Há muito por trás do simples gesto de apertar um botão em uma máquina fotográfica. Para além da técnica e suas múltiplas possibilidades criativas, existe uma vasta trajetória desde os primeiros experimentos com câmaras escuras até a aparente instantaneidade das imagens que produzimos hoje. Conhecer essa história pode ser revelador, não apenas por seu valor de conhecimento pessoal, mas também – e principalmente – como meio de compreender como a fotografia caminhou em direção ao que é hoje e como forma de obter-se referências fotográficas relevantes e inspiradoras. Por isso, o livro “Breve História da Fotografia”, de Ian Haydn Smith é uma boa opção de leitura tanto para curiosos quanto para grandes amantes da prática fotográfica.
A capa do livro Breve História da Fotografia. Editora GG, 2017. Foto: Mergulhadores. George Hoyningen-Huene: Cópia em Prata. |
O livro foi publicado no Brasil em 2018 pela editora Gustavo Gili (GG), especializada em livros de arte, fotografia e design. Dividido em quatro partes (Gêneros, As Obras, Temas e Técnicas) apresenta textos curtos e imagens de referência para cada um deles, sendo esta a sua maior qualidade: falar sobre fotografia utilizando de fato uma grande quantidade de imagens. Ainda assim, em alguns momentos, o formato reduzido pode deixar a experiência de olhar para estas fotos a desejar. É na seção As Obras que as imagens ganham mais destaque, sendo 50 fotografias de diversos fotógrafos em diferentes contextos, desde aquela que é considerada a primeira imagem fotográfica, produzida por Nicéphore Niépce (1765-1833), um dos diversos inventores da fotografia que fazia experiências com a câmara escura, a nomes mais conhecidos e presentes na cultura pop como Alberto Korda, que produziu o icônico retrato de Che Guevara e Nick Ut, que fotografou a menina Phan Thi Kim Phúc correndo desesperadamente por uma estrada ao lado de outras crianças e soldados enquanto o seu corpo era consumido pelas chamas invisíveis do Napalm, uma das imagens mais marcantes da guerra no Vietnã. É possível notar que diversos fotógrafos se enquadram em mais de uma categoria, estando presentes em mais de uma seção do livro. São notáveis também possíveis associações entre temas e gêneros.
Che Guevara. Alberto Korda: Cópia em Prata. |
Phan Thi Kim Phúc. Nick Ut: Cópia em Prata. |
Temas e Técnicas retoma o formato de Gêneros, com as imagens presentes, porém recolhidas aos cantos das páginas. Tal seção pode ser interessante para conhecer os diferentes meios e materiais usados para se obter imagens fotográficas, embora seja, de todas, a que provavelmente menos chamará atenção para uma possível produção atual, uma vez que a tecnologia nos permite fazer registros com aparelhos bem mais fáceis de transportar, como nossos próprios celulares, sem grandes riscos de acidentes ao usar materiais como, por exemplo, o colódio de alumínio que é altamente inflamável.
Boa parte do livro apresenta textos e imagens que dão ênfase à palavra “história” do título. Entre o documental, o jornalístico e a captura das mais ordinárias das cenas cotidianas, várias das imagens possuem muito mais valor devido à seu momento de produção e seu contexto que por suas qualidades estéticas (e destaco a palavra estética e não técnica, afinal, todas foram produzidas por pessoas que sabiam – mais o menos – o que estavam fazendo). Esta trata-se de uma perspectiva subjetiva; pessoal. Não identifiquei em todas as imagens o poder de serem capazes de mover algo no interior de cada cujo o olhar demora sobre elas. Particularmente, nunca vi qualquer graça no retrato de Che Guevara, por exemplo. Pouco me importa suas características iconográficas. De Korda, prefiro El Quijote de La Farola, sua imagem surreal e quase cômica (a meu ver) de um senhor de idade tranquilamente repousando sobre um poste de luz em meio a uma multidão que comemorava o aniversário da revolução cubana.
Foram imagens menos óbvias – tanto antigas quanto contemporâneas – que verdadeiramente me chamaram a atenção, e aqui, em disparidade com o que é o objetivo do livro, pois as motivações do meu interesse foram mais estéticas que históricas. Seria uma falha da leitura que cometi? Não sei dizer ao certo. Apenas digo que uma foto feita por Edward Weston de um pimentão estranhamente humana me pareceu bem mais interessante que, sei lá, as fotos que William Anders tirou da Terra enquanto estava flutuando pela Lua. Mesmo com tais ressalvas, trata-se de uma leitura válida e bastante informativa, sobretudo na seção As Obras, com suas doses de imersão em obras específicas de cada fotógrafo.
Pimentão n° 30. Edward Weston: Cópia em prata coloidal. 24×19,1 cm. Museu de Belas-Artes, Houston, Texas, Estados Unidos. |
Nascer da Terra. William Anders: Ektachrome Colorido. Nasa, Estados Unidos. |
E aí? Gostou da dica? Você pode adquirir o livro no site oficial da editora GG: https://ggili.com.br/breve-historia-da-fotografia-livro.html
Links, Referências e Créditos
SMITH, Ian Hayden. Breve história da fotografia: um guia de bolso dos principais gêneros, obras, temas e técnicas. São Paulo: Gustavo Gili, 2018.
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