Ano: 2020

  • The Journey Is The Destination

    The Journey Is The Destination

    The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon.

    Do início ao fim, o filme prende nossa atenção de uma forma inexplicável. Não apenas pelo seu roteiro, mas pelo uso da fotografia que o compõem, usando cores de tons fortes e chamativos para destacar algumas cenas mais descontraídas, os tons frios para momentos sérios e a utilização de tons terrosos nas cenas de conflitos, além de espetaculares recortes e ângulos.

    Cartaz de divulgação do filme

    Descrição: A foto mostra o personagem principal, um homem caucasiano, olhando diretamente para a frente, com uma câmera nas mãos. Ele se encontra do lado esquerdo da imagem. Do lado direito vemos uma estrada de terra, com um veículo muito utilizado em safáris.

    The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, lançado em 2016, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon. Está disponível na plataforma Netflix, mas pode ser encontrado facilmente de forma gratuita na internet.

    Nascido em Londres em 1970, com sua família, mudou-se para o Quênia, na África oriental, em 1977. Embora sua vida tenha sido curta, pois tinha apenas 22 anos quando foi perseguido e morto por uma multidão enfurecida na Somália, Eldon era um dos mais jovens fotógrafos do Continente Africano. Seu trabalho jornalístico, publicado na Revista Time, mostrava apenas uma pequena parte de todo seu talento. Destacou-se também como artista em suas colagens, que combinavam suas fotografias de toda África com tintas, imagens da cultura pop, anúncios e documentos oficiais.

    O filme inicia-se com Eldon em uma beira de estrada pedindo carona. Ao ver que não conseguiria uma, o personagem senta-se na beira da estrada e continua escrevendo em seu álbum de fotografias e colagens, que possui o mesmo título do filme. Já no início podemos ver Dan Eldon fazendo uma das coisas que mais amava, que era fotografar pessoas do continente africano em suas diferentes culturas.

    Cena do Filme

    Descrição: O personagem principal se encontra no centro da imagem, apontando com seu braço direito para algo que está a sua frente. Atrás dele vemos várias crianças negras, e ao fundo já desfocado, adultos.

    Após as cenas iniciais, o filme volta alguns meses antes, na formatura de Dan Elton. Logo após, juntamente com amigos, o personagem sai em um safari. Lá, ele começa a fotografar, e logo surge um dos primeiros conflitos em que deu cobertura. Logo após, podemos ver seu trabalho como designer gráfico para a Revista Mademoiselle. Centenas de pessoas morriam todos os dias na Somália, mas isso não era registrado na mídia internacional. Foi aí que a aventura de nosso personagem principal inicia-se. Eldon estava disposto a tentar se destacar como um jovem fotógrafo, registrando todo o conflito da Somália e mostrando ao mundo através de seu trabalho, toda fome que assolava o país. Juntamente com o trabalho na revista, o personagem vive seus anos com grande paixão liderando uma missão de ajuda humanitária, sendo muito bem retratada no filme.

    Ao final do filme, vemos as cenas de acontecimentos que levaram o fotógrafo a sua trágica e inesperada morte, aos 22 anos.

    Cena do Filme

    Descrição: o personagem principal se encontra no centro da imagem, olhando fixamente para a frente, segurando a câmera com a mão direita. O fundo da imagem se encontra desfocado, em um tom amarelo terroso.

    Assistindo o filme, percebi que houve uma tentativa muito realista de mostrar todo o acontecimento, com imagens até mesmo muito pesadas de conflitos, com corpos mutilados, introdução de cenas reais das imagens de pessoas desnutridas passando fome. Não é um tipo de filme que você deva assistir como apenas um passatempo. Ele traz variadas reflexões acerca sobre a vida, sobre ter dignidade frente a alguns acontecimentos e sobre essencialmente ser humano com relação aos outros. Nos faz enxergar o outro muito além da sua imagem. Podemos sempre lembrar que o fato que a fotografia pode ajudar outras pessoas, ao expor grandes tragédias, como tornou-se para Dan Eldon um trabalho mais urgente.

    Assista o filme e nos diga sua opinião!

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    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, referências e créditos

  • Dorothea Lange

    Dorothea Lange

     A vida de Dorothea Lange ilustra a luta pessoal, profissional e as realizações de uma mulher à frente do seu tempo.

    Dorothea Lange foi uma das mais importantes profissionais da fotografia norte-americana. Ficou conhecida pelas imagens da Grande Depressão e da situação dos imigrantes nos Estados Unidos.

