Gabriela Biló: o poder da mulher na fotografia política.

O cenário político brasileiro pelas lentes desta fotojornalista carregam as doses certas de ironia e criticidade que constroem sua carreira

O cenário político brasileiro pelas lentes desta fotojornalista carregam as doses certas de ironia e criticidade que constroem sua carreira

Em Brasília, cenário dos maiores escândalos da política brasileira, a fotojornalista Gabriela Biló se arrisca para conquistar fotografias que compõem um portfólio ousado. Natural de São Paulo, se mudou para a capital, tornando-se a primeira mulher do jornal Estadão a fotografar a política em sua sede. Com criticidade e humor seu trabalho muitas vezes irrita figuras políticas.

Gabriela Biló

Formada em jornalismo na PUC de São Paulo, começou a trabalhar de forma profissional no jornal “Futura Press”. Aos poucos, foi desenvolvendo sua aptidão para o fotojornalismo, até que em 2013, devido a sua cobertura de protestos, chamou a atenção do Estadão e se transferiu para lá. Como única jornalista mulher em sua área de atuação no jornal, encara um ambiente machista, mas nunca se deixa intimidar por conta disso.

Cobre o cenário político desde 2013, porém nos últimos 4 anos deu bastante ênfase em fotografar o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que tem sido o personagem principal de seu portfólio no instagram. Apesar de sofrer constantes ataques na internet, Gabriela Biló continua produzindo um trabalho profissional cheio de criticidade, o que a levou a ganhar o troféu de Mulher Imprensa  em 2020 e ser finalista do prêmio Vladimir Herzog.

Várias facetas de Bolsonaro enquanto ele gesticula.
Gabriela Biló
Bolsonaro olhando as horas.
Gabriela Biló
Foto em preto e branco de Bolsonaro. Seu rosto não aparece, apenas a sombra, sendo o lado escuto.
Gabriela Biló

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NASCIMENTO, Nikolle. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/gabriela-bilo/>. Publicado em: 21 mar. 2023. Acessado em: [informar data].

Superinteressante: capas que marcam gerações

Enxergando além do óbvio desde 1987 e encantando leitores por todas as bancas do país.

A Superinteressante chegou ao Brasil há mais de 30 anos com a proposta de ser uma revista que falasse sobre ciência e cultura, e, logo na primeira edição, já foi um sucesso de vendas. Sendo uma versão nacional da espanhola Muy Interesante, a Super – como é carinhosamente chamada desde 1994 – é famosa por suas capas: sempre intrigantes e convidativas, seguindo a ideia de fazer o leitor se aprofundar no conteúdo da revista.

Com a manchete “A Revolução dos Supercondutores” sob o céu azulado, a imagem mostra um trem-bala vermelho sobre uma linha ferroviária num campo verde.
Capa da primeira edição | Superinteressante

A Super também é reconhecida internacionalmente por toda a arte que a compõe. Entre os pontos mais marcantes podemos citar as infografias que já são uma marca da revista e fizeram com que ela recebesse o Prêmio Malofiej – conhecido como o “oscar dos infográficos” – mais de uma vez. E as capas são uma verdadeira obra a ser analisada, misturando fotografias, desenhos, efeitos em photoshop entre outros.

Esta edição traz a manchete “Smartphone - o novo cigarro”. Nela, em plano médio, um homem está numa posição de semi perfil, num fundo azul escuro e olha para o smartphone cuja tela brilha intensamente. O aparelho parece sugar o rosto do jovem.
Edição de outubro de 2019 | Superinteressante
A manchete da revista é “Hipnose: como ela pode ajudar na sua vida” e traz o rosto de uma moça que está flutuando na água. Ela traz um sorriso tímido e olha em nossa direção, iluminada por uma luz amarelada à sua direita e uma luz azulada à sua esquerda.
Edição de abril  de 2022 | Superinteressante
Com a manchete “A Era da Mentira”, temos uma fotografia de peças que compõem um boneco de madeira do Pinocchio dispostas sobre uma peça, aparentemente uma mesa, de madeira amarela.
Edição de agosto de 2015  | Superinteressante
Com a manchete “Magnetorrecepção: o sexto sentido”, a capa apresenta uma moça em semi perfil olhando para um ponto à nossa direita. Ainda nesse lado, está iluminada por uma luz rosada e, do outro, por uma luz azulada. No centro, um laser branco pontilhado traça um desenho no rosto da mulher.
Edição de dezembro de 2021  | Superinteressante
A manchete “O enigma do Alzheimer” traz na capa uma senhora olhando para um espelho arredondado no qual seu reflexo está se desintegrando.
Edição de janeiro de 2022  | Superinteressante
Com a manchete “O lado sombrio dos Contos Infantis”, uma moça está posando vestida com uma roupa característica da personagem infantil Chapeuzinho Vermelho e segura uma máscara de lobo próxima ao rosto.
Edição de novembro de 2016  | Superinteressante
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MAIA, Amanda. Superinteressante: capas que marcam gerações. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/superinteressante-capas-que-marcam-geracoes/>. Publicado em: 14 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Berenice Abbott

