Ano: 2019

  • Velocidade

    Será que o olho humano consegue realmente ver tudo o que ocorre durante seu dia? A resposta para essa questão tão simples pode ser solucionada quando pensamos na velocidade do que tudo acontece à nossa volta. O que o olho não capta, as lentes de um fotógrafo com a velocidade do obturador correta consegue mostrar.
    Será que o olho humano consegue realmente ver tudo o que ocorre durante seu dia? A resposta para essa questão tão simples pode ser solucionada quando pensamos na velocidade do que tudo acontece à nossa volta. O que o olho não capta, as lentes de um fotógrafo com a velocidade do obturador correta consegue mostrar.

    Um homem tocando violoncelo. Imagem em preto e branco.
    Anton Giulio Bragaglia, violoncelista, 1913
    A velocidade do obturador ou o tempo de exposição tem a função de controlar o modo como a luz e o movimento são registrados na imagem fotográfica. Partindo da escolha do fotógrafo, teremos uma foto nítida de um exato momento, ou, teremos a poesia de não saber de que se trata aqueles riscos de luz em frente a nossa tela, atualmente, chamados de Light Painting (pintura com luz).
    O futurismo com a ideia de deslocamento e dinâmica, conseguiu através de seu movimento vanguardista artístico na fotografia trazer aspectos que fazem total diferença nos dias atuais, tal como capturar cenas que os olhos humanos não são capazes de enxergar.
    Os irmãos Anton Giulio e Arturo Bragaglia exploravam criativamente o tempo de exposição em suas fotografias. A forma como esses artistas faziam suas imagens era devido ao fato de estarem impressionados pela nova era da máquina e embalados com o futurismo. Eles buscavam representar o movimento e a própria sensação dinâmica. Ao expor a velocidade do obturador ao um longo período de tempo, era possível captar imagens fantásticas de estímulos muitas vezes dados como simplórios.
    Será que o olho humano consegue realmente ver tudo o que ocorre durante seu dia? A resposta para essa questão tão simples pode ser solucionada quando pensamos na velocidade do que tudo acontece à nossa volta. O que o olho não capta, as lentes de um fotógrafo com a velocidade do obturador correta consegue mostrar.

     Um homem acendendo e fumando seu cigarro. Imagem em preto e branco.
    Anton Giulio Bragaglia, Arturo Bragaglia. O fumante – o fósforo – o cigarro 1911
    Essa foto é um belo exemplo do trabalho dos irmãos. Na imagem é possível observar os detalhes de um homem acendendo o fósforo, o cigarro e logo após fumando-o. A forma como a fumaça deixa rastros na fotografia é bem significativa, traz um aspecto de real e ao mesmo tempo abstrato. Fugindo do instantâneo, os Bragaglia fizeram história com o fotodinamismo futurista, deixando assim verdadeiras obras de arte para o mundo contemporâneo.
    Referências:
  • Cindy Sherman

    Cindy Sherman

    De aspirante a pintora à fotógrafa renomada, Cindy Sherman é um nome de destaque na fotografia contemporânea, especialmente em temas voltados aos estereótipos de gênero e à identidade.

    Na foto, Sherman aparece deitada no chão, utilizando blusa laranja com saia quadriculada com a mesma cor. O chão possui tons que se assemelham às cores de suas roupas e até mesmo o seu cabelo e unhas. Com o olhar desviado da câmera, a personagem olha para o lado esquerdo. Em sua mão direita, ela segura um papel amassado com conteúdo não legível impresso. É possível notar que a barra de sua saia está levantada, o que pode ser interpretado como uma leve insinuação sexual.
    Untitled #96, 1981

    Ao passar a fazer o exercício de se vestir como diferentes pessoas, foi desenvolvendo o que viria a se tornar sua marca registrada como fotógrafa: usar o próprio corpo para dar vida a personagens que refletem de alguma forma arquétipos femininos presentes na sociedade americana.

    Uma de suas séries mais conhecidas é Untitled Film Stills, em que dá vida a estereótipos de personagens femininas do cinema (aliás, a fotógrafa já se aventurou como diretora de alguns filmes). Sherman no entanto, não fica presa a apenas representar esses estereótipos já firmados como modelo de suas próprias fotos, mas suas composições muitas vezes subvertem traços desses estereótipos, geram incômodo, fascínio ou curiosidade, como apontado no artigo de Angélica da Costa Ramos (2017), “O Eu Pulverizado na Arte Performática de Cyndi Sherman”.