    Foto em preto e branco, retrata Dorothea Lange, com uma bandana na cabeça, sentada no topo de um carro com uma câmera fotográfica apoiada na perna direita
    Dorothea Lange in Texas on the Plains, 1932, Paul S. Taylor

    Lange nasceu em Hoboken, uma pequena cidade de Nova Jersey, em maio de 1895, em uma família de imigrantes alemães. Passou a se interessar por fotografia após o abandono do pai, quando tinha 12 anos.

    Na Universidade de Columbia, Nova York, entrou de cabeça no universo fotográfico e começou a trabalhar como aprendiz em diversos estúdios da cidade. Em 1918 se mudou para São Francisco, na Califórnia, onde abriu o próprio negócio. Na mesma época, se casou com o primeiro marido, o pintor Maynard Dixon, com quem teve dois filhos.

    Com a crise de 1929, passou a fotografar as ruas. Seu talento nato e sua temática de desempregados e moradores de rua, chamou a atenção de fotógrafos mais experientes, o que a levou a trabalhar para a “Farm Security Administration” (FSA), um programa criado pelo governo para promover o desenvolvimento de áreas agrícolas americanas, para combater a crise.

    Durante seu trabalho com o governo, que durou entre 1935 e 1941, retratou o sofrimento dos pobres, dos esquecidos, dos desempregados e, principalmente, das famílias rurais deslocadas e dos trabalhadores imigrantes. Suas imagens eram distribuídas gratuitamente a jornais de todo o país, o que fez com que suas fotografias extremamente representativas e impactantes ficassem cada vez mais conhecidas.

    A fotografia mais conhecida deste período é a “Migrant Mother” (“Mãe Imigrante”), um dos mais icônicos registros da fotografia, a qual retrata uma imigrante chamada Florence Owens Thompson com três de seus sete filhos. É o símbolo da Grande Depressão, o pior e mais longo período da recessão econômica do século XX.

    Faleceu em 1965. Durante os últimos anos de vida, enfrentou diversos problemas de saúde. Hoje, mais de cinco décadas após sua morte, toda sua obra é cada vez mais celebrada e estudada nas universidades do mundo todo.

     
    Foto em preto e branco, retrata uma mulher com uma mão no rosto, carregando um de seus filhos, e com os outros dois, cada um de um lado, apoiando as cabeças nos seus ombros com os rostos escondidos
    Migrant Mother, 1936, Dorothea Lange

    Foto em preto e branco, retrata a parte de trás de um carro vista de fora, com duas crianças na parte de trás olhando para a câmera e uma mulher sentada na frente olhando para a frente
    Cars on the Road, 1936, Dorothea Lange

    Foto em preto e branco, retrata uma menina, virada para a frente, com expressões sérias
    Damaged Child, 1936, Dorothea Lange
    Foto em preto e branco, mostrando uma família em uma rodovia de terra, com o pai na frente, usando um chapéu, puxando um carrinho cheio de coisas com uma menina sentada em cima. Mias atrás, vê-se a mãe andando de mãos dadas com uma menina, que dá a outra mão para o irmão, e um pouco mais atrás, um menino de chapéu empurrando outro carrinho com coisas em cima
    Family Walking on Highway – Five Children, 1938, Dorothea Lange
    Foto em preto e branco, retratando uma mulher, em um campo aberto, com uma mão no pescoço e a outra na testa, com uma expressão de cansaço e tristeza
    Woman of the High Plains, 1938, Dorothea Lange

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    COSTA, Clara. Dorothea Lange. Cultura Fotográfica. Publicado em: 9 de set. de 2020. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/galeria-dorothea-lange/. Acessado em: [informar data].

     
  • Panning

    Um objeto nítido em meio a um cenário borrado causa um efeito de movimento, como podemos ver em carros de corrida. Essa técnica é chamada de panning.

