou diversas pessoas, como também ajudou a trazer discussões que antes não recebiam a devida atenção. 
    Malcolm Wilde Browne

    A serenidade do monge e a fúria do fogo são dois estados conflitantes que se misturam em um emaranhado de significados. Mesmo com a metade de seu corpo  sendo tomada pelas chamas, Thich Quang Duc continua imóvel, sentado em uma posição de meditação. É difícil determinar o que exatamente estava pensando enquanto tudo ocorria, ou como conseguiu suportar a dor de queimar até a morte, mas não somente a fotografia, diversas testemunhas oculares citam não terem visto o monge se mover em momento algum, apenas quando seu corpo caiu morto no chão.
    Ao observar mais ao fundo é possível enxergar diversos outros monges que observam, sem intervenções, atentamente tudo o que está ocorrendo.  O galão branco no lado esquerdo inferior da imagem serve como uma explicação de qual é a origem do fogo, além de deixar claro que o ato foi proposital. E assim, com muita naturalidade, um dos maiores medos humanos, morrer queimado, é representado como uma escolha.  
    O fotógrafo Malcolm Wilde Browne, responsável pelo registo,  explica que começou a fotografar imediatamente como uma forma de conseguir lidar com aquela cena pavorosa. Ver uma pessoa morrer aos poucos é uma cena difícil de digerir. Browne parece encontrar atrás da câmera um local de refúgio.  Apesar do choque, o registro foi bem calculado, uma vez que a manifestação havia sido divulgada anteriormente pelos monges. o feito garantiu o Prêmio Pulitzer de Serviço Público e de Foto do Ano pela World Press Photo para o fotógrafo. 
    Tudo começou no dia 11 de junho de 1963. O Vietnã do Sul passava por uma intensa tensão religiosa em que o regime de Ngo Dinh Diem perseguia monges budistas e havia criado uma política religiosa que excluía o budismo. Durante um protesto contra o governo na cidade de Saigon, o monge Mahayan Thich Quang Duc, que tinha 66 anos na época, resolveu cometer a autoimolação como forma de protesto. A Guerra do Vietnã que já durava 5 anos, fez com que a invasão de culturas ocidentais, principalmente do domínio americano, fizessem com que a influência do catolicismo se fortalecesse ainda mais, facilitando com que Diem tomasse medidas discriminatórias contra os budistas. Porém, mesmo entendendo o contexto por trás da fotografia, ainda é difícil de mensurar o que leva um homem pacífico a atear fogo sobre o próprio corpo. 
    A autoimolação é o ato de atear fogo sobre o próprio corpo, normalmente como protesto ou martírio (Dicionário Informal). Parte do choque e do horror despertados em diversas pessoas que entraram em contato com a fotografia, vinham de uma disparidade entre culturas. A autoimolação é na verdade um tipo de protesto comumente usado no hinduísmo e xintoísmo, em uma espécie de ritual que poderia representar protesto, devoção ou renúncia. O sati, por exemplo, era um antigo costume de comunidades hindus em que uma esposa viúva cometia um ritual de se jogar ao fogo junto de seu marido morto, até que foi proibido pelas leis do Estado Indiano. Além disso, apesar do suicídio ser um desvio dos preceitos do budismo, o ato também é utilizado como protesto por muitos monges e praticantes, sendo uma prática controversa entre autoridades budistas que debatem sobre sua relação com as tradições religiosas. 
    Mohamed Bouazizi, cuja autoimolação é considerada por muitos como o estopim da Primavera Árabe, é um exemplo de como a prática também é muito forte no Oriente Médio como um todo, além de revelar como o ato pode gerar uma movimentação social inexplicável. A onda de protestos que seguem essa mesma linha acontecem até os dias de hoje, muitos inspirados em Bouazizi. 
    Para entender a autoimolação  em casos como esse da imagem, é importante ressignificá-los além da categorização de “suicídio”. Para muitos admiradores de Thich Quang Duc e Bouazizi, morrer em prol da religião e da liberdade de um povo é um ato de revolução. Mais do que desespero, é um ato de justiça, sacrifício e devoção. 
    São nesses momentos que percebemos a importância do fotojornalismo. Caso Browne não tivesse registrado o momento, o resto do mundo não viraria os seus olhos para a Guerra do Vietnã e o governo de Duc não anunciaria reformas a fim de tentar negociar com a população. O monge foi e ainda é visto como um símbolo de bravura e resistência, fazendo com que muitos monges da época chegassem a cometer a autoimolação após a divulgação da imagem.
    A fotografia foi mais tarde utilizada como capa do álbum de estréia da banda Rage Against The Machine, demonstrando o seu impacto até mesmo na cultura pop. As músicas que carregam comentários políticos parecem levar a imagem do monge como a de um símbolo de revolução, assim como os budistas. Isto mostra que o poder da fotografia de Browne fez com que Thich Quang Duc virasse um signo de luta que qualquer pessoa possa se identificar, mesmo que sua realidade seja bem diferente da de um vietnamita daquela época.  
    #leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política e social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens da coluna? É só seguir este link.

