Qualquer um fica encantado nos braços de seu ídolo, até mesmo um cachorro
Alexandre Magno ‘Chorão’ Abrão, eterno vocalista da banda Charlie Brown Jr, falecido em 6 de março de 2013, sempre será a representação maior de juventude, rebeldia e Rock ‘n’ Roll nacional. O roqueiro é conhecido por seu temperamento e pela fama de brigão. Ainda assim, exibe um largo sorriso com um filhote de cachorro em seus braços num show em 2013 na cidade de Caraguatatuba, SP.
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Alexandre Abrão
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Toda a fotografia é escura. Não podemos ver mais do que tendas e armações de um palco rodeado por fãs e pela equipe da banda. Um daqueles fãs levou o cachorro para o evento e, a pedido de Chorão, a equipe levou o filhotinho ao palco. Chorão amava animais e ao ver o filhote, se encantou: “Eu quero esse cachorro pra mim. Ele tem um ‘A’ de anarquia pintado na orelha”.
Chorão também amava o mar e em muitas passagens de suas músicas ele o refere nas letras. Atrás dele e do filhote, um mar de pessoas se ergue, muitos dos quais posam para a foto indistintamente, como se fossem um coral de braços erguidos. Eu não consigo deixar de imaginar como aquela multidão era igualmente amada por ele e vista como um mar cujo estrondo era semelhante ao das ondas quebrando.
O vocalista e o “doguinho” são as duas figuras em destaque na fotografia. Afinal, naquele instante, eles eram o centro das atenções. Todos olham para eles. Chorão vestia preto, cor favorita dos roqueiros, de modo geral. O filhote tem pelagem branca remetendo a pureza que reside nos animais, e isso ilumina toda a fotografia junto ao sorriso do cantor criando um contraste com as roupas do astro do Rock.
É como se o cachorro fosse fã do Charlie Brown Jr. Pelo menos é assim que eu o enxergo, pois me vejo representado nele. Estar envolvido pelos braços de alguém que você admira é uma das sensações mais reconfortantes que existem. E os olhos daquele pequeno animal parecem transmitir a sensação de milhares de pessoas embaixo do palco.
A marca na orelha do cachorro se assemelha a uma tatuagem e a forma como o animal toca a mão de chorão faz parecer que ele busca averiguar a veracidade daquele momento. Características antropomórficas. E o próprio Chorão sorri genuinamente. Seus olhos contraídos e a musculatura relaxada revelam um dos poucos momentos em que foi retratado com vulnerabilidade.
É impossível falar de um momento tão singelo e verdadeiro de Chorão e não atribuir isso ao fotógrafo, Alexandre Abrão, seu filho. Em muitas ocasiões, o músico fora retratado com um semblante sério, reservado e agressivo. Geralmente por conta do contexto comercial em que as fotografias eram tiradas; lhe evocando a persona do “roqueiro brigão” que lhe era associada; muito embora, fosse um filantropo discreto e dono de uma sensibilidade única. Ali ele estava no “mar”, vivendo intensamente, próximo às coisas que amava.
“Muitos sabem quem eu sou, mas poucos me conhecem”, diria Chorão. Pois, para todos aqueles que conviviam com ele, vê-lo sorrindo não era difícil, mas para muitos fãs, principalmente os mais jovens e tardios, que acompanharam sua carreira já em seus últimos anos de vida, é também um presente. Para um fã se ver incorporado naquele pequeno cachorrinho com o “A” de anarquia na orelha é fácil.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
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BRITO, C. S. Doguinho e Chorão. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/doguinho-e-chorao/>. Publicado em: 15 de set. de 2022. Acessado em: [informar data].