    O panning é um recurso muito utilizado para fotografia de esportes. Por meio dessa técnica, é possível congelar atletas, carros ou outros objetos em atividade e ao mesmo tempo sugerir a ação que estavam realizando. A ideia é que o assunto principal da foto fique nítido, enquanto o restante do cenário, borrado. Essa combinação causa um efeito de movimento, devido à justaposição de objetos contrastantes: um nítido e outro borrado.
    Max Verstappen of Netherlands and Aston Martin Red Bull Racing drives his RB14 during the Austrian Formula 1 Grand Prix at Red Bull Raing on July 01, 2018 in Spielberg, Austria | Vladimir Rys
    Para conseguir esse efeito, é necessário uma velocidade de obturador mais lenta que a normalmente aconselhável. Se for rápida, vai acabar congelando tudo e, portanto, o resultado não será o esperado. Vale ressaltar que a velocidade exata vai depender do assunto principal da imagem. Já falamos mais sobre o tema aqui.
    Além da velocidade adequada, o panning exige uma tomada panorâmica. Em outras palavras, a câmera precisa se movimentar para seguir a ação, deslocando-se por um eixo imaginário, da mesma forma que se faz em uma fotografia panorâmica.
    Já deu para notar que o panning exige treino e trata-se de uma situação de tentativa e erro. A captura nítida do objeto principal e o movimento suave da câmera precisam ser dominados para um bom resultado.
    Vladimir Rys é um fotógrafo tcheco que já trabalhou para diversas revistas esportivas. Desde 2005, sua principal área de atuação é a Formula 1. Em seu vasto portfólio na categoria, podemos ver vários exemplos de panning.
    Romain Grosjean of France and Haas F1 Team drives his VF18 during practice for the Chinese Formula 1 Grand Prix at Shanghai International Circuit on April 13, in Shanghai, China | Vladimir Rys
    Na foto acima, vemos um veículo da Haas durante um treino para o GP da China de 2018. A técnica do panning foi muito bem feita. Vemos o carro com muita clareza e o fundo está totalmente borrado, sendo até impossível descrever o cenário. Dessa forma, a impressão que se tem é que o carro está em altíssima velocidade, como, de fato, está.
    Que tal praticar? Pegue sua câmera, treine com carros na rua ou qualquer outra coisa em movimento! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

    Referências

    • HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia – O Guia Completo Para Todos Os Formatos. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2013.
  • O Abutre

    O filme de 2014 faz um comentário sobre a produção de imagens violentas e a relação do público com elas.

    O Abutre, escrito e dirigido por Dan Gilroy, conta a história de Lou Bloom, um homem com problemas financeiros, que desenvolve uma carreira muito lucrativa filmando imagens de crimes e situações violentas e vendendo-as para um telejornal sensacionalista. 
    Pôster do filme
    Descrição: um homem aparece na frente de um carro vermelho em uma rua escura e aparentemente deserta. Por cima da foto, informações sobre o filme, como título, elenco e data de lançamento estão escritas.
    Do ponto de vista puramente cinematográfico, o filme já é excelente. O ator principal Jake Gyllenhaal, que interpreta Lou, dá uma ótima interpretação, fazendo o público torcer por ele, e no momento seguinte ter completo asco de suas atitudes. O resto do elenco, que tem nomes como Rene Russo e Riz Ahmed, também brilha em seus personagens coadjuvantes. 
    Mas o filme vai além desses aspectos. O roteiro nos proporciona uma reflexão muito relevante nos dias atuais. Até que ponto as imagens de violência extrema são usadas para conscientizar as pessoas e até que ponto elas se tornaram quase um entretenimento?
    As filmagens que Lou entrega ao jornal são amadoras e exploram o sofrimento das vítimas desumanizando-as, e isso ajuda a audiência do telejornal apresentado pela personagem de Russo a crescer cada vez mais. A mídia retratada no filme está sempre buscando sangue, o que não está tão distante assim da realidade. Aqui mesmo no Brasil, podemos nos lembrar de programas que exploram a violência e a morte, supostamente para informar e conscientizar o público desses horrores.
    Cena do filme O Abutre (2014)
    Descrição: em uma sala, um homem filma bem de perto uma mulher que parece estar sentada em um sofá, mas como tem sangue em sua blusa, podemos assumir que ela está morta.
    Boa parte do sucesso de Lou é porque suas filmagens parecem muito realistas, embora ao longo do filme vejamos que isso não é bem a verdade. O público mostrado no filme quer que essas imagens de violência sejam reais, em uma relação quase voyeurística, de prazer e entretenimento diante da violência.
    Mais um ponto interessante do filme são os momentos em que Lou interfere nas cenas de crime para obter filmagens mais cruas e chocantes, se assemelhando a um diretor que posiciona seus atores e objetos no cenário. Podemos ver ecos disso em alguns “telejornais” da atualidade. Programas como Cidade Alerta apresentam a violência como uma cena de filme de ação, banalizando a morte para transformá-la em entretenimento.
    Cena do filme O Abutre (2014)
    Descrição: um homem sobre uma escada enquanto filma algo no topo com o olhar vidrado. A escada está suja de sangue em alguns pontos.
    Assistir ao filme praticamente logo após minha leitura de Sobre Fotografia intensificou minha reflexão sobre as imagens que consumimos no dia a dia. Em meio a milhares de fotos em redes sociais, propagandas nas ruas, as imagens violentas dos telejornais realmente nos impactam? Ou simplesmente passamos para o próximo tópico? As tão aclamadas imagens de guerra, que mostram corpos pelas ruas e escombros não se tornaram quase cotidianas? A violência mostrada nessas imagens se torna quase banal. Por quê nos esquecemos tão rápido dessas fotos, mas nos lembramos de fotos tão sutis como a do jovem com uma flor diante de um tanque de guerra? Mostrar a violência parece não ser mais o melhor jeito de conscientizar sobre ela, mas sim de saciar a curiosidade das pessoas. 
    O Abutre é um filme excelente, que além de possuir todos os elementos que os cinéfilos amam, atuações, roteiro e direção incríveis, ainda proporciona um debate muito interessante sobre a nossa relação com imagens de violência e como ela está (ou não) relacionada a nossa empatia em relação ao outro.  
    Assista ao filme e compartilhe suas reflexões com a gente nos comentários!

