O olhar antropológico e poético de Maureen Bisilliat
Maureen Bisilliat |
Antes de se mudar para o Brasil, Maureen foi para Paris estudar artes plásticas com André Lhote no ano de 1955 e, logo em 1957, ela foi para Nova Iorque, onde passou a estudar no Art Student’s League. Neste mesmo ano, ela fez uma viagem para o Brasil e fixou residência em São Paulo. Assim, em 1962, ela substitui as artes plásticas pela fotografia e começa a trabalhar na Editora Abril entre 1964 e 1972, na revista Realidade.
Com a sua trajetória artística, Bisilliat tinha a preocupação de fazer da fotografia um elemento narrativo, cujo os temas pudessem sugerir sequência, história e ritmo. Dessa forma, ela tentava fazer a combinação de textos literários com imagens. A partir da década de 1960, portanto, ela se tornou autora de livros de fotografia inspirados em obras de escritores relevantes da época, bem como João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Euclides da Cunha e entre outros grandes nomes da literatura brasileira.
Seu primeiro trabalho desse projeto foi “A João Guimarães Rosa” (1966). Após a fotógrafa ler “Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa sugeriu a ela que fizesse uma viagem pelo interior do Brasil em busca do cenário onde se passa a história do livro. Como resultado, as legendas das imagens são substituídas por trechos do livro, traçando não apenas paralelos entre a escrita de Guimarães e as fotografias de Maureen, mas também se torna uma releitura poético-visual de “Grande Sertão: Veredas”.
Em 1968, Maureen demonstra o seu interesse em registrar os sertões e o Nordeste do país através de seu ensaio fotojornalístico “Caranguejeiras”, no qual fotografou o trabalho de mulheres que coletam caranguejos mergulhando na lama em um mangue de Pernambuco. Por meio de suas fotos, Bisilliat mostra os gestos e movimentos dessas mulheres como uma dança a partir de um ponto de vista bastante antropológico, respeitoso e poético.
Mesmo após abandonar o fotojornalismo, Maureen continuou preocupada em registrar essa parte do Brasil,essa curiosidade e vontade de conhecer e mostrar mais sobre esse país desconhecido seguiu norteando o seu trabalho. Por volta de 1970, Bisilliat viaja para o Parque Indígena do Xingu a convite dos irmãos Orlando Villas-Bôas e Cláudio Villas-Bôas e produz uma série de registros fotográficos, tendo como resultado o livro “Xingu Território Tribal”, combinação de suas fotografias com textos dos irmãos sertanistas Villas-Bôas. Também teve como resultado a produção do longa-metragem “Xingu/Terra”, feito por ela, os irmãos Villas-Bôas e o diretor Lúcio Kodato, onde mostram o cotidiano e os hábitos do povo Mehinaku, localizados no Alto Xingu. A partir dessa experiência, Bisilliat passa a se expressar através do vídeo e imprime, da mesma forma que imprimia isso na fotografia, a sua visão poética por meio de seus documentários.
Em 1985, Maureen expõe na 18° Bienal Internacional de São Paulo um ensaio fotográfico inspirado no livro “O Turista Aprendiz” escrito por Mário de Andrade e em 1988, ela, Jacques Bisilliat e seu sócio, Antônio Marcos Silva, foram convidados pelo antropólogo Darcy Ribeiro a levantar um acervo de arte popular latino-americano para a Fundação Memorial da América Latina. Deste modo, para fazer o levantamento, eles viajaram para o México, Guatemala, Equador, Peru e Paraguai recolhendo peças para a coleção permanente do Pavilhão da Criatividade, cujo qual ela dirigiu de 1989 até 2010.
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