Mês: dezembro 2022

  • Feirantes e fregueses

    Contrastes sociais evidentes na São Paulo de 1940.

    A fotografia abaixo, feita pela fotojornalista Hildegard Rosenthal, retrata uma feira livre na cidade de São Paulo, em 1940. Nela, é possível observar a distinção entre feirantes e fregueses, principalmente por suas vestimentas e características físicas. 


    Em preto e branco, a fotografia revela uma feira livre. É possível distinguir barracas e bancadas onde são vendidos os produtos. Algumas mulheres utilizam sombrinhas e usam vestidos ou saias, e estão calçadas com sapatos de salto. Alguns homens usam chapéu, terno, gravata e sapato social. Há meninos negros, de camisa de manga longa e bermuda, alguns descalços, carregando mercadorias.

    Hildegard Rosenthal 


    O céu quase limpo e as sombrinhas registradas na foto nos contam que o dia estava quente. No entanto, alguns homens utilizam terno ou camisas de manga comprida e, claro, chapéu. As mulheres, por sua vez, usam vestidos ou saias, sapatos de salto, e algumas estão de manga comprida, além de levarem as sombrinhas. Os mais bem vestidos da cena são, intuitivamente, os fregueses e as freguesas da feira. 

    O que mais me chama a atenção, entretanto, são os meninos negros, de bermuda e camisa de manga longa, um descalço, o outro de chinelo. Eles se contrapõem à elegância descrita acima, possuem traços físicos diferentes da freguesia e, não menos importante, são crianças. 

    Os marcadores de classe, raça e gênero estão bem definidos na composição da fotografia, sendo facilmente isolados. Essa é uma cena comum da primeira metade do século 20, no Brasil. 

    A Lei 8069/1990, em seu artigo 60, institui a proibição de qualquer tipo de trabalho a crianças menores de 13 anos. Contudo, entre 1940, quando essa fotografia foi feita, e 1990, quando essa lei foi promulgada, existem 50 anos. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2019 cerca de 1,8 milhões de crianças e jovens exerciam trabalho infantil, sendo 21,3% de 5 a 13 anos, mais da metade do sexo masculino, preto ou pardo. Esses dados evidenciam que, apesar de haver um esforço para combater essa situação, o problema ainda não foi resolvido, e tem um perfil de vítimas bem definido. 

    Apesar de haver um contexto histórico intrínseco à foto que não pode ser isolado, as diferenças sociais percebidas me deixam perplexa. Hoje, é assegurado a qualquer criança brasileira o direito à cidadania, e com isso, o dever de ser matriculada em uma escola. O que se revela nesta fotografia é o oposto disso, em uma época em que as crianças, sobretudo negras, tinham poucos direitos.

    Interessante também perceber como as concepções de normalidade mudam em meio século, e o que era corriqueiro, como o trabalho infantil, torna-se um crime. Na contra-mão dessa mudança, a juventude negra continua sendo o maior alvo dessa condição. 

    O trabalho infantil, a miséria, o analfabetismo e a marginalidade são heranças de uma sociedade que, durante séculos, manteve uma estrutura escravocrata e, portanto, racista. É comum que os trabalhadores resgatados pelo Ministério Público sejam em sua maioria negros. Ainda que haja mudanças estruturais, como na legislação, nem sempre são acompanhadas por mudanças estruturantes. Enquanto a mentalidade social tiver origem escravocrata, crianças e jovens negros não usufruirão plenamente de sua vida cidadã. 


    Chamada para ação

    #leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


    Links, Referências e Créditos

    https://ims.com.br/titular-colecao/hildegard-rosenthal/

    https://livredetrabalhoinfantil.org.br/noticias/reportagens/o-que-o-eca-diz-sobre-o-trabalho-infantil/

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm

    https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29738-trabalho-infantil-cai-em-2019-mas-1-8-milhao-de-criancas-estavam-nessa-situacao

    Como citar este artigo

    MORAIS, Isabella Garcia. Feirantes e Fregueses. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/feirantes-e-fregueses.html>. Publicado em: 29 dez. 2022. Acessado em: [informar data]. 


  • Roberto Bettini

    Fotógrafo especializado em corridas de ciclismo.

