Ano: 2020

  • A Fotografia tridimensional Estereoscópica

     Você já ouviu falar em Estereoscopia? Se não, convido você a conhecer a primeira técnica utilizada para se obter fotografias tridimensionais. 

    Charrete florida, Marc Ferrez,  1912, Instituto Moreira Salles

    A fotografia estereoscópica foi desenvolvida em 1849, pelo inglês  David Brewster (1781-1868) a partir das pesquisas sobre visão binocular, realizadas por Giovanni Battista della Porta e Leonardo da Vinci. Em 1851 Brewster, apresenta o invento  à Rainha Vitória na Exposição Universal de Londres e após aceitação, a estereoscópica passa a ser comercializada.  
    Por décadas, a estereoscópica foi o modo mais importante para se lidar com fotografias. Ela constitui-se sendo pares de imagens que mostram uma mesma cena que, quando vistas juntas, em um visor binocular, o estereoscópio, produzem a ilusão de que a imagem é tridimensional. 
    Nesta época, esse tipo de efeito era obtido porque as fotos eram registradas simultaneamente com uma câmera de objetivas gêmeas, que tinham os centros das lentes separados entre si em uma distância de aproximadamente 6,3 centímetros, espaço médio que separa os olhos humanos. 
    A credibilidade na objetividade da foto estereoscópica gerou um alto impulso no trabalho de documentais. O alto consumo de vistas sustentava a excitação dos amantes de paisagens, cenas urbanas e grandes construções. Um fato interessante, é também o volumoso consumo de pornografia nas salas de visita das famílias burguesas. 
    No Brasil, o carioca Marc Ferrez (1843-1923), desempenhou um importante papel na experimentação da fotografia estereoscópica, ele dedicou-se à fotografia estereoscópica em cores. 
    Jardim Botânico – bambu, Marc Ferrez, 1912. Instituto Moreira Salles. 

    Em 1912, o fotógrafo Marc Ferrez faz alguns registros estereoscópicos em cores, no Rio de Janeiro, nesses registros ele refez algumas fotografias de paisagens, monumentos e edificações. 
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    Referências

  • Uma Câmera Muito Incomum (Além da Imaginação T02XE10)

     A câmera como um objeto mágico em uma crítica à ganância humana.

    Um casal de ladrões rouba uma loja de antiguidades e, entre falsos castiçais do Luís XIV e falsos vasos da dinastia Ming, um único artefato se mostra de valor: uma câmera Polaroid antiga cujas fotos mostram o futuro imediato, mais especificamente cinco minutos a frente. O enredo pertence ao episódio 10 da segunda temporada de “Twilight Zone”, série antológica que foi ao ar entre 1959 e 1964, veiculada aqui no Brasil com o título “Além da Imaginação”. A série foi uma das primeiras a utilizar a ficção científica, a fantasia e o terror como metáfora para questões sociais e crítica moral, por meio de episódios que sempre tinham uma reviravolta. Ou seja, essa série é muito “Black Mirror”, ou melhor, “Black Mirror” é muito “Twilight Zone”.

    The Twilight Zone T02E10 – A Most Unusual Camera

    Entre os objetos de crítica da série, a evolução da tecnologia parece ser a maior fonte de desconfiança quanto a ser uma ameaça à democracia e às relações sociais, atributo comum em narrativas a partir da metade do século XX, especialmente no contexto de corrida espacial. O episódio não é exatamente reflexo dessa desconfiança tecnológica, mas, ao utilizar a tecnologia como uma ferramenta da ganância humana, a câmera, como tantos outros aparatos tecnológicos exibidos na série, é concebida, não como um elemento cotidiano, mas como algo exótico e cujo funcionamento é praticamente autônomo. Nesse quesito, percebe-se que não é à toa que o episódio se chama “A Most Unusual Camera” (Uma Câmera muito Incomum), já que a câmera em questão subverte toda a lógica conhecida sobre o processo fotográfico de registrar em uma superfície fotossensível a imagem resultante da luz sobre os corpos.

