Mês: fevereiro 2022

  • Elliott Erwitt

    Elliott Erwitt

    Humor e ironia em fotos do cotidiano norte-americano.

    O fotógrafo judeu Elliott Erwitt, filho de migrantes russos, nasceu em Paris no ano de 1928, mas passou a maior parte de sua infância em Milão. Mudou-se para os Estados Unidos, em 1940, com sua família para escapar das leis fascistas da época. Com isso, ele passou a juventude em Hollywood, lugar em que começou sua carreira na fotografia.

    A fotografia mostra uma pessoa sentada em uma escada que possui dois degraus. Além disso, existe a presença de dois cachorros, um deles está com as patas apoiadas nas duas pernas da pessoa e a cabeça dele está na frente da face de seu dono ou dona. O outro cão está com uma coleira e sentado ao lado do indivíduo
    Elliott Erwitt

    Elliott também morou em Nova Iorque, onde conheceu o fotógrafo Robert Capa que o convidou para tornar-se membro da memorável agência fotográfica Magnum em 1953, da qual viria a ser presidente em 1966.

    As fotografias de Erwitt são repletas de humor e de ironia, características que ele retrata nas ruas, nos cotidianos e nas vivências encontradas nos lugares em que fotografou. Em seu trabalho há a presença de muitos cachorros e suas relações com o mundo humano. Além disso, Erwitt tirou fotos figuras famosas como Che Guevara e Marylin Monroe, também fotografou retratos mais íntimos e pessoais.

    A fotografia mostra dois dálmatas que estão com óculos e coleiras no pescoço. Um deles está com a língua para fora da boca  e o outro não. Ao fundo, podemos ver uma roda gigante e alguns prédios.
    Elliott Erwitt

     

    A fotografia mostra uma mulher, a mãe do bebê retratado, trajando um vestido estampado. Ela apoia a cabeça em um canto da cama e olha para o bebê, sua filha, que está na sua frente. No outro canto do colchão está um gato que olha para a criança também.
    Elliott Erwitt
     
    A fotografia mostra Che Guevara, provavelmente posando para a câmera,  sentado em um sofá. Em sua boca há um charuto e ele, vestido com uma camisa de mangas longas, não olha diretamente para a câmera.
    Elliott Erwitt

     

    A fotografia mostra Marylin Monroe, provavelmente posando para a câmera,  com a cabeça apoiada na parte de cima de um sofá. Seu olhar é contemplativo e ela não olha diretamente para a câmera.
    Elliott Erwitt
     
     
    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    HELENA, Beatriz. Elliott Erwitt. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:https://culturafotografica.com.br/elliott-erwitt/. Publicado em: 28 de fev. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial

    O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial

    A fotografia colonial e sua contribuição para a construção da imagem do império brasileiro.
    Os meios de comunicação carregam traços de sua época e lugar. André Rouillé (2009), em um estudo onde reconstitui o percurso da fotografia em sua migração do campo do útil para o do belo, comenta que a esta nova tecnologia de fazer visível se desenvolveu em estreita ligação com alguns processos em curso na Europa durante o século XIX: a democratização, a monetarização, a industrialização, a urbanização, a expansão das metrópoles e a modificação na percepção de tempo e de espaço.
    Por sua vez, James Ryan (2014), em uma revisão de literatura sobre a fotografia colonial, observa que o desenvolvimento da fotografia ocorreu em paralelo à expansão do império europeu na segunda metade do século XIX. Por isso, tão logo os procedimentos para a produção de imagens fotográficas foram tornados públicos, eles foram incorporados ao aparato de compilação de informações que permitia às autoridades coloniais exercer controle – real e simbólico – sobre populações e territórios distantes dos centros de decisão das metrópoles.
    Às imagens fotográficas foi atribuída a função mediadora de fazer presente o que é ausente e de trazer para próximo o que é distante (ROUILLÉ, 2009). Nesse sentido, Juan Naranjo (2006), em uma revisão do papel que a fotografia desempenhou como instrumento para o estudo do outro, acrescenta que, reconhecida como uma imagem que supostamente apagaria a fronteira entre realidade e representação, a ela foi atribuída a capacidade de substituir a experiência direta pela observação virtual.
    Louis Compte