    Mais do que ocupar simultaneamente os cargos de artista e modelo, o que Sherman faz pode ser visto como um ato de rebeldia e busca de liberdade quanto ao próprio corpo e existência – motivo pelo qual é citada e estudada nos meios feministas. Sherman toma o corpo feminino de volta, dando vida aos arquétipos construídos através da arte e da história e subvertendo-os à sua maneira.

    As primeiras imagens da galeria são parte da série Untitled Film Stills, feita ao longo da década de 70. As imagens exploram arquétipos de personagens femininas no cinema americano e são todas em preto e branco.

     Nesta primeira imagem, Sherman aparece em uma cozinha, posicionada à direita, com o olhar desviado para a mesma direção, partindo por cima de seu ombro esquerdo. Seus seios se destacam sob a blusa justa e sua mão repousa sobre o colo, onde um avental está amarrado à cintura. Os utensílios domésticos dispostos sobre o que parece ser a bancada, além do armário na parede do lado esquerdo não apenas identificam o local da cena como constituem a harmonia da composição. A cena mistura a noção da sexualidade da personagem aos afazeres de uma dona de casa.
    Cindy Sherman, Untitled Film Still #3, 1977.
    Localizada em um espaço aberto, a imagem apresenta como primeiro plano o corrimão de uma escada e paredes de prédios. Sherman aparece em segundo plano, diante de um canteiro de plantas, usando casaco e óculos escuros. Está em movimento, como se estivesse se dirigindo a algum lugar. Possui em sua mão direita um jornal, uma revista ou um livro e a mão esquerda erguida em direção ao rosto, como se ajustasse o par de óculos. Ao seu lado, três árvores de pequeno porte e ao fundo, prédios que deixam claro tratar-se de um ambiente urbano.
    Untitled Film Still #83, 1980.
    Também ao ar livre, a imagem traz Sherman como primeiro plano e em contra-plongée (de baixo para cima), em que é vista olhando para cima e à sua direita. Um lenço cobre-lhe a cabeça, e o movimento deste, assim como o de seus cabelos indica a presença de vento. Ao fundo, um prédio com diversas janelas preenche o espaço visível. A luz natural incide em seu rosto da esquerda para a direita.
    Untitled Film Still #58, 1980.
    Sherman, mais uma vez na rua, porém desta vez  durante a noite, é vista usando casaco pesado e bolsa que pende de seu braço esquerdo. Seu gestual parece demonstrar uma mistura de frio, pressa e apreensão. À sua direita, é possível notar construções urbanas, como casas ou prédios. Pontos de luz diante da câmera e poças de água no chão indicam que há presença de uma leve chuva.
    Untitled Film Still #54, 1980.
    herman é vista dentro de casa, especificamente em uma sala de visitas, com sofás, cadeiras de descanso, uma mesa de madeira à esquerda com o que parecem ser um copo e tigelas, uma lareira apagada também à esquerda e ao fundo e um abajur aceso ao fundo, atrás da modelo. Com o olhar vago e um copo à mão, a personagem parece estar esperando a chegada de alguém. A iluminação artificial, que incide de cima para baixo e, através do abajur, de trás para a frente, cria sombras que se direcionam ao lado oposto, fora do campo coberto pela fotografia e para onde a personagem olha fixamente, criando uma tensão e dando dramaticidade à cena, reforçada pelo fato da imagem ser em preto e branco.
    Untitled Film Still #50, 1979.
    Sherman é vista de costas para a câmera, de pé e com os braços repousados juntos atrás de sua coluna. O cenário é uma estrada durante o que parece ser o nascer ou o pôr do sol, e é possível ver uma mala à esquerda da personagem. À esquerda, um pedregulho e à direita, é possível ver a linha do horizonte para além da estrada, que sai do campo de visão da imagem devido a uma curva à esquerda. A personagem parece à espera de algo, como se esperasse alguém vir buscá-la ou algum meio de transporte para lhe dar carona. É possível notar também o uso de flash ou outra fonte de iluminação dura, que rebate sobre a personagem, a mala, parte da estrada no canto inferior da imagem e parte do pedregulho.
    Untitled Film Still #48, 1979.
    Sherman aparece sugestivamente deitada em uma cama com lençóis escuros. Sua camisa está amarrotada e um pouco levantada, sendo que não usa peça de roupa inferior, e portanto, suas pernas e coxas estão expostas, além de ser possível ver parte de sua roupa íntima. Sua expressão facial e demais linguagem corporal parece demonstrar desejo, como se estivesse à espera de seu amante. Dois exemplares de um livro voltado ao público feminino estão ao seu lado direito na cama.
    Untitled Film Still #34, 1979.
    Sherman é vista em primeiríssimo plano, com janelas ao fundo, mostrando tratar-se de uma cena no interior de uma casa. Marcas escuras e profundas em seus olhos e lábio inferior inchado deixam explícito que a personagem sofreu agressão, muito provavelmente, vítima de violência doméstica. Sua expressão é de espanto.
    Untitled Film Still #30, 1979.
    Às lágrimas e com a boca semiaberta, Sherman é vista sentada à uma mesa em um local que parece ser um bar. Devido à maquiagem escura, as lágrimas deixam seu rosto manchado. Possui uma taça de bebida próxima à sua mão direita, que segura um cigarro entre os dedos indicador e médio. Ambas as mãos repousam sobre a mesa. Seu dedo anelar da mão esquerda possui um anel com uma pedra visível.
    Untitled Film Still #27, 1979.
    Em primeiro plano e contra-plongée (de baixo para cima), Sherman é vista com o olhar voltado à direita da foto, passando sobre seu ombro esquerdo. Ao fundo, prédios são vistos, localizando a foto em uma ambientação urbana.