    The Twilight Zone T02E10 – A Most Unusual Camera

    Bom, depois de descobrir o potencial da câmera, o casal de ladrões junto com o irmão da mulher, fugido da prisão, dão a ela uma função que condiz com a condição criminosa dos personagens: eles passam a tirar fotos do placar em corridas de cavalo, antes da corrida, apostando sempre no cavalo ganhador. Após descobrirem que a câmera possui uma inscrição em francês que diz “Dix a la Propriétaire”, que significa “dez ao proprietário”, indicando que a câmera só tira dez fotografias, é desencadeada uma briga pela posse do aparato (e do dinheiro conseguido com o seu uso) que leva o episódio a terminar com todos os personagens mortos. Acredito que hoje em dia, as narrativas que utilizam a câmera como o motor de tragédias já estejam saturadas. Além de fotografias que mostram o futuro, posso citar também as que mostram fantasmas, as que mostram a morte do fotografado, as que condenam o fotografado à uma série de infortúnios ou mesmo à morte. Porém, a melhor parte de assistir a esse episódio é conseguir reconhecer quantas dessas histórias se inspiraram na série. A série, aliás, é origem de várias referências comuns da cultura pop.

    Além disso, a despeito da saturação da utilização da fantasia em torno da câmera, acho que essa maneira de representar a fotografia é, na verdade, muito realista. Os aborígenes estadunidenses, por exemplo, acreditavam que a fotografia podia roubar as suas almas. Em outro momento da história da fotografia, houve tentativas de se obter uma fotografia da alma, influenciadas tanto por razões científicas quanto religiosas. Alguns manuais até ensinavam a fotografar a alma, alguns fotógrafos clamavam ter realizado o feito, mas, de maneira geral, essas fotografias se tratavam de efeitos de dupla exposição, superexposição ou do movimento em uma fotografia com uma velocidade muito longa.

    The Twilight Zone T02E10 – A Most Unusual Camera
    O episódio, como tantos outros da série, é bobo, com atuações exageradas e personagens com objetivos que não são sustentados pelo enredo, mas, discussões sobre a significação social da fotografia podem ser feitos a partir dele. Em determinado momento, os personagens estão decidindo o que deveriam fazer com a câmera e um deles tem a ideia de doar para ser utilizada por cientistas. Nas palavras dele: “Agora achamos algo que poderia fazer algo bom para alguém. A ciência poderia usá-la.” Em seguida, contudo, o personagem nota uma corrida de cavalos sendo transmitida na televisão e decide utilizar a máquina para ganhar dinheiro. A cena me remeteu a dualidade dos usos da fotografia, que além de arte e rito social, é também utilizada em pesquisas científicas, como documento, como um facilitador da burocracia, etc.
    Por esses motivos eu recomendo o episódio e a série, não obstante vários episódios com enredos superficiais, os diálogos fracos e as situações ridículas causadas pela falta de meios de realizarem os efeitos que as cenas requeriam. Considere o ato de assistir à série como um contrato em que todos os termos, históricos e relativos ao caráter ficcional, precisam ser aceitos para que seja aceitável. Se você já assistiu, deixe as suas opiniões aqui nos comentários.
  • Andy Warhol

    Andy Warhol

    A primeira vez em que ouvi falar de Andy Warhol foi ao ler um livro sobre a cidade de Nova York quando eu tinha 11 anos de idade. Desde então, minha paixão e interesse pela arte vem sido alimentada ano após ano, obra após obra, imagem após imagem. Nascido com o nome Andrew Warhola, na cidade de Pittsburgh nos Estados Unidos, Warhol graduou-se em Belas Artes e tornou-se conhecido como um dos principais nomes do movimento pop art, uma vanguarda artística surgida na década de 60 com o propósito de retratar a cultura norte-americana na época, seguindo a lógica de produção em massa, como na famosa série de quadros representando a lata de sopa Campbell’s.

