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A poesia em “Malandragem”

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.Registro emblemático do fotógrafo German Lorca gera reflexões sobre os diferentes modos de se fotografar

Uma rua escura e molhada de São Paulo, dois homens e um enquadramento singular. Esses são os principais personagens da famosa fotografia Malandragem, feita por German Lorca em 1949. Tais elementos ao serem unidos com o modo único de fotografar do paulista revelam um registro com um lirismo intrínseco, uma maneira diferente de se fazer poesia. 
German Lorca
Como já foi citado na galeria dedicada ao fotógrafo German Lorca, que você também pode acessar aqui no Cultura Fotográfica, São Paulo sempre foi a sua maior inspiração. Ele acompanhou a modernização da capital e outras situações cotidianas de uma forma bem singular. A fotografia naquela época começou a ser usada de uma maneira cada vez menos tradicional. Lorca e outros fotógrafos do fotocineclube Bandeirantes começaram a usar técnicas diferentes para expressar os temas da cidade e do homem moderno, usando a fotografia como um meio de criar ficções.
A fotografia “Malandragem”, destacada acima, carrega vários elementos que denunciam seu lirismo. O primeiro é demonstrado pelo seu singular enquadramento. Os dois personagens da imagem, que aparentam ser homens vestidos com trajes sociais, estão parados um de frente para o outro com poses parecidas, porém invertidas, em uma espécie de espelhamento. O enquadramento, no entanto, não parece se preocupar em registrá-los por completo e se detém em apenas mostrar os seus pés. 
Por ser espelhado pelos dois personagens, o posicionamento dos pés, que em uma primeira olhada é o elemento mais forte para entender o que está acontecendo na cena,  sugere uma espécie de tramoia ou talvez um complô. Esse enquadramento pouco detalhista cria uma imediata sensação que elucida muito bem o próprio título da imagem “Malandragem”, como se o registro tivesse sido tirado às escondidas e os segredos dos dois personagens estivessem bem guardados. 
Um feixe de luz, no entanto, vai de encontro com uma poça d’água que está na rua e reflete a parte de cima dos personagens em uma silhueta um tanto turva. Esse elemento, que sem dúvida alguma foi proposital, instiga uma certa curiosidade, já que temos um vislumbre do que estava sendo tramado, porém sem ter uma resposta exata deixando o caminho livre para a imaginação criar narrativas e ficções.
Essa habilidade de German Lorca de não revelar tanta informação de imediato, faz com que cada detalhe conte o que está acontecendo em cena. A intenção aqui então não é meramente ilustrativa, é de criar um cenário que comunica com a sua época. “Malandragem” em sua essência fala sobre uma São Paulo escondida nas esquinas, que só pode ser vista à noite. É uma fotografia que te faz adentrar em um imaginário literário de uma capital cheia de suspense e mistérios prontos para serem descobertos. 
Apesar de conseguir exprimir uma naturalidade, de fato o registro em questão é considerado um pseudo flagrante como várias outras imagens do paulista. Em um bar no cruzamento das ruas Bresser e Almirante Barroso, Lorca posicionou os dois homens e montou a cena da imagem. Porém, esse fato não diminui ou exclui a beleza da obra. O preto e branco, a poça d’água, o espelhamento dos personagens. Cada elemento da imagem parece ter sido tirado de um filme de investigação, ou da releitura de um livro. Contrapondo a fotografia tradicional da época que focava mais no factual e no registro flagrante, Lorca usa de sua arte como uma forma de fazer poesia. 

Links, Referências e Créditos

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Respostas a “A poesia em “Malandragem””
  1. Avatar de Eliade Lisboa

    Muito obrigada pelo feedback!

  2. Avatar de Eliade Lisboa

    As melhores fotografias são aquelas que nos fazem viajar. Muito obrigada pelo comentário!

  3. Avatar de Eliade Lisboa

    É sempre muito importante criar essa ligação com os leitores e German Lorca faz isso de maneira exepcional. Caso queira conhecer mais sobre o trabalho do fotógrafo leia a coluna galeria dedicada a ele, que também se encontra aqui no blog. Muito obrigada por sua colaboração!

  4. Avatar de Eliade Lisboa

    Com certeza, todo o trabalho de German Lorca consegue narrar histórias dignas do cinema. Você pode conhecer mais sobre ele na galeria do fotógrafo que também está aqui no blog.

  5. Avatar de Unknown

    Parabéns Eliade! Excelente!

  6. Avatar de Eliade Lisboa

    Muito obrigada! Continue dando feedbacks nos textos aqui do blog, apreciamos muito a sua contribuição.

  7. Avatar de Unknown

    Eliade gostaria de lhe parabenizar pelo excelente texto! Sucesso!

  8. Avatar de Unknown

    Parabéns Eliade. Continue nos proporcionando textos riquíssimos.

  9. Avatar de Unknown

    Ao observar a fotografia é nítido o ar de mistério que circunda a imagem e nenhum detalhe passou despercebido. A escrita do texto reflete a personalidade e uma fotografia sem alma não se sustenta, não sobrevive. Não pode comover e portanto não pode criar nenhum laço minimamente catártico com o que está se vendo! Parabéns Eliade

  10. Avatar de Unknown

    Intrigante, interessante como uma foto pode trazer a mente uma cena que nos desperta e nos remete aos filmes antigos….de investigação policial.

  11. Avatar de Unknown

    Parabéns Eliade pela riqueza de expressão.
    Texto rico e retrata lirismo nas suas fotografias.

  12. Avatar de Unknown

    Bacana a foto, levantou um ar de mistério que costumava notar em filmes antigos de detetives e filmes clássicos que representavam as máfias como um ambiente hostil e enigmático , fazendo que cada elemento presente na imagem tivesse este proposito .

  13. Avatar de BLOG DAS POP STAR

    Perfeita leitura👏👏👏👏

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