    Expedições de diferentes tipos, apoiadas por associações comerciais, organismos governamentais e sociedades científicas, promoveram a documentação fotográfica de distintas regiões do planeta. Apenas 5 meses após o anúncio da invenção do daguerreótipo, o abade Louis Compte, que integrava a tripulação do navio-escola Oriental-Hydrographe da marinha mercante francesa em sua expedição ao redor do globo, desembarcou no Rio de Janeiro e no dia 17 de janeiro de  1840, produziu a primeira fotografia tomada em território brasileiro, uma vista do Largo do Paço (ver fotografia acima).
    A indústria de álbuns, cartões de visita e postais aumentou a atividade fotográfica comercial. Colecionar fotografias tornou-se um fenômeno de massa em escala global. Aventurando-se por lugares remotos, os fotógrafos europeus tornavam-nos acessíveis mediante a representação de suas paisagens, seus povos e seus costumes através de esquemas estéticos convencionais (RYAN, 2014; VICENTE, 2014). Naranjo (2006) acrescenta que o aumento na circulação de imagens impressas promoveu uma homogenização da informação visual e uma estereotipificação do outro.
    A fotografia não apenas estava inscrita nas experiências coloniais como também era constituidora delas (VICENTE, 2014; RYAN, 2014). As imagens fotográficas eram produzidas por e para colonizadores e tendia a atender os interesses e as prioridades de quem as produzia e as consumia. Disso decorre que elas não apenas refletiam as paisagens, os povos e a vida colonial, mas,  sobretudo, as construíam. Nesse sentido, Filipa Vicente (2014), en uma pesquisa acerca do uso da fotografia no contexto colonial português, destaca que as imagens fotográficas não apenas reproduziam as hierarquias de gênero, classe e raça latentes na sociedade colonial, como também as reificavam.

    A abordagem colonialista da fotografia será debatida no III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Para saber mais, clique aqui.

    A construção da imagem e da auto-imagem da nação brasileira

    A chegada da fotografia ao Brasil, em 1840, coincide com o fim do Período Regencial e o início do Segundo Reinado do Império do Brasil. O Imperador D. Pedro II não apenas foi o primeiro brasileiro a tirar uma fotografia como também um entusiasta da nova tecnologia. Na época, a produção fotográfica foi organizada em torno de dois produtos e de seus respectivos gêneros: a carte de visite e o álbum de vistas, o retrato e a paisagem.
    Havia 18 anos que o país deixara de ser uma colônia de Portugal e tornara-se um país independente. As preocupações das autoridades nacionais consistiam na consolidação do território nacional e no reconhecimento internacional do país. Ana Maria Mauad (2004), em um artigo sobre a representação do Brasil oitocentista, destaca que a nova tecnologia contribuiu para a construção da imagem e da auto-imagem da nação brasileira.
    Indígena vestido com indumentárias típicas e segurando uma lança posa em estúdio.
    Marc Ferrez / IMS
    Entre as fotografias produzidas por Marc Ferrez para serem vendidas, principalmente, a viajantes estrangeiros, destacam-se os retratos de negros e de índios. Em seu estúdio, o fotógrafo, educado na tradição europeia das artes visuais, montou cenários para melhor ambientar os fotografados. Na fotografia acima, é visível o artificialismo da montagem e o empenho do fotografado em manter sua pose.
    Mauad ressalva que a imagem do Império do Brasil foi produzida por fotógrafos estrangeiros ou educados no estrangeiro que, ao mesmo tempo em que mostravam as populações e o território brasileiro ao país e ao mundo, educavam o olhar nacional para observar o Brasil e os brasileiros a partir dos esquemas estéticos importados. Com isso, apesar do esforço para  projetar a imagem de uma nação semelhante às da Europa, o império fez-se notar sobretudo por aquilo que tinha de diferente.

    A construção da imagem do Império do Brasil com base na abordagem colonialista da fotografia será debatida no III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica. Para saber mais, clique aqui.

    Referências bibliográficas

    MAUAD, Ana Maria. Entre retratos e paisagens: modos de ver e representar no Brasil oitocentista. Studium, n. 15, p. 4 – 43, 2004. ISSN: 1519-4388. Disponível em:  <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/11764>

    NARANJO, Juan. Fotografía, antropología y colonialismo (1845 – 2006). Barcelona (ES): Gustavo Gili, 2006.