    Com um acervo estimado de mais de 5 mil fotografias, Roberto Bettini atua no cenário competitivo do ciclismo desde 1975. Participou de várias competições importantes, como: o campeonato mundial de Montello, Tours da Itália, Paris Roubaix e Tours da Lombardia. É também editor da Sprint Cycling Magazine desde 2001.

    Ciclistas pedalando no plano de fundo desfocado em uma rodovia rodeada por árvores. E no primeiro plano um grupo de caracóis.
    Roberto Bettini

    Seu olhar certeiro para os acontecimentos breves em corridas é destaque em seu trabalho. Em cada fotografia é possível perceber muito bem as expressões dos corredores e os movimentos que estão executando. As obras de Bettini são pausas peculiares de eventos que ocorrem em frenesi.

    Fotografia em preto e branco da linha de chegada de uma corrida. O público ao lado assiste a corrida com atenção e o vencedor ergue os braços em comemoração ao cruzar a chegada.
    Roberto Bettini
    Ciclista pedalando em meio a um campo florido.
    Roberto Bettini
    ciclistas competindo numa pista nevada. Nos arredores da pista, sarapintada por árvores temperadas, alguns observadores assistem a competição.
    Roberto Bettini
    Ciclistas competindo numa pista sob um céu avermelhado e nublado.
    Roberto Bettini

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

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  • Fotojornalismo na guerra

    A importância da reflexão sobre a função da fotografia na vida das vítimas de conflitos armados
    Aqui no Cultura Fotográfica, já publicamos diversos textos sobre o fotojornalismo na guerra. Essa profissão é desafiadora, uma vez que requer do fotógrafo o cuidado ao captar momentos extremamente delicados, buscando extrair um retrato fiel da guerra em determinado país. Ainda, é possível refletir sobre os dilemas dessa profissão, já que, a cada viagem, o profissional tem de lidar com a possibilidade de não retornar vivo para sua família e as pessoas que ama.
    Um homem segura uma bandeira da palestina com amão direita e com aesquerda gira uma funda. Ele está sem camisa e sua blusa está amarrada na cintura. Atrás dele nota-se agentes da polícia e outros civis. Uma nuvem acinzentada cobre o espaço atrás dele, parecendo ser uma fumaça.

    Mustafa Hassona

    No blog, foram publicados inúmeros artigos nas colunas leitura e galeria que refletem sobre essas questões e dualidades da profissão. Há reflexões voltadas para filmes sobre o assunto, como na análise de Mil Vezes Boa Noite em que nos deparamos sobre estes diversos dilemas da vida dos fotógrafos de guerra através da história do protagonista. Conseguimos nos questionar se seríamos capazes de seguir tal profissão. Ainda, podemos refletir sobre a saúde mental desses profissionais enquanto se deparam com cenas terrívelmente caóticas de uma guerra. Este é outro ponto que podemos ressaltar na análise de “A Menina e o Abutre”. Nela podemos nos perguntar quais consequências são vividas pelo jornalista ao longo da vida por seu trabalho. Segue a lista de artigos aqui no Cultura Fotográfica acerca do fotojornalismo da guerra e, adiante, questões para te orientar nesse percurso.

    Lista de postagens que compõem o percurso

    Questões orientadoras

    Quais os desafios que os fotojornalistas de guerra enfrentam hoje em dia para executar o seu trabalho? E com isso, qual seria o preparo mental desses profissionais em meio a tantas tragédias a serem retratadas?
    Qual o poder das fotografias diante de importantes episódios históricos?
    Qual é a importância de fotografar os refugiados de uma guerra? A partir daí,  de que forma o jornalismo pode atuar para reconhecer e levar ao público a dor do outro que sofre com a guerra sem promover uma espetacularização da tragédia?

    Como citar esta postagem

    MAIA, Amanda. Fotojornalismo na guerra. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/12/Fotojornalismo na guerra.html>. Publicado em: 23 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Corpo feminino em forma de revolução

    Corpo feminino em forma de revolução

    A foto, tirada em 1965, retrata o empoderamento de uma mulher socialmente considerada idosa.