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Natural de Ohio, Estados Unidos, Berenice Abbott produziu instigantes fotografias urbanas e retratos. Semelhante ao trabalho de Eugène Atget, em Paris, a artista ficou conhecida pelo registro da modernização da cidade de Nova Iorque na década de 30. 

A foto, em preto e branco, foi tirada de um ângulo alto e mostra uma comprida rua com altos prédios de ambos os lados. A rua está bastante iluminada pela luz solar e há diversos carros, ônibus e pessoas a pé transitando por ela.
Berenice Abbott

Em 1921, com 23 anos, Abbott abandonou a universidade de jornalismo e mudou-se para a França a fim de estudar escultura. Chegou a trabalhar de assistente no estúdio de Man Ray e, também nessa época, teve contato com as fotografias de Paris de Eugène Atget que, posteriormente, seria uma de suas principais inspirações.

Aos 32 anos, Berenice retorna aos Estados Unidos, especificamente à Nova Iorque, e resolve registrar a crescente modernização da cidade. Berenice Abbott produziu fotos que abordam desde comerciantes e suas lojas à imagens distantes de prédios e ruas nova-iorquinas lotadas de gente.

A foto em preto e branco mostra a fachada de uma loja que possui dezenas de anúncios informando produtos e seus preços. Devido à quantidade de placas de anúncio não é possível enxergar a parte interior da loja pela vitrine.
Berenice Abbott

Além de seu famigerado trabalho registrando o crescimento da cidade estadunidense, Berenice chegou a produzir diversos retratos. O mais conhecido é seu autorretrato de 1930 que ficou famoso após a fotógrafa distorcer sua imagem, em 1950.

A imagem em preto e branco é uma distorção do rosto da autora. Desse modo, seu olho esquerdo aparece alguns centímetros acima do olho direito.
Berenice Abbott
A imagem em preto e branco mostra um par de mãos parcialmente sobrepostas. Ambas estão apoiadas sobre um chapéu.
Berenice Abbott

Abbott faleceu em 1991, aos 93 anos, em sua casa em Maine, Estados Unidos, deixando um extenso e grandioso trabalho fotográfico.

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COUTO, Sarah. Berenice Abbott. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/berenice-abbott.html>. Publicado em: 28 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

Racismo Religioso e a guerra política do bem contra o mal

Shirley Stolze denuncia em sua fotografia mais um caso de racismo religioso no Brasil.

Shirley Stolze denuncia em sua fotografia mais um caso de racismo religioso no Brasil.

A fotografia abaixo é da fotojornalista Shirley Stolze, do jornal baiano A Tarde. Publicada em novembro de 2018, a foto é vinculada a uma matéria sobre um acontecimento de intolerância religiosa e mostra uma parte da área externa da Casa de Oxumarê: um dos mais importantes terreiros de Candomblé do Brasil, em Salvador (BA).
 
A fotografia mostra parte do muro do espaço de celebrações religiosas “Casa de Oxumarê” em Salvador (BA). No muro pintado de branco está pichado com tinta preta “Jesus é o Caminho”.
Shirley Stolze

No muro branco do local há a seguinte frase  pichada com tinta preta: “Jesus é o caminho”. A frase é uma afronta aos que frequentam a casa e cultuam religiões afro-brasileiras. A pichação invalida outras crenças, impondo  um ponto de vista como sendo o único a seguir. 

