Mês: agosto 2022

  • O Milagre de Rose Smith

    O Milagre de Rose Smith

    Tirada pela fotógrafa Barbara Davidson, a imagem retrata a cena de Miracle (Milagre em português) ajudando sua mãe a se sentar na cadeira de rodas. Uma foto que poderia facilmente significar uma cena apenas de carinho, mas que traz uma história de muita luta e sofrimento.

    Descrição: A foto evidencia uma criança, de aparentemente com idade por volta dos 3 anos, ajudando uma mulher a acomodar-se na cadeira de rodas. É nítido que existe uma afinidade entre as duas, visto que o processo está sendo realizado com muita cautela e carinho. Elas estão em um quarto humilde. Nele, há uma cama grande com travesseiros em cima, um ventilador no canto esquerdo e itens pessoais ao redor do ambiente.
    Barbara Davidson

    A fotografia foi publicada em uma matéria da agência de notícias Los Angeles Times, em 31 de Dezembro de 2010. Nela, continham informações sobre o caso de Rose Smith, a mulher da foto. Rose morava no conjunto habitacional Watts Nickerson Gardens (Los Angeles) quando teve sua mandíbula, suas costas e braços alvejados por tiros.

    Smith é uma mulher inocente e, mesmo assim, sofreu as consequências da violência e criminalidade das gangues em Los Angeles. Ela nunca mais poderá andar. Triste fato que exemplifica a vulnerabilidade de muitas pessoas que moram no subúrbio. Além de ter sua própria saúde violada, a forte mulher da imagem teve de lidar com o medo de perder o ser que mais amava na vida: a bebê que carregava em seu ventre.

    Rose estava grávida de três meses quando foi atingida pelos tiros. Por um milagre, a criança não sofreu traumas físicos. Esse é o motivo para o nome de Miracle. Mas, apesar da sobrevivência da bebê ter sido uma vitória, ela não ficou alheia ao mal causado pela violência. Miracle nasceu viciada no remédio que sua mãe tomava para a dor que sentia.

    Olhando exclusivamente para a foto, eu sinto amor e compaixão: ver uma criança tão pequena já sabendo o que fazer para cuidar da pessoa que lhe deu a vida. Me pego refletindo o quanto elas devem ser próximas uma da outra. Mas, quando associo a imagem que vejo à história por trás, sinto tristeza e revolta. Essa mãe tem suas tarefas dificultadas devido a uma ocorrência na qual não teve responsabilidade nenhuma. Ela foi apenas a vítima.

    Me traz angústia pensar no quanto as pessoas que moram nas favelas, não só em Los Angeles, mas no mundo todo, estão vulneráveis a ter seu bem estar violado. Vivem entre guerras e conflitos, dificilmente conseguem paz e descanso. O medo de “estar na hora e no local errado” assombra os moradores. Infelizmente, foi o que aconteceu com Rose, pois ela estava prestes a entrar em casa quando foi alvejada pelas costas.

    É difícil não associar essa situação à criminalidade que assola grande parte dos países, dentre eles, o Brasil. O Rio de Janeiro, por exemplo – uma das metrópoles brasileiras – atingiu a marca de 100 vítimas de bala perdida em 2021, sendo 58% homens, 38% mulheres e 4% com o gênero não identificado. Entre elas, 5 crianças e 5 adolescentes. É desolador pensar na quantidade de pessoas que são feridas ou que perdem a vida todos os dias em razão de conflitos entre policiais e gangues. Pessoas que, muitas vezes, não têm conhecimento do que está acontecendo, como pode ser o caso das crianças.

    Além das marcas físicas, há também as psicológicas. Famílias perdem seus parentes para a violência, crianças perdem seus direitos básicos: brincar na rua, ir à escola, ter o sono tranquilo…  Espero que, no futuro, o mundo seja um lugar mais seguro de se viver.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link

    Links, Referências e Créditos

    SOARES, Maria Clara. O Milagre de Rose Smith. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/o-milagre-de-rose-smith/>. Publicado em: 10 de ago. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Sebastião Salgado e o ativismo ambiental

    Fotógrafo, economista e ativista ambiental.

    Hoje, Sebastião Salgado vive em Paris, mas ele é natural da cidade de Aimorés, interior de Minas Gerais e nasceu no dia 8 de fevereiro de 1944. Além de ser um grande fotógrafo, ele é formado no curso de Economia pela Faculdade de Economia de Vitória (ES).