    Descrição: Mulher considerada idosa posando nua em um cenário que parece uma floresta. Ela tem o cabelo loiro, curto e ondulado e, como acessório, usa um salto alto e um óculos de sol
    Diane Arbus

    Diane Arbus, profissional conhecida por seu trabalho ter foco em retratar as pessoas à margem da sociedade, certamente fotografou a mulher da imagem na intenção de trazer uma mensagem à tona. Mas qual?

    Primeiramente, é importante frisar o contexto em que a fotografia foi tirada, visto que outros costumes e crenças estavam em vigor na década de 60. Na época, o machismo e o conservadorismo eram ainda mais presentes na sociedade que atualmente, o que enquadrava as mulheres às funções de cuidar dos filhos e da casa, além de terem seus corpos sexualizados como objetos em prol do prazer masculino.

    Na foto, admiro como a modelo posa com confiança e autoestima.  Dá pra ver como ela se sente bem consigo mesma, resistindo ao preconceito dos olhos da sociedade, que inferiorizam esse corpo apenas por ser mais velho. Corpo este que é visto como não digno de sensualidade. Um corpo que, apenas por existir, é julgado.

    Corpo que, acima de tudo, habita uma alma. A alma de alguém. A existência. A resistência. Para mim, essa mulher não só modela para um retrato, ela faz revolução. Ela revoluciona uma sociedade que estabelece que envelhecer é negativo. Afirmou, por meio de uma imagem, que ficar mais idosa não significa só adquirir conhecimento intelectual. Pode significar também uma nova maneira de ser sexy, de se empoderar e de resistir ao machismo que tanto julga o corpo feminino. De dizer “não” ao capitalismo que tanto impõe produtos e cirurgias estéticas.

    Ao analisar essa foto, sinto orgulho sem ao menos conhecer essa senhora. Fico  feliz ao ver a coragem que imagino que ela teve para se expôr em uma época tão conservadora e sexista. Como mulher, reflito sobre a necessidade e urgência de, assim como a do retrato, nos sentirmos confortáveis e seguras. Porque, principalmente, um corpo é o conjunto material que nos torna capazes de realizar nossas atividades essenciais e fisiológicas.

    É ele que nos possibilita comer, caminhar, estudar, trabalhar, tocar quem amamos e, por isso, é tão primordial que estejamos em paz com ele, independente de seu formato,  idade e cor. Então, retomando a pergunta inicial deste texto, acredito que o objetivo de Diane Arbus ao realizar esse ensaio fotográfico foi trazer à mídia a mensagem de revolução que a modelo transmite.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

     

    Links, Referências e Créditos

     

    Como citar esta postagem

    SOARES, Maria Clara. Corpo feminino em forma de revolução. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/corpo-feminino-em-forma-de-revolucao/. Publicado em: 22 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Alfred Eisenstaedt

    Alfred Eisenstaedt (1898-1995) se consolidou na fotografia trabalhando para agências como Associated Press e Pacific and Atlantic Picture Agency, e, posteriormente, para a revista americana LIFE, na qual teve mais de 2.500 fotos publicadas, entre elas 90 capas. Em seus trabalhos, Alfred é lembrado pelo olhar perspicaz para fotografar e por ser um dos pioneiros no uso da câmera de 35 milímetros no fotojornalismo; além, é claro, do uso da luz natural.
    Fotografia em preto e branco de Alfred Eisenstaedt tirada de baixo para cima. Nela, Alfred segura uma câmera antiga com as duas mãos. Ele olha para o horizonte, num ângulo distante e a foto não mostra para nós. O fundo está desfocado, mas percebe-se um céu atrás dele.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Ele nasceu em Dirschau na antiga Prússia, território atualmente polonês, e é de origem judaica. Alfred se mudou com a família ainda criança para Berlim, onde, mais tarde, estudou na Universidade de Berlim e serviu a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Após o conflito, ele começou a trabalhar como fotojornalista freelancer, caminho que o faria se consolidar como um nome marcante da fotografia mundial.
    De acordo com o Centro Internacional de Fotografia, Alfred Eisenstaedt é lembrado pelo seu olhar ágil e pela habilidade de fotografar em qualquer situação ou evento. Essas características não só o destaca de outros fotógrafos do período pós-guerra, como também fazem de seu trabalho documentos memoráveis de uma era tanto estética quanto historicamente.
    Fotografia em preto e branco do ex-presidente John Kennedy, sentado numa cadeira em frente a uma mesa, e sua filha Caroline ainda criança que está mais próxima da câmera. Ambos sorriem e olham para um ponto à direita deles. O ambiente possui janelas e cortinas, além de um quadro à nossa esquerda.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Imagem em preto e branco do ativista Martin Luther King e Kenneth Kaunda, político e o primeiro presidente de Zâmbia. Eles parecem estar conversando e Kenneth está de perfil e com o rosto virado para Martin cuja face podemos ver. Eles parecem estar num escritório, pois, ao fundo, percebe-se uma estante com livros, uma porta à nossa esquerda e à frente dos personagens está uma mesa cheia de papéis.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Fotografia em preto e branco de sete crianças seguindo um Drum Major, equivalente a uma líder de uma banda marcial num gramado com muros e algumas árvores à nossa direita, atrás das crianças. Eles andam de forma divertida e descontraída.