É importante ressaltar o racismo religioso como um elemento presente estruturalmente desde a construção do que hoje conhecemos como Brasil. Nesse sentido, não há como negar que o racismo é uma componente presente, desde o período colonial, nos discursos e nas práticas de intolerância contra religiões de matrizes não europeias. Sendo a invalidação religiosa, que era praticada pelos Jesuítas com indígenas e negros, unida à violência contra o que era considerado “diferente”, ainda permanente.  

De acordo com dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2021 foram recebidas 586 denúncias por intolerância religiosa. O estado que mais registrou ocorrências foi o Rio de Janeiro. Segundo o relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, 91% dos ataques foram destinados à religiões de matriz africana. Sendo essa vertente a mais atacada em todo o país. Assim, faz-se necessário ampliar o debate da Intolerância religiosa para o Racismo religioso.

Em 2022, ano de eleições, Michelle Bolsonaro, a primeira dama do Brasil, vem sendo uma personagem ativa na campanha para a reeleição do  atual presidente da república, Jair Bolsonaro, filiado ao Partido Liberal. Com um discurso emotivo, que ressalta valores apoiados pela população mais conservadora do país, Michelle vem servindo de mediadora para atrair o eleitorado feminino e despertar a admiração e a atenção de grupos evangélicos no Brasil. 

Em agosto de 2022, Michelle compartilhou em suas redes sociais um vídeo da vereadora paulista Sonaira Fernandes, do partido Republicanos, que dissemina discurso de ódio contra religiões de matriz africana e acusa o ex-presidente Lula de ter entregado a alma para vencer as eleições. No vídeo, aparece o ex-presidente e atual candidato à presidência do país Lula recebendo de uma mãe de santo um banho de pipocas, ritual feito para saudar Omulu, orixá cultuado por religiões afro-brasileiras. Na legenda do vídeo, Michelle escreve:  “Isso pode né! Eu falar de Deus, não”. 

A frase registrada por Shirley Stolze apresenta sintomas de uma sociedade adoecida por fanatismo e agravada por discursos que rejeitam a pluralidade. Além disso, o uso da fé para a exploração política tira de campo os debates necessários para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito. O discurso presente na fala da primeira dama e na foto analisada afrontam a Constituição Federal que determina a liberdade religiosa para todos os cidadãos. E, o Brasil, construído em cima de sangue e suor negro, persiste em negar para essa população dignidade e respeito.

 

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

 

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Silva, Vinícius Augusto. Racismo Religioso e a guerra política do bem contra o mal. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/02/blog-post.html>. Publicado em: 16 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

Nas ruas da infância

Para uma criança tudo pode ser divertido

A fotografia abaixo, ainda que em preto e branco, demonstra o quanto a vida pode ser colorida. Em uma rua de pedras, dois meninos pequenos correm atrás de uma vaca e um bezerro, praticamente do tamanho deles.


Dois meninos correm atrás de uma vaca pequena e um bezerro. Eles usam camiseta, bermuda e chinelo. O menino que está do lado esquerdo mantém seus braços abertos, enquanto o da direita os inclina para frente, mas sem estendê-los.
Ane Souz

Se não fosse pelas vestimentas dos meninos, a foto poderia ser facilmente localizada no passado, tanto pelo registro em preto e branco, quanto pelo cenário, e também pela raridade da atitude em tempos atuais. As crianças de hoje, principalmente nas grandes cidades, estão inseridas em um mundo cada vez mais virtual, em que as experiências no real ficam cada vez mais limitadas. Portanto, em pleno século XXI é incomum haver crianças correndo atrás – ou junto – de animais da fazenda em espaços urbanos.

Nas sociedades capitalistas tudo pode ser transformado em mercadoria, logo, o valor das coisas está em seu potencial de troca. Uma vaca, para um adulto criado nesse contexto, é sinônimo de dinheiro. Com certeza este não é o caso das crianças, que se divertem com os animais sem lhes colocar um peso monetário.

Imagino que os meninos tenham gostado do fato de que, como eles, os bovinos sejam pequeninos. Foi uma peraltagem compartilhada, entre crianças que subvertem os costumes de seu tempo e animais que seguem seus instintos, correndo pelas ruas. Logo, uma experiência legítima de liberdade.

