Nosso movimento é constante e mesmo parados, nossa respiração é um movimento. Entender como representá-lo nas suas fotografias é fundamental.
Há um interessante paradoxo da fotografia que na maioria do tempo não percebemos. Mesmo que uma foto seja um recorte estático da realidade, ainda há movimento presente nela: apenas manipulamos como queremos que ele se apresente. Não se engane, pois mesmo quando estamos parados fotografando, nossa respiração e movimento dos músculos ainda são um movimento sutil, mas muito capaz de tremer nossa fotografia quando não firmarmos a mão. Mas existe um certo ou errado? Quais fatores levamos em conta quando escolhemos como esse movimento aparece? As possibilidades vão até mesmo além do que imaginamos.
Borrado e Congelado: Os tipos de movimento na fotografia
Se imagine fotografando em um festival de dança, câmera no pescoço e os mais variados estilos se apresentando. Existem diferentes possibilidades ao seu dispor para captar cada apresentação, tudo variando de acordo com seu desejo e visão como fotógrafo. Talvez queira deslumbrantes poses de balé congeladas e estáticas, destacando firmeza. Talvez queira vestidos de dança de ventre borrados para sensação de fluidez. Independente das escolhas tomadas, há um agente por trás: a velocidade do obturador.
Através da velocidade do obturador, também conhecida como tempo de exposição, é possível variar o movimento entre dois estados: congelado e borrado. Em termos técnicos, essa alteração refere-se ao tempo que o obturador levará para abrir e fechar, assim controlando a entrada de luz. Uma velocidade de obturador mais alta vai captar movimentos de forma congelada, enquanto uma baixa vai captar borrados.
Vejamos os casos. O movimento congelado demanda que o obturador seja mais rápido que o objeto. Isso já deve ser visível de 1/250 para cima dependendo da sua câmera, mas ele pode variar. Na imagem acima, havia uma intencionalidade quanto a como as bandeiras deveriam se apresentar: congeladas, destacando a presença do vento mas sem comprometer o conteúdo presente nessas. Para isso, foi usada a velocidade de 1/2000 para que o efeito fosse realizado e a imagem se mantivesse nítida.
O movimento borrado é consequência de um maior tempo de exposição, resultando em um rastro no objeto em movimento. Isso exige uma velocidade mais baixa. A imagem do exemplo acima usa de uma velocidade 1/15 para apresentar um cenário onde é possível ver um celular e uma mão deslizando a tela, rolando pela galeria de imagens. Devido ao tempo de exposição alto, o efeito gerado da tela borrada causa uma sensação de movimento, captando melhor a ideia do deslize rápido na tela.
Panning parece complicado, eu sei, mas o segredo está em “brincar com a física”. Panning vem de panorâmica e sua aplicação consiste em um tempo de exposição mais longo, porém acompanhando o objeto com sua câmera. Isso eliminará o movimento do objeto de interesse, o deixará estático e borrará o resto na direção que a câmera foi movida. No exemplo acima, o objeto de interesse consiste na moto passando. Perceba que como na imagem anterior, a presença do borrado corrobora para a sensação de movimento.
Não existe certo ou errado, apenas a sua intenção
Captar o movimento na fotografia é composto de duas possibilidades que parecem básicas: ou você congela ou você borra. É um processo subjetivo que depende de você, pois não há certo ou errado. A real diferença está na intenção e no resultado final, afinal, fotos borradas e fotos congeladas causam diferentes percepções. Para isso, o primeiro passo é sempre saber qual sua intenção e quais possibilidades você tem a seu dispor. Não entender isso pode criar um ciclo de constante insatisfação nas suas fotos e não há nada pior que sentar para rever as tiradas no dia e se decepcionar.
É importante ter em mente que apesar da câmera registrar essencialmente apenas esses dois tipos de movimento, existem várias outras formas de como aplicá-los em uma imagem. Por exemplo, mesclando os dois tipos de movimento e brincando com a ideia de passagem de tempo através disso. Mas principalmente, é preciso entender que a melhor foto não é a “menos” ou “mais borrada”, mas a de quem sabe o que quer fotografar.
Objeto de Aprendizagem é uma coluna de carácter formativo. Trata-se de uma série de materiais didáticos elaborados para apoiar o aprendizado da prática fotográfica. Deseja acessar outras publicações da coluna Objeto de Aprendizagem ? É só seguir este link.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS NA PRODUÇÃO DESTE CONTEÚDO
HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia: guia completo para todos os formatos/John Hedgecoe; tradução de Assef Nagib Kfouri e Alexandre Roberto de Carvalho – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005. p 93-103
ENTLER, Ronaldo A fotografia e as representações do tempo Galáxia, núm. 14, 2007, pp. 29-46 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo, Brasil.
COMO CITAR ESTE CONTEÚDO
BATISTA, Gustavo. A Representação do Movimento: borrar ou congelar?. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-representacao-do-movimento-recortando-espaco-e-tempo/>. Publicado em: XX fev. XXXX. Acessado em: [informar data].