    Retrato do fotógrafo Sebastião Salgado, na qual ele está olhando diretamente para a câmera enquanto dá um leve sorriso. Um senhor de cabelos grisalhos vestindo uma blusa azul.
    Autor(a) desconhecido

    Salgado não se destaca apenas por ser um excelente fotógrafo, mas também pelo seu ativismo ambiental. Sebastião e sua esposa, Lélia Wanick, trabalham desde os anos 90 na recuperação de uma pequena parte da Mata Atlântica. Juntos, eles reflorestaram uma parcela de terra que possuíam e, em 1998, ela foi transformada numa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). No mesmo ano, eles criaram o Instituto Terra que tem como missão reconstituir o ecossistema florestal da região de Aimorés, através de diferentes formas de intervenção, recuperando os processos ecológicos e contribuindo para a manutenção da biodiversidade local. 

    Ele também fez diversos registros fotográficos com essa temática. O projeto fotográfico “Amazônia”, por exemplo, mostra a importância da preservação da floresta e da demarcação de terras indígenas. 

    Foto do Sebastião Salgado olhando para a câmera com um indígena atrás
    Autor(a) desconhecido

    Foto de Sebastião Salgado e sua esposa em um campo olhando para o nada
    Autor(a) desconhecido


    Foto de diversas árvores fechando a mata
    Sebastião Salgado

    Indígenas andando em um barco no rio
    Sebastião Salgado

    Chamada para ação

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos



    Como citar esta postagem

    {SILVA, Jade Iasmin}. {Sebastião Salgado e o ativismo ambiental}. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<{https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/sebastiaosalgadoeoativismoambiental.html}>. Publicado em: {08/08/2022}. Acessado em: [informar data].

  • Exemplo de acolhimento e hospitalidade: venezuelanos não encontram abrigo no Brasil

    Exemplo de acolhimento e hospitalidade: venezuelanos não encontram abrigo no Brasil

    Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença.

    Um garoto cabisbaixo se destaca no grupo aglomerado na calçada de uma loja na cidade de Pacaraima, em Roraima. Assim como a Branca de Neve, princesa presente na coberta colorida na qual o garoto está enrolado, ele parece estar em busca de um lugar melhor.

    Fotografia de um grupo de desabrigados na calçada de uma loja. A frente da foto está um garoto de braços cruzados enrolado em uma coberta colorida. A foto foi tirada de um ângulo um pouco acima do nível dessas pessoas.

    Mathilde Missioneiro/Folhapress 

    Dois elementos se destacam ao observarmos a foto acima. O garoto enrolado na coberta colorida que está em primeiro plano e que ocupa a parte central da imagem e o aglomerado de pessoas ao seu redor que compõem o fundo da imagem. A foto em plano aberto nos permite visualizar que eles estão em uma calçada e o fato de ter pessoas deitadas em pedaços de papelão nos faz perceber que estas pessoas estão desabrigadas.

    O movimento migratório, apesar de estar presente em tratados e acordos nacionais e internacionais como um direito humano, ainda hoje não é plenamente respeitado. No Brasil, segundo a Constituição de 88 e a Nova Lei de Migração instituída em 2017, é garantida às pessoas em deslocamento interno ou transfronteiriço direitos fundamentais como educação, saúde, liberdade, moradia e trabalho. Além disso, cabe ao Conare, Comitê Nacional para os Refugiados, garantir assistência e proteção às pessoas refugiadas no país. Apesar disso, como é possível perceber através da foto, um incontável número de indivíduos não recebe a assistência necessária. Para ser mais exata, ao ler a reportagem, somos informados que estes são apenas alguns dos 2065 migrantes e refugiados desabrigados em Pacaraima, cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela.

    A cidade, mencionada pelo Presidente Bolsonaro como exemplo de acolhimento, não parece se esforçar para garantir o mínimo de dignidade aos imigrantes, pois as vagas oferecidas para os abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo exército, não atendem nem metade da demanda e o governo municipal, por sua vez, não oferece nenhuma estrutura para quem está fora dos abrigos. Sendo assim, para a maioria dos imigrantes, a única ajuda parte de iniciativas voluntárias, como a ONG Médicos Sem Fronteiras e a Caritas, uma organização católica que apoia migrantes e refugiados.

    Além disso, a foto, feita por Mathilde Missioneiro e publicada em 6 de agosto de 2021, foi tirada durante a pandemia de covid-19, onde as recomendações principais eram: fique em casa, evite aglomerações e use máscara. Coisas que parecem simples, para quem não tem o básico se tornam impossíveis.

    A imagem nos faz questionar o lema já conhecido e atribuído à Pacaraima pelo presidente. Será mesmo que somos um país acolhedor? E por que essas pessoas não são dignas de terem seus direitos mais básicos respeitados? Infelizmente, cenas como essas são comuns, e não só aqui. Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença humana.

