A presença de uma criança invisível brilha mais que os fogos de artifício na fotografia de Lucas Landau.
A fotografia a ser analisada é de Lucas Landau, fotógrafo brasileiro internacionalmente reconhecido por seu trabalho que retrata as nuances sociais e culturais do Brasil. Publicada no ano de 2018, essa imagem circulou por várias mídias, ascendendo debates em várias esferas da sociedade, a singularidade do retrato e do momento fotografado trouxeram destaque ao trabalho de Lucas.
Lucas Landau |
O nome da fotografia é “Hell de Janeiro”, o subtítulo: “a ambiguidade da cidade que consegue ser ao mesmo tempo maravilhosa e infernal”, é uma das imagens contidas na coleção “Rio” de autoria de Lucas Landau. A série retrata e denuncia diversos problemas sociais da cidade do Rio de Janeiro.
A ambiguidade, como dito por Lucas em seu subtítulo, está presente nas fotografias da coleção Rio, e na foto “Hell de Janeiro” ela se dá pela diferença entre o menino em suas vestes de banho e as pessoas vestidas de branco ao fundo.
Quando analisamos os aspectos profissionais e técnicos da foto, vemos nitidamente o enfoque dado ao menino, o uso de um plano aberto possibilita a compreensão do cenário e dos personagens envolvidos na cena, enquanto, o alto contraste torna visível a diferenciação do preto e do branco, aspecto fundamental para que possamos entender que é uma noite de Reveillon em Copacabana, área nobre do Rio de Janeiro, devido ao uso das tradicionais vestes claras.
Além da compreensão do momento em que a foto foi tirada, o ponto mais interessante do uso desse tipo de contraste é a evidenciação do que há de crucial na fotografia: a racialidade do menino em destaque.
Quando associamos esse trabalho aos demais de Lucas Landau como o exemplificado abaixo, e os aspectos sociais já conhecidos do Rio de Janeiro, cidade com extrema desigualdade social, podemos interpretar essa fotografia como uma denúncia de como a sociedade invisibiliza as crianças negras. O menino está sozinho no mar, olhando os fogos de artifício com semblante curioso, enquanto as demais pessoas parecem nem notá-lo.
Lucas Landau |
No entanto, se deixarmos de lado os demais trabalhos do autor por um momento, enxargaremos apenas um menino admirando as luzes coloridas que surgem no céu, o fato de ser uma criança negra nos leva a criar narrativas de pesar, o que é coerente, visto os dados que conhecemos da desigualdade étnico racial no Brasil.
Uma fotografia é constituída de muitos fatores, sejam eles técnicos e profissionais, mas também passa pela subjetividade do autor e de quem verá sua obra depois, somos todos constituídos por uma matriz ideológica, que nos permite analisar fotografias cada um à sua maneira.
Podemos enxergar na fotografia analisada, duas diferentes nuances, como exposto, mas no fim, a reflexão é uma só: assim como uma fotografia é dotada de um contraste, a sociedade segue a mesma lógica, não conseguimos olhar para uma criança negra sem notar que ela é negra, a diferenciação do preto e do branco, não é só um aspecto técnico, mas sim, um estigma social que influi diretamente no racismo estrutural do Brasil.
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Sobre a autora
Lívia Salles é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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