    Links, Créditos e Referências:

  • Os Flagelados da Seca no Ceará

    Os Flagelados da Seca no Ceará

    A foto de Juca Martins mostra o abismo econômico que existe entre as classes mais ricas e mais pobres no Brasil

    Tirada em 1983, pelo fotojornalista Juca Martins, quando ele foi cobrir os impactos de um dos mais longos períodos de estiagem que atingiu o país, a foto mostra pessoas com vestes simples, à beira de uma estrada. Elas erguem suas mãos em súplica na direção de um Chevrolet Opala, um dos carros mais luxuosos de sua época, o carro apenas entra na contramão para se distanciar e segue seu caminho. 

    Juca Martins

    Na época retratada, o nordeste do país estava passando por um dos piores períodos de seca de sua história. Ele durou de 1979 a 1985, atingindo seu ápice em 1981. Criações de animais e plantações inteiras morreram, deixando milhares de famílias sem ter o que comer. Diante desta situação, João Figueiredo, presidente do regime ditatorial, declarou que “Só nos resta rezar para chover”.

    Além da seca, o país também sofria com índices altíssimos de inflação. Com o intuito de contê-la, os militares criaram um modelo econômico que levou ao que ficou conhecido como “milagre econômico”, período com índices de inflação baixíssimos e com o PIB elevado. Porém, o modelo era mal planejado e por mais que a inflação tivesse caído a desigualdade social disparou e a economia ficou extremamente dependente da exportação de commodities. Em 1979, com a segunda crise do petróleo, a economia despencou, a inflação chegou a 200% e o país se viu afundado em dívidas.

    O suposto “milagre econômico”, responsável por enfraquecer sindicatos e privar milhares de trabalhadores de seus direitos, acabou deixando o país em uma situação econômica ainda pior, na qual o 1% mais rico da sociedade detinha 30% de toda a renda do país.

    Com essa composição, o fotojornalista traz uma mistura entre o chocante e o sutil. A fotografia com toda certeza tece críticas fortes ao governo da época, juntamente com seus modelos econômicos, mesmo sem fazer menção a ele. Isso era essencial para todos os profissionais de imprensa da época, devido a forte censura feita pelos militares, que, mesmo reduzida na época, ainda poderia ser perigosa para os jornais, mas principalmente para os jornalistas.  Na foto,

    Juca Martins capta uma síntese de todos esses 20 anos de história. A direita vemos um Chevrolet Opala, fabricado em 1976, período auge do “milagre econômico”, representando o melhor da industrialização desenfreada, ocorrida com a vinda das montadoras automobilísticas para o Brasil. E a esquerda, separados do Opala por uma linha contínua, uma família faminta e sedenta, que, diferentemente da indústria, não recebeu nenhum auxílio governamental e apenas implora ajuda para uma elite econômica que insiste em ignorá-la.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Os Flagelados da Seca no Ceará. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/os-flagelados-da-seca-no-ceara/>. Publicado em: 06 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Evandro Teixeira

    Evandro Teixeira

    Fotojornalista documentou importantes períodos da história do Brasil

    Nascido na cidade de Irajuba, na Bahia, no ano de 1935, ainda muito novo, teve como professor de fotografia Teotônio Rocha, primo do diretor Glauber Rocha. Sua carreira como fotojornalista iniciou-se 1958,  no jornal Diário da Noite, onde era encarregado de fotografar casamentos que eram comentados nas páginas do periódico.

    Evandro Teixeira

    Em 1963, ele entra para o Jornal do Brasil, onde segue trabalhando até o ano de 2010. Sua obra possui uma pluralidade inegável, já que se destacou em vários campos relacionados à cobertura jornalística, desde temas referentes à política até fotografias de esporte. Em 1964, cobriu o golpe civil militar responsável por instaurar uma ditadura no país. Foi o único fotógrafo a ter acesso ao forte de Copacabana na madrugada do dia 1º de abril, onde registrou a chegada de Castelo Branco para seu pronunciamento e tomada de posse.

    Também registrou as manifestações estudantis de 1968 e a derrubada do governo de Salvador Allende em 1973. Durante sua carreira publicou livros icônicos como “Fotojornalismo”, “Canudos 100 anos” e “68 destinos : passeata dos 100 mil”. Sua obra também foi imortalizada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, que dedicou a ele um dos poemas do livro “Amar se aprende amando”.

    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira
    Evandro Teixeira

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Evandro Teixeira. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/evandro-teixeira/>. Publicado em: 04 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Uma voz que precisa ser ouvida

    A fotografia de Yasuyoshi Chiba é um grito de força e esperança.

    Suor escorrendo pela pele, uma postura ereta, o queixo levantado, a mão aberta sobre o peito e uma expressão de bravura. O jovem, personagem central desta fotografia, não parece se intimidar com os olhos de diversas pessoas pousados sobre si, nem mesmo com a luz de cada celular usado para iluminar o seu rosto. O garoto, cujo nome não sabemos, marca sua presença como ninguém. 

