Mês: agosto 2020

  • Cores e círculo cromático

    As cores tem o poder de despertar emoções de diversos tipos nas pessoas. Pode causar tristeza, alegria, alívio. O uso pensado de cores na fotografia é capaz de dar diferentes impressões a uma imagem.

    As cores tem o poder de despertar emoções nas pessoas. Podem acalmar ou  até estimular. Cores fortes, por exemplo, atraem a atenção; o vermelho simboliza fogo e perigo; tons frios, como o azul, tem um efeito relaxante. O uso pensado de cores na fotografia é capaz de dar diferentes impressões a uma imagem.

    Uma muro verde, com um outdoor em cima, fazendo propaganda ao novo Ford Torino, de 1974. Em frente ao muro, há um carro como o da propaganda, encostado na calçada, também num tom esverdeado.
    Sem título, c. 1974 | William Eggleston
    Os tons se complementam ou se chocam. A mistura deles não é uma questão de certo e errado, uma vez que a fotografia é uma forma de arte, mas é fato que algumas cores combinam melhor com outras. A título de exemplo, preto e branco são “cores” neutras, que podem combinar com diversas nuanças sem criar um choque cromático. 
    São muitas combinações possíveis. Como saber? Por meio do círculo cromático. Ele é formado por 12 cores: 3 primárias, 3 secundárias e 6 terciárias. As primárias são o amarelo, o azul e o vermelho. As secundárias são o resultado da combinação das primárias, ou seja, verde, púrpura e laranja. As terciárias, por sua vez, são resultado da combinação entre as primárias e as secundárias. Vale ressaltar que cada raio compreende infinitas nuanças de uma mesma cor.
    o círculo cromático com suas doze cores
    Círculo cromático | Autor desconhecido
    William Eggleston é um fotógrafo americano, natural de Memphis, Tennessee. Foi um dos pioneiros da fotografia de cores, considerado por muitos o “pai” desse gênero.
    uma espécie de estabelecimento em construção na cor rosa, com as paredes internas em amarelo. Do lado de fora, o piso tem quadrados pintados em azul.
    Sem título, c. 1983-86 | William Eggleston
    Na foto acima, podemos ver que ele trabalha com a composição de cores. Com base na triangulação, ele combina azul, rosa e amarelo. São tons claros, que passam um sentimento relaxante para quem observa a imagem.
    Que tal praticar? Pegue sua câmera, tente observar as cores do dia-a-dia com mais atenção e pratique! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

    Referências

    • HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia – o Guia Completo Para Todos Os Formatos. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2013.
  • Sobre Fotografia

     É um livro da década de 70 que se encaixa como uma luva nos dias de hoje.