A infância é, sem ressalvas, a fase mais potencializadora do nosso desenvolvimento. Quando convenções sociais, preconceitos e paradigmas ainda não cercearam completamente nossa liberdade, a vida é um arco-íris que possui infinitas cores. À medida que envelhecemos, essas cores se desbotam, mas ficam eternizadas nas lembranças e nos registros que deixamos, e ressurgem quando os visitamos.


#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


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Shirley Stolze pelas ruas de Salvador

Shirley Stolze, 62 anos, 34 de profissão, é artista visual e uma das principais representantes do fotojornalismo da Bahia.

Shirley Stolze, 62 anos, 34 de profissão, é artista visual e uma das principais representantes do fotojornalismo da Bahia.

Atualmente, Shirley é fotógrafa para o jornal A Tarde, um dos veículos de comunicação baianos de maior destaque. Fotógrafa de rua e auto-intitulada “andarilha”, Shirley costuma andar por Salvador a fim de que sua observação do cotidiano consiga capturar algo que fuja da normalidade ou que seja tão normal que foge da nossa observação.

Um garoto negro em primeiro plano de costas para a câmera segura  uma fita do Nosso Senhor do Bonfim.
Shirley Stolze

Em entrevista para a  Fraude, revista digital de jornalismo cultural, produzida por integrantes do Petcom da UFBA, ela conta: “A rua é uma grande escola, ensina tudo. Basta você estar atento aos sinais, às imagens, e ter muita paciência. Eu nunca gostei de escrever: eu escrevo através da imagem”.

Nas ruas, o palco da realidade social, Shirley captura o mais intrínseco da cidade. Fotografias de pessoas no ir e vir, manifestações culturais, comemorações religiosas ou um ensolarado fim de tarde em uma praia. O trabalho da fotógrafa tem como característica o empoderamento de religiões de matriz africana. Além disso, Shirley é autora de uma série de fotografias com a legenda “Salva-Dor”.  Nesse trabalho, que é publicado em seu perfil no Instagram, ela aborda temáticas sociais registrando pessoas em situação de falta de moradia, fome e saneamento precário em zonas urbanas.

A  fotografia mostra um garoto negro mergulhando em uma praia de Salvador, (BA).
Shirley Stolze
 
A fotografia apresenta um homem negro, usando uma camiseta e uma bermuda e calçando chinelos. Ele está deitado em uma calçada, na frente de um estabelecimento com uma porta de correr vermelha, o homem está em cima de um pedaço de papelão, com uns tecidos abaixo de sua cabeça. Ao seu lado, há três cachorros deitados.
Shirley Stolze
 
Em primeiro plano, a imagem mostra uma mulher negra de mãos dadas com  uma menina também de pele negra. A menina usa roupas características do Bembé de Mercado,  uma festa religiosa conhecida também como Candomblé de Rua.
Shirley Stolze

#galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de um_ fotógraf_ de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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SILVA, Vinícius Augusto. Shirley Stolze, pelas ruas de Salvador. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/shirley-stolze-pelas-ruas-de-salvador.html>. Publicado em: 31 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data]. 

Ane Souz

Fotógrafa da assessoria de comunicação da Prefeitura de Ouro Preto.

 

Ane Souz nasceu em 1987, em Itabira, Minas Gerais. Em 1999, mudou-se para Mariana com a mãe, onde, aos 19 anos, aprendeu a fotografar em um curso de câmera pinhole. Desde então, a jovem se apaixonou pela fotografia. Desencorajada pela insegurança e dificuldade financeira, ela não enxergava a fotografia como sua carreira até o ano de 2015.


A fotografia mostra, em primeiro plano, uma mulher fazendo uma performance artística com bolha de sabão. As bolhas formam uma camada extensa e uniforme. O cenário é a Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto.
Ane Souz

A profissionalização de Ane começou oficialmente no dia 3 de janeiro de 2015, em Ouro Preto. Com uma câmera Canon T4i, duas lentes e um flash, a jovem decidiu que era hora de levar a fotografia a sério. Entretanto, ao mesmo tempo, ela era fotógrafa e artesã, pois o lucro do ateliê que tinha com a mãe era investido em equipamentos. Em 2018, Ane conseguiu fazer da fotografia sua principal fonte de renda. 