    Yasuyoshi Chiba/AFP/World Press Photo

    Não havia luz no dia 19 de junho de 2019 em Cartum, capital de Sudão. O apagão imposto pelo governo aconteceu poucos dias antes de operações militares que resultaram no assassinato de milhares de manifestantes. Ainda assim, o grupo pró-democracia da imagem acima se reuniu mais uma vez para lutarem por seus direitos e, enquanto o garoto de blusa azul recitava um poema em forma de protesto, o sentimento de esperança parecia não ter desaparecido.  
    A fotografia congela esse momento, como se a fala do garoto nunca tivesse cessado. E, todas as vezes que olhamos para ela, paramos tudo para ouvi-la novamente. O próprio nome da obra, “Straight Voice” ou voz direta (tradução livre), mostra a força do jovem da imagem. Mas, como uma fotografia não consegue emitir sons, é impossível saber exatamente o que ele diz e a mensagem é deixada em pequenas pistas. 
    A primeira está nas mãos erguidas que se estendem em torno do garoto mostrando que, seja lá o que ele está dizendo com tanta firmeza, é ovacionado em um consenso geral. A outra está nos outros rostos jovens presentes na imagem que o rodeiam com a mesma destreza. É como se essa voz falasse por todos que estão presentes. Ela é a representação de uma geração jovem que está lutando para construir um futuro novo com as próprias mãos. 
    A obra de Yasuyoshi Chiba ganhou o prêmio de fotografia do ano pela World Press Photo, um dos prêmios mais importantes do fotojornalismo profissional. Acredito que parte da paixão por essa imagem existe por conta do caráter poético em cada detalhe de sua composição. Começando por seu tom apático, mas ao mesmo tempo vibrante. Enquanto o redor aparenta ser devorado pela completa escuridão, os corpos se destacam em tons quentes, impossíveis de serem ignorados, mostrando que se o apagão foi feito com a intenção de calar essas pessoas, elas fariam o possível para serem ouvidas.
    O registro é totalmente preenchido com os manifestantes, sobrando pouco espaço vazio. Esse enquadramento fechado ajuda a fortalecer o pequeno grupo pacífico que ganha uma imagem imbatível de união e força. Todos têm seus corpos direcionados ao menino, levando o nosso olhar mais uma vez para o centro da imagem. E a figura centralizada que exala uma juventude inquieta e que não teme nada, parece gritar que a sua voz deve ser ouvida. 
    Ao fundo, as luzes dos celulares iluminam as costas do garoto e atribuem-lhe uma aura épica. Esse esforço em fazer com que o jovem seja visto e ouvido demonstra uma atitude admirável em meio a tanta violência, um sinal de que a empatia e comunhão não se perdeu. E, assim, se movem em uma só direção, com um poder que apenas um registro tão delicado como este pôde capturar. 
    #leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política e social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens da coluna? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos: 

  • Zonas de obscuridade: O olhar de Alice Martins

    A fotojornalista brasileira, registra os cotidianos das pessoas que convivem com os conflitos armados no oriente médio.
     

    Essas fotografias foram realizadas em locais marcados pelas guerras. O que acontece nessas ruas, como as crianças são educadas, todos os cidadãos pegam em armas? Essas são algumas perguntas instigadas pelos registros de Alice Martins.

    Uma hora dourada empoeirada. Alice Martins, 2019.


    Alice é uma das poucas mulheres que registraram os conflitos armados na Síria, que tiveram início em de 2012. Dadas tantas notícias de conflitos, migrações, bombardeios, etc no oriente médio, cenas do cotidiano tornam-se obscuras e o que é “comum” passa a ser extraordinário,
     
    Entre ruas, ruínas e casas, a vida acontece. Observamos a fotografia abaixo e nos recordamos dos rostos e da atmosfera de ir à feira. Na próxima fotografia, o garotinho com algodão doce passa por uma parede mal acabada ou bombardeada. O vestido de noiva atrás abandonado, ou perdido, serve para à curiosidade, posto o lugar que ocupa.
     
     

    Mulheres fazendo compras na cidade de Raqqa. Alice Martins, 2019.


     

    Menino desabrigado pela guerra na Síria. Alice Martins, 2019.

    Vestido pendurado fora de uma casa na Medina de Tânger. Alice Martins, 2017.
     
     
    #galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, histórica, política ou social, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer outras postagens desta coluna? É só seguir este link.
     

    Links, Referências e Créditos

     

    • http://www.confoto.art.br/fotografia/fotoclubes/amazonas/item/49-palestra-com-a-fotojornalista-ga%C3%BAcha-alice-martins.html
    • https://www.instagram.com/martinsalicea/
    • http://www.confoto.art.br/fotografia/fotoclubes/amazonas/item/49-palestra-com-a-fotojornalista-ga%C3%BAcha-alice-martins.html
    • https://globoplay.globo.com/v/3284277/