    Susan Sontag foi uma escritora e intelectual norte-americana, nascida em Nova York. Estudou filosofia, teologia e política na Harvard University, EUA, no Saint Anne’s College, Oxford, ambos na Inglaterra, e na Universidade de Paris, além de ter sido uma importante ativista dos direitos humanos. Organizou campanhas a favor de escritores presos ou censurados, e foi presidente de uma organização de escritores pela liberdade de expressão. 
    Nos últimos anos de sua vida, foi uma das opositoras das políticas de George Bush. Sontag publicou romances, ensaios, peças de teatro e coletâneas de contos. Hoje, vamos falar de uma de suas obras mais conhecidas: o livro Sobre Fotografia.
    Uma mulher de meia idade sentada em uma poltrona encara a câmera. O ambiente ao seu redor parece ser de uma sala.
    Susan Sontag (Juan Esteves, 1993).
    Descrição: uma mulher encara a câmera sentada no que parece ser um sofá, passando a impressão de uma foto tirada em casa.
    O livro é uma coletânea de seis ensaios que a autora publicou na década de 70, em que ela reflete sobre a fotografia, e sobre seu desenvolvimento como fenômeno da civilização ao longo dos anos, percorrendo diversos temas. 
    Alguns deles são a banalização do sofrimento, o papel do fotógrafo, a fotografia como arte, a mudança dos objetos da fotografia, o mundo das imagens versus o mundo real, entre diversos  outros. Em 224 páginas a autora consegue explorar inúmeras temáticas. Cada ensaio do livro pode ser usado para diversas discussões. 
    Uma capa de livro cinza, com uma foto em preto e branco no centro de um homem e uma mulher segurando o que parece ser uma câmera antiga. Abaixo da foto está o título do livro e o nome da autora. Mais embaixo está a logo da editora que publicou o livro.
    Capa do Livro, Companhia das Letras.
    Descrição: capa do livro mostra uma foto com um casal segurando um retrato antigo.
    E apesar dessa prolixidade, Sontag não torna o livro impossível de ler. A linguagem é fluida e clara, com inúmeras referências a outros fotógrafos, a livros e filmes. Aliás, é melhor ler o livro com o Google ao lado. E talvez com um bloco de notas. As interpretações que a escritora traz à obras como Montanha Mágica, Carta para Jane e Janela Indiscreta me fizeram querer ler e rever tudo.
    O que mais me impressionou ao ler o livro é o quanto ele soa atual. Publicado em 1977 por uma autora que morreu em 2004, Sobre Fotografia se encaixa perfeitamente na nossa sociedade atual, em que consumimos milhares de imagens por dia, por exemplo no Instagram, nos fazendo refletir sobre qual papel a fotografia assumiu em nossas vidas. Por que nossas viagens parecem mais reais ao serem fotografadas? Por que nos incomodamos quando uma foto não revela a nossa melhor aparência? 
    Sobre Fotografia, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, é um livro absolutamente indispensável para os amantes da fotografia. Provocativo, instigante e reflexivo, e me fez querer ler tudo que Susan Sontag escreveu, até sua lista de compras do supermercado. E se você ainda está na dúvida sobre ler o livro ou não, recomendo este vídeo aqui. Talvez desperte sua curiosidade.
    Vocês já leram Sobre a Fotografia? O que achou? Compartilhe suas impressões com a gente nos comentários e no grupo do Facebook!
  • Alberto Korda

    Alberto Korda

    Conheça mais do fotógrafo consagrado por seu icônico retrato de Che Guevara na #galeria dessa semana!
     

     

    É bastante provável que você já tenha visto a foto que estampa a chamada desta #galeria por aí, em algum folheto, bandeira, pichação, camiseta, adesivo… O retrato de Che Guevara, tirado quase por acaso no dia 5 de março de 1960, durante uma cerimônia em memória às vítimas da explosão de um barco que levava armamentos para a Revolução Cubana, enquanto Korda fazia fotografias para o jornal Revolución. A imagem só se tornou um “viral” em 1968, após o assassinato de Guevara. Foi quando o editor italiano Giacomo Feltrinelli a transformou em cartazes distribuídos pelas ruas européias. 

    Alberto Korda é visto segurando uma câmera Nikon com as mãos, com o olhar fixado na lente que o fotografa. Veste blusa de botões e um relógio no pulso esquerdo. Olheiras embaixo dos olhos, rugas em sua testa, cabelos ralos e barba grisalha indicam sua idade já avançada. O fotógrafo tem a sobrancelha direita arqueada.
    Autor Desconhecido. Retrato de Alberto Korda

    Lembrado hoje como o responsável por aquela que é possivelmente a foto mais reproduzida da história, Alberto Korda nasceu em Havana, capital de Cuba, em 1928, e começou a trabalhar com fotografia fazendo registros de casamentos, aniversários e batizados. Não escondeu o fato de ter começado a trabalhar com fotografia de moda e publicidade para conhecer mulheres bonitas. Na verdade, o plano parece ter dado certo já que foi casado com uma modelo. Mas foi após se deparar com uma menina pobre fazendo de um pedaço de madeira a sua boneca que decidiu se aliar à ideologia socialista que dizia lutar contra aquele tipo de desigualdade, tornando-se o fotógrafo pessoal de Fidel Castro.  Trabalhando para o então presidente de Cuba, Korda buscou mostrá-lo em momentos de intimidade e simpatia, humanizando-o e assim, buscando desconstruir a imagem autoritária que o líder tinha nos demais países.

