Mês: dezembro 2021

  • Para Adrian Rodriguez, Com Amor

    Para Adrian Rodriguez, Com Amor

    A história do assalto responsável por ajudar na criação de todo um ensaio fotográfico

    Na primavera de 2010, a fotógrafa Melanie Willhide teve sua casa invadida por um assaltante. Ele levou vários objetos, incluindo o computador e o HD externo nos quais Willhide tinha salvo centenas de fotos de um trabalho que ela havia feito sobre festas noturnas.

    Descrição: Na foto se vê duas mulheres lado a lado. Elas estão usando penteados vintages e batons escuros. De seus ombros para baixo, a fotografia foi corrompida e podemos ver apenas listras.
    Malanie Willhide

    Porém, algumas semanas depois, a polícia de Pasadena recuperou seu computador. Infelizmente ou felizmente, o assaltante formatou a memória do computador, apagando todas as fotos. Melanie decidiu utilizar programas de recuperação de dados e conseguiu várias de suas fotografias de volta. Porém, muitas delas foram corrompidas, causando inúmeras distorções nas imagens.

    A fotógrafa, que já gostava muito de utilizar programas de manipulação de imagens no seu trabalho, adorou o resultado.  Segundo ela, as fotos surrealistas, que surgiram com a corrupção dos dados, funcionavam como uma amostra visual da crescente dependência do ser humano com os computadores.  Ao publicar as fotografias, ela decide então dedicá-las a Adrian Rodriguez, o assaltante que tornou tudo aquilo possível.

    Descrição: A foto foi muito corrompida e, na maior parte, é possível ver apenas formas geométricas de diferentes cores. Com um pouco de atenção, pode-se identificar pedaços separados de um homem que parece exibir seus músculos para a câmera.
    Malanie Willhide
    Descrição: Na foto, podemos ver uma mulher da cintura para cima. Ela está nua e com as mãos atrás da cabeça, jogando seus cabelos enrolados para cima. A foto foi corrompida e está coberta por listras pretas.
    Malanie Willhide
    Descrição: Na foto, podemos ver um homem completamente nu, que se inclina para frente e coloca a mão em sua panturrilha. A imagem  foi corrompida e é possível ver várias partes da fotografia se repetindo por todos os cantos.
    Melanie Willhide
    Descrição: A foto é espelhada no centro. Nela, um homem está parado com as mão na cintura  veste apenas um calção, enquanto alguém acerta seu rosto com o que parece ser uma torta.
    Melanie Willhide

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Para Adrian Rodriguez, Com Amor. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/shomei-tomatsu-e-a-globalizacao/>. Publicado em: 06 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].

  • Símbolos e nacionalismos

    Mustafa Hassona, nos instiga com sua fotografia que evoca o quadro “A Liberdade guiando o povo” e a História de Davi e Golias. 

    A imagem a seguir foi registrada por Mustafa Hassona na Faixa de Gaza no ano de 2018. Os conflitos que até hoje não cessaram, fazem parte da vida de Palestinos e Israelenses, que disputam o território no Oriente Médio. Na imagem observamos um homem segurando uma bandeira palestina e  girando uma funda.



    Mustafa Hassona

    A Palestina é uma área da região oriental do Mediterrâneo, que compreende partes de Israel e os territórios da Faixa de Gaza (ao longo da costa do Mar Mediterrâneo) e da Cisjordânia (a oeste do Rio Jordão).

    Tanto a área geográfica designada Palestina, quanto o status político dela, mudaram ao longo de três milênios atrás.  A região (ou pelo menos parte dela), também é conhecida como Terra Santa e é considerada sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. Desde meados do século XX, ela é objeto de reivindicações conflitantes de movimentos nacionalistas judeus e árabes.

    A cena registrada por Mustafa Hassona em 2018, evoca vários símbolos de luta e resistência. Ela foi muito comparada com a narrativa dos personagens bíblicos Davi e Golias, assim como com a pintura “A Liberdade guiando o povo” (imagem seguinte), do artista francês Eugène Delacroix. 

    O homem em primeiro plano, no centro da fotografia, destaca-se e dá o enredo principal à narrativa fotográfica. Ele carrega a bandeira do seu país (Palestina, uma das presenças que evocam a pintura de Delacroix) e gira uma funda (que evoca a história de Davi e Golias). Tais símbolos evidenciam uma luta coletiva e de representatividade, ou seja, a reivindicação não é somente ligada a um sujeito.

    Postas estas questões, poderia o fotojornalista, ter pensado acerca dessas proximidades? 
    Obviamente a provocação é clara, aliás os símbolos são fortemente trabalhados na sua fotografia. Podemos perceber isso pelo ângulo frontal da foto que dá destaque ao protagonista, à bandeira e a funda.

    Tais evidências, nos mostram que existe uma cultura atuante em conflitos nacionalistas. Se pensarmos em Davi e Golias, ainda não estamos falando da construção de uma nação, mas estamos operando com símbolos que representam a luta de um povo.

    As lutas sociais, portanto,  estão diretamente ligadas a esses símbolos de representatividade. Tanto na fotografia de Hassona, quanto no quadro de Delacroix, a bandeira e as armas, acentuam essa característica da reivindicação nacionalista.


    Delacroix. A liberdade guiando o povo, 1830.

    Há outra questão muito interessante para pensarmos a comparação da fotografia com pintura. A câmera fotográfica, tecnologia que surgiu em meados do XIX, foi vista com bastante relutância na época. Baudelaire dizia que a fotografia era um tipo de refúgio ao qual se apega “todos os pintores frustrados”, aliás considerava-se a imagem fotografada resultado da máquina e não do artista.

    Todavia o desenvolvimento da  história da arte e da semiótica (estudo da imagem), fluem direção contrária à essa perspectiva. Percebemos por meio desses estudos que tanto o olhar do fotógrafo para a cena, quanto as técnicas por ele trabalhadas juntas a fotografia constituem o enredo do seu trabalho.

    Sendo assim, por meio dessa fotografia de Mustafa Hassona observamos esses dois contrapontos: o da presença de uma luta nacionalista no Oriente Médio e da potencialidade e possibilidades dos registros fotográficos. Porquanto essas considerações trazem à tona a importância do olhar do fotógrafo/artista e a presença das suas referências nos resultados finais de suas narrativas.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


    Links, Referências e Créditos


    https://www.artequeacontece.com.br/fotografia-e-pintura-da-rivalidade-ao-entrosamento/


    https://www.leica-oskar-barnack-award.com/en/series-finalists/2019/mustafa-hassona.htmlLorem ipsum dolor sit amet.


    https://www.all-about-photo.com/photographers/photographer/784/mustafa-hassona


    https://www.leica-oskar-barnack-award.com/en/series-finalists/2019/mustafa-

    hassona.htmlLorem ipsum dolor sit amet.


    https://www.all-about-photo.com/photographers/photographer/784/mustafa-hassona