    Autorretrato de Andy Warhol. Ele olha diretamente para a câmera, usa blusa de gola alta preta e sua famosa peruca platinada. O fundo é escuro e nulo. 
    Andy Warhol. Self-Portrait in Fright Wig, 1986

    Além de ser um pintor e ilustrador –  e uma celebridade de sua época – , Warhol também experimentou com o cinema e a fotografia. Na verdade, ele andava constantemente com uma câmera consigo para fotografar elementos de sua vida cotidiana e assim, criar um “diário visual” que o auxiliava na hora de criar suas telas. Apesar de não ter feito fama a partir da fotografia, realizou uma grande quantidade de Polaroids, principalmente retratos de famosos da década de 70. 

    Retrato do ator Sylvester Stallone. Ele está olhando diretamente para a câmera, sem camisa, com um pingente no pescoço e com o punho esquerdo fechado sobre a bochecha do mesmo lado. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol, Sylvester Stallone
    Retrato da cantora Debbie Harry, vocalista da banda Blondie. Ela olha diretamente para a câmera; usa batom vermelho e seu colo é visto nu. O fundo é claro e nulo. 
    Andy Warhol. Debbie Harry, 1980
    Retrato da atriz Jane Fonda. Ela é vista de perfil, olhando para a câmera, maquiada e com cabelos esvoaçantes. O fundo é claro e nulo. 
    Andy Warhol. Jane Fonda, 1982
    Retrato do artista Jean-Michel Basquiat. Ele olha diretamente para a câmera; usa terno e gravata e seus cabelos formam dreads em formas quase geométricas ao redor de sua  cabeça. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. Jean-Michel Basquiat, 1982
    Retrato de um indígena americano. Ele está de perfil, olhando para a câmera. Usa roupas e adereços  típicos, com os cabelos em tranças com tiras de couro. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. The American Indian (Russell Means), 1976
    Retrato da cantora e atriz Liza Minelli. Ela olha diretamente para a câmera, usa maquiagem forte e uma camiseta amarela onde está escrito New York City. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. Liza Minnelli, 1977
    Retrato do cantor, músico e compositor John Lennon, conhecido por ter feito parte da banda The Beatles. Ele olha diretamente para a câmera, usa camisa branca e seus óculos de lentes amarelas. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. John Lennon, 1971
     
    Retrato do cantor, músico e compositor Mick Jagger, vocalista da banda Rolling Stones. Ele é visto de perfil, com os olhos fechados e a língua para fora. Usa camisa azul. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. Mick Jagger, 1977
     
    Fotografia de seis bananas sobre fundo claro. Possivelmente, um arquivo para criação da capa do disco de estreia da banda The Velvet Underground, assinada por Warhol, em que é visto o desenho de uma banana.  
    Andy Warhol. Still Life Polaroids – 1977-1983
     
    Fotografia de uma lata de molho de tomate. Uma das fotografias da vida cotidiana que Warhol usava como base para a criação de suas telas. 
    Andy Warhol. Still Life Polaroids – 1977-1983
    Retrato de um dorso masculino nu de perfil. O fundo é claro e nulo.
    Andy Warhol. Nude Model
    Autorretrato de Warhol. Ele é visto de perfil, olhando para a câmera. Aparece de colo nu e o rosto maquiado com um forte batom vermelho, sombra azul nas pálpebras e blush nos cantos das bochechas. O fundo é claro e nulo.  
    Andy Warhol. Self-Portrait in Drag. 1981

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  • Parasita

    Parasita

    Vencedor de melhor filme do Oscar em 2020, não só apresenta uma narrativa ímpar como também uma direção de fotografia excelente.

    É um filme de suspense e drama sul-coreano de 2019 com direção de Bong Joon-ho e cinematografia de Kyung-pyo Hong. Parasita foi uma das grandes surpresas do Oscar 2020, ninguém esperava que um filme não falado em inglês pudesse ganhar a principal premiação, mas ele superou todas as expectativas e além do prêmio de melhor filme também ganhou como melhor diretor, roteiro original e filme internacional.