    Alfred Eisenstaedt | LIFE

     
    Foto da estrela de cinema Marilyn Monroe em preto e branco. Marilyn olha para a câmera, seu braço esquerdo está apoiado na cintura e a mão direita está apoiada em um objeto que não aparece. Ao fundo vemos uma cerca de madeira.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Imagem em preto e branco de Adolf Hitler apertando a mão de Benito Mussolini. Mussolini veste roupas militares e Hitler está de casaco. O ambiente é um gramado e os dois estão à frente daquilo que parece ser um avião.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Foto em preto e branco de uma mãe e sua criança, 4 meses após o bombardeio atômico em Hiroshima. A mãe aparenta uma profunda triteza no rosto enquanto a criança aparenta medo. Ao redor, percebe-se destroços do ataque.
    Alfred Eisenstaedt | LIFE
    Como citar esta postagem
    MAIA, Amanda. Alfred Eisenstaedt. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/Alfred Eisenstaedt.html>. Publicado em: 20 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Diversidade na sigla e nas fotos: um percurso de aprendizagem

    Diversidade na sigla e nas fotos: um percurso de aprendizagem

    Nosso objetivo aqui é trazer visibilidade e reconhecimento sobre o trabalho de fotógrafxs, que, muitas vezes, devido ao preconceito existente na sociedade, foram invisibilizados.

    Revisitamos diferentes profissionais com diversos enfoques: alguns concentram-se em retratar o amor homossexual, para naturalizá-lo diante dos olhos da população, outros focam em romper com estereótipos existentes na própria sigla. Por exemplo, o da anulação da bissexualidade ou o da afirmação sobre a performance considerada “correta” e esperada para gays e lésbicas. As temáticas são variadas, mas, reunidos os artigos, fica claro que o propósito dos fotógrafxs é o mesmo: lutar por uma causa em prol do respeito, do amor e do orgulho, seja contribuindo para o fim do preconceito social, seja trazendo visibilidade a pessoas que sempre estiveram marginalizadas. 

    Sobre o percurso

    Como um percurso de aprendizagem autodirigido, o “Diversidade na sigla e nas fotos: um percurso de aprendizagem ” oferece diferentes trajetórias para seu estudo. Sugerimos uma opção e você decide se é viável ou não para a sua maneira de aprender. Assim, se desejar, você terá sua jornada orientada, e, ao mesmo tempo, autonomia para selecionar os textos que mais tem interesse.

    Para aproveitar melhor cada parte do caminho, é importante percorrê-lo com atenção e reflexividade. O objetivo é que a compreensão sobre o trabalho de cada profissional seja eficaz, afinal, quanto mais entendimento, maior será a transmissão de conhecimento entre as pessoas e, consequentemente, mais amplo o reconhecimento acerca dos fotógrafxs.

    Trajetórias 

    Temos algumas publicações na temática LGBTQIA+ e vamos citá-las brevemente aqui, para que você possa transitar entre elas de acordo com seu desejo.

    Imagem da bandeira LGBTQIA+ vista de um ângulo de baixo
    Sofia Santoro
     

    Na galeria, trazemos Joan E. Biren, Robert Mapplethorpe, Catherine Sant’ana e Paul Freeman. A primeira foi uma fotógrafa e cineasta homossexual, que lutou pelos direitos e pela visibilidade das mulheres lésbicas nos anos 70, época em que a homofobia era ainda maior que atualmente. O desejo de Joan surgiu, principalmente, ao não se enxergar representada propriamente em nenhum espaço, já que as mulheres lésbicas quase não eram retratadas e, quando eram, recebiam uma visão negativa.