    ROUILLÉ, André. A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009, p. 29 – 134.
    RYAN, James. Introdução: Fotografia colonial. In: VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014, p. 31 – 42.
    VICENTE, Filipa Lowndes. O império da visão: a fotografia no contexto colonial português. Lisboa (PT): Edições 70, 2014.

    Como citar este artigo

    VALLE, Flávio Pinto. O império do olhar: o Brasil oitocentista visto pela fotografia colonial.  Cultura Fotográfica (Blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/o-imperio-do-olhar-o-brasil-oitocentista-visto-pela-fotografia-colonial/>. Publicado em: 25 fev. 2022. Acessado em: [informar data].
  • Mãe e filha

    Mãe e filha

    Retrato, tirado por Elliott Erwitt, que vai te fazer sentir aquele calorzinho no coração.

    A fotografia intitulada “Mãe e filha”  foi tirada por Elliott Erwitt em seu primeiro apartamento localizado em Manhattan no ano de 1953. Ele retratou sua filha recém nascida, Ellen, sua companheira Lucienne Matthews e um gato chamado Brutus, seu bichinho de estimação. 

     
    A fotografia mostra uma mulher, a mãe, trajando um vestido estampado. Ela apoia a cabeça em um canto da cama e olha para o bebê, sua filha, que está na sua frente. No outro canto do colchão está um gato que olha para a criança também.
    Elliott Erwitt

     

    A imagem me transmite uma atmosfera de aconchego, de conforto e de zelo,  também  mostra Lucienne abaixada e muito perto de sua filha, seu olhar transparece ternura e carinho pelo bebê. Sinto que ela sorri com a boca e com os olhos,  contemplando a pequena e doce figura que está na sua frente. 
     
    O gato, mascote da família, está do lado oposto ao de Lucienne, ele aparentemente olha para a criança e por causa disso, me parece que o bebê é protegido pela mãe e pelo felino. Os dois são figuras muito importantes para que essa sensação de proteção e de afeto seja mantida na cena. O gato, a meu ver, se sente seguro e tranquilo no ambiente e na família que ele se encontra.  A iluminação singela, fraca e difusa, provavelmente vinda de alguma janela, também contribui para a atmosfera de aconchego, de serenidade e de afeto. 
     
    O preto e branco da fotografia me deixou pensativa sobre algumas concepções. Por ser um retrato mais íntimo, este modo de fotografar me remeteu a uma ideia de memória, de recordação e de lembrança. Acho que no momento em que as fotografadas e o autor da foto olharem para o retrato, eles se lembrarão das sensações que sentiram, daquele momento em si. É como se fosse a materialização da subjetividade daquele instante, pois pode ser relembrado de forma mais sensorial do que objetivo.  
     
    A atmosfera da fotografia me faz lembrar da figura de minha avó, dona Rosângela, pois ela é o meu primeiro exemplo de afeto, de cuidado materno e de carinho. O jeito do olhar de Lucienne para sua filha, a meu ver, é parecido com o de minha avó quando olha para as minhas tias, para minha mãe e para mim. Fico contemplando o semblante brilhante de seus olhos juntamente com o sorriso confortante que dona Rosângela faz, muitas vezes, sem nem perceber, e levo esses doces momentos dentro do meu coração e da minha lembrança. 
     
     
     #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. Mãe e filha. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:https://culturafotografica.com.br/mae-e-filha/. Publicado em: 23 de fev. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Alice Brill

    Fotógrafa que retratou o cotidiano da capital paulista na década de 1950 

    A judia Alice Czapski Brill nasceu na Alemanha no dia treze de dezembro de 1920 e veio para o Brasil em 1934, com o intuito de fugir do governo nazista juntamente com sua família. A artista atuou como fotógrafa na cidade de São Paulo, principalmente na década de 1950.