Hoje, a fotógrafa trabalha na Prefeitura de Ouro Preto, onde cobre eventos institucionais e culturais, e acontecimentos que marcam a rotina da cidade. Além disso, ela é freelancer. Seu interesse está no fotojornalismo e na fotografia documental. Ane enfatiza que fotografar Ouro Preto é uma grande responsabilidade, mas também um privilégio, considerando a relevância da cidade.


Em preto e branco, a fotografia mostra uma rua sob a neblina típica de Ouro Preto. Ao lado direito da rua, um casal caminha em frente a um estabelecimento comercial.
Ane Souz


A fotografia mostra atrizes e atores andando pela rua São José, no centro de Ouro Preto. Eles trajam figurino de época e de alta costura.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra o momento em que dois garotos correm atrás de uma vaca e um bezerro, em uma rua de pedras.
Ane Souz

O registro fotográfico mostra o momento em que um artista pinta, em aquarela, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto. Ele é idoso, usa óculos e barba, está agasalhado, e olha com atenção para sua obra. Amarradas nas sacadas das casas, há bandeirolas de festa junina. Ao fundo, a igreja.
Ane Souz

A fotografia mostra uma roda de capoeira. No meio da roda, há 3 homens jogando. Enquanto um desfere um golpe com chutes, mantendo o corpo todo no ar, o oponente se desvencilha no chão, e um terceiro parece preparar o próximo golpe.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra um homem de cabelo grisalho observando o lado externo de uma vidraça, onde há construções coloniais. Não é possível ver o seu rosto.
Ane Souz

A fotografia mostra uma rua no centro histórico de Ouro Preto. O sol ilumina as casas do lado esquerdo da rua. Não há pedestres nem trânsito.
Ane Souz

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Vivian Maier

Focada na produção de imagens urbanas, a artista registrou cidades ao redor do mundo


Vivian Maier produziu cerca de 100 mil negativos que exploram cenas cotidianamente urbanas como a arquitetura dos prédios e retratos de trabalhadores e de mulheres, sempre evidenciando detalhes sutis da conjectura das grandes cidades. Seu trabalho, apenas reconhecido após sua morte, é hoje utilizado como base de estudo em diversas escolas e universidades.


A foto em preto e branco mostra quatro mulheres vestidas de sobretudos aguardando na calçada de costas para um muro alto. Todas carregam bolsas e três das quatro utilizam chapéus à moda dos anos 50. Devido ao sol frontal, suas sombras se projetam no muro cinza às suas costas
Vivian Maier

Nascida em 1926 na cidade de Nova Iorque, pouco se sabe sobre a infância de Vivian Maier, além de que a artista cresceu na Europa e retornou aos Estados Unidos em 1951. Maier morou por alguns anos em sua cidade natal, mas acabou por se deslocar para Chicago, onde morou o resto de sua vida.

Vivian era babá e fotografava em seu tempo livre. Seu principal foco para os retratos eram mulheres, trabalhadores, crianças e moradores de rua. Suas fotografias surpreendem devido à técnica e ao olhar meticuloso da fotógrafa que não chegou a compartilhar seu trabalho em vida.

Maier registrou centros urbanos durante as décadas de 50 à 90, sempre se atentando às sutilezas em meio ao caos e correria das grandes cidades. Seu trabalho é um rico material documental sobre o crescimento urbano e suas mudanças ao longo das décadas.


A foto preto e branco mostra um casal de aproximadamente 60 anos andando na rua de Chicago. O homem, à esquerda, está vestido de terno e segura a mulher, à direita, com força pelo braço. Ela por sua vez possui uma espécie de sorriso no rosto. O cabelo de ambos está bagunçado.
Vivian Maier

Vivian Maier faleceu em 2009 deixando para trás milhares de negativos. 30 mil deles foram desprendidamente comprados num leilão pelo historiador John Maloof que após alguns meses revelou o trabalho de Maier. Percebendo a qualidade das obras, Maloof se dedicou a descobrir a história da autora, buscando conhecidos e amigos da fotógrafa.

