Homem carrega o corpo de uma criança morta em um ataque aéreo, em 2016. ( AFP/ Abd Doumany). |
Na fotografia acima, o homem que carrega o corpo da criança tem sua atenção voltada para o rosto dela. Penso que essa cena também retrata um momento muito íntimo de resignação e piedade, como também evidencia os resultados dos conflitos ideológicos e identitários presentes na Síria, mas esses conflitos não são uma novidade.
Após a 1°Guerra Mundial, os países europeus começaram o processo de colonização no Oriente Médio. Em 1920, a França colonizou a Síria e 26 anos depois o país conquistou sua independência. Porém, até hoje os conflitos identitários utilizados pelos colonizadores para exercerem poder na região não foram resolvidos e vários grupos brigam pelo comando e pela ideia de nação a ser implementada no país.
Em 1971, Hafez Al-Assad foi eleito presidente do país. Ele deixou a presidência no ano 2000 e foi sucedido pelo seu filho Bashar Al-Assad, que assumiu o poder mesmo após fraudes eleitorais acerca de sua candidatura terem sido provadas.
Em 2011, várias manifestações puseram abaixo governos ditatoriais de vários países do Oriente Médio e alguns ditadores foram mortos. Esse momento ficou conhecido como “Primavera Arabe”. Todavia, na Síria, Bashar Al-Assad reprimiu fortemente as manifestações e conseguiu se manter no comando do país.
Tanta repressão levou grupos civis a se unirem contra o governo Al-Assad, dando início a vários ataques contra o exército oficial do país em diferentes regiões da Síria. Douma encontra-se em ruínas após tantos conflitos e bombardeios. A vida cotidiana, portanto, é destroçada pela guerra, consequência da modernidade eurocêntrica e colonizadora.
“No mundo moderno, aqueles que são mais felizes na tranqüilidade doméstica, talvez sejam os mais vulneráveis aos demônios que assediam esse mundo; a rotina diária dos parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-se, dos abraços e beijos costumeiros, talvez não seja apenas infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária”(BERMAN, 2007, pp.14).
Menina e menina em leito no hospital. (AFP. Abd Doumany, 2016). |
- BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2007.
- WORLD PRESS PHOTO. Douma´s Children, 2016.
- The World. Residents of Douma, Syria are afraid they’ll be the next Aleppo. by: Agece France-Presse (AFP).
- ADFPHOTO. Fotografía contemporánea por Francisco González Fernández.
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