    A modelo Norka é vista ao lado esquerdo da imagem, voltada para o lado direito, com a coluna jogada para trás e o olhar baixo acompanhando a inclinação do pescoço. Seu vestido é de renda branca. No cenário há uma bancada escura com dois jarros de vidro sobre ela e ao fundo, uma parede de tijolos brancos com um candelabro fixado.
    Alberto Korda. Norka, 1956
    Uma mulher usando vestido preto com bolinhas brancas, brincos e luvas brancas aparece segurando um cigarro com os dedos da mão direita. Está soprando fumaça pela boca e seu olhar, com ares de desafio, está voltado para baixo, encara a roleta de um jogo de azar. À sua frente é mostrado, parcialmente e à esquerda da imagem, um homem trajando terno e a encarando. Ao fundo, outro homem trajando terno observa ambos. É possível ver que há outras pessoas no ambiente e um lustre pendendo do teto do local.
    Alberto Korda. Capa do ‘Diario de la Marina’. 1958.
    Uma menina é vista segurando um pedaço de madeira como se fosse uma boneca.Seu vestido é simples e tanto o pano quanto seu rosto aparecem sujos. A menina encara a câmera com expressão triste e é possível ver lágrimas em seus olhos.
    Alberto Korda. A Menina com a Boneca de Madeira, 1958
    Um homem com roupas simples e chapéu é visto sentado no topo de um poste de luz. Abaixo dele há uma aglomeração de pessoas que comemoram o aniversário da Revolução Cubana.
    Alberto Korda. El Quijote de La Farola, 26 de julho de 1959
    Fidel Castro é visto usando camisa de botão, casaco e boné olhando para uma criança em um carrinho de bebê. Uma mulher é vista parcialmente à esquerda da imagem sorrindo e segurando o carrinho e outras pessoas são vistas no ambiente, dentre as quais um policial sorrindo enquanto olha Fidel Castro. A cena se passa no Central Park na cidade de Nova York.
    Alberto Korda. No Zoológico no Bronx , New York. 24 de Abril de 1959.
    Descrição: Fidel Castro é visto sorridente em uma sala com várias mulheres, estrelas da rádio em Nova York.
    Alberto Korda. Fidel Castro e as rainhas da rádio em Nova York. 22 de Abril de 1959
    Fidel Castro é visto discursando em um ponto elevado de um salão em forma de cúpula. À sua frente e ao redor há diversas pessoas, majoritariamente homens.
    Alberto Korda. Fidel Castro discursando no Central Park, New York. 24 de Abril de 1959
    Homens e mulheres são vistos em uma rua protestando contra a visita de Fidel Castro nos Estados Unidos. Seguram cartazes onde lê-se, em tradução livre: "Nós não gostamos de barbas / Barbeiros da América" e "Fidel Castro está traindo o povo de Cuba para Moscou!"
    Alberto Korda. Protestando contra a visita de Fidel Castro aos E.U.A, Washington. 16 de Abril de 1959.
    Homens e mulheres são vistos em uma rua segurando bandeiras da República Dominicana indicando sua nacionalidade. Trata-se de um ato de apoio à visita de Fidel Castro aos Estados Unidos.
    Alberto Korda. Dominicanos exilados apoiando a visita de Fidel Castro aos E.U.A, Washington. 16 de Abril de 1959.
    Manifestantes pró-cuba são vistos em uma rua. O ângulo indica que a imagem foi tirado de um ponto alto e provavelmente distante. É possível ver a multidão concentrada na parte superior da imagem enquanto na inferior há policiais. Um dos quais está com os braços estendidos e traz um bastão na mão direita, provavelmente tentando conter os manifestantes.
    Alberto Korda. Manifestantes pró-Cuba no Harlem, Nova York. Setembro de 1960.
    Che Guevara é visto contra um fundo branco usando um casaco e sua boina tradicional com os cabelos compridos e bagunçados surgindo debaixo dela. Seu olhar está voltado ao horizonte ao lado esquerdo na imagem. É possível ver um outro homem de perfil parcialmente ao lado esquerdo da imagem e uma planta ao lado direito.
    Alberto Korda. El Guerrillero Heroico (versão sem corte). 1960.
    Uma garota é vista em posição militar, vestindo camisa e boina segurando um rifle com a mão esquerda. Seu olhar está voltado para o lado direito da imagem e sua expressão é séria.
    Alberto Korda. A Miliciana. 1962.

    Gostou da #galeria dessa semana? Diz pra gente qual fase dos trabalhos de Alberto Korda você gostou mais lá no nosso grupo de discussão no Facebook!

