Empoderamento e puro talento condensados na figura de um dos maiores atores brasileiros.
No dia 30 de maio de 2022, o Brasil perdeu um de seus maiores nomes do teatro, cinema e teledramaturgia. Milton Gonçalves partiu aos 88 anos deixando um legado extenso de direção e atuação em uma extensa conjunto de obras como: “Irmãos Coragem”, “O bem-amado” e “O beijo da mulher-aranha”. Milton tinha uma personalidade forte, era um homem negro ativo na política do país e se fazia atuante na luta por um Brasil mais justo e igualitário.
Joel Maia |
A fotografia de Milton Gonçalves foi feita por Joel Maia e faz parte do acervo da Rede Globo de televisão, emissora em que o ator trabalhava como um de seus funcionários mais antigos e queridos. A imagem é da novela “Roque Santeiro”, de 1985, em que ele interpretava o Padre Honório.
Nessa época, o Brasil deixava o período da Ditadura Militar e caminhava para sua redemocratização o que gerava um clima esperançoso em toda a sociedade. A novela Roque Santeiro, que havia sido vetada pelo governo militar dez anos antes, finalmente ganhava as telas e buscava representar e criticar o Brasil daquela época através de uma cidadezinha de interior. Nessa mesma sintonia se encontrava o artista Milton Gonçalves, um homem que havia lutado ativamente durante as “Diretas Já”, um ano antes.
A imagem foi tirada num ângulo de baixo para cima em que a figura de Milton me transmite autoridade e poder. Sua expressão séria e destemida rouba a cena e ganha os olhos dos outros personagens durante aquilo que parece ser um diálogo.
Para mim, a fotografia exala toda a consciência política de Milton como um homem negro nos anos 80. Em tempos tão racistas como o que vivemos hoje é difícil imaginar como era o Brasil há mais de 30 anos, quando as coisas foram ainda piores. E naquela época, Milton, com muita classe, venceu barreiras e conquistou espaços majoritariamente brancos do mundo artístico. Representando toda uma geração de pessoas negras e abrindo portas que antes estavam fechadas para elas.
Também, o fato de a fotografia estar em preto e branco conversa totalmente com a ideia que me é passada. Afinal, se observássemos uma foto colorida, a atenção poderia estar voltada para outros detalhes como o figurino dos atores. Entretanto, a paleta de tons enfatiza uma seriedade e poder na imagem, jogando toda a nossa atenção para o protagonista da cena e para a interpretação citada anteriormente.
Portanto, levando em consideração toda a história de Milton Gonçalves no mundo das artes, vemos na foto uma persona singular. Ali está um dos primeiros atores negros a se destacar no Brasil. Um homem que veio de uma família humilde e passou por diferentes ofícios antes de subir ao palco para trabalhar com a sua grande paixão e ajudar no sustento da família.
Hoje, Milton deixa um legado que poucos atores conseguem, tanto pelo reconhecimento artístico, acumulando vários prêmios (inter)nacionais como o Emmy de melhor ator — premiação, inclusive, em que foi o primeiro brasileiro a apresentar anos mais tarde. Quanto por possuir uma voz ativa na política em seus discursos, entrevistas e atitudes dando sempre destaque para as causas do povo negro.
Essa faceta está eternizada nesta fotografia, mostrando um lado poderoso e marcante de uma personalidade que, sem dúvida, vai deixar saudade.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
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MAIA. Amanda. O brilho eterno de uma verdadeira estrela. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/09/O brilho eterno de uma verdadeira estrela.html. Publicado em: 7 de set. de 2022. Acessado em: [informar data].
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