    Links, Referências e Créditos

    • O próprio filme

  • Bernd e Hilla Becher

    Bernd e Hilla Becher ficaram conhecidos por suas fotografias de instalações industriais, minimalistas e documentais.

    Bernd e Hilla Becher foram um casal de fotógrafos alemães, que se dedicaram a registrar instalações de indústrias que estavam sumindo da Europa.
    Um homem e uma mulher idosos encaram a câmera um ao lado do outro.
    Bernd e Hilla Becher, Autoria não identificada.
    Descrição: foto em preto e branco de um casal de idosos encarando a câmera com uma expressão tranquila. Atrás deles há um muro de tijolos.
    Bernd nasceu em Siegen, cidade da Alemanha Ocidental, onde a mineração de carvão era uma importante atividade econômica. Nesta cidade haviam diversas instalações industriais, pelas quais o jovem era fascinado. Na entrevista para a revista Zum, ele conta que conseguia fotos dos prédios com pessoas que trabalhavam nas indústrias. “Quando as instalações eram modificadas – modernizadas – ou fechadas, quando os escritórios eram desmanchados, ninguém mais queria as fotos. Queriam se livrar da imagem do século 19. Eu gostava daquelas fotos enormes, feitas por contato, que representavam as instalações com tanta precisão.”
    Hilla nasceu em Potsdam, na Alemanha Oriental. Começou a experimentar a fotografia por volta dos doze, treze anos, utilizando materiais antigos e embolorados, às vezes comprados clandestinamente. Mais tarde se tornou aprendiz de Walter Eichgrun, antigo fotógrafo da corte prussiana em Potsdam, para se profissionalizar. Assim como Bernd, Hilla também se interessava por fotografias de estruturas. Ela conta que passeava pela região portuária de Hamburgo fotografando objetos como guindastes. Nos anos cinquenta, Hilla fugiu para a Alemanha Ocidental, onde conheceu Bernd na agência de publicidade Trost, enquanto ambos ainda estudavam fotografia/pintura. Eles acabaram se casando em 1961.
    A parceria entre os dois veio do casamento aliado ao interesse em comum por fotografar indústrias. O projeto inicial era registrar instalações e depois juntar as fotos em montagens e colagens. Ao colocar as imagens lado a lado, as individualidades de cada objeto eram realçadas, mesmo que, à primeira vista, fossem muito parecidos.
    série de fotos de prédios industriais em preto e branco
    Bernd e Hilla Becher, Coal Bunkers (1966, 1999).
    Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

    Um fator que incentivou o projeto foi o fato de que muitas daquelas estruturas estavam desaparecendo com o progresso. Segundo Bernd eles sentiram o ímpeto de registrar essas instalações, não só na Alemanha, mas em outros países europeus, como França, Bélgica, entre outros.
    No começo o trabalho de Bernd e Hilla foi mais associado às artes plásticas, já que as fotografias dos Becher, frias e documentais, não eram vistas como uma visão artística das indústrias, nem como uma visão de mundo. O ideal de fotografia da época, que era fotografar o “belo”, o idealizado, não combinava com o projeto dos Becher.

    Série de fotos de prédios industriais em preto e branco.
    Bernd e Hilla Becher, Coal Bunkers (1974).
    Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

    Boa parte das fotografias dos Becher foram publicadas em livros, já que este seria o meio ideal para apreciar tanto os detalhes de cada foto, mas também o efeito das montagens. O primeiro livro foi o “Esculturas Anônimas” publicado em 1970.