    Untitled Film Still #21, 1978.
    Na imagem, Sherman aparece em um quarto, recostada dramaticamente contra uma parede, com os olhos fechados e boca levemente aberta, com uma expressão facial que demonstra angústia. Diante de si, uma mala aberta abarrotada de roupas está sobre a cama, que também possui roupas, sapatos e outros objetos espalhados sobre ela. A personagem parece se preparar para fugir ou deixar o local após a ocorrência de algum evento desagradável no âmbito de sua intimidade.
    Untitled Film Still #12, 1978
    Sherman aparece na imagem de forma bastante desajeitada. Ao lado direito da imagem, de pé diante de uma entrada para um quarto, usando sapatilhas, meia-calça, camisola e óculos escuros. Tem o seu cabelo bagunçado e segura uma taça de Martini com a ponta dos dedos da mão esquerda, erguida à altura de sua cabeça. Com o mesmo braço, afasta as grossas cortinas brancas do quarto. O sol incide diretamente sobre a personagem, embora a sombra formada impeça a visão do interior do quarto, exceto por uma cadeira com um cobertor jogado por cima, logo atrás da moça. À frente e no canto inferior esquerdo da fotografia, é possível ver uma camisa branca e um chapéu de praia sobre o que parece ser uma cadeira.
    Untitled Film Still #7, 1978
    Após explorar o preto e branco durante a década de 70 com sua série baseada em personagens cinematográficas, Sherman chega aos anos 80 explorando as cores e outras perspectivas de representações femininas. Na foto, ela aparece deitada no chão, utilizando blusa laranja com saia quadriculada com a mesma cor. O chão possui tons que se assemelham às cores de suas roupas e até mesmo o seu cabelo e unhas. Com o olhar desviado da câmera, a personagem olha para o lado esquerdo. Em sua mão direita, ela segura um papel amassado com conteúdo não legível impresso. É possível notar que a barra de sua saia está levantada, o que pode ser interpretado como uma leve insinuação sexual.
    Untitled #96, 1981
    Sherman aparece deitada em uma cama com lençóis pretos. Suas mãos puxam o lençol cobrindo-lhe na altura dos seios. As alças de sua roupa íntima são visíveis. O olhar está fixado à sua frente, que corresponde à esquerda da imagem. A iluminação cobre o lado direito do corpo da personagem. O ângulo de câmera usado pode passar a ideia de submissão.
    Untitled #93, 1981
    Sherman, trajando vestimenta púrpura, aparece deitada em um sofá marrom. Um telefone de gancho violeta está posto sobre o sofá, à frente da personagem, que o olha cabisbaixa. Parece estar a espera de um telefonema, e sua linguagem corporal demonstra cansaço, como se já esperasse há muito tempo.
    Untitled #90, 1981
    Travestida como um personagem masculino, Sherman aparece trajando calça listrada, camisa, um cinto grande, jaleco e um lenço de renda branca enrolando o pescoço. Seu olhar está fixado na câmera e sua expressão facial indica certa superioridade, mas têm um resultado quase cômico.
    Untitled #201, 1989
    Sherman aparece vestida como uma rainha, com vestes antigas, um manto azul que cobre seu ombro direito e uma coroa na cabeça. Seu olhar está voltado para baixo. Uma boneca envolta em panos brancos repousa em seu braço direito, como se fosse um bebê, e Sherman possui um seio falso exposto, remetendo à amamentação.
    Untitled #216, 1989
    Sherman aparece mais uma vez irreconhecível, com uma peruca loira volumosa, vestido claro e meias. Está agachada em cima de uma cama e com as pernas exageradamente abertas; sua mão esquerda segura flores brancas e a direita está apoiada na cintura. Seu olhar está fixado na câmera.
    Untitled #276, 1993
    Sentada em frente a um fundo laranja brilhante, Sherman aparece usando um vestido transparente com um tecido mais escuro sobre os ombros e luvas quadriculadas. Tatuagens falsas são visíveis em seu corpo, assim como piercings em seu nariz e boca. Na mão direita segura um cigarro e a esquerda aponta para a sua cabeça simulando uma arma. Seu lábio aparece repuxado para o canto, o que pode indicar sarcasmo. Seus olhos estão vermelhos e fixam a câmera, além disso, é possível notar a presença de olheiras.
    Untitled #299, 1994
    Sherman aparece olhando diretamente para a câmera, usando um macacão azul e rosa. O cabelo loiro platinado contrasta com a pele bronzeada, sendo que o entorno dos olhos aparece branco. A boca parece mais preenchida pelo uso de maquiagem. A imagem parece representar com ironia os padrões de beleza feminina norte-americanos.
    Untitled #397, 2000
    Sherman aparece de perfil, olhando para a câmera por cima de seu ombro direito. Parece muito mais velha, com marcas de idade visíveis mesmo estando bastante maquiada. Observa-se seu colar de pérolas e brincos chamativos. O fundo parece artificial, como se tivesse sido adicionado na pós-produção. Trata-se de uma escadaria com detalhes em mármore em um jardim que aparece desfocado como nos efeitos de softwares e aplicativos de edição fotográfica.
    Untitled #465, 2008
    Quatro figuras femininas de aparente idade são vistas. Todas elas são Sherman, que usou truques de edição para tal efeito. Ao centro, usa uma blusa rosa clara por baixo de um avental branco e com uma gravata borboleta preta chamativa. As outras três figuras usam uma blusa estampada e saia preta, sendo que as que estão à direita e à esquerda tem o olhar desviado para os lados correspondentes e a localizada atrás da personagem central também encara a câmera. Todas aparecem usando óculos e cortes de cabelo distintos. O fundo mais uma vez parece ser artificial, sendo uma paisagem florida e desfocada.
    Untitled #577, 2016.

