Tirada pela fotógrafa Barbara Davidson, a imagem retrata a cena de Miracle (Milagre em português) ajudando sua mãe a se sentar na cadeira de rodas. Uma foto que poderia facilmente significar uma cena apenas de carinho, mas que traz uma história de muita luta e sofrimento.
Barbara Davidson |
A fotografia foi publicada em uma matéria da agência de notícias Los Angeles Times, em 31 de Dezembro de 2010. Nela, continham informações sobre o caso de Rose Smith, a mulher da foto. Rose morava no conjunto habitacional Watts Nickerson Gardens (Los Angeles) quando teve sua mandíbula, suas costas e braços alvejados por tiros.
Smith é uma mulher inocente e, mesmo assim, sofreu as consequências da violência e criminalidade das gangues em Los Angeles. Ela nunca mais poderá andar. Triste fato que exemplifica a vulnerabilidade de muitas pessoas que moram no subúrbio. Além de ter sua própria saúde violada, a forte mulher da imagem teve de lidar com o medo de perder o ser que mais amava na vida: a bebê que carregava em seu ventre.
Rose estava grávida de três meses quando foi atingida pelos tiros. Por um milagre, a criança não sofreu traumas físicos. Esse é o motivo para o nome de Miracle. Mas, apesar da sobrevivência da bebê ter sido uma vitória, ela não ficou alheia ao mal causado pela violência. Miracle nasceu viciada no remédio que sua mãe tomava para a dor que sentia.
Olhando exclusivamente para a foto, eu sinto amor e compaixão: ver uma criança tão pequena já sabendo o que fazer para cuidar da pessoa que lhe deu a vida. Me pego refletindo o quanto elas devem ser próximas uma da outra. Mas, quando associo a imagem que vejo à história por trás, sinto tristeza e revolta. Essa mãe tem suas tarefas dificultadas devido a uma ocorrência na qual não teve responsabilidade nenhuma. Ela foi apenas a vítima.
Me traz angústia pensar no quanto as pessoas que moram nas favelas, não só em Los Angeles, mas no mundo todo, estão vulneráveis a ter seu bem estar violado. Vivem entre guerras e conflitos, dificilmente conseguem paz e descanso. O medo de “estar na hora e no local errado” assombra os moradores. Infelizmente, foi o que aconteceu com Rose, pois ela estava prestes a entrar em casa quando foi alvejada pelas costas.
É difícil não associar essa situação à criminalidade que assola grande parte dos países, dentre eles, o Brasil. O Rio de Janeiro, por exemplo – uma das metrópoles brasileiras – atingiu a marca de 100 vítimas de bala perdida em 2021, sendo 58% homens, 38% mulheres e 4% com o gênero não identificado. Entre elas, 5 crianças e 5 adolescentes. É desolador pensar na quantidade de pessoas que são feridas ou que perdem a vida todos os dias em razão de conflitos entre policiais e gangues. Pessoas que, muitas vezes, não têm conhecimento do que está acontecendo, como pode ser o caso das crianças.
Além das marcas físicas, há também as psicológicas. Famílias perdem seus parentes para a violência, crianças perdem seus direitos básicos: brincar na rua, ir à escola, ter o sono tranquilo… Espero que, no futuro, o mundo seja um lugar mais seguro de se viver.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
Links, Referências e Créditos
- Barbara Davidson do Los Angeles Times
- Barbara Davidson (fotojornalista)
- Barbara Davidson, LLD, 2019 Concordia Honorary Doctorate
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