    Na entrevista da Revista Zum, o casal comenta que buscaram fotografar de forma mais neutra possível, de forma a não glorificar ou depreciar, mas a documentar detalhes dessas instalações que foram aos poucos desaparecendo. Eles também comentam que sempre procuraram registrar estruturas que se encaixam no pensamento industrial, fugindo por exemplo dos castelos, dos prédios românticos e góticos, etc.

    Série de fotos de prédios industriais em preto e branco
    Bernd e Hilla Becher, Pitheads (1974).
    Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

    As fotografias de Bernd e Hilla Becher são um registro documental muito importante do que um mundo foi durante uma época.

    Instalação industrial em preto e branco.
    Bernd e Hilla Becher (1966).
    Descrição: foto de uma antiga estrutura industrial que se assemelha a um guindaste.
    Instalação industrial em preto e branco.
    Bernd e Hilla Becher (1984).
    Descrição: instalação industrial antiga formada de vários tubos.

    Você já conhecia o trabalho dos Becher? Já experimentou fotografar as edificações da sua cidade como eles fizeram? Comente com a gente!

  • Entendendo Flash direto e rebatido

    Entendendo Flash direto e rebatido

    Entenda de uma vez por todas  a diferença entre flash direto e flash rebatido!

    Durante a nossa série sobre os usos do flash, falamos sobre como o flash externo pode ser utilizado para controlar a iluminação sobre cenas, objetos ou pessoas fotografadas, utilizando os controles de potência e zoom. No entanto, as diferenças entre o flash direto e o flash rebatido não foram exploradas de forma clara, motivo pelo qual o #fotografetododia dedica-se a esse assunto.

    Um noivo usando roupa social preta é visto à esquerda, com olhar baixo e um leve sorriso, e uma noiva usando vestido branco, com luvas de renda e véu é vista à direita, com as mãos ao rosto enxugando lágrimas. Ao fundo são  visíveis alguns convidados. 
     Nan Goldin. Cookie and Vittorio’s wedding, New York City,1986

    Usamos o flash para controlar a iluminação da cena que desejamos fotografar, sendo comum usá-lo durante a noite, em momentos como o amanhecer ou entardecer ou mesmo quando há alguma sombra indesejada se formando justo quando queremos fazer aquele registro perfeito. Mas, se você já tentou tirar fotos com o flash embutido de uma câmera digital ou com o flash do seu celular, deve ter ficado insatisfeito com os resultados ou pelo menos estranhado a forma como elas ficaram. Além de em tais fotos o primeiro plano ficar comumente superexposto (“estourado”), ocorre a formação de sombras muito marcadas/ duras.

    Isso acontece porque o flash embutido produz uma luz direta e dura, ou seja, uma luz que incide diretamente naquilo que estamos fotografando, alcançando com mais intensidade objetos e pessoas próximas à ele. Tudo isso acaba deixando muito óbvio que aquela luz presente no registro é artificial e também torna a imagem bidimensional, perdendo-se a noção de profundidade. É por isso que há quem recomende evitar o uso do flash embutido (ou mesmo o flash externo usado de forma direta) para que tais (d)efeitos não ocorram.

    Na foto que abre este texto, da fotógrafa americana Nan Goldin, é visível o uso do flash direto, com essa luz dura e esse resultado bidimensional. A foto, tirada durante o casamento de amigos da fotógrafa, traz um primeiro plano bastante iluminado, onde são visíveis  os dois personagens principais, sendo possível notar a formação de sombras bastante duras, marcadas, logo abaixo das mãos da noiva próximas ao rosto e seus braços, e também abaixo do queixo do noivo. Essas são as características de uma foto feita com um flash direto. Vale dizer que, apesar de tais características serem indesejáveis na maior parte do tempo, constituem marcas de estilo que tornaram a obra de Goldin famosa.

    Uma mulher indiana é vista com vestimenta e joias usadas em cerimônias de casamento típicas. A cabeça está coberta pelo véu e a mão com tatuagens de henna afasta o tecido do rosto. A mulher está de olhos fechados e um leve sorriso.
    Vinod Gajjar, sem título, Ahmedabad, 2019

    Nesta segunda foto, feita pelo fotógrafo Vinod Gajjar de um noiva indiana, é possível que tenha sido usado o flash rebatido. Observando-a, é possível perceber que há uma iluminação sobre a noiva que difere da presente nos cantos da foto e no fundo. Essa luz não possui as sombras duras características do flash direto, ao contrário, as sombras são suaves, o que é possível através do uso de algum difusor de luz, que pode ser alguma superfície clara sobre à qual o flash é direcionado, sendo então rebatido sobre a modelo. Assim, alcançou-se uma iluminação suave e eficiente, ideal para esse tipo de ensaio fotográfico.