    Links:

    Acervo do Metro Pictures
    Saatchi Gallery
    MoMA
    Guggenhein
    Instagram pessoal de Cyndi Sherman 

    Referências:

    RAMOS, Angélica da Costa. “O Eu Pulverizado na Arte Performática de Cindy Sherman”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 5, n. 18, jul. 2017.

  • Congelar um movimento

    Uma técnica muito utilizada por fotógrafos é a de congelar o movimento. Dessa forma, o objeto principal pode parecer imóvel, como se o tempo fosse, de fato, congelado. Para criar esse efeito, é preciso ajustar a velocidade do obturador.

    Uma técnica muito utilizada por fotógrafos é a de congelar o movimento. Dessa forma, o objeto principal pode parecer imóvel, como se o tempo fosse, de fato, congelado. Para criar esse efeito, é preciso ajustar a velocidade do obturador.

    Michael Phelps e Chad le Clos lado a lado durante uma etapa da natação durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.
    David Ramos / Getty Images


    Para congelar um movimento, é necessária uma velocidade alta. A velocidade ideal vai depender do que você estiver fotografando. O tempo de exposição para congelar um carro de corrida vai ser muito menor do que o necessário para congelar uma pessoa andando, por exemplo.
    Nas câmeras em geral, existe um modo “prioridade de velocidade do obturador”, em que você define apenas a velocidade e a máquina ajusta o ISO e a abertura automaticamente, de acordo com a situação. Se preferir, pode também utilizar o modo manual e configurar esses controles da maneira que achar mais adequado.
    David Ramos é formado em fotografia e comunicação pela Universidade Politécnica da Catalunha. Trabalha para o Getty Images desde 2010, cobrindo notícias e eventos esportivos por todo o mundo. Para fotografar atletas em ação, David precisa utilizar velocidades muito rápidas para capturar imagens com nitidez.

    Dois boxeadores lutam entre si durante um duelo pelos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016
    David Ramos / Getty Images
    Com uma velocidade alta, foi possível capturar o momento em que o lutador de vermelho foi atingido por um soco. Pode-se ver seu rosto ainda deformado e as gotas de suor voam pelo ar. São detalhes que o olho humano não são capazes de enxergam na velocidade real.
    E aí, que tal pegar sua câmera e praticar? Dá pra capturar carros na estrada, pessoas andando de bicicleta, de skate ou até correndo! Use a tag #fotografetododia e compartilhe com a gente!


    Referências

    • Leia isto se quer tirar fotos incríveis – Henry Carroll