A busca resultou na produção de seu site oficial e em exposições fotográficas que, além das fotos, contava com breves histórias da vida de Maier segundo relato de conhecidos e familiares.

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Feirantes e fregueses

Contrastes sociais evidentes na São Paulo de 1940.

A fotografia abaixo, feita pela fotojornalista Hildegard Rosenthal, retrata uma feira livre na cidade de São Paulo, em 1940. Nela, é possível observar a distinção entre feirantes e fregueses, principalmente por suas vestimentas e características físicas. 


Em preto e branco, a fotografia revela uma feira livre. É possível distinguir barracas e bancadas onde são vendidos os produtos. Algumas mulheres utilizam sombrinhas e usam vestidos ou saias, e estão calçadas com sapatos de salto. Alguns homens usam chapéu, terno, gravata e sapato social. Há meninos negros, de camisa de manga longa e bermuda, alguns descalços, carregando mercadorias.

Hildegard Rosenthal 


O céu quase limpo e as sombrinhas registradas na foto nos contam que o dia estava quente. No entanto, alguns homens utilizam terno ou camisas de manga comprida e, claro, chapéu. As mulheres, por sua vez, usam vestidos ou saias, sapatos de salto, e algumas estão de manga comprida, além de levarem as sombrinhas. Os mais bem vestidos da cena são, intuitivamente, os fregueses e as freguesas da feira. 

O que mais me chama a atenção, entretanto, são os meninos negros, de bermuda e camisa de manga longa, um descalço, o outro de chinelo. Eles se contrapõem à elegância descrita acima, possuem traços físicos diferentes da freguesia e, não menos importante, são crianças. 

Os marcadores de classe, raça e gênero estão bem definidos na composição da fotografia, sendo facilmente isolados. Essa é uma cena comum da primeira metade do século 20, no Brasil. 

A Lei 8069/1990, em seu artigo 60, institui a proibição de qualquer tipo de trabalho a crianças menores de 13 anos. Contudo, entre 1940, quando essa fotografia foi feita, e 1990, quando essa lei foi promulgada, existem 50 anos. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2019 cerca de 1,8 milhões de crianças e jovens exerciam trabalho infantil, sendo 21,3% de 5 a 13 anos, mais da metade do sexo masculino, preto ou pardo. Esses dados evidenciam que, apesar de haver um esforço para combater essa situação, o problema ainda não foi resolvido, e tem um perfil de vítimas bem definido. 

Apesar de haver um contexto histórico intrínseco à foto que não pode ser isolado, as diferenças sociais percebidas me deixam perplexa. Hoje, é assegurado a qualquer criança brasileira o direito à cidadania, e com isso, o dever de ser matriculada em uma escola. O que se revela nesta fotografia é o oposto disso, em uma época em que as crianças, sobretudo negras, tinham poucos direitos.

Interessante também perceber como as concepções de normalidade mudam em meio século, e o que era corriqueiro, como o trabalho infantil, torna-se um crime. Na contra-mão dessa mudança, a juventude negra continua sendo o maior alvo dessa condição. 

O trabalho infantil, a miséria, o analfabetismo e a marginalidade são heranças de uma sociedade que, durante séculos, manteve uma estrutura escravocrata e, portanto, racista. É comum que os trabalhadores resgatados pelo Ministério Público sejam em sua maioria negros. Ainda que haja mudanças estruturais, como na legislação, nem sempre são acompanhadas por mudanças estruturantes. Enquanto a mentalidade social tiver origem escravocrata, crianças e jovens negros não usufruirão plenamente de sua vida cidadã. 


Chamada para ação

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Links, Referências e Créditos

https://ims.com.br/titular-colecao/hildegard-rosenthal/

https://livredetrabalhoinfantil.org.br/noticias/reportagens/o-que-o-eca-diz-sobre-o-trabalho-infantil/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29738-trabalho-infantil-cai-em-2019-mas-1-8-milhao-de-criancas-estavam-nessa-situacao

Como citar este artigo

MORAIS, Isabella Garcia. Feirantes e Fregueses. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/feirantes-e-fregueses.html>. Publicado em: 29 dez. 2022. Acessado em: [informar data]. 


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