    E aí? Entendeu melhor as diferenças entre o flash direto e o flash rebatido? Conta pra gente suas impressões e opiniões aqui nos comentários! E se quiser conhecer mais da obra da Nan Goldin, confere a #galeria dedicada a ela!

  • A revolucionária fotografia de Cidadão Kane

    A revolucionária fotografia de Cidadão Kane

    Cidadão Kane se tornou um marco na história do cinema não somente por sua narrativa inovadora, mas também por suas técnicas de direção de fotografia.

    Cidadão Kane é um filme de 1941 dirigido e estrelado por Orson Welles. O longa teve uma estreia um tanto quanto morna, ele não foi um sucesso de bilheteria e mesmo tendo concorrido a nove categorias do Academy Awards ganhou apenas uma. Porém, hoje, ele é visto como ums dos melhores filmes já feitos na história, tanto pela direção de Welles quanto pela magnífica cinematografia de Gregg Toland.

    Pôster do filme

    O filme se inicia com a morte do protagonista Charles Foster Kane, que em seu último suspiro pronuncia a palavra “rosebud”.  Como ele era um homem muito rico e poderoso, dono de várias empresas e  um magnata da comunicação, os jornais passam a investigar qual seria o significado da última palavra proferida por Charles.

    O brilhantismo do filme se dá tanto por sua narrativa com progressão não linear, quanto pelas técnicas de fotografia empregadas na composição das cenas que não somente trazem beleza as imagens do filme, mas também por serem usadas como ferramentas que contribuem muito para o desenvolvimento da história.

    A utilização de longos planos sequência que dão mais ênfase na interpretação dos atores, ou os enquadramentos em contra-plongée que muitas vezes são usadas para demonstrar a grandeza de Kane são exemplos de técnicas que serviram como base para vários outros filmes. Contudo, o artifício que se sobressai é a grande profundidade de campo. Essa não foi uma técnica inédita no cinema, mas o modo como ela foi aplicada, sim.

    Com uma grande profundidade várias coisas puderam ser feitas de maneira diferente dos padrões cinematográficos da época, como por exemplo o modo como os atores entravam em cena, que costumava ser apenas pelas laterais, agora pode ser feitos de maneiras mais variadas ou os cortes constantes para mostrar elementos diferentes agora não eram mais necessários. Uma cena interessante em que podemos ver a profundidade de campo sendo usada, é quando Kane e sua segunda esposa Susan Alexander estão conversando dentro da grande mansão Xanadu.

     
    Em primeiro plano, vemos Susan olhando para baixo, na frete dela esta Kane sentado em uma enorme cadeira. A distancia entre os dois é enorme, e entre eles existe um sofá.
    Cena com Charles Kane e Susan Alexander conversando na mansão Xanadu

    Nesta cena, a profundidade de campo é utilizada para mostrar vários elementos de uma só vez, ela serve tanto para nos dar noção do quão grande é a mansão, mas também demonstra, de maneira simbólica, que o casal já está se distanciando, e ainda passa ao espectador o sentimento de solidão que encaixa perfeitamente nas emoções do personagem principal, e são cenas como essa que tornam esse filme quase que como obrigatório na repertorio de qualquer cinéfilo, ou apaixonado por fotografia.

    Agora é sua vez de ver o filme e ficar com olhos atentos nesses elementos! E não se esqueça de contar suas impressões sobre o filme para outros fãs de cinema e fotografia no nosso grupo do facebook!

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo PedrosoA revolucionária fotografia de Cidadão Kane. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/a-revolucionaria-fotografia-de-cidadao-kane/>. Publicado em: 28 de agos. de 2020. Acessado em: [informar data].

  • Steve McCurry

    Steve McCurry

    Steve McCurry, fotógrafo que ficou famoso pela National Geographic, possui dezenas de fotos em capas de revistas e livros.

    Steve McCurry nasceu no subúrbio da Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1950. Estudou Artes e Arquitetura na Universidade do Estado da Pensilvânia. No início dos anos 1970, viajou para Índia, onde, aperfeiçoou seu estilo fotográfico. Em 1979 foi para o Afeganistão cobrir o conflito na região.

    Legenda: Steve McCurry em exposição. Hamburgo,2013 – GETTY IMAGES

    Descrição: vemos ao centro da fotografia o próprio fotógrafo Steven McCurry. Do seu lado direito podemos ver a sua fotografia mais famosa, Menina Afegã, e atrás vemos a modelo da foto, em uma fotografia mais recente.