    Referências:

    PALMA, Tiago. Como foi tirada a icónica (e influente) foto de Che Guevara. Observador, Lisboa, 09 de 0ut. de 2017. Disponível em <https://observador.pt/2017/10/09/como-foi-tirada-a-iconica-e-influente-foto-de-che-guevara/>. Acesso em: 28 de abr. de 2020

    Links:

    Conheça mais do fotógrafo consagrado por seu icônico retrato de Che Guevara na #galeria dessa semana!

    (mais…)

  • Linhas

    Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.


    Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.

    Fotografia em preto e branco tirada do sexto andar em que se pode visualizar as escadas rolantes de todos os andares abaixo. Cada andar possui um par de escadas, cada uma de um lado, exceto pelo térreo em que as escadas ficam juntas no centro do local.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escadas Rolantes


    Na fotografia, as linhas se apresentam como o contorno das formas; uma divisão entre duas partes da fotografia (como a linha do horizonte); ou a linha imaginária representada pelo caminho entre dois ou mais elementos da foto. As linhas podem ser retas ou curvas; verticais, horizontais ou diagonais. Na fotografia do Cristiano Mascaro, abaixo, as prateleiras, os livros, o chão, o corrimão e o teto são exemplos da utilização das linhas na fotografia. Neste caso, as linhas verticais, o contorno dos livros, transmitem a fartura das estantes e as linhas diagonais, prateleiras e corrimão, levam o olhar do leitor à estante do fundo.

    Fotografia em preto e branco de uma biblioteca. Há uma estante de cada lado, elas ficam de frente uma para outra e ambas estão cheias de livros. O chão e o teto possuem um trilho e no meio da cena há dois corrimões. As estantes e os corrimões formam linhas que apontam para o fundo da biblioteca, espaço cuja a perspectiva faz parecer menor.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – A Biblioteca da Faculdade de Direito
    De modo geral, as linhas são um direcionamento dentro da fotografia que enfatizam a profundidade e tamanho do objeto fotografado e provocam a sensação de divisão entre os elementos. Alguns elementos da paisagem possuem linhas naturais que ajudam a compor a imagem, como construções arquitetônicas e seus componentes, além de estradas, montanhas, a linha do horizonte, etc. Escadas são um exemplo de elemento cotidiano formado por diversas linhas. Tente fotografá-las de forma que o caminho dos degraus seja também o caminho dos olhos do leitor, como na fotografia a seguir, em que nossos olhos perfazem a espiral.
    Fotografia em preto e branco de uma escada em espiral que desce por uma parede arredonda com painéis retangulares.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escada do Edifício Esther

    A linha, como recurso, também pode ser utilizada para criar divisão na cena. Deixar um espaço no meio da cena, entre duas pessoas ou dois objetos, cria uma linha imaginária, o que pode ser um artifício para estabelecer uma divisória, indicando, por exemplo, divergência entre esses dois elementos.

    Para acentuar a direção das linhas e obter todo o potencial de composição delas, combine a orientação da fotografia e a direção das linhas. Utilize a orientação horizontal para enfatizar linhas horizontais e a orientação vertical para realçar as linhas verticais. No caso de elementos verticais, como prédios, a orientação vertical também faz com que pareçam maiores.

    Fotografia em preto e branco e uma parte do Edifício Copan. A proximidade das linhas curvas do monumento faz a imagem parecer uma obra de artes abstrata.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Detalhe do Copan

    Para construir uma boa composição de linhas, você pode se inspirar nas fotografias de Cristiano Mascaro, o fotógrafo que ilustra este post. Cristiano é um fotógrafo paulista. Ele foi repórter fotográfico na Revista Veja em 1960, mas atualmente se considera fotógrafo independente e se dedica a projetos pessoais. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, as construções citadinas são o principal tema das obras de Cristiano, exaltando as paisagens urbanas. E, como podemos notar, ele sabe muito bem enfatizar as linhas das construções de São Paulo para compor suas fotografias. Para saber mais sobre Cristiano, acesse o seu site.

    Bora treinar! Utilize as linhas da paisagem ao seu redor para fazer fotografias que enfatizem a profundidade dos objetos ou acentuem as suas proporções. Depois, utilize as mesmas linhas para fazer fotografias que guiem o olhar do leitor.



    Referências

    • Blog Emania
    • ELLEN, Lupton; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
    • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.