Em 1974, novos horizontes se abriram para a fotografia brasileira quando a artista plástica carioca Thereza Miranda recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para estudar fotogravura no Croydon College of Arts, em Londres. A artista, que já se consagrava como desenhista, pintora e gravurista, introduziu então a técnica, que passaria a ser seu principal trabalho, no Brasil. Em suas obras mais famosas, a fotogravurista dá literalmente novos tons à arquitetura e às paisagens brasileiras, transformando fotografias que ela mesma produz em gravações de cores fabulosas em chapas de metal.
Thereza Miranda – Maranhão, Palmeira Solitária, Alcântara – 1979 |
Descrição: Fotogravura que mostra o contorno de casas antigas e uma palmeira.
No vídeo produzido por Dodô Brandão para a sua exposição “Memórias” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), em 2018, Thereza Miranda explica a predominância da arquitetura nos seus trabalhos: “Eu tive a chance de trabalhar com um grande arquiteto, ele chamava-se Henrique Mindlin e com ele eu aprendi o valor desse patrimônio, sabe? Porque no Brasil se destrói tudo, né?”.
A temática arquitetônica de Thereza inspirou até mesmo Carlos Drummond de Andrade, que, em 1983, compôs um poema em homenagem a ela. O episódio a surpreendeu e a levou a ter um novo olhar sobre as críticas. Thereza declarou para o vídeo do MAM Rio: “Na exposição que eu fiz sobre o Rio de Janeiro, no Bonino, Drummond foi ver a exposição. Depois eu recebi em casa no meu ateliê, meu ateliê era na Urca… Abro a minha correspondência e tinha uma poesia do Drummond. Eu não acreditei naquilo. […] A partir daí eu disse: ‘Se eu consegui sensibilizar uma criatura como o Drummond, pouco me interessa se as pessoas gostam ou não gostam do meu trabalho’”.
Aos 91 anos, Thereza continua trabalhando e exposições como a que sensibilizou Drummond continuam a sensibilizar os brasileiros. Várias de suas obras fazem parte de coleções de museus pelo país, como as do Museu de Arte Moderna, Museu Nacional de Belas-Artes, Biblioteca Nacional, e Coleção Mônica e George Kornis, Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea, Campinas, SP; Senado Federal, Brasília, DF; Museu de Arte Moderna e Coleção Guita e José Mindlin, São Paulo (SP); Caixa Econômica Federal, São Luís. Além das coleções em museus internacioanis como o Studio d’Arte Gráfica, Milão; e Kunsthalle, Bremen, Alemanha.
Leia abaixo Thereza Miranda, por Carlos Drummond de Andrade:
De Thereza Miranda as casas meditam no tempo e no espaço.Há um silêncio isento de asas no céu que eu, cativo, abraço.De Thereza Miranda as ruas são roteiros de solitude.Nelas vão ocultar-se, nuas, memórias que o progresso elude.De Thereza Miranda o Cristo dilacerado é seu destino,tem um negro brilho imprevistoe da gravura brota um hino.
Fotogravura
A fotogravura é um processo que transfere a imagem fotográfica para uma chapa de cobre. Thereza foi a pioneira da fotogravura no Brasil, mas a origem da técnica remonta as “primeiras invenções” da fotografia. A forma da fotogravura conhecida atualmente foi desenvolvida por Karl Klic, mas o processo foi inicialmente criado no século XIX por Fox Talbot, um dos pioneiros da fotografia, e utilizado nas primeiras reproduções de fotografias em jornais, revistas e livros. Além disso, o daguerreótipo gravava a imagem fotográfica sobre uma chapa de prata; Niépce, por sua vez, desenvolveu um processo similar à fotogravura que chamou de heliogravura.
Veja os trabalhos de fotogravura de Thereza Miranda abaixo:
Thereza Miranda – Casa de Burros, Gamboa, Rio – 2005 Descrição: Fotogravura de uma casa colonial. |
Thereza Miranda – Bandeira de Porta, Catete, Rio – 2005 Descrição: Fotogravura de uma casa colonial. |
Thereza Miranda – Albamar, Rio – 2005 Descrição: Fotogravura de uma construção com uma torre de vidro. |
Thereza Miranda – Multidões – Multidões II, Londres – 1975 Descrição: Fotogravura de uma multidão. |
Thereza Miranda – Lençóis Maranhenses – 2002 Descrição: Fotogravura de uma visão aérea dos Lençóis Maranhenses com uma faixa de água na parte de cima da imagem e uma faixa de areia abaixo. |
Referências
- CAVENAGHI, Airton José. Niépce: a invenção que eu fiz…, 2008.
- “Fotogravura”, em Ateliê Piranga
- “Fotogravura”, em Vergotti
- Site de Thereza Miranda
-20.3775546-43.4190813
R. do Catete, n.166, Mariana - MG, 35420-000, Brasil