    Em 1984, McCurry estava fotografando em um campo de refugiados no Paquistão, até que uma jovem lhe chamou sua atenção. O retrato da jovem, batizado de “Menina afegã”, apareceu na capa da revista National Geographic, em 1985. A imagem mostra o rosto de Sharbat Gula, uma jovem de apenas 12 anos, que havia perdido seus pais em um bombardeio no Afeganistão.  Seus olhos verdes muito vívidos, olhando diretamente para a câmera fotográfica são marcantes. Esta fotografia tornou-se um símbolo situação dos refugiados, e é uma das imagens mais conhecidas mundialmente. Porém, Sharbat Gula foi muito discriminada por ser fotografada. Já disse em entrevistas que isso trouxe muita vergonha para o marido e filhos e que só após duas décadas teve o conhecimento da fotografia e sua repercussão no mundo. Ao ser revelada para o mundo, violou-se a cultura e a tradição islâmica. Mas, vale ressaltar que, ela também destaca que a foto contribuiu para a criação de um fundo para ajudar no programa de educação para mulheres e crianças afegãs, o que é algo bom.

    Legenda: Afghan Girl – Steve McCurry

    Descrição: Vemos no centro da imagem uma adolescente, com um tecido marrom envolto sobre a sua cabeça. A adolescente possui olhos verdes oliva muito vívidos, que olha diretamente para a lente da câmera.

    Steve McCurry é um dos grandes fotógrafos da história, que na atualidade, ainda continua trabalhando. O que chama atenção no conjunto do seu trabalho é o modo de retratar com tanta humanidade. Os olhos em seus retratos, são sempre marcantes.  Recentemente, esteve envolvido em polêmicas sobre manipulação de imagens. McCurry declarou-se desde então não ser um fotojornalista, mas um contador de histórias visuais.

    Legenda: Linguagem silenciosa das mãos – Steve McCurry

    Descrição: Vemos uma criança com cabelos loiros, olhos verdes e com as mãos em posição militar, olhando diretamente para a lente da câmera. 

    Legenda: Série confiança sagrada , Afeganistão – Steve McCurry

    Descrição: Uma criança com aparência suja do que parece ser fuligem, abraçada a perna de um adulto que veste um macacão amarelo.

    Legenda: Retratos, Brasil – Steve McCurry

    Descrição: vemos uma criança na janela de um carro de aparência antiga na cor azul. A criança olha diretamente para a câmera com um sorriso tímido. Ao fundo vemos um adulto dirigindo.

    Legenda: Série após o escuro. Sicília, Itália – Steve McCurry

    Descrição: Ao centro da imagem vemos uma ruela, e o chão encontramos velas posicionadas em forma de cruz. Ao redor das velas, podemos encontrar flores.

    Legenda: Retratos. Oaxaca, México – Steve McCurry

    Descrição: Vemos um homem no canto esquerdo da fotografia, com o rosto pintado com a tradicional máscara da caveira mexicana da comemoração dos dia dos mortos. Ao fundo,vemos o que parece ser um cemitério, cheio de pessoas levando oferendas aos túmulos.

    Você pode ler sobre uma técnica muito utilizada nas fotografias de Steve McCurry AQUI!

    Nos diga qual sua imagem preferida do fotógrafo, siga nosso Instagram e participe!

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Links, referências e créditos

    FORIN JÚNIOR, Renato. BONI, Paulo César. A globalização da exlusão social por meio da fotografia. Estudos em Jornalismo e Mídia Vol. III No 1 – 1º semestre de 2006.
    Disponível em: Periódicos UFSC
  • Os princípios compositivos em O Grande Hotel Budapeste

    No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.

    No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
    Descrição: Uma luxuosa fachada de hotel.

    Centralização

    Já ensinamos em Regra dos Terços que nem sempre o elemento precisa estar centralizado para receber destaque, porém, Wes Anderson prova que tendo criatividade é possível centralizar tudo e qualquer coisa sem tornar a imagem entediante. Na sua cinematografia, a centralização coopera para um efeito propositalmente exagerado, que faz parte da ideia de um mundo próprio do filme, onde o absurdo é naturalizado, além de realçar a perfeição dos cenários extremamente simétricos.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma rua de uma cidade europeia, há casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Uma rua com casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.

