Ética

Ética é a arte da convivência, segundo Clóvis de Barros Filho. Mas como ela acontece em nossas vidas?

Fotografia em preto e branco com livros de filosofia empilhados de diversos autores.
Fotografia em preto e branco com livros de filosofia empilhados de diversos autores.
Livros de Filosofia | João Marcos Maciel Luiz

A palavra ética é originária da palavra grega éthos, que pode significar costumes, mas pode, em outros casos, significar caráter, índole natural, temperamento, conjunto de disposições físicas e psíquicas (desejos e paixões) de uma pessoa. A ética surgiu quando um ou mais indivíduos se perguntaram o que são os costumes, de onde vêm e o que eles valem. Além disso, a filosofia moral, como ela também é conhecida,  visa compreender o caráter de cada pessoa, a saber, sobre o seu senso e sua consciência moral em uma sociedade.

Ética, cultura fotográfica e olhares das comunidades

Ética não é tabela de regras prontas porque necessita a reflexão constante em uma convivência. No convívio com pessoas pode surgir diferenças de valores e impedimentos. Cada pessoa é capaz de usar a própria razão e dizer que “uma coisa é melhor que outra” e estabelecer uma ação (práxis) acima do desejo (orexis) e das paixões (pathos) individuais para a convivência fluir bem. A razão auxilia nas escolhas dos valores a compartilhar. Esses valores são características humanas que distinguem o bom e o mal (virtude moral) e o verdadeiro e o falso (prudência). Veja alguns exemplos.

Mulheres e homens jovens sob a rampa de acesso ao restaurante universitário. Muitos usam roupas de frio como moletons, jaquetas e calças. Ao lado da rampa tem uma grade de ferro e duas pilastras azuis. O chão é liso da cor cinza amarronzado.
Fila do Restaurante Universitário UFOP | João Marcos Maciel Luiz

Intervalo das aulas. Você está com desejo (orexis) de lanchar, depois, interagir com os colegas, apesar do tempo curto e fila grande. O desejo controla sua razão e você desconsidera todos os colegas na fila sobrepondo sua vontade à liberdade dos colegas que esperavam a vez de pegar a merenda. Talvez você pense: “meus colegas fazem o mesmo!” Reflita se isso é bom ou mal para a convivência, porque cada ação (práxis) tem efeitos profundos e imperceptíveis. Pergunte-se: o que você valoriza?

Fotografia colorida mostrando veículos estacionados em lugar proibido. Nela, há muitos carros e motocicletas estacionados em uma área de convergência e próximo da parada de ônibus.
ICEB-UFOP | João Marcos Maciel Luiz

Seu pai precisa estacionar o carro. A rua que escolheu estacionar tem apenas vagas para carga e descarga de mercadorias, para deficientes e a parada de ônibus. As normas de trânsito permitem somente veículos específicos pararem nesses lugares. Equivocado, seu pai usa da razão e decide estacionar o carro em uma das vagas dizendo que será rápido. Em qualquer uma das vagas que estacionar, apenas atenderá o desejo (orexis) dele ultrapassando os limites e afetando a liberdade de outras pessoas.

Fotografia colorida em que um homem vestindo um moletom marrom estende sua mão direita para a câmera a fim de se defender da foto. Atrás dele tem uma estante com livros.
Homem se defendendo da câmera | João Marcos Maciel Luiz

Uma pessoa está compondo um cenário que você quer fotografar. Você decide pedir permissão para ela, mas acaba tendo seu pedido negado. Movido pelo desejo (orexis) de ter aquela imagem com a pessoa e pela raiva (pathos) da negação que recebeu, acaba ultrapassando os limites. Você, no entanto, pensa equivocadamente que não terá problema em tirar a fotografia mesmo assim. Simplesmente deixou o desejo e a paixão comandar sua razão e ultrapassou a liberdade do outro em não ser fotografado.

Fotografia colorida. Nela há um braço de mulher segurando uma máquina fotográfica como se estivesse roubando de uma mochila preta. A mulher usa uma blusa de manga comprida preta e uma calça colorida. A mochila está sobre uma mesa branca com três cadeiras pretas ao lado da mesa.
Simbolizando um furto de máquina fotográfica | João Marcos Maciel Luiz

Ao fotografar com câmera, aparece o desejo (orexis) de ter uma igual, sabendo que não tem o dinheiro para comprar uma. Decide roubá-la.  Uso incorreto da razão afetou a liberdade de outros terem a câmara. Talvez pense: “sou pobre, não tenho dinheiro para conseguir uma igual”, ou ainda: “pessoas roubam”. Primeiro, você duvida da própria capacidade de raciocinar e encontrar a forma correta de conseguir dinheiro sem prejudicar alguém. Segundo, a cobiça, uma paixão (pathos), o fez praticar má ação.

A ética, portanto, é o questionar sobre os costumes e a compreender o caráter humano. É uma forma de observarmos nosso senso e consciência moral e na sociedade. Nossas ações devem ser guiadas pela nossa razão para que nossos desejos e paixões não nos faça cometer desagrados individuais e coletivos. Devemos usar a razão para investigar o que valorizamos em um relacionamento e se correspondem ao que é bom e verdadeiro e ao que é mal e falso. Precisamos ser sinceros, transparentes e fiéis às nossas escolhas, boas ou más, e conduzi-las para uma bela convivência.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS NA PRODUÇÃO DESTE CONTEÚDO

BARROS FILHO, Clóvis de. A Ética é a Arte da Convivência. São Paulo: TEDx|São Paulo, 2018.

CANTO-SPERBER, Monique et alDicionário de Ética e Filosofia Moral: Aristóteles. São Leopoldo: Unisinos, 2013. Tradução de Ana Maria Ribeiro-Althoff.

_______________. Dicionário de Ética e Filosofia Moral: Ética. São Leopoldo: Unisinos, 2013. Tradução de Ana Maria Ribeiro-Althoff.

KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental: filosofia antiga. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 2011.

OLIVEIRA, Raimundo Nonato Nogueira de. Filosofia: investigando a ética e a sexualidade. Fortaleza: Edjovem, 2011.

COMO CITAR ESTE CONTEÚDO

LUIZ, João Marcos Maciel. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/etica/. Publicado em: 18 set. 2023. Acessado em: [informar data]. 

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