    A fotografia mostra um menino e dois homens em uma banca de jornais e revistas. O garoto está lendo uma revista enquanto apoia sua cabeça  em uma de suas mãos. Um dos homens, com os punhos nos bolsos, olha para o chão enquanto o outro, usando um chapéu, parece que olha para algo que não está na fotografia.
    Alice Brill

    Alice Brill, além de fotógrafa, também foi artista plástica, ensaísta e pintora. Em 1950, ela começou a trabalhar para a revista Habitat e para o Museu de Arte de São Paulo. No decorrer da sua carreira fotográfica, Brill realizou muitas exposições individuais e coletivas e teve uma grande participação na primeira Bienal da capital paulista.

    Em paralelo ao seu trabalho na revista Habitat e no museu de arte de São Paulo, Alice retratou fortemente as ruas, as arquiteturas urbanas e os cotidianos paulistas. Assim, as fotografias da artista são muito importantes para mostrar as mudanças que estavam ocorrendo na cidade de São Paulo.

    A fotografia mostra o que parece ser uma fila de pessoas.  No primeiro plano há uma mulher, com os óculos na cabeça, lendo um livro e segurando um casaco. Os indivíduos atrás dela estão desfocados.
    Alice Brill
    A fotografia mostra uma rua cheia de pombos voando e com dois caminhões estacionados, em um deles existe a presença de um homem que olha para a câmera. Também podemos ver um comércio aberto.
    Alice Brill
    A fotografia mostra um lugar com vários prédios em volta. Também há a presença de muitas pessoas, algumas delas parecem ser freiras, caminhando na rua.
    Alice Brill
    A fotografia mostra o que parece ser uma cafeteria lotada, pois uma pessoa segura um bule e parece que vai servir alguém. Também podemos ver alguns indivíduos tomando, possivelmente, café.
    Alice Brill

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    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. Alice Brill. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/alice-brill/. Publicado em: 21 de fev. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica

    O Brasil visto pela fotografia colonial será debatido em nosso Grupo de Estudos.
    Neste primeiro semestre de 2022, O III Ciclo de Estudos do Cultura Fotográfica será dedicado ao debate da construção da imagem do Império do Brasil com base na abordagem colonialista da fotografia, perspectiva que aborda o aparelho fotográfico como um instrumento das nações imperialistas para a produção de saber e o exercício de poder sobre territórios e populações colonizadas.
    indígena da tribo Appiacaz retratado no interior de um estúdio fotográfico. O homem demonstra desconforto e sua vestimenta típica contrasta com o ambiente em que ele se encontra.
    Marc Ferrez / Instituto Moreira Salles

    A fotografia acima integra o enorme conjunto de registros de tipos exóticos produzidos para exportação com base em esquemas estéticos importados. Nele, vemos um indígena da tribo Appiacaz posar para câmera de Marc Ferrez. O homem que veste uma indumentária típica contrasta com a parafernália do estúdio do fotógrafo.
    Abaixo, apresentamos um cronograma com as datas em que os encontros deste ciclo serão realizados e o tema que será abordado em cada um deles.

    Data*

    Horário**

    Tema

    17/03/2022

    17h – 19h

    A fotografia como documento

    14/04/2022

    17h – 19h

    A coleção de fotografias do imperador

    19/05/2022

    17h – 19h

    A imagem e a auto-imagem do Império do Brasil

    16/06/2022

    17h – 19h

    Hierarquias coloniais

    * As datas e os horários poderão sofrer alterações. Caso isso ocorra, elas serão comunicadas com antecedência.

    ** O ambiente virtual em que ocorrerão os encontros do grupo será aberto 15 minutos antes de cada reunião para que os participantes se acomodem.

  • Guerrilheiro Heroico

    Guerrilheiro Heroico

    A história por trás de uma das fotografias mais reproduzidas e cultuadas da atualidade.

    A fotografia de Alberto Korda retrata o guerrilheiro revolucionário Ernesto “Che” Guevara de la Serna e é uma das mais replicadas do mundo. Até hoje, ela contribui para disseminar a imagem de Guevara e pode causar diferentes sensações em quem a vê.