    Simetria

    A simetria, aliás, é outra característica da composição cinematográfica do diretor. É o modo pelo qual o diretor enfatiza os ambientes que em suas obras são sempre parte importante das ações, quase personagens. Na cena abaixo, por exemplo, o personagem Zero está correndo pelo hotel, mas a cena é filmada em plano aberto e centralizada, em vez de seguir o personagem.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra o lobby do hotel. As paredes são de madeira e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que se divide em duas. É um ambiente luxuoso.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Lobby do hotel. As paredes são de mármore e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que, em cima, se divide em dois outros lances de escadas.

    Linhas

    É importante citar que a ênfase à simetria conta com a ajuda das linhas, assunto diversas vezes já abordado no #fotografetododia e que estão presentes por todo o canto no filme.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois personagens dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Dois personagens do filme, um jovem e um homem de meia idade, dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.

    Formas

    Além das linhas, a fotografia do filme brinca bastante com as formas, mas sempre simétricas.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.

    Quadro dentro de quadros

    Uma das maneiras que o filme explora as formas geométricas é através da utilização do framing ou de quadros dentro de quadros. Esse é um recurso que aparece muitas vezes para ajudar a manter o aspecto cômico do filme e, de certa maneira, é uma forma lúdica de transmitir o enredo do filme, que nada mais é do que uma história que nos é contada por um autor, que, por sua vez, a ouviu de outra pessoa. Ou seja, quadro dentro de quadros.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma janela oval com um funcionário olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome "Grand Budapest" está escrito em um letreiro dourado.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Uma janela oval com um funcionário do hotel olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome “Grand Budapest” está escrito em um letreiro dourado.

    Regra dos Terços

    Mesmo prezando pelos personagens e objetos centralizados, nas poucas cenas em que deseja descentralizá-los, o filme utiliza a boa e velha Regra dos Terços. Observe no frame abaixo como Monsieur Gustave (à frente) e Zero (atrás) estão nos pontos de interseção, assim como o nome do hotel. O ambiente, porém, está simétrico e centralizado, se mantendo fiel ao estilo do filme.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais nove está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais novo está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.

    Fundo

    O fato do ambiente ser mantido centralizado expõe uma preocupação de Anderson e da equipe técnica do filme com o plano de fundo. Essa é uma preocupação que deve ser copiada na fotografia. Especialmente na fotografia de pessoas, é um erro comum planejar a composição para o plano principal, deixando os planos interiores de lado. Em todas as cenas do filme o plano de fundo é muito bem planejado.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.

    Ponto de Fuga

    Essa preocupação com o ambiente se traduz em um importante conceito para a construção da profundidade: o ponto de fuga. Observe na cena abaixo como mesmo as laterais do carro parece que convergirão em algum ponto no infinito, passando a ideia de profundidade.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.

    Paleta de Cores

    Outro ponto importante para a fotografia dos filmes de Wes Anderson é a paleta de cores. Sempre muito colorido, seus filmes abusam de cores inusuais para transmitir a ideia de fantasia. Porém, dentro de cada cena as cores seguem um padrão, de forma que o colorido não seja confuso ou irritante. As roupas imitam o padrão de cores do ambiente, determinando dessa forma quem faz parte do lugar e que não faz. Os trabalhadores do hotel e o próprio hotel, por exemplo, apresentam uma coesão.
    Além disso, as cores também ajudam a construir a história. As cores do hotel, que ilustram o seu luxo, servem de padrão para determinar se os outros ambientes também são luxuosos. As cenas na prisão, por exemplo, têm tons cinzentos. Uma brecha para uma sequência afetuosa entre o jovem casal do filme, por sua vez, utiliza tons pastéis, como a imagem abaixo.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem e uma mulher jovens dentro de uma caçamba de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Um homem e uma mulher jovens estão dentro de uma carroceria de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.

    Pontos de Vista

    A comédia encontra espaço em outro elemento de composição: o uso de pontos de vista inusitados. O uso de plongè e contra plongè é bem difuso no filme, geralmente seguindo o ponto de vista de um personagem, ainda que outras vezes antecipe uma surpresa e em outras apenas nos apresente um objeto específico.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.
    Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

    Descrição: Uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.

    Objetiva

    Por último, a fotografia do filme também permite observar a importância da escolha da objetiva para o resultado final. Se o filme não tivesse sido rodado com uma grande angular, seria completamente diferente. O hotel não seria capturado em suas grandes dimensões e também não haveria a pequena distorção que faz os personagens que estão perto da câmera parecerem maiores e, consequentemente, cômicos.
    Assista ao filme e nos conte aqui nos comentários quais os outros princípios que pode ser observados no filme!