    No poster podemos ver vários personagens do filme parados em um gramado na frente de uma casa. Todas as pessoas estão com tarjas pretas no rosto.
    Pôster do Filme

    O filme  retrata a vida precária da família Kim que é composta por quatro integrantes. O pai (Ki-taek), a mãe (Chung-Sook), a filha (Ki-Jung) e o filho (Ki-Woo). Eles vivem em uma espécie de porão muito sujo e apertado e enfrentam problemas financeiros já que todos estão desempregados. A história começa a se desenrolar quando, por uma indicação de um  amigo, Ki-Woo começa a dar aulas de inglês para a filha dos Park, uma família de classe alta. Encantados com a luxuosa vida deles, os Kim pensam em um plano para entrar no âmbito familiar da rica família, e ao decorrer do filme, todos eles conseguem um espaço ao redor da família burguesa.

    O filme carrega uma forte crítica ao gigantesco abismo social que há entre as parcelas mais ricas e mais pobres da sociedade, que é percebida durante toda a narrativa. A direção cria metáforas visuais que completam a mensagem transmitida pelo roteiro. A começar pelo usa das linhas, que aparecem sempre entre os personagens mais ricos e mais pobres para simbolizar a segregação que ocorre entre eles e como eles parecem não pertencer ao mesmo lugar. Outro artifício fotográfico é a variação dos ângulos da câmera. Os Kim quase sempre aparecem em plongée enquanto os Parks aparecem em contra plongée.

    A iluminação também desempenha um papel importante nas metáforas visuais. A casa dos Kim sempre está como pouca iluminação, as cenas que se passam lá sempre são cheias de sombras, já a dos Park sempre está bem iluminada, e o diretor fez questão de gravar todas as cenas diurnas na casa com iluminação natural, já que a luz do sol é citada na história como um fator motivante para a família dos Kim.

    a cena vemos a Sra Park segurando uma cachorro enquanto fala com KI-Woo, que está de costas para a câmera. 
    Cena do Filme

    Nessa cena podemos ver a importância da luz do sol na narrativa, quando Ki-Woo entra na casa dos Park pela primeira vez a câmera o acompanha subindo as escadas em contraluz, e com isso podemos perceber a enorme incidência de luz no lugar.

    Na cena vemos a Sra Park segurando uma cachorro enquanto fala com KI-Woo, que está de costas para a câmera. 
    Cena do Filme

    Já nessa cena vemos claramente a alça da geladeira formando uma linha imaginária separando Ki-Woo de sua chefe.

    Na cena vemos o pai Ki-Teak olhando por uma janela que fica no mesmo nível que a rua.
    Cena do Filme

    E aqui podemos ver o ângulo da câmera em plongée, que diminui o personagem, e o efeito ainda é maximizado já que ele está abaixo do nível do chão.

    Parasita é um filme excelente que leva o espectador a refletir sobre o funcionamento da sociedade em que vivemos. Ele consegue prender muito bem a atenção, faz você torcer contra ou a favor dos personagens de uma maneira brilhante do início ao fim o filme surpreende seja pela bela fotografia, ou pela história cheia de plot twists.

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    HELENA, Beatriz. Parasita. Cultura Fotográfica. Publicado em: 18 de dez. de 2021. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/parasita/. Acessado em: [informar data].

  • Marc Ferrez

    Marc Ferrez

    Marc Ferrez foi um grande responsável por criar a identidade visual brasileira de sua época, tendo retratado desde paisagens a celebridades de sua época.

    Marc Ferrez nasceu em sete de dezembro de 1843, aos sete anos de idade seus pais morreram e ele se mudou para Paris, onde morou com a família do escultor e gravador de medalhas Joseph Eugène Dubois. Foi lá onde ele provavelmente teve seus primeiros contatos com a fotografia e começou a estudar a seu respeito. Em 1860 retorna ao Brasil e se estabeleceu como fotógrafo.

    Na foto vemos Marc Ferrez com os cabelos penteados para trás e uma longa barba. Ele está vestido com um terno  preto e uma gravata borboleta.
    Marc Ferrez, autorretrato, 1876

    Durante o período que passou na França, Ferrez teve contato com as mais novas tecnologias de fotografia, como por exemplo o flash de magnésio e as placas secas coloridas dos irmão Lumiere. Mas seus esforços foram concentrados principalmente na técnica de fotografia panorâmica, que lhe rendeu uma medalha de ouro na Exposição Universal da Filadélfia do ano de 1876, quando ele apresentou uma fotografia panorâmica da cidade do Rio de Janeiro.