    Na foto, podemos ver Che Guevara em um ângulo baixo e no centro  da imagem. Ele está usando uma boina com uma estrela no meio, parece olhar para cima e tem um semblante sério. A esquerda, podemos ver parte do rosto de um homem e à direita, algumas folhas de árvore.
    Alberto Korda

    A foto foi feita no dia cinco de março de 1960, durante uma cerimônia fúnebre para as vítimas da explosão do cargueiro La Cumbre, acontecimento que matou mais de 100 pessoas e deixou cerca de 200 pessoas feridas. Che estava descendo do palanque no qual discursara para os familiares das vítimas quando Korda tirou a fotografia.

    Na foto, o revolucionário aparece com um semblante sério e obstinado. O ângulo, contre-plongée, ajuda a dar para ele uma dimensão heróica, amplificada por suas feições ásperas. Entretanto, a interpretação dessa foto varia conforme a perspectiva política do espectador. Para aqueles que se opõem aos feitos e as ideias de Guevara, essas mesmas feições e esse mesmo ângulo mostram um homem cruel, violento e vilanesco.

    Milhares de pessoas se utilizam dessa fotografia com diversos fins, alguns deles muito irônicos. Muitos a cultuam como um artigo religioso e comparam o comandante com o próprio Jesus Cristo, sem considerar o fato de Guevara inúmeras vezes ter assumido ser ateu. Muitos simpatizantes de partidos neonazistas também ostentam a imagem de Che, mesmo que ele se opusesse veementemente aos ideais fascistas.

    Vítima da reprodutibilidade técnica da imagem, a figura de Che Guevara parece ser uma “carta coringa”, utilizada para se encaixar nas mais inúmeras narrativas. Isso provavelmente se deve ao fato da simplicidade da composição da foto. Nela, vemos um homem bonito, sério, com cabelos longos e traços fortes. Esse arquétipo é facilmente colocado em qualquer narrativa.

    Não é complexo traçar paralelos entre Che e Jesus Cristo, já que muitos os consideram homens  belos, altruístas, que lutavam pela justiça e pelos pobres e  pelos necessitados. Entretanto, também é fácil de comparar Che ao próprio diabo, devido ao fato de ambos serem descritos como charmosos, bons com as palavras, violentos e cruéis. Essa imagem encaixa perfeitamente em qualquer ponto destes dois extremos de bem e mal, ele pode ser Robin Hood, Drácula, Luke Skywalker e Darth Vader.

    A técnica fotográfica tem por prioridade apenas um único fim, a reprodução em massa e a venda desenfreada, sendo assim, ela dissemina apenas a ideologia do mercado, independente dos pensamentos das pessoas fotografadas. É como se ela retirasse daquele homem toda sua história e o transformasse em uma página em branco. Talvez seja essa maleabilidade da imagem que fez com que a foto se tornasse tão famosa.

    Com isso, é difícil discordar dos ensaios em que Walter Benjamin escreve sobre a ausência da aura na fotografia.  Essa imagem nunca carregou se quer uma sombra da essência do Che Guevara real. Porém, ela poderia, com toda certeza, ser utilizada para defender as mesmas ideias que ele defendia, mas isso depende somente de quem se utiliza da foto e de quais ideais são proclamados em seu discurso.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    OLAVO, Pedro. Guerrilheiro Heroico. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/guerrilheiro-heroico/>. Publicado em: 16 de fev. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • Raghu Rai

    Raghu Rai

    Fotógrafo que luta pela desconstrução dos estereótipos indianos perpetuados na cultura ocidental.

    Rai nasceu na aldeia de Jhang , Punjab , na Índia Britânica, atual Paquistão, em 1942.  Ele iniciou sua carreira de fotógrafo em 1965, um ano depois  foi contratado como editor de fotografia do jornal The Statesman. Em 1971,  exibiu seus trabalhos na Galeria Delpire em Paris, a exposição foi tão bem sucedida que ele foi convidado a participar da agência Magnum.

    Raghu Rai

    Suas fotografias variam entre o preto e branco e o colorido e todo seu trabalho é focado em seu país natal. Rai produziu uma extensa obra de vários locais da Índia, mostrando suas tradições culturais e religiosas, que contribui muito para a desconstrução da visão estereotipada do país, construída na cultura ocidental.  