    Já Mapplethorpe, era um fotógrafo gay, que foi impedido de exibir suas obras em museus e galerias devido às suas criações artísticas, voltadas para o erotismo e sadomasoquismo gay. Robert também encontrou dificuldades para ter liberdade até no seu próprio desenvolvimento criativo, visto que, por ser de uma família conservadora e católica, teve sua infância regrada e direcionada a não explorar seu lado artístico.

    Por sua vez, Catherine Sant’ana, é uma fotógrafa brasileira, que retrata principalmente o dia a dia e os casamentos de pessoas homossexuais. A profissional enfatiza que seu foco maior é trazer representatividade à comunidade LGBTQIA+, para acreditarem serem merecedoras de amar e de serem amadas.

    Nesse mesmo viés, temos Paul Freeman, que aborda a questão do estereótipo de masculinidade no espectro homossexual, tentando reduzir o preconceito e a visão de que homens gays sempre performam algum tipo de feminilidade. Afinal, a ideia aqui é que compreendamos que não existe um “sempre” em nenhum assunto, principalmente no quesito pessoas, que são compostas das mais diversas pluralidades. Em síntese:

    Fotófrafxs que se encontram na temática queer, contribuem significativamente para a sociedade, visto que trazem representatividade a pessoas que sequer eram retratadas e, quando eram, recebiam uma imagem pejorativa ou que os associava à libertinagem. Em um país perigoso para os integrantes da comunidade LGBTQIA+, como o Brasil, pequenos atos como esses, são passos gigantes rumo a um futuro livre e repleto de amor. Além disso, na sessão de leitura, interpretamos obras nomeadas de “Bandeira LGBTQIA+”, “Orgulho e Paixão”, “Em seus olhos, o amor” e “Olhares sensíveis, não delicados”. Na primeira, é explicada a importância da simbologia da bandeira para o movimento, já que é feita uma rápida associação entre símbolo e causa. Ou seja, ela acaba por se tornar um ícone de liberdade amorosa, respeito, aceitação e muito orgulho. Além disso, engloba letras que representam diversas possibilidades de amar, de se sentir atraídx e de se identificar consigo mesmx. Já a foto Orgulho e Paixão foi conhecida por ser a capa do livro “Eye to Eye: Portraits of Lesbians”, da fotógrafa lésbica e ativista Joan E. Biren. A obra reuniu diversas fotografias do cotidiano de mulheres lésbicas, que tiveram a oportunidade (infelizmente, escassa) de terem seu cotidiano representado com respeito e veracidade. Por sua vez, “Em seus olhos, o amor”, traz uma abordagem extremamente romântica e delicada: o casamento de Meg e Clarisse. São explorados os detalhes da composição da foto e do momento. Se você quer ter seu dia repleto de tanta doçura, recomendo começar por essa foto! E, por último, temos “Olhares sensíveis, não delicados”, que aborda a questão do estereótipo sobre homens gays. No texto, é discorrido o argumento de que afirmar que todo homem homossexual é afeminado é tão estereotipado quanto afirmar que todo homem cis hétero gosta de futebol. Ou seja, a intenção aqui é naturalizar a liberdade de cada um de se identificar como bem entende e se reconhecer intimamente da forma que desejar. Em resumo:

    Esses são nossos principais textos que abrangem a temática LGBTQIA+ dentro da plataforma “Cultura Fotográfica”. Esperamos que vocês realizem uma leitura tranquila, atenta e que desfrutem do melhor de nosso conteúdo.

     

    #percurso é uma coluna de caráter formativo. Trata-se de pequenos roteiros pelos conteúdos publicados no Cultura Fotográfica, elaborados para orientar o leitor em sua caminhada individual de aprendizado. Quer conhecer melhor a coluna #percurso? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    SOARES, Maria Clara. Diversidade na sigla e nas fotos: um percurso de aprendizagem. Cultura Fotográfica. Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/diversidade-na-sigla-e-nas-fotos-um-percurso-de-aprendizagem>. Publicado em: 16 de dezembro de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Aos doze anos

    A transição da fantasia infantil à dura realidade machista

    A imagem abaixo mostra uma garota de 12 anos vestindo roupas claras. A segurando por trás, há um homem adulto de terno, seu rosto está oculto devido a falta de luminosidade. Tanto o homem como a menina estão na varanda frontal de uma casa de bonecas, ao lado deles podemos ver cadeiras e uma mesa com xícaras para uma provável brincadeira de chá.

