Shirley Stolze denuncia em sua fotografia mais um caso de racismo religioso no Brasil.
Shirley Stolze |
No muro branco do local há a seguinte frase pichada com tinta preta: “Jesus é o caminho”. A frase é uma afronta aos que frequentam a casa e cultuam religiões afro-brasileiras. A pichação invalida outras crenças, impondo um ponto de vista como sendo o único a seguir.
É importante ressaltar o racismo religioso como um elemento presente estruturalmente desde a construção do que hoje conhecemos como Brasil. Nesse sentido, não há como negar que o racismo é uma componente presente, desde o período colonial, nos discursos e nas práticas de intolerância contra religiões de matrizes não europeias. Sendo a invalidação religiosa, que era praticada pelos Jesuítas com indígenas e negros, unida à violência contra o que era considerado “diferente”, ainda permanente.
De acordo com dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2021 foram recebidas 586 denúncias por intolerância religiosa. O estado que mais registrou ocorrências foi o Rio de Janeiro. Segundo o relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, 91% dos ataques foram destinados à religiões de matriz africana. Sendo essa vertente a mais atacada em todo o país. Assim, faz-se necessário ampliar o debate da Intolerância religiosa para o Racismo religioso.
Em 2022, ano de eleições, Michelle Bolsonaro, a primeira dama do Brasil, vem sendo uma personagem ativa na campanha para a reeleição do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, filiado ao Partido Liberal. Com um discurso emotivo, que ressalta valores apoiados pela população mais conservadora do país, Michelle vem servindo de mediadora para atrair o eleitorado feminino e despertar a admiração e a atenção de grupos evangélicos no Brasil.
Em agosto de 2022, Michelle compartilhou em suas redes sociais um vídeo da vereadora paulista Sonaira Fernandes, do partido Republicanos, que dissemina discurso de ódio contra religiões de matriz africana e acusa o ex-presidente Lula de ter entregado a alma para vencer as eleições. No vídeo, aparece o ex-presidente e atual candidato à presidência do país Lula recebendo de uma mãe de santo um banho de pipocas, ritual feito para saudar Omulu, orixá cultuado por religiões afro-brasileiras. Na legenda do vídeo, Michelle escreve: “Isso pode né! Eu falar de Deus, não”.
A frase registrada por Shirley Stolze apresenta sintomas de uma sociedade adoecida por fanatismo e agravada por discursos que rejeitam a pluralidade. Além disso, o uso da fé para a exploração política tira de campo os debates necessários para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito. O discurso presente na fala da primeira dama e na foto analisada afrontam a Constituição Federal que determina a liberdade religiosa para todos os cidadãos. E, o Brasil, construído em cima de sangue e suor negro, persiste em negar para essa população dignidade e respeito.
#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
Links, Referências e Créditos
- Povo de santo pede paz durante caminhada em Salvador – A Tarde
- Michelle publica vídeo de Lula em ritual de Umbanda, isso pode? – Poder 360
- Protesto contra a intolerância religiosa – A Tarde
- Denuncias religiosa cresceram 141 no Brasil em 2021 – Metrópoles
- Guerra do bem contra o mal diz Michelle em culto com Bolsonaro – Metrópoles
- O que é racismo religioso e como ele afeta a população negra – Conectas
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