    Ele produziu trabalhos importantíssimos acerca de vários acontecimentos históricos na Índia, que retratam desde as ações de caridade feitas por Madre Teresa de Calcutá até o desastre químico de Bhopal, um vazamento de gás em uma indústria química que intoxicou mais de 50 000 pessoas. Ele tem como pilar do seu trabalho o “darshan”, uma filosofia que prega uma observação aprofundada do mundo percebendo desde seus aspectos imagéticos até suas vibrações e energias.

    Na imagem podemos ver um rio cercado por altas construções de pedra. No canto superior da foto podemos ver um garoto saltando de cima de ema das construções em direção a agua.
    Raghu Rai
    No primeiro plano da imagem podemos ver uma mulher abaixada. Ela parece estar cozinhado algo em uma panela que esta disposta sobre um fogueira no chão. Ao fundo podemos ver vário canos empilhados formando um padrão composto por vários círculos no fundo da foto. É possível ver várias pessoas deitadas dentro dos canos
    Raghu Rai
    NA foto podemos ver uma mulher com trajes  típicos da cultura hindu. Ela esta  com os olhos fechados enquanto fala em um microfone disposto a poucos centímetros de seu rosto
    Raghu Rai
    Na foto podemos ver uma rua extremamente movimentada e caótica. É possível ver uma enorme quantidade de pessoas andando a pé e em charretes, seguindo variados rumos. Muitas delas carregam variadas mercadorias
    Raghu Rai

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    • Raghu Rai Foundation
    • ANG, Tom; Fotografia: O Guia Visual Definitivo do Século XIX à Era Digital; São Paulo; PubliFolha; 2015

    Como citar este artigo

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Raghu Rai. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/raghu-rai/>. Publicado em: 14 de fev. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • A Terceira Classe

    A Terceira Classe

    A desigualdade econômica num dos mais luxuosos navios do início do século xx.

    Feita em 1907 pelo fotógrafo Alfred Stieglitz, a fotografia retrata o convés do Kaiser Wilhelm II, um navio de cruzeiro, feito para ser o mais luxuoso de sua época, que, no momento retratado, zarpava dos Estado Unidos rumo à Europa.  Na foto, podemos ver o deck superior, destinado aos passageiros de primeira classe, pessoas mais abastadas, e o deck inferior, destinado aos passageiros da terceira classe.

    Na foto, podemos ver o deck de um navio. Ele é dividido em dois andares diferentes os quais estão abarrotados de pessoas. Uma escada forma uma linha horizontal no meio da fotografia dividindo os dois andares do navio
    Alfred Stieglitz

    É difícil olhar para a fotografia e não lembrar do filme Titanic, um clássico do cinema, dirigido por James Cameron, que conta a história do amor de um casal que embarca no navio e é separado pela divisão das classes que lá ocorre. Coincidentemente, o Titanic, foi construído alguns anos depois desta foto, justamente para superar o Kaiser Wilhelm II nas questões de velocidade e luxo. 

    Assim como o longa, a foto escancara a desigualdade social da época de uma maneira bem clara. No centro da imagem, a ponte traça  uma linha imaginária entre os dois grupos de pessoas. Na parte superior, percebe-se que os indivíduos ali presentes são da classe mais abastada, tanto pelo fato de estarem em um patamar superior aos de baixo, como pelo fato de um dos homens estar usando um chapéu Paris de palha, símbolo da elite francesa do final do século XIX e início do século XX.  Abaixo deles, e do outro lado da linha imaginária, podemos ver a terceira classe sendo representada por mulheres e crianças.   

    É interessante pensar como a fotografia mostra não somente como as pessoas eram segregadas  baseadas em suas situações econômicas, mas também sobre como os equipamentos fotográficos estavam longe de ser acessíveis. O ângulo a partir do qual a foto foi feita coloca o fotógrafo no mesmo patamar que a alta classe, a câmera olha para os mais pobres assim como os ricos: de cima para baixo. 

    Isso me faz  questionar as afirmações sobre as fotografias terem  democratizado as imagens. Com o advento da reprodução técnica, muitos  passaram a  ter acesso a imagens que retratavam lugares, pessoas e obras de arte que eles nunca veriam sem a fotografia. Entretanto, a democracia é uma via de mão dupla, já que todos devem ouvir e serem ouvidos em um regime democrático. Na fotografia, devido aos equipamentos caros e de difícil acesso, era raro que pessoas das classes mais baixas pudessem fotografar. Sendo assim, milhares de pessoas de classes, etnias, religiões e nacionalidades foram retratadas apenas por um olhar eurocêntrico, vindo de homens brancos e ricos.