    Suas fotos foram importantes para criar a identidade visual do Brasil de sua época. Ele fotografou a modernização da cidade do Rio de Janeiro, retratou pessoas importantes, como o Imperador D. Pedro II e sua família, além de ter sido o primeiro a fotografar os indígenas Bororos quando fez parte da Comissão Geológica e Geográfica que percorreu o Brasil de Norte a sul. 

    Na foto vemos uma criança indígena, se vestindo com roupas típicas de seu povo. Ela usa adornos de penas na cabeça e nos braços, e em seu pescoço estão vários colares.
    Marc Ferrez Menino Índio, c. 1880
    A foto mostra vários navios ancorados no porto. Suas velas estão recolhidas e os mastros são refletidos na água, que está muito calma.
    Marc Ferrez, Porto de Santos, 1880
    Um homem de chapéu está ajoelhado olhando para baixo, atrás dele vemos uma baía, a água do mar parece estar calma e na outra margem pode-se ver a cidade de Recife.
    Marc Ferrez Charles F. Hartt, com a cidade do Recife ao fundo, durante levantamento da Comissão Geológica do Império Recife – PE – Brasil – 1875
    Várias pessoas trajando roupas finas, como ternos e vestido, posam para a foto, alguns estão em pé outros sentados alguns olham para a cãmera e outros não, atrás deles vemos várias plantas de diferentes espécies.
    Marc Ferrez, Imperatriz Teresa Cristina e o Imperador Dom Pedro 2°  com a princesa Isabel e a família no Paço Imperial, 1887
    Podemos ver a cidade do Rio de Janeiro de uma posição muito elevada. Mais ao loje se destaca o Pão de Açúcar, famoso cartão postal da cidade
    Marc Ferrez, Panorama da Cidade do Rio de Janeiro, 1885

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  • Formas geométricas

    Prestar atenção nas formas geométricas ao seu redor para compor uma foto pode render registros com uma estética muito interessante.

    Existem vários elementos que você pode explorar na composição das suas fotos para atrair o olhar, como cor e textura. Quadrados, círculos e triângulos podem ser enxergados facilmente em janelas, portas e também podem ser criadas, por exemplo, com o jogo de luz e sombra. Essas formas geométricas são um elemento simples e podem te ajudar a criar fotos com uma estética diferente, por mais de uma razão.
    Elas passam a sensação de uma fotografia calculada e organizada, justamente por serem muito reconhecíveis. Dependendo de como você as posiciona, formas geométricas também podem criar uma simetria na fotografia, que pode gerar um estranhamento e, consequentemente, um interesse de quem vê. E caso você encontre diversas formas iguais, como, por exemplo as várias janelas de um prédio, pode ser criado um padrão na sua foto.
    Embora sejam dicas simples, o resultado pode ser fotos esteticamente atraentes e que fogem de um lugar-comum. O filme “Grande Hotel Budapeste” é um exemplo que usa muitas formas geométricas e simetria perfeita em seus enquadramentos, o que o faz ter um visual particular e muito chamativo.
    Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
    Descrição: foto em preto de branco do que parece ser uma ponte, com uma rua centralidade e estruturas de ferro dos dois lados. Identificamos na arquitetura formas de retângulos e um meio círculo. 
    Kai Ziehl é um fotógrafo alemão que explora o ambiente urbano em fotografias em preto e branco, realçando a arquitetura desses locais. Como dito em sua biografia do Instagram, a fotografia de Ziehl transforma a frieza da paisagem urbana em algo significativo e expressivo. Suas fotografias quase sempre realçam formas geométricas na composição.
    Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
    Descrição: foto em preto e branco de um lugar em que a parede do fundo é de vidro, e através dela vemos alguns prédios e plantas na entrada. Também há uma pessoas em frente a essa parece, de costas para a câmera. Identificamos quadrados e retângulos na composição.
    A foto acima é um exemplo de como usar formas geométricas cria uma estética atraente. O padrão quadrado das janelas chama o olhar e ajudou criar uma simetria quase perfeita, quebrada apenas pela presença de uma mulher e seu reflexo à esquerda, o que também ajuda a destacar essa pessoa. Esses elementos fizeram com que a foto tenha uma aparência quase abstrata, mesmo que o objeto fotografado seja simples e até banal.
    Explore as formas geométricas ao fotografar e comente sua experiência conosco. Se você gostou do nosso conteúdo nos siga no Instagram e assine a newsletter para receber uma seleção de textos temática em seu email todo mês.