    Esta foto faz parte do ensaio fotográfico At Twelve: Portraits of Young Women, feito por Sally Mann, que tem como intuito retratar a individualidade de diversas meninas de 12 anos de Lexington, VA, cidade natal da fotógrafa. Curiosamente, esta imagem é, na minha opinião, a que mais evidencia uma crítica social.


    A foto em preto e branco mostra uma garota de 12 anos  de roupas claras. Atrás dela há um homem adulto, de terno, segurando seu braço, não podemos ver seu rosto devido à sombra em seu rosto. Ambos estão na entrada de uma ‘casinha de bonecas’ que possui uma mesinha e cadeiras na varanda frontal.
    Sally Mann

    Tentei buscar alguma opinião ou comentário da fotógrafa sobre o ensaio, mas não encontrei nada. Desse modo me peguei pensando, refletindo sobre o que os 12 anos de uma garota significam, para ela, para sua família e para a sociedade.

    Normalmente, é próximo aos 12 anos que mulheres têm sua menarca, isto é, sua primeira menstruação. Ao longo das décadas muitos significados já foram atribuídos a este momento. Como, por exemplo, sendo o momento a partir do qual a menina já pode casar, “sair dos braços do pai para os braços do marido”.

    Nas últimas décadas do século XX, quando o ensaio foi feito, já não existia tão abertamente este pensamento, mas de algum modo, seus resquícios ainda repercutiam e repercutem na sociedade.

    Não é novidade que vivemos numa sociedade machista na qual é presente a cultura do estupro. Uma cultura que perpassa fronteiras e continentes e que, especificamente no Brasil e nos Estados Unidos, muito se assemelha.

    O homem ao fundo da imagem, me acarreta a imagem de um primeiro abuso, uma primeira transgressão, uma primeira violência. Ele não possui rosto, chega por trás e num local que ‘não pertence’: a casa de bonecas.

    Toda a composição dessa fotografia me grita uma violência na infância, nesta transição para a pré-adolescência, momento no qual, boa parte das meninas começa a ser sexualizada pela sociedade como um todo.

    Para quem olha brevemente a imagem pode não aparentar grandes significados, mas, para mim, é de grande profundidade a crítica feita pela autora.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


    Links, Referências e Créditos

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  • Lançamento de livros de Gustavo Caboco

    Baaraz Ka’Aupan e Recado do Bendegó de Gustavo Caboco publicados no Museu Paranaense

    Imagem das capas dos livros de Gustavo Caboco. Na direita a capa do livro Recado do Bendegó, um livro vermelho com ilustração de um rochedo com rachaduras similares a um vulcão, ao seu lado um cacto e acima um céu estrelado com algum objeto celeste cruzando-o; já na direita, a capa do livro, Baaraz Ka'Aupan, de cor branca, com elementos tracejados na cor vermelha onde uma árvore fora cortada, aparentando possuir a ilustração do rosto de pessoas indígenas.
    Gustavo Caboco

    Hoje, dia 14 de Dezembro de 2022 é o lançamento duplo de Gustavo Caboco no Museu Paranaense. No evento, o artista lançará os livros “Recado de Bendegó” e “Baaraz Ka’Aupan” (que significa “Campo em chamas” em língua Wapichana). No mesmo evento, Caboco também exibirá curtas-metragens e uma fala-performance, “Coma Colonial”, que será apresentada pelo próprio artista. O evento é gratuito e não exige inscrição prévia.

    Gustavo Caboco é artista visual, pesquisador autônomo e membro da rede Paraná-Roraima. Além dos livros, desenvolve materiais como: desenho-documento, pintura, texto, bordado, animação e performance; trabalhos que tem como objetivo propor maneiras de refletir sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e da memória dos povos originários brasileiros. 