    Links e referências

    Chamada de Conteúdo de Colaboradores

    Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.

    Sobre a autora

    Larissa Caroline Lopes Fonseca é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • Ordem e progresso

    Ordem e progresso

    Lembranças de um passado ditatorial nem tão distante.

    A imagem abaixo foi fotografada por Orlando Brito em 1991, em Brasília, e mostra soldados militares marchando em frente a bandeira do Brasil. As fotografias do autor retratam momentos e personagens marcantes da história brasileira, narrando temas como política, sociedade e cultura.

     

    Fotografia em preto e branco de soldados militares fardados e em filas segurando armas apontadas para cima, ao fundo encontra-se a bandeira do Brasil.
    Orlando Brito

    A bandeira do Brasil possui uma frase, com conotação positivista, que clama por ordem e progresso. Sempre ao olhar para a bandeira, essa frase me vem à mente, sem mesmo a ler, ela já é um elemento associado. Policiais e soldados são outros objetos que constantemente também são associados à ordem. A fotografia de Orlando Brito faz uma combinação dos dois objetos na fotografia, ligando-os por esse elemento em comum: a ordem.

    A ligação entre esses dois elementos pode ser percebida facilmente ao olhar a imagem, a forma como os soldados estão alinhados com suas armas apontadas para cima e no fundo a bandeira gigante em comparação com eles. Em primeiro plano, as sombras se destacam mais, sombreando o rosto dos soldados, e ao fundo, a bandeira se ilumina, em contraste.

    Essa imagem me faz refletir sobre como não estamos distantes desse passado, onde a ordem estava acima dos direitos civis. A cada dia que passa, a democracia que se diz ter no país é mais uma vez agredida por políticos e policiais que passam por cima da população para garantirem os seus próprios benefícios. A ordem que muitos políticos dizem que é necessária se instaurar no país é apenas uma forma de calar novamente a sociedade que clama por seus direitos.

    Diante da ordem em favor do progresso, muitos se veem sem saída ou como reclamar de sua situação, pois o que o país está passando, segundo a classe dominante, é em benefício de algo maior. Os direitos vão sendo revogados, assim como a liberdade de expressão e a liberdade de fazer questionamentos. Ao mínimo sinal de revolta a polícia é acionada para deter os protestos de uma população oprimida. 

    Ao olhar os jornais é possível ver que não estamos tão distantes dessa realidade, pessoas são agredidas, presas e mortas, pois estavam violando a ordem estipulada pelas atuais políticas. Tudo o que se vê, não é ordem, mas sim uma dissimulação da palavra que é usada contra o povo.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

     

    Links, Referências e Créditos

    (mais…)

  • Barbara Davidson

    Barbara Davidson

    “Aprendi muito cedo a lutar contra a rejeição, a nunca desistir e nunca deixar ninguém me impedir de me tornar uma fotojornalista”. Assim declara Barbara Davidson, no ano de 2019, em sua colação de doutorado.

    Nascida em Montreal, Canadá, Barbara lutou muito para ascender profissionalmente em um ramo predominantemente masculino. 

    Descrição: Barbara sorrindo de forma singela, seu rosto é marcado por expressões de felicidade. Ela olha diretamente para a câmera e usa brincos popularmente conhecidos como argolas. Seu cabelo é loiro ondulado e, na parte da frente, está parcialmente preso.
    Barbara Davidson

    Famosa por suas imagens sobre a crise humanitária, Davidson captura principalmente fotos de guerras, da violência causada pelas gangues e dos desastres naturais. A fotógrafa ganhou bastante destaque midiático após ganhar seu primeiro Prêmio Pulitzer devido a sua cobertura do furacão Katrina. Em 2007, Barbara entrou como fotojornalista na agência de notícias Los Angeles Times, mas, dez anos depois, deixou o cargo relatando que “Era hora de me recalibrar para abrir novos caminhos”.

    Segundo a profissional, a arte de fotografar é baseada em contar boas histórias e ter paixão pelo trabalho. Neste contexto, ela utilizou seu amor pela fotografia em prol de denunciar a negação dos direitos básicos, especialmente a crianças e mulheres.

    Barbara Davidson
    Dois meninos, de idade aparentemente próxima, em um lugar que parece ser um campo com arbustos. O menino da esquerda aponta uma arma para a cabeça do outro, que está de braços abertos e olhos fechados.
    Barbara Davidson
    Cinco crianças dormem amontoadas em uma cama de casal. Aparentemente desconfortáveis, em razão do pouco espaço disponível. Duas das crianças dormem curvadas para a esquerda e as outras dormem de barriga para cima com os braços levantados. Na cama também há três almofadas escuras.
    Barbara Davidson

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.