    Links, Referências e Créditos

     

  • Aurora (1927)

    Aurora é um exemplo de que uma bela composição fotográfica não salva o enredo.

    Aurora é um exemplo de que uma bela composição fotográfica não salva o enredo.


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  • Numa janela do edifício Prestes Maia 911

     

    Em um de seus ensaios mais premiados, Bittencourt nos apresenta o cotidiano de pessoas marginalizadas na cidade de São Paulo.

    Julio Bittencourt é um fotógrafo brasileiro que nasceu em 1980, na cidade de São Paulo. Como fotojornalista, teve trabalhos que apareceram em revistas e jornais como The Guardian e The New Yorker. Ele também publicou três livros: Ramos, Dead Sea e, o projeto que abordaremos nesta postagem, Numa Janela do Edifício Prestes Maia 911.
    Legenda: Retrato de Julio Bittencourt, Nereu Jr. (2011)
    Descrição: retrato do fotógrafo sobre o qual o texto fala, sorrindo para a câmera.
    O edifício Prestes Maia era um dos muitos imóveis vazios na cidade de São Paulo. Antiga sede da Companhia Nacional de Tecidos, com diversos problemas estruturais, o prédio foi ocupado por movimentos sociais de luta por moradia, chegando a abrigar mais de 400 famílias.
    Entre 2005 e 2008 o fotógrafo registrou diversos moradores do Edifício Prestes Maia através de suas janelas, em cenas cotidianas ou em momentos de intimidade. Essas fotos foram reunidas no livro Numa janela do Edifício Prestes Maia 911 publicado no Brasil em 2008 pela editora DBA.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: vemos através de uma janela um casal encarando a câmera, e ao lado um beliche com uma criança deitada.
    O interesse do fotógrafo por janelas já vinha desde a infância, ao observar as pessoas do prédio onde vivia se comunicando pelas janelas. As fotografias mostram a relação que essas pessoas criam com o seu entorno. Em algumas fotos vemos vasos de flor que elas colocam para decorar a janela. Em outras vemos atitudes cotidianas, como um homem que aparece sem camisa, como se tivesse acabado de acordar, ou então vemos a relação entre os moradores, como na foto em que um homem abraça uma mulher grávida, mostrando uma relação de carinho, de afetuosidade.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: através da janela vemos um homem abraçando a barriga de uma mulher grávida em um gesto de carinho.
    Embora a descrição possa dar a entender isso, o projeto não passa uma sensação voyeurística, de espiar a vida alheia por prazer, mas de interesse genuíno pelas pessoas e pelas relações entre elas e o local em que vivem. As fotos misturam a delicadeza e a simplicidade do cotidiano e da vida dos moradores com a crueza e a falta de estrutura do ambiente em que elas vivem.
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: uma mulher joga em plantas que estão em baixo da janela.
    É um projeto fascinante, combinando fotos lindas de um ponto de vista estético, com uma temática muito importante, a precariedade dos edifícios invadidos devido à falta de moradia nos grandes centros urbanos, nos fazendo refletir sobre a vida de pessoas desabrigadas nas grandes metrópoles. 
    Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
    Descrição: um homem sem camisa aparece na janela abrindo a cortina, como se tivesse acabado de acordar.
    Além desse livro, Julio Bittencourt tem várias séries interessantes, como a série Tokyo Subway, fotos de um metrô japonês. Para ver mais, confira o site do fotógrafo aqui.
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    Links, Referências e Créditos

  • Sensores Digitais

    Sensores Digitais

    Hoje, graças ao sensores digitais, podemos armazenar e compartilhar imagens com muito mais facilidade, por isso vale a pena saber mais sobre essa tecnologia.