    Autor

    Gustavo Caboco

    Local de publicação

    MUPA (Museu Paranaense)

    Acesse a publicação completa em: https://tinyurl.com/2p8r7mr5

    #divulgação é uma coluna de divulgação científica e cultural. Utilize nossos formulários para divulgar seu trabalho em nossas mídias.


    Como citar esta postagem

    BRITO, C. S. Lançamento de livros de Gustavo Caboco. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://tinyurl.com/bjcwekw8. Publicado em:14 de Dezembro de 2022. Acessado em: [informar data].

  • São Paulo por Hildegard Rosenthal

    Alemã radicada no Brasil, a fotojornalista revelou uma São Paulo efervescente e humanizada. 


    Pedagoga de formação, entretanto, Hildegard tornou-se fotógrafa, tendo sido aluna de Paul Wolff na Alemanha. No Brasil, foi pioneira na representação feminina no fotojornalismo, e trabalhou para várias agências de notícias, como a Press Information. São Paulo foi a sua casa e cenário de sua obra, onde fotografou uma metrópole movimentada e diversa. 


    A fotografia, em preto e branco, mostra a Praça da Sé, no centro de São Paulo. Está lotada de pessoas e há alguns carros e ônibus. No fundo, há alguns prédios e a Catedral da Sé em construção.
    Hildegard Rosenthal


    Deixando um legado de aproximadamente 3.400 registros negativos, Hildegard foi uma das pessoas que inauguraram o fotojornalismo no país, apresentando uma nova maneira de se construir as narrativas jornalísticas. A fotógrafa exerceu a profissão durante as décadas de 1930 e 1940, em São Paulo. À época, a cidade estava cheia de imigrantes, refugiados dos regimes totalitários na europa (como ela mesma), e também era impactada pelas inovações propostas pelo governo Vargas. 

    O ambiente metropolitano e cosmopolita de São Paulo foi bastante retratado na sua obra, com destaque para pontos turísticos e obras que expandiram a cidade, como o Mercado Central, o Viaduto do Chá e a Catedral da Sé. Ela se interessava bastante pelo tema da infância, e buscava retratar a sutileza das pessoas, um trabalho complexo de ser realizado naquela que já era a maior cidade do Brasil. 


    A fotografia, em preto e branco, mostra um menino de traços caucasianos segurando um jornal. Ele usa boina, camisa, paletó, bermuda e meias, e posa sorrindo para a câmera.
    Hildegard Rosenthal


    A fotografia retrata duas meninas de traços orientais tomando sorvete de palito. Elas usam uma blusa de mangas compridas, debaixo de um vestido de manga cavada e que tem um laço na altura da gola da camisa. Elas desviam o olhar da câmera, e uma delas parece estar sorrindo.
    Hildegard Rosenthal


    A fotografia, em preto e branco, retrata um homem lavando um carro. Ele utiliza uma boina, uma blusa de manga longa e calça de uniforme. Há um carro em suspensão, que é lavado por ele na altura da roda, por uma mangueira.
    Hildegard Rosenthal


    Em preto e branco, a fotografia revela uma feira livre. É possível distinguir barracas e bancadas onde são vendidos os produtos. Algumas mulheres utilizam sombrinhas e usam vestidos ou saias, e estão calçadas com sapatos de salto. Alguns homens usam chapéu, terno, gravata e sapato social. Há meninos negros, de camisa de manga longa e bermuda, alguns descalços, carregando mercadorias.
    Hildegard Rosenthal


    Em preto e branco, a fotografia, feita do alto de um prédio,  mostra um entroncamento de ruas. Há muitos pedestres, não só na calçada, como também na via. Alguns fios elétricos cortam a foto, tanto no alto como no chão.
    Hildegard Rosenthal



    A fotografia negativa mostra pedestres atravessando uma rua. O chão está molhado. Os homens usam terno e gravata, e a única mulher visível está de vestido e sapato de salto. Os prédios não possuem mais do que cinco andares.
    Hildegard Rosenthal


    A fotografia, em preto e branco, revela o Estádio do Pacaembu. Pessoas dos mais diversos tipos e idades se dirigem aos portões.
    Hildegard Rosenthal


    #galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de um_ fotógraf_ de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.


    Links, Referências e Créditos