    É inegável que Stieglitz foi bem intencionado ao produzir essa fotografia, mas também é perceptível que o fotógrafo, talvez devido às amarras sociais, não optou por fotografar as pessoas da baixa classe de um ângulo normal. Mesmo que essa foto tenha sido feita a mais de 100 anos atrás, essa atitude de muitos fotógrafos de não  retratar minorias e pessoas pobres de um ângulo que não o da miséria e sofrimento, não exaltando essas pessoas, persiste até hoje.

    O problema atual não é necessariamente a falta de acesso aos equipamentos fotográficos, já que hoje contamos com  smartphones munidos de câmeras com preços relativamente acessíveis. Contudo, mais uma vez, a  visão produzida por pessoas que não pertencem às elites econômicas se encontra ofuscada, desta vez, por padrões técnicos e estéticos. Esses são os principais norteadores dos algoritmos das redes sociais, que têm a capacidade de identificar várias características de fotografias indo desde o equipamento usado até a cor da pele das pessoas da foto. Com isso, eles priorizam imagens feitas com smartphones mais caros e que retratam pessoas brancas.

    Esta fotografia me entristece, não só pelas condições precárias em que alguns se encontram enquanto outros desfrutam do luxo , mas pela terrível continuidade dos fatores presentes nela. Um século depois e a sociedade continua ridiculamente desigual, um século depois e as pessoas que controlam os meios midiáticos continuam o projeto de abafar a voz dos oprimidos.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    • ANG, Tom; Fotografia: O Guia Visual Definitivo do Século XIX à Era Digital; São Paulo; PubliFolha; 2015.
  • Alfred Stieglitz

    Fotógrafo do movimento pictorialista e militante da ideia de fotografia como arte. 

    O fotógrafo Alfred Stieglitz nasceu nos Estados Unidos em 1864. Foi uma figura que colaborou muito para a disseminação da ideia de que a fotografia também pode ser uma forma de arte, já que em seus primórdios ela era vista mais como um truque científico ou como uma ferramenta auxiliar do que como uma forma de expressão artística.
    Em primeiro plano, podemos ver um homem de costas para a câmera, ele usa um sobretudo e um chapéu. Na frente dele existem quatro cavalos atrelados a um bonde. Ao fundo, podemos ver a entrada de um imponente prédio.
    Alfred Stieglitz

    Ele foi estudante de engenharia  mecânica, mas quando participou de uma aula de química com o fotógrafo e químico Hermann Wilhelm Vogel, Stieglitz se interessou pelos processos de revelação de filmes fotográficos e ao estudar o assunto acabou apaixonado pela fotografia.
    Ele se associou ao Camera Club of New York, onde foi editor do jornal interno do clube. Por boa parte de sua carreira, ele sempre foi muito perfeccionista com suas fotografias em relação aos aspectos técnicos, buscando fotos extremamente nítidas. Porém ao conhecer o trabalho de fotógrafos adeptos ao pictorialismo, ele mudou os rumos de sua arte e passou a fazer fotografia buscando imitar a estética das pinturas, se tornando um dos primeiros fotógrafos a ter seus trabalhos publicados em museus dedicados às artes plásticas. 
    A foto é em preto e branco e nela podemos ver apenas um conjunto de estreitas nuvens dispostas uma do lado da outra
    Alfred Stieglitz

    Na foto, podemos ver o deck de um navio. Ele é dividido em dois andares diferentes os quais estão abarrotados de pessoas. Uma escada forma uma linha horizontal no meio da fotografia dividindo os dois andares do navio
    Alfred Stieglitz

    A foto é em preto e branco e nele podemos ver uma rua coberta de neve. Mas ao fundo é possível ver uma carruagem puxada por dois calos parece estar se afastando do fotografo deixando marcas no chão
    Alfred Stieglitz

    A foto é preto e branco e nela podemos ver um conjunto de nuvens que parecem estar formando figuras abstratas no céu
    Alfred Stieglitz

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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