    Durante a guerra fria os pesquisadores precisavam que as sondas espaciais  mandassem  imagens até a Terra, para isso foi criado o sensor CMOS, capaz de converter ondas luminosas em informação digital que era enviada por meio de ondas de rádio e depois (re)convertidas em imagens. Foi em 1965 que, pela primeira vez, a sonda Mariner 4, usando essa tecnologia, enviou imagens da superfície de Marte, porém as fotos não poderiam ser consideradas digitais, já que também usavam processos analógicos.

    Na foto uma pessoa segura um sensor digital com a penas a ponta de um dedo e logo atrás podemos ver uma câmera compacta da Nikon. 
    Foto de Eugen Visan por Pixabay

    A primeira câmera totalmente digital foi feita em 1975 pela Kodak ela usava o sensor CCD, o sucessor do CMOS, e podia fazer imagens de 0,01 megapixels, mas nunca foi comercializada, pois os executivos da empresa acreditavam que a invenção poderia atrapalhar na venda dos filmes fotográficos, essa hesitação em adotar a tecnologia digital  foi uma das principais causas da falência da empresa anos depois

    Em 1981, a Sony lançou a primeira câmera digital para o público, porém ela era extremamente cara. Somente na década de 1990, as câmeras digitais passaram a ter preços mais acessíveis. Hoje elas dominam o mercado. A maioria delas é equipada com um sensor CMOS. Hoje também temos uma grande variedade de tamanho de sensores, e isso pode influenciar muito na hora de fotografar. Quanto maior o sensor,  maior é o alcance dinâmico, menor o índice de ruído em ISOs altos, e  menor a profundidade de campo.

    Na foto podemos ver uma mulher segurando a câmera Mavica em uma mão e um disquete na outra. 
    Campanha publicitária da câmera Mavica

    A variação de tamanho nos sensores causa algo chamado fator de corte. Esse fator altera o ângulo de visão proporcionado por um objetiva, por exemplo, nas câmeras DSLR os dois tipos de sensores mais comuns são os Full Frame (FF) e os APS-C, uma lente de distância focal 35mm não sofreria nenhuma alteração em um sensor FF, pois ele é o tamanho padrão, mas teria o aspecto de uma lente de 56mm, que tem um ângulo de visão menor, em um sensor APS-C, que é um pouco menor que o FF.  Essa relação entre sensores pode variar com as marcas, por exemplo, no caso de sensores APS-C Canon a relação é de 1,6, já nos sensores APS-C Nikon e Sony a relação é de 1,5.

    Hoje a maioria dos fotógrafos usam câmeras digitais, pelo fato de elas permitirem uma fácil organização de arquivos, e por produzirem imagens de excelente qualidade, mas esse não é o caso do fotógrafo japonês Daido Moriyama que diz que não se importa com a qualidade imagética que as mais modernas DSLR podem trazer, para ele o que mais importa é que a câmera seja leve, fácil de carregar e discreta, por isso só fotografa usando câmeras compactas. Ele iniciou a carreira com as versões analógicas, mas com o avanço da tecnologia rapidamente passou a usar os modelos digitais.

    Na foto podemos ver uma escada na parte esquerda, e uma rua estreita na parte direita. A foto foi tirada a noite, pois podemos ver vários postes de luz acessos.
    Daido Moriyama , 2017 Getsuyosha

    Se olharmos a foto acima com atenção vemos que a imagem possui uma grande quantidade de ruído que acontece pelo fato de Daido usar uma câmera compacta com um sensor bem pequeno. Mas o ruído não é um problema, já que toda a estética dele se baseia em imagens cheias de ruído, muitas vezes tremidas e com grande contrastes.

    Esse é um exemplo interessante de como uma boa foto nem sempre precisa dos equipamentos mais caros, mesmo câmeras compactas ou de celulares podem trazer resultados muito interessantes, e agora graças aos sensores digitais, que ajudaram a baratear a fotografia,  uma parcela bem maior da população pode ter acesso a câmeras, e usar a criatividade para produzir as mais criativas fotos. 

    Links, Referências e Créditos

    Como citar esta postagem

    CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Sensores Digitais. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/fotografetodia-sensores